Cena
1 – Vilarejo das Sombras – Praça - Dia
Jussara
– E aquela casa? (apontando para uma casa velha)
Dolores
– Deus que me perdoe! Não passo nem perto! Dizem que tem encosto!
(se benze)
Joaquim
– Deixem de besteira! É só uma casa velha!
Jussara
– Muito estranha!
Joaquim
– Jussara, você anda vendo muitos filmes!
Dolores
– Joaquim! É verdade! Até o padre tem medo daquela casa, diz que
lá, no passado, houve um crime.
Joaquim
– Hahaha. Lendas, dona Dolores! Lendas!
Jussara
– Lenda ou não, eu prefiro me manter afastada!
As
horas passam e anoitece...
Cena
2 – Vilarejo das Sombras – Campinho de Futebol – Noite
Os
garotos jogam futebol no campinho do vilarejo.
Juca
– Passa pra mim! Aqui! To livre!
Eduardo,
com a bola, passa por Zezinho e fica parado.
Juca
– Por quê parou, Dudu?
Eduardo
– Tá na hora de eu ir!
Zezinho
– Ah, justo agora? Fica mais!
Juca
– É... tá cedo ainda!
Eduardo
– Não posso, minha mãe tá chamando!
Zezinho
– Onde? Eu não ouvi nada!
Juca
– Nem eu!
Eduardo
– Minha mãe tá chamando e eu tenho que ir!
Zezinho
– Onde você e sua mãe estão morando, afinal?
Eduardo
– Ali! (aponta para a casa velha)
Juca
– Ali??? (assusta-se)
Eduardo
– É... Ali!
Zezinho
– Mas.. mas...
Eduardo
não dá mais explicações e sai correndo em direção à casa. Ele
abre a porta e entra. Juca e Zezinho ficam observando.
Cena
3 – Vilarejo das Sombras – Casa Velha – Interior – Noite
Eduardo
– Ah, mãe! Tava cedo ainda!
Júlia
– Não! Já é noite!
Eduardo
– Mas, mãe...
Júlia
– Nada de mas! Vá agora mesmo pro quarto!
Eduardo
vai pro quarto, contrariado.
Cena
4 – Rua Indeterminada – Noite
Um
homem caminha pelas ruas, meio tonto. Ele olha para uma foto.
Celso
– Eu preciso te encontrar!
Cena
5 – Vilarejo das sombras – Praça – Dia
Juca
– É verdade!
Dolores
– Juca! Sabe o que Deus pensa sobre crianças que mentem?
Juca
– Mas eu não to mentindo!
Zezinho
– É verdade! Ele não tá mentindo! Eu mesmo ouvi quando o Dudu
disse que sua mãe tinha chamado.
Jussara
– Até aí, tudo bem! Até acredito que a mãe dele tenha chamado,
mas pra onde você disse que ele foi?
Juca
– Ali pra aquela casa!
Joaquim
– Aquela casa tá abandonada há anos! Ninguém mora ali!
Zezinho
– Ah, mora sim! O Dudu e a mãe dele!
Dolores
– Credo! To com medo!
Joaquim
– Dolores, vai acreditar numa história de criança?
Zezinho
– Não é história! É verdade! O Dudu e a mãe dele moram ali!
Ele mesmo quem disse!
Joaquim
– Tá bom, crianças! Agora vão brincar!
As
crianças se afastam pra ir brincar.
Jussara
– Vocês acreditam mesmo nisso?
Joaquim
– Bobagem! Coisa de criança!
Dolores
– Eu acredito! Pra mim isso é coisa de alma penada! Credo em cruz!
Jesus me proteja!
Cena
6 – Vilarejo das Sombras – Casa Velha – Interior – Dia
Júlia
– Acordou cedo, filho!
Eduardo
– Quero aproveitar pra brincar com meus amiguinhos.
Júlia
– Já sabe, né? Nada de falar nada sobre como viemos parar aqui!
Eduardo
– Por quê, mãe?
Júlia
– Não importa!
Eduardo
– Tava pensando em chamar eles pra conhecer a casa. Aqui é bem
diferente!
Júlia
– NEM PENSAR!
Eduardo
– Ah, mãe! Eu já não posso falar nada, não posso trazer
ninguém!
Júlia
– Não reclama, Dudu! É pro seu bem!
Eduardo
– Que meu bem, nada!
Júlia
– Dudu, não reclama!
Eduardo
– Ah, mãe! Não enche!
Júlia
– Como é que é? Pois bem! Agora, pra você aprender a ter
educação, não vai mais sair de casa!
Eduardo
– Não, mãe! Deixa, vai!
Júlia
– Não! Primeiro me obedeça!
Eduardo
– Quando é que eu vou poder sair?
Júlia
– Quando eu decidir!
Eduardo
– Droga!
Eduardo
vai irritado pro quarto.
