quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Superação - Capítulo 19


Continuação imediata do capítulo anterior.

Cena 1. Favela – Casa de Tonhão – Quarto de Guilherme – Noite
GUILHERME – Não me importa a hora. Preciso falar com você AGORA!
Guilherme pega o celular, disca os números de Ana. O telefone cai na caixa postal.
GUILHERME – (irritado) Droga! Cê vai me pagar, Ana!
Guilherme abre a gaveta, pega um envelope.
GUILHERMEIsso aqui vai me ajudar! Família Bertollo, cês não sabem com quem tão lidando!
Guilherme pega o envelope nas mãos, abre, pega alguns papéis.
GUILHERME – Meu passaporte de entrada para uma nova vida! Vou dar um jeito nisso amanhã mesmo!

Cena 2. Hospital – Sala de Espera – Noite
Ana e Marcelo esperando Edvaldo, que entrou pra conversar com Fábio.
MARCELO – Meu pai tá bem, né?
ANA – Tá sim, Marcelo. Esse é seu nome, né? Não se preocupa.
MARCELO – É. É sim. Mas, ele vai ficar que nem eu?
ANA – Que nem você? Não entendi.
MARCELO – É. Assim... Deficiente!
ANA – Não diga isso. Você não é deficiente.
MARCELO – Sou sim, eu não ando direito. Não tá vendo?
ANA – É, mas você tem apenas uma certa dificuldade. Não diga assim “deficiente”.
MARCELO – Mas é o que eu sou.
ANA – Você não consegue fazer tudo, apesar dessa dificuldade? Não consegue ver tudo, conversar, estudar, aprender?
MARCELO – Consigo.
ANA – Então... Você não é deficiente! Pelo contrário. Você é eficiente! Consegue fazer muita coisa que alguns não conseguiriam.
MARCELO – Verdade. Eu tenho um colega que é cego, sabia?
ANA – Sério? Meu irmão também é. E eu não digo que ele é deficiente também. Ele é muito eficiente. Consegue fazer coisas que muitos que enxergam, não conseguiriam.
MARCELO – Meu colega também.

Cena 3. Paisagens da Cidade – Noite
Cenas da cidade ao som de Raul Seixas – Tente Outra Vez.

Cena 4. Hospital – Sala de Espera – Noite
Marcelo e Ana conversando. Franchesco, Mariana e Dorival chegam. Franchesco corre na frente e abraça Ana.
FRANCHESCO – Minha filha! Como você tá?
ANA – Pai? O que você tá fazendo aqui? Aliás, o que vocês estão fazendo aqui?
MARIANA – Eu disse pro seu pai que tava tudo bem, mas sabe como ele é.
ANA – haha Sei sim.
FRANCHESCO – Tá tudo bem, filha? Não teve nenhum arranhão?
ANA – Tudo bem, pai. Já disse.
MARIANA – E esse aí com você, quem é? (apontando pra Marcelo)
ANA – Ah. Esse é o filho do rapaz que tá aí no quarto. Fiquei conversando com ele enquanto o avô tá lá dentro.
Marcelo acena timido. Eles retribuem.
MARCELO – Ei Ana, vem aqui um pouquinho.
Ana vai até Marcelo, que lhe fala baixo no ouvido.
MARCELO – Esse que chegou é o colega cego que eu te falei.
ANA – Sério? Esse é meu irmão! Que coincidência!

Cena 5. Hospital – Quarto 520 – Noite
EDVALDO – Então tá, Fábio. Acho que não é bom que eu fique tanto tempo aqui, porque tem outros pra entrarem. Fica bem, meu filho. Eu vou vir aqui amanhã de novo e logo você deve sair. Vou chamar o Marcelo.
FÁBIO – Pai! Espera...
EDVALDO – O que foi, filho? Tá sentindo alguma coisa? Quer que eu chame um médico?
FÁBIO – Não. Não é isso! Pode chamar primeiro aquela moça? Tenho medo que ela vá embora e eu não consiga agradecer por tudo que ela fez.
EDVALDO – Tá certo. Vou chamar ela.

