sábado, 15 de fevereiro de 2014

Especial - Vilarejo das Sombras


Cena 1 – Vilarejo das Sombras – Praça - Dia
Jussara – E aquela casa? (apontando para uma casa velha)
Dolores – Deus que me perdoe! Não passo nem perto! Dizem que tem encosto! (se benze)
Joaquim – Deixem de besteira! É só uma casa velha!
Jussara – Muito estranha!
Joaquim – Jussara, você anda vendo muitos filmes!
Dolores – Joaquim! É verdade! Até o padre tem medo daquela casa, diz que lá, no passado, houve um crime.
Joaquim – Hahaha. Lendas, dona Dolores! Lendas!
Jussara – Lenda ou não, eu prefiro me manter afastada!

As horas passam e anoitece...

Cena 2 – Vilarejo das Sombras – Campinho de Futebol – Noite
Os garotos jogam futebol no campinho do vilarejo.
Juca – Passa pra mim! Aqui! To livre!
Eduardo, com a bola, passa por Zezinho e fica parado.
Juca – Por quê parou, Dudu?
Eduardo – Tá na hora de eu ir!
Zezinho – Ah, justo agora? Fica mais!
Juca – É... tá cedo ainda!
Eduardo – Não posso, minha mãe tá chamando!
Zezinho – Onde? Eu não ouvi nada!
Juca – Nem eu!
Eduardo – Minha mãe tá chamando e eu tenho que ir!
Zezinho – Onde você e sua mãe estão morando, afinal?
Eduardo – Ali! (aponta para a casa velha)
Juca – Ali??? (assusta-se)
Eduardo – É... Ali!
Zezinho – Mas.. mas...
Eduardo não dá mais explicações e sai correndo em direção à casa. Ele abre a porta e entra. Juca e Zezinho ficam observando.


Cena 3 – Vilarejo das Sombras – Casa Velha – Interior – Noite
Eduardo – Ah, mãe! Tava cedo ainda!
Júlia – Não! Já é noite!
Eduardo – Mas, mãe...
Júlia – Nada de mas! Vá agora mesmo pro quarto!
Eduardo vai pro quarto, contrariado.

Cena 4 – Rua Indeterminada – Noite
Um homem caminha pelas ruas, meio tonto. Ele olha para uma foto.
Celso – Eu preciso te encontrar!

Cena 5 – Vilarejo das sombras – Praça – Dia
Juca – É verdade!
Dolores – Juca! Sabe o que Deus pensa sobre crianças que mentem?
Juca – Mas eu não to mentindo!
Zezinho – É verdade! Ele não tá mentindo! Eu mesmo ouvi quando o Dudu disse que sua mãe tinha chamado.
Jussara – Até aí, tudo bem! Até acredito que a mãe dele tenha chamado, mas pra onde você disse que ele foi?
Juca – Ali pra aquela casa!
Joaquim – Aquela casa tá abandonada há anos! Ninguém mora ali!
Zezinho – Ah, mora sim! O Dudu e a mãe dele!
Dolores – Credo! To com medo!
Joaquim – Dolores, vai acreditar numa história de criança?
Zezinho – Não é história! É verdade! O Dudu e a mãe dele moram ali! Ele mesmo quem disse!
Joaquim – Tá bom, crianças! Agora vão brincar!
As crianças se afastam pra ir brincar.
Jussara – Vocês acreditam mesmo nisso?
Joaquim – Bobagem! Coisa de criança!
Dolores – Eu acredito! Pra mim isso é coisa de alma penada! Credo em cruz! Jesus me proteja!

Cena 6 – Vilarejo das Sombras – Casa Velha – Interior – Dia
Júlia – Acordou cedo, filho!
Eduardo – Quero aproveitar pra brincar com meus amiguinhos.
Júlia – Já sabe, né? Nada de falar nada sobre como viemos parar aqui!
Eduardo – Por quê, mãe?
Júlia – Não importa!
Eduardo – Tava pensando em chamar eles pra conhecer a casa. Aqui é bem diferente!
Júlia – NEM PENSAR!
Eduardo – Ah, mãe! Eu já não posso falar nada, não posso trazer ninguém!
Júlia – Não reclama, Dudu! É pro seu bem!
Eduardo – Que meu bem, nada!
Júlia – Dudu, não reclama!
Eduardo – Ah, mãe! Não enche!
Júlia – Como é que é? Pois bem! Agora, pra você aprender a ter educação, não vai mais sair de casa!
Eduardo – Não, mãe! Deixa, vai!
Júlia – Não! Primeiro me obedeça!
Eduardo – Quando é que eu vou poder sair?
Júlia – Quando eu decidir!
Eduardo – Droga!
Eduardo vai irritado pro quarto.