Cena
7 – Paisagens do Vilarejo – Dia
(Michael
Jackson – Thriller)
Letreiro:
Dias depois...
Cena
8 – Vilarejo das Sombras – Praça – Dia
Jussara
– Ei, crianças, venham aqui!
Eles
vão até a professora.
Jussara
– Vocês não viram mais aquele amiguinho que vocês disseram que
mora naquela casa?
Juca
– Não, professora.
Zezinho
– Ele nunca mais saiu de casa.
Joaquim
comenta baixinho com Dolores.
Joaquim
– To dizendo! Esse “Dudu” era imaginação das crianças. Não
existe! Não tem ninguém naquela casa. Haha
Juca
ouve o comentário do comerciante.
Juca
– Existe sim, seu Joaquim! Ele só não saiu mais de casa. Tá de
castigo!
Dolores
– Estranho, muito estranho!
Jussara
– Mas, de onde apareceu esse Dudu? Ele não tá matriculado na
escola, só as crianças o viram.
Zezinho
– Eu e o Juca estávamos jogando futebol um dia e ele apareceu,
perguntando se podia jogar também. Nós deixamos e desde então, ele
é nosso amigo.
Dolores
– Esse menino é o capeta, isso sim!
Joaquim
– Dona Dolores, deixa de bobagem! Crianças, eu já disse que não
tem ninguém naquela casa!
Juca
– Tem sim! Nós fomos lá ainda hoje e falamos com ele! Ele só não
pode sair de casa, nem podia abrir a porta porque a mãe dele não
deixou.
Cena
9 – Estrada – Bar – Dia
Celso
entra em um bar.
Celso
– Ei, senhor!
Dono
do bar – Pois não, quer uma bebida?
Celso
– Na verdade, quero uma informação.
Dono
do bar – Se eu souber...
Celso
– Se eu seguir por essa estrada, vou chegar onde?
Dono
do bar – No Vilarejo das Sombras, mas eu aconselho a não ir pra
lá. Dizem que é mal assombrada!
Celso
– haha. Não acredito nisso! Preciso ir até lá!
Dono
do bar – É por sua conta então, mas eu avisei...
Celso
– Tá certo! Agora, mais uma coisa. Por acaso o senhor viu esse
menino?
Celso
mostra a foto do filho. O dono do bar diz que não o viu. Celso
agradece e segue em frente.
Cena
10 – Vilarejo das Sombras – Casa Velha – Exterior – Dia
Joaquim,
Dolores, Jussara, Juca e Zezinho estão em frente à casa velha.
Dolores
– Eu é que não vou bater na casa do capeta!
Jussara
– Não é que eu tenha medo, mas...
Zezinho
– Não tem nada aí! Mas, vocês falaram tanto que até fiquei com
medo!
Juca
– Eu também!
Joaquim
– Deixem de besteira! Deixa que eu bato.
Joaquim
bate na porta.
Joaquim
– Tem alguém em casa? (grita)
Cena
11 – Vilarejo das Sombras – Casa Velha – Interior – Dia
Júlia
– Diga que não pode sair e não abra!
Eduardo
– Desculpa, mas não posso abrir!
Joaquim
– (off) Sua mãe tá aí? Podemos falar com ela?
Júlia
– Diga que não.
Eduardo
– Não!
Joaquim
– (off) A sua mãe não tá?
Eduardo
– Não. Ela saiu. Volta depois!
Joaquim
– (off) Tá certo! Diga a ela que depois eu volto!
Todos
saem, sem conseguir solucionar o problema.
Eduardo
– Pra que isso, mãe?
Júlia
– É pro seu bem, Dudu!
Cena
12 – Vilarejo das Sombras – Escola – Dia
Joaquim,
Dolores, Jussara, Zezinho e Juca vão em direção à escola,
conversando sobre o ocorrido.
Joaquim
– Muito estranho!
Jussara
– E o que o senhor pretende fazer? Vai voltar lá?
Dolores
– Eu não voltaria! A voz do menino era assustadora!
Joaquim
– Claro que volto! Quero entender o que tá acontecendo. E você,
Dolores, pare com bobagens!
Jussara
– Bom, chegamos! Não precisavam ter vindo.
Dolores
– O capeta tá a solta!
Jussara
– Que capeta, nada! Crianças, agora vão pra sala que eu já vou!
Nesse
instante um homem barbudo chega.
Dolores
– Ai, meu Deus! Eu disse! Credo!
Celso
– Me desculpem, não quis assustar!
Joaquim
– Não se preocupe, rapaz! Não liga pra ela.
Jussara
– Em que podemos ajudar?
Celso
– Poderiam me dizer se viram esse menino por aqui?
Celso
mostra a foto do filho. Juca é o primeiro a se manifestar
Juca
– Esse é o Dudu!
Joaquim
pega a foto das mãos de Celso e olha fixamente.