Cena 6. Hospital – Sala de Espera – Noite
ANA – Ei, Dorival!
DORIVAL – Ana! Você tá bem?
ANA – To bem sim. Espera um pouco.
Ana vai até Dorival.
ANA – Dorival, vem comigo, quero te apresentar um amigo.
DORIVAL – Quem?
Ana leva Dorival até Marcelo.
ANA – Dorival, você não vai acreditar, mas encontrei aqui um colega seu da escola.
DORIVAL – Ah é? Quem?
Ana chega até onde tá Marcelo.
ANA – Dorival, esse é o Marcelo, seu colega.
DORIVAL – E aí, Marcelo! Tudo bem?
MARCELO – Tudo. Quer dizer, mais ou menos. Meu pai tá aí dentro.
DORIVAL – To sabendo. Mas, relaxa! Ele vai ficar bem.
MARCELO – Espero.
DORIVAL – Vamos dar uma volta? Aqui só vai rolar papo de doença. Eu conheço o hospital, minha irmã trabalha aqui, já me mostrou alguns lugares.
MARCELO – Mas, você...
DORIVAL – (corta) Eu não enxergo. Mas, não tem problema. Não vamos nos perder. Confia em mim.
ANA – Só não vão longe!
MARCELO – Como é que nós vamos?
DORIVAL – Ah, é fácil. Eu seguro seu braço e vou me guiando pelos seus passos. Você enxerga e me avisa se tiver alguma coisa na frente.
MARCELO – Mas, eu não caminho bem.
DORIVAL – Vamos devagar.
MARCELO – Então tá.
Dorival segura o braço de Marcelo e os dois saem pra dar uma volta.
MARIANA – Parece que o Dorival arrumou um amigo.
FRANCHESCO – Que lugar pra se fazer amizades!
Todos riem.
ANA – Mãe, cê nem acredita! Eles são colegas!
MARIANA – Verdade... agora que você falou, to lembrada. Então é o pai dele que tá internado aqui.

Cena 7. Hospital – Corredores – Noite
Marcelo e Dorival andando pelos corredores.
DORIVAL – Logo ali tem uma lancheria.
MARCELO – Como é que cê sabe?
DORIVAL – Te disse que conheço isso. Haha
MARCELO – É. To vendo.
DORIVAL – Eu não. Haha
Os dois riem.
MARCELO – Desculpa. Não falei por querer e não pude controlar a risada.
DORIVAL – haha Não tem problema. Não há mal nenhum nisso. Lá na escola, quando riem de mim, eu nem ligo.
MARCELO – Eu fico triste.
DORIVAL – Ué, por que?
MARCELO – Não gosto quando riem de mim.
DORIVAL – Deixa eles rirem. Pra eles é algo diferente. Nós sabemos que não somos menos que eles.
MARCELO – Mas somos diferentes.
DORIVAL – E quem não é? Uns são mais altos, outros baixos, uns magros, outros gordos... Sempre vão encontrar um jeito de rir de alguém.
MARCELO – Verdade.

Cena 8. Hospital – Sala de Espera – Noite
Edvaldo chega e estranha a ausência de Marcelo.
EDVALDO – Ué, cadê o Marcelo?
ANA – Ah, ele saiu com meu irmão pra dar uma volta. Logo devem estar chegando.
EDVALDO – Ah. Se tá com seu irmão, fico mais tranquilo.
ANA – Esses são meus pais. Pai, mãe, esse é o Edvaldo, pai do rapaz que tá internado.
Eles se cumprimentam.
EDVALDO – Ana, meu filho Fábio gostaria de dar uma palavrinha com você.
ANA – Ah sim. Vou lá então falar com ele.
FRANCHESCO – Sente-se aqui, Edvaldo. Vamos bater um papinho. O tempo passa mais rápido.
Edvaldo senta com Franchesco e Mariana. Ana vai até o quarto falar com Fábio.

Cena 9. Hospital – Quarto 520 – Noite
Fábio tá deitado esperando. Batidas na porta.
FÁBIO – Pode entrar.
Ana entra.
ANA – Com licença!
Fábio reconhece Ana na hora e se encanta.
FÁBIO – Você?

Congela em Fábio, com os olhos brilhando ao reconhecer Ana.


FIM DE CAPÍTULO.
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