Cena 7 – Paisagens do Vilarejo – Dia
(Michael Jackson – Thriller)
Letreiro: Dias depois...

Cena 8 – Vilarejo das Sombras – Praça – Dia
Jussara – Ei, crianças, venham aqui!
Eles vão até a professora.
Jussara – Vocês não viram mais aquele amiguinho que vocês disseram que mora naquela casa?
Juca – Não, professora.
Zezinho – Ele nunca mais saiu de casa.
Joaquim comenta baixinho com Dolores.
Joaquim – To dizendo! Esse “Dudu” era imaginação das crianças. Não existe! Não tem ninguém naquela casa. Haha
Juca ouve o comentário do comerciante.
Juca – Existe sim, seu Joaquim! Ele só não saiu mais de casa. Tá de castigo!
Dolores – Estranho, muito estranho!
Jussara – Mas, de onde apareceu esse Dudu? Ele não tá matriculado na escola, só as crianças o viram.
Zezinho – Eu e o Juca estávamos jogando futebol um dia e ele apareceu, perguntando se podia jogar também. Nós deixamos e desde então, ele é nosso amigo.
Dolores – Esse menino é o capeta, isso sim!
Joaquim – Dona Dolores, deixa de bobagem! Crianças, eu já disse que não tem ninguém naquela casa!
Juca – Tem sim! Nós fomos lá ainda hoje e falamos com ele! Ele só não pode sair de casa, nem podia abrir a porta porque a mãe dele não deixou.


Cena 9 – Estrada – Bar – Dia
Celso entra em um bar.
Celso – Ei, senhor!
Dono do bar – Pois não, quer uma bebida?
Celso – Na verdade, quero uma informação.
Dono do bar – Se eu souber...
Celso – Se eu seguir por essa estrada, vou chegar onde?
Dono do bar – No Vilarejo das Sombras, mas eu aconselho a não ir pra lá. Dizem que é mal assombrada!
Celso – haha. Não acredito nisso! Preciso ir até lá!
Dono do bar – É por sua conta então, mas eu avisei...
Celso – Tá certo! Agora, mais uma coisa. Por acaso o senhor viu esse menino?
Celso mostra a foto do filho. O dono do bar diz que não o viu. Celso agradece e segue em frente.

Cena 10 – Vilarejo das Sombras – Casa Velha – Exterior – Dia
Joaquim, Dolores, Jussara, Juca e Zezinho estão em frente à casa velha.
Dolores – Eu é que não vou bater na casa do capeta!
Jussara – Não é que eu tenha medo, mas...
Zezinho – Não tem nada aí! Mas, vocês falaram tanto que até fiquei com medo!
Juca – Eu também!
Joaquim – Deixem de besteira! Deixa que eu bato.
Joaquim bate na porta.
Joaquim – Tem alguém em casa? (grita)


Cena 11 – Vilarejo das Sombras – Casa Velha – Interior – Dia
Júlia – Diga que não pode sair e não abra!
Eduardo – Desculpa, mas não posso abrir!
Joaquim – (off) Sua mãe tá aí? Podemos falar com ela?
Júlia – Diga que não.
Eduardo – Não!
Joaquim – (off) A sua mãe não tá?
Eduardo – Não. Ela saiu. Volta depois!
Joaquim – (off) Tá certo! Diga a ela que depois eu volto!
Todos saem, sem conseguir solucionar o problema.
Eduardo – Pra que isso, mãe?
Júlia – É pro seu bem, Dudu!


Cena 12 – Vilarejo das Sombras – Escola – Dia
Joaquim, Dolores, Jussara, Zezinho e Juca vão em direção à escola, conversando sobre o ocorrido.
Joaquim – Muito estranho!
Jussara – E o que o senhor pretende fazer? Vai voltar lá?
Dolores – Eu não voltaria! A voz do menino era assustadora!
Joaquim – Claro que volto! Quero entender o que tá acontecendo. E você, Dolores, pare com bobagens!
Jussara – Bom, chegamos! Não precisavam ter vindo.
Dolores – O capeta tá a solta!
Jussara – Que capeta, nada! Crianças, agora vão pra sala que eu já vou!
Nesse instante um homem barbudo chega.
Dolores – Ai, meu Deus! Eu disse! Credo!
Celso – Me desculpem, não quis assustar!
Joaquim – Não se preocupe, rapaz! Não liga pra ela.
Jussara – Em que podemos ajudar?
Celso – Poderiam me dizer se viram esse menino por aqui?
Celso mostra a foto do filho. Juca é o primeiro a se manifestar
Juca – Esse é o Dudu!
Joaquim pega a foto das mãos de Celso e olha fixamente.
Joaquim – Então esse é o Dudu!
Celso – Sim, é meu filho! Vocês viram ele por aqui? Me digam, por favor! Onde ele tá?
Jussara – E o senhor, quem é? De onde veio?


