LUANA: Ai, meu Deus, como eu sou desastrada. Se você quiser, eu lavo seu vestido agora.
AMANDA: E como eu vou vestida para a mesa, hein? Nua?
LUANA: Desculpa. Foi apenas uma sugestão.
AMANDA: Não há nada que você possa fazer para corrigir esse erro, sua estabanada.
TIAGO: Calma Amanda.
AMANDA: Calma? Eu escolhi usar esse vestido justamente para me adequar à ocasião e olha o que a sua nova cozinheira fez?
LUANA: Eu já pedi desculpas.
AMANDA: É seu pedido de desculpas que vai retirar essas manchas do meu vestido? Por que se for, me avisa logo, que, assim, eu aceito as tuas desculpas.
TIAGO: Amanda, você está muito nervosa. Você não costuma ser assim. Agindo dessa maneira, está parecendo uma dondoca.
AMANDA: Tudo bem. Desculpa Luana. Mas você é mulher e entende como é revoltante uma pessoa sujar o seu vestido.
LUANA: Eu entendo mesmo. É de matar.
AMANDA: Então, muito cuidado para você não ser a minha vítima.
(Amanda ri e Luana finge um sorriso. Tiago fica calado)
TIAGO: Bom, Amanda; é melhor você ir trocar esse vestido antes que o almoço seja servido.
LUANA: Não se preocupe dona Amanda. Pode ir sossegada trocar o seu vestido. Eu espero a senhora voltar para servir o almoço.
AMANDA: Eu agradeço a gentileza, Luana. Vamos amor.
TIAGO: Vamos.
(Amanda e Tiago saem. Discretamente, Luana solta uma gargalhada)
Cena 2/ Paisagens de São Paulo/ Dia
(Toca Pumped Up Kicks – Foster the People)
Cena 3/ SP/ Casa de Lara/ Externo/ Dia
(Um carro para na frente da casa de Lara. Dentro dele, estão Celso e Lara)
CELSO: Bom, chegamos à sua casa.
LARA: Obrigada pela carona. Se fosse qualquer outro, teria me obrigado a vim de ônibus.
CELSO: Eu nunca faria isso com você. Primeiro, porque eu sou um cavalheiro. Segundo, pelo fato de eu gostar tanto de você que faço qualquer coisa para aproveitar ao máximo a sua companhia.
LARA: Fico agradecida por cada motivo.
(Lara abre a porta do carro)
CELSO: Quando nos veremos de novo?
LARA. Não sei. Que tal marcarmos?
CELSO: Pode ser.
(Celso dá um sorriso e Lara retribui. Ela desce do carro e fecha a porta. Celso espera a moça entrar em casa e, em seguida, ele parte)
Cena 4/ Paisagens de Dourados/ Dia
(Toca Be Like That – 3 Doors Down)
Cena 5/ Cais/ Interno/ Dia
(Lucrécio e Raimunda estão passeando)
RAIMUNDA: É incrível o fato de eu ficar cada vez mais encantada com a beleza do seu cais, sempre quando venho aqui. Como você conseguiu construir um cais tão lindo?
LUCRÉCIO: Vou te contar o meu segredo: inspirei-me nas construções arquitetônicas européias.
RAIMUNDA: Agora sim, tudo faz mais sentido. Não vou prolongar essa conversa, pois eu não entendo nada de arquitetura. O que eu domino mesmo são as frutas, as verduras, os legumes.
LUCRÉCIO: Você sente falta de ser feirante, de trabalhar?
RAIMUNDA: Sinto e não sinto, ao mesmo tempo. Por incrível que pareça, eu gostava de acordar cinco da manhã, ir à feira e montar minha barraquinha para poder vender meus tomates, minhas batatas. Mas, eu percebo que eu estava precisando de um descanso, relaxar mais. Aquele trabalho me consumia.
LUCRÉCIO: Mas você não tem mais vontade de voltar para a feira?
RAIMUNDA: Para trabalhar? Acho que não teria mais essa coragem. Já estou velha, Lucrécio. A idade não permite mais tanto esforço.
LUCRÉCIO: Bobagem, Raimunda. Você me parece muito jovem. Isso sim. Jovem e linda.