Joaquim
– Então esse é o Dudu!
Celso
– Sim, é meu filho! Vocês viram ele por aqui? Me digam, por
favor! Onde ele tá?
Jussara
– E o senhor, quem é? De onde veio?
Cena
12 – Flash-Back – Estrada – Noite
Um
carro vem pela estrada, à noite, com chuva.
Eduardo
– Pai, eu não to vendo nada!
Celso
– Pera, não fala comigo agora, Dudu! Eu tenho que prestar atenção
na pista.
Eduardo
– Vai devagar, pai!
Celso
faz uma manobra, o carro perde a direção, escorrega e vai em
direção à um barranco e despenca.
Minutos
depois...
Celso
levanta, tonto, percebe que sofreu um acidente.
Celso
– Meu Deus! Filho, você tá bem? (desesperado)
Ele
percebe que Eduardo não tá no local do acidente.
Celso
– Eduardo, cadê você? Dudu?
Ele
começa a procurar pelo local e não encontra o filho.
Cena
13 – Vilarejo das Sombras - Casa Velha – Exterior – Dia
Joaquim
– Agora solucionamos o mistério!
Dolores
– Ainda acho melhor mão mexer com isso!
Jussara
– Dolores, deixa de bobagem! Não viu que o menino é filho desse
rapaz?
Dolores
– Estranho, muito estranho!
Eles
chegam à frente da casa.
Joaquim
– Ei, Eduardo, abra a porta, por favor! Queremos falar com você!
Celso
– Filho? É o papai? Abre!
Cena
14 – Vilarejo das Sombras - Casa Velha – Interior - Dia
Eduardo
– Mãe, tão aí de novo! Já sei, não é pra abrir!
Júlia
– Filho, chegou a hora. Agora você pode abrir a porta, mas espera
um pouquinho.
Eduardo
– Esperar o que, mãe?
Júlia
– Espera eu sair!
Eduardo
– Como assim, mãe? O que a senhora tá falando?
Júlia
– Tem que ser assim, filho!
Cena
15 – Vilarejo das Sombras - Casa Velha – Exterior - Dia
Celso
– Se não abrir a porta, eu vou arrombar!
Cena
16 – Vilarejo das Sombras - Casa Velha – Interior – Dia
O
garoto abre a porta. O pai entra correndo e abraça o filho. Os
moradores da cidade, entram devagar, olhando pra todos os lados.
Celso
– Filho! Meu filho! Como você tá?
Eduardo
– Pai! Onde o senhor tava? Eu to bem!
Celso
– Tava te procurando, filho! Como é que você veio parar nessa
casa?
Eduardo
– A mãe me trouxe pra cá! Disse que era pra ficar aqui e que o
senhor viria pra cá logo!
Cena
17 – Flash-Back – Estrada – Noite
Após
o acidente, o garoto ferido acorda, vê o pai desmaiado.
Eduardo
– Pai! Pai! Acorda, pai!
Ele
começa a mexer no pai, que tá desmaiado, de repente, uma mão toca
seu ombro.
Júlia
– Tá tudo bem, filho!
Eduardo
– Mãe, o pai não responde! O que aconteceu? Ele morreu?
Júlia
– Não, filho. Seu pai tá bem. Ele vai acordar logo. Tá tudo bem!
Não se preocupa! Tudo vai ficar bem!
Eduardo
– Quando ele vai acordar, mãe? Me fala!
Júlia
– Na hora certa, filho! Agora, vem comigo!
Eduardo
– Onde nós vamos, mãe?
Júlia
– Você logo saberá!
Júlia
pega a mão de Eduardo e eles saem andando pela estrada, rumo ao
Vilarejo das Sombras.
Eduardo
– E o pai, mãe? Vai vir também?
Júlia
– Vai, filho! Vamos esperar ele naquela casa ali! Ali estaremos
seguros! Mas, presta atenção: Não quero que diga nada a ninguém
do que aconteceu hoje, hein? Só quando eu disser que pode. Promete?
Eduardo
– Prometo, mãe. Não vou contar nada!
Cena
18 – Casa Velha – Interior – Noite
Celso
começa a chorar, ouvindo a história do filho. Eles ficam abraçados
por um tempo.
Joaquim
– Que história!
Jussara
– Emocionante!
Dolores
– E eu achando que era coisa do capeta! É uma linda história
vinda do nosso Senhor!
Celso
– (com lágrimas nos olhos) E não imaginam o quanto! A minha
esposa Júlia trouxe nosso filho pra cá, pra ele ficar em segurança
e cuidou dele enquanto eu não chegava.
Jussara
– E onde é que está sua mãe, Dudu?
Celso
– Ela não sobreviveu ao acidente! Quando acordei, percebi que meu
filho havia desaparecido, porém, antes, me deparei com o corpo dela
ao meu lado, ensaguentado, já sem vida.
FIM
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