Cena 12 – Flash-Back – Estrada – Noite
Um carro vem pela estrada, à noite, com chuva.
Eduardo – Pai, eu não to vendo nada!
Celso – Pera, não fala comigo agora, Dudu! Eu tenho que prestar atenção na pista.
Eduardo – Vai devagar, pai!
Celso faz uma manobra, o carro perde a direção, escorrega e vai em direção à um barranco e despenca.

Minutos depois...

Celso levanta, tonto, percebe que sofreu um acidente.
Celso – Meu Deus! Filho, você tá bem? (desesperado)
Ele percebe que Eduardo não tá no local do acidente.
Celso – Eduardo, cadê você? Dudu?
Ele começa a procurar pelo local e não encontra o filho.

Cena 13 – Vilarejo das Sombras - Casa Velha – Exterior – Dia
Joaquim – Agora solucionamos o mistério!
Dolores – Ainda acho melhor mão mexer com isso!
Jussara – Dolores, deixa de bobagem! Não viu que o menino é filho desse rapaz?
Dolores – Estranho, muito estranho!
Eles chegam à frente da casa.
Joaquim – Ei, Eduardo, abra a porta, por favor! Queremos falar com você!
Celso – Filho? É o papai? Abre!


Cena 14 – Vilarejo das Sombras - Casa Velha – Interior - Dia
Eduardo – Mãe, tão aí de novo! Já sei, não é pra abrir!
Júlia – Filho, chegou a hora. Agora você pode abrir a porta, mas espera um pouquinho.
Eduardo – Esperar o que, mãe?
Júlia – Espera eu sair!
Eduardo – Como assim, mãe? O que a senhora tá falando?
Júlia – Tem que ser assim, filho!

Cena 15 – Vilarejo das Sombras - Casa Velha – Exterior - Dia
Celso – Se não abrir a porta, eu vou arrombar!

Cena 16 – Vilarejo das Sombras - Casa Velha – Interior – Dia
O garoto abre a porta. O pai entra correndo e abraça o filho. Os moradores da cidade, entram devagar, olhando pra todos os lados.
Celso – Filho! Meu filho! Como você tá?
Eduardo – Pai! Onde o senhor tava? Eu to bem!
Celso – Tava te procurando, filho! Como é que você veio parar nessa casa?
Eduardo – A mãe me trouxe pra cá! Disse que era pra ficar aqui e que o senhor viria pra cá logo!

Cena 17 – Flash-Back – Estrada – Noite
Após o acidente, o garoto ferido acorda, vê o pai desmaiado.
Eduardo – Pai! Pai! Acorda, pai!
Ele começa a mexer no pai, que tá desmaiado, de repente, uma mão toca seu ombro.
Júlia – Tá tudo bem, filho!
Eduardo – Mãe, o pai não responde! O que aconteceu? Ele morreu?
Júlia – Não, filho. Seu pai tá bem. Ele vai acordar logo. Tá tudo bem! Não se preocupa! Tudo vai ficar bem!
Eduardo – Quando ele vai acordar, mãe? Me fala!
Júlia – Na hora certa, filho! Agora, vem comigo!
Eduardo – Onde nós vamos, mãe?
Júlia – Você logo saberá!
Júlia pega a mão de Eduardo e eles saem andando pela estrada, rumo ao Vilarejo das Sombras.
Eduardo – E o pai, mãe? Vai vir também?
Júlia – Vai, filho! Vamos esperar ele naquela casa ali! Ali estaremos seguros! Mas, presta atenção: Não quero que diga nada a ninguém do que aconteceu hoje, hein? Só quando eu disser que pode. Promete?
Eduardo – Prometo, mãe. Não vou contar nada!

Cena 18 – Casa Velha – Interior – Noite
Celso começa a chorar, ouvindo a história do filho. Eles ficam abraçados por um tempo.
Joaquim – Que história!
Jussara – Emocionante!
Dolores – E eu achando que era coisa do capeta! É uma linda história vinda do nosso Senhor!
Celso – (com lágrimas nos olhos) E não imaginam o quanto! A minha esposa Júlia trouxe nosso filho pra cá, pra ele ficar em segurança e cuidou dele enquanto eu não chegava.
Jussara – E onde é que está sua mãe, Dudu?
Celso – Ela não sobreviveu ao acidente! Quando acordei, percebi que meu filho havia desaparecido, porém, antes, me deparei com o corpo dela ao meu lado, ensaguentado, já sem vida.


FIM
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