RAIMUNDA: Bondade sua.
LUCRÉCIO: Nada disso. Você sabe o quanto eu sou sincero. Não mentiria apenas para te agradar. Você é linda, sim. E o homem que disser o contrário, ou ele é cego, ou ele não gosta de mulher.
(Raimunda ri)
RAIMUNDA: Estava sentindo falta do seu senso de humor.
LUCRÉCIO: E eu estava sentindo falta de você.
Cena 6/ Mansão Bertolin/ Sala de jantar/ Interno/ Dia
(Marta, Luiza e Caio estão reunidos à mesa. Amanda e Tiago entram)
MARTA: Minha Santíssima, o que houve com o seu vestido, Amanda?
AMANDA: A Luana, acidentalmente, derrubou suco em mim.
MARTA: Acidentalmente? Ponho a minha mão no fogo apostando na idéia de que ela fez isso de propósito.
TIAGO: Não seja ilógica, mamãe. A Luana não tem motivos para derrubar um suco na Amanda de propósito.
MARTA: Ah não. Eu não vou admitir que a Luana almoce conosco usando esse vestido sujo. Que tremenda falta de etiqueta.
CAIO: Marta, não seja deselegante.
MARTA: Eu deselegante? Deselegância é alguém sentar-se à mesa alheia parecendo uma maltrapilha.
TIAGO: Chega mamãe. Eu não admito que a senhora jogue insinuações para cima da Amanda. Ela é minha noiva, a mulher da minha vida.
MARTA: Desculpe Amanda, não é nada pessoal, mas essa é uma regra de etiqueta que minha mãe me ensinou desde pequena: nunca sentar-se à mesa mal vestida.
LUIZA: Desconsidere as palavras da mamãe, Amanda. Eu acho que o nosso manequim é o mesmo. Quem sabe tem uma roupa no meu guarda roupa que se ajuste ao seu corpo?
AMANDA: Você me emprestaria?
LUIZA: Claro. Vem comigo.
(Luiza levanta-se, sobe a escada e Amanda a acompanha)
TIAGO: Poxa vida mãe, isso é jeito de tratar a Amanda?
MARTA: Mas que jeito, meu filho? Eu fui apenas sincera.
CAIO: Não, Marta. Você foi indelicada.
MARTA (abrindo os braços): Crucifiquem-me, então.
(Luana entra com algumas bandejas e as põe na mesa)
MARTA: Finalmente, esse almoço vai ser servido. Nunca comi tão tarde em toda minha vida.
LUANA: Desculpe Dona Marta. Estou começando a me adaptar com os horários da família.
MARTA: Adapte-se rápido, mocinha. Não tolero incompetência.
TIAGO: Chega mãe. Chega. Se a senhora acha que está arrasando fazendo esse showzinho solo de mulher insuportável, parabéns. A senhora está conseguindo.
LUANA: Com licença.
(Luana sai)
TIAGO: Nunca mais fale assim com a Luana, ouviu? Nunca mais.
Cena 7/ Mansão Amorim/ Quarto de Vera/ Interno/ Dia
(Vera está deitada e começa a se tremer)
VERA: Aquele tremelique de novo?
(Vera levanta-se, tira os remédios controlados da gaveta e toma-os. Ela continua passando mal, fazendo gestos que se referem a dores mais fortes e corre para o banheiro. Vitor bate na porta, abre-a e entra)
VITOR: Mãe? Mãe?
(Vitor observa os remédios em cima da gaveta)
VITOR: Isso são remédios controlados? O que eles fazem aqui, na gaveta da minha mãe?
(Vera sai do banheiro e se depara com o filho observando seus remédios)
VERA: O que você está fazendo aí, seu mexeriqueiro? Isso aqui é meu. Dá meus remédios. Passa para cá.
VITOR: A senhora está tomando esses remédios, mãe?
VERA: Isso não é da sua conta, Vitor.
VITOR: É da minha conta, sim. Eu sou seu filho. O que significa isso?
Cena 8/ Casa de Felipe/ Cozinha/ Interno/ Dia
SALETE: Obrigada filho por me ajudar a lavar as louças.
FELIPE: Imagina mãe.
SALETE: Sua professora de história veio conversar comigo, sabia? Ela me contou que você é muito bom na matéria dela. Fiquei tão feliz em ver sua professora te elogiando, Felipe.
FELIPE: Exagero dela, mãe.
SALETE: Nada disso. Se ela te elogiou, é porque ela sabe da tua competência na matéria dela. E olha que ela não foi a única. Outros professores falaram muito bem de você. Tenho tanto orgulho de você, meu filho. Tanto.
FELIPE: Eu que tenho orgulho da senhora. Sou um filho muito privilegiado em ter uma mãe tão amorosa, adorável, simpática.
SALETE: Que bom que eu tive essa sorte de arranjar uma bolsa de estudos para você. E meu emprego de faxineira lá na escola ajudou muito.
FELIPE: Ainda bem que o ano está acabando. Daqui a pouco, é vestibular.
SALETE: E você vai passar. Tenho fé e confiança em você, meu filho.
Cena 9/ Mansão Bertolin/ Sala de jantar/ Interno/ Dia
(Todos estão reunidos à mesa)
AMANDA: A comida estava uma delícia.
TIAGO: É verdade. A Luana está de parabéns.
CAIO: Concordo.
LUIZA: Amei a salada dela.
CAIO: É a primeira vez que ouço você dizer que gostou de alguma salada, minha filha.
TIAGO: Milagre da Luana.
(Tiago, Luiza, Amanda e Caio riem, exceto Marta)
MARTA: Não estou vendo vantagem nessa comida. Para mim, poderia ser convertida em lavagem de porco. Ficaria mais adequado.
TIAGO: Lá vem a senhora novamente, mãe. Tenho certeza que a senhora adorou a comida.
CAIO: Também acho. Só está tendo esse comportamento porque não gosta da Luana.
MARTA: Está bem. Está bem. A comida realmente está deliciosa. Mas isso ainda não mudou o meu conceito sobre a Luana.
(O telefone toca. Vivian entra)
VIVIAN: Com licença.
MARTA: Não precisa atender ao telefone, Vivian. Volta para cozinha, que lá você tem muita coisa para fazer. Pode deixar. Eu me prontifico a atender.
(Marta levanta-se e atende ao telefone)
MARTA: Alô. Celso, meu filho, que saudade de você. Como está sua vida em São Paulo, meu filho? Está tudo bem? Está fazendo muito frio? Não se esquece de usar o casaco, Celso. Olha aquele problema de rinite que você tem.
CELSO (do outro lado da linha): Estou ótimo, mãe. Já a senhora, continua a mesma, não é?
MARTA: Continuo. E vou morrer desse jeito: preocupada e sempre dedicada a todos vocês. Quando é que você volta para Dourados, meu filho? Todos estão com muitas saudades de você.
CELSO: Em breve estarei aí, para assistir ao casamento do Tiago. Diga ao meu irmão para ele não se preocupar que eu irei comparecer ao casamento dele, sim.
MARTA: Digo sim. Seu pai quer falar com você. Vou passar para ele.
(Marta passa o telefone para Caio)
CAIO: Filhão? Como você está, Celso?
CELSO: Estou ótimo, pai.
CAIO: E os negócios?
CELSO: Está indo de vento em poupa. Na semana passada mesmo, eu firmei um acordo com uma cooperativa nordestina que trata de grãos de soja também. Parece que já temos uma filial no Nordeste.
CAIO: Que notícia maravilhosa, meu filho. Agora, mudando um pouco de assunto, e as mulheres paulistanas? Já se interessou por alguma?
CELSO: É muito cedo para responder essa pergunta, pai. Mas, se as coisas andarem da forma que eu estou planejando, quando eu aparecer em Dourados, todos vocês terão uma bela surpresa. E a Luiza? Como ela está?
CAIO: Luiza está bem, se preparando para o vestibular.
CELSO: Manda um beijão para ela e para a Amanda também, caso ela esteja aí.
CAIO: Ela está aqui sim. Pode deixar. Eu repasso esse beijão.
CELSO: Bom, pai, agora eu tenho que desligar. Só liguei mesmo para dar um alô. Tchau.
CAIO: Fica com Deus, meu filho, e volta logo. Tchau.
(Caio coloca o telefone no lugar)
MARTA: Mas ele já desligou?
CAIO: Já, Marta.
MARTA: Eu queria ter mandado um beijo para o meu filho. Você não deixou né, seu velho egoísta? Na próxima vez que ele ligar, eu mando.
Cena 10/ Mansão Amorim/ Quarto de Vera/ Interno/ Dia
VERA: Vitor, esses remédios são meus. Passa para cá os meus remédios.
VITOR: Não até saber o que significa isso. A senhora está tomando esses remédios controlados, mãe?
VERA: Filho
VITOR: Claro que está. É claro. É óbvio. Agora por quê? Por que a senhora está tomando isso. Por quê?
VERA: Isso é problema meu.
VITOR: Não mãe. É problema meu também. A senhora não sabe que é perigoso tomar remédios controlados, ainda mais sem receita médica, mãe? Está na cara que você não consultou nenhum médico, né? Eu não vou deixar mais você chegar perto desses remédios. Não vou.
(Vitor sai)
VERA: Vitor. Vitor. VITOR. VITOR!
Cena 11/ Mansão Bertolin/ Sala de jantar/ Interno/ Dia
TIAGO: Desculpa pelo comportamento da minha mãe.
AMANDA: Tudo bem. Já estou acostumada. Afinal, eu lido com a dona Marta desde quando começarmos a namorar no colégio.
TIAGO: É verdade. Eu sempre tive certeza de que você é a mulher certa para mim, Amanda. Sempre.
AMANDA: Eu também, meu amor. Eu te amo, Tiago. Eu te amo mais do que tudo nessa vida.
(Amanda e Tiago se beijam. Sem ser percebida pelo casal, Luana entra, vê a cena fixamente, com um olhar doentio, e depois sai.)
Cena 12/ Mansão Bertolin/ Cozinha/ Interno/ Dia
(Vivian está bebendo água. Luana entra)
VIVIAN: Parabéns, Luana. Eu acho que você já ouviu os comentários dos patrões a respeito da sua comida. Parece que todos gostaram inclusive a dona Marta.
LUANA: Só não fiz mais do que o meu trabalho.
VIVIAN: Está certa. Mas eu te digo uma coisa. Não é por comida boa que você vai conquistar a confiança da dona Marta.
LUANA: Obrigada pelo conselho, Vivian.
(Luana sorri ironicamente para Vivian)
Cena 13/ Paisagens de São Paulo/ Dia
(Toca Silhouettes – Avicii)
Cena 14/ SP/ Floricultura/ Interno/ Dia
CELSO: Eu quero aquelas rosas vermelhas. E por favor, ajeitem-na de uma maneira que faça surgir um arranjo lindo.
FLORICULTORA: Claro. É para a namorada?
CELSO: Não. Mas eu confesso uma coisa: eu nunca pensei tanto em namorar e em casar como estou pensando agora. Acho que encontrei a mulher certa.
Cena 15/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Dia
LUIZA: Adoro essas reuniões em família. É tão bom ver todo mundo junto.
MARTA: Concordo. Estou tão feliz com a proximidade do casamento de vocês.
AMANDA: E nós, mais ainda, dona Marta.
MARTA: Não consigo ver essa felicidade nos olhos do Tiago.
TIAGO: A senhora que anda enxergando muito mal.
(A campainha toca)
CAIO: Quem será?
MARTA: Espero que não seja algum mendigo querendo filar a bóia. Povo desocupado.
TIAGO: Eu atendo.
MARTA: Para quê, meu filho. Nós temos a Vivian para isso.
TIAGO: Por favor, mãe. Eu atendo.
(Tiago atende)
TIAGO: Não acredito nisso. Alexandre, meu amigo.
AMANDA (levantando-se rapidamente): Alexandre?
TIAGO: Olha quem chegou. Alexandre. Que bom que você veio.
(Tiago abraça Alexandre, que olha fixamente para Amanda. Amanda revida, olhando-o de volta.)
(Congela em Alexandre. Toca Baiya – Delphic)
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