Cena 1/ Desfiladeiro das Pedras/ Interno/ Tarde
(No alto do desfiladeiro, está Solano. Ele pega um celular, disca algumas teclas e o leva ao ouvido)
SOLANO: Alô. É da polícia de Dourados?
...
SOLANO: Eu quero fazer uma denúncia anônima.
(Lá embaixo, está Raimunda, morta e ensangüentada)
Cena 2/ Penitenciária/ Cela de Alexandre/ Interno/ Tarde
(Alexandre, juntamente com três guardas, está na cela).
ALEXANDRE (em cima do colchão que esconde o buraco do túnel): Não há nada aqui. Eu não sei como o Tonhão fugiu.
GUARDA 1: Sai de cima do colchão.
ALEXANDRE: Por quê? Qual é o problema com o colchão?
(Dois guardas empurram Alexandre, que sai de cima do colchão e cai no chão. Um dos guardas tira o colchão do lugar e vê o buraco que dá entrada ao túnel.)
GUARDA 1: Um buraco.
(Os três guardas olham fixamente para Alexandre)
Cena 3/ Penitenciária/ Diretoria/ Interno/ Tarde
(Alexandre, a diretora e o guarda que encontrou o buraco estão na sala. Alexandre e a diretora estão sentados frente a frente)
GUARDA: O colchão no qual o Alexandre estava deitado escondia um buraco.
DIRETORA: Buraco?
GUARDA: Sim. Com certeza, foi por esse buraco que o Tonhão deve ter fugido.
DIRETORA: Você sabia de tudo, não sabia, seu meliante?
ALEXANDRE: Eu não sabia de nada, diretora. Eu juro. Nunca imaginei que aquele colchão escondia um buraco.
DIRETORA: E você acha que me engana? Você sempre soube que seu colega de cela havia fugido e, mesmo assim, o encobertou. Você é cúmplice nisso. Guarda, leve o nosso querido Alexandre para a solitária.
ALEXANDRE: Solitária?
DIRETORA: Isso mesmo. Você vai passar a noite trancado naquele lugar. Leve-o agora.
(O guarda segura Alexandre e os dois saem)
Cena 4/ Penitenciária/ Solitária/ Interno/ Tarde
(O guarda abre a porta da solitária e joga Alexandre lá dentro. O guarda tranca a porta)
ALEXANDRE: Socorro. Alguém me tira daqui. Eu não gosto de lugar completamente fechado. Tenho claustrofobia. Socorro. Socorro.
Cena 5/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Tarde/ Interno/ Tarde
(Marta sai da cozinha e entra na sala de estar. Luiza, abrindo a porta da mansão e empurrando o carrinho de Marquinhos, entra)
MARTA: Filha, não sabia que você tinha saído com o Marquinhos.
LUIZA: Levei meu filho para passear. Está de saída?
MARTA: Vou à farmácia. Tenho que comprar alguns medicamentos para o seu pai.
LUIZA: Não vai mais ao hospital hoje?
MARTA: Não, não irei. Filha, seu pai tem a possibilidade de retirar aquele maldito tumor por meio de uma cirurgia, mas ele não quer. Parece que gosta de viver com a idéia de que tem uma anomalia grave dentro dele.
LUIZA: Papai não está sendo racional.
MARTA: Não irei visitá-lo mais hoje como forma de protesto. Quem sabe, com a minha ausência, ele decida aceitar essa cirurgia.
LUIZA: Mãe, antes de a senhora sair, eu quero lhe contar uma coisa. Contratei uma babá.
MARTA: Babá? Mas já?
LUIZA: Claro. A senhora sabe que eu ainda não entrei na faculdade de direito por causa dessa gravidez. Sem falar que o Felipe já está no segundo período do curso e usando umas economias para montar um escritório de advocacia na cidade.
MARTA: O Felipe deseja montar um escritório de advocacia na cidade? Que inteligente.
LUIZA: Isso mesmo. Com ele fazendo faculdade e trabalhando no escritório e comigo entrando no meu curso de direito, alguém terá que ficar com o Marquinhos. Então, por isso, contratei uma babá.
MARTA: E quem é essa babá?
LUIZA: A Ludmila.
MARTA: A Ludmila? Eu não acredito nisso, Luiza. Você, por acaso, quer me afrontar? Como você contrata a amante do seu pai para ser babá do seu filho?
LUIZA: Amante do meu pai? A Ludmila é amante do meu pai?
Cena 6/ Hospital/ Quarto de Caio/ Interno/ Tarde
CAIO: Acho que no fundo já esperava essa recusa da Lara. Mas eu tinha tantas esperanças que ela aceitasse a proposta.
CELSO: Ela deixou bem claro que não quer mais saber da gente, pai.
CAIO: De qualquer forma, o comportamento dela é compreensível. E tudo isso é culpa minha. Se eu tivesse falado que eu era o pai dela desde o inicio, eu acho que as coisas teriam sido diferentes.
CELSO: O senhor acha? Eu tenho certeza. Eu queria ter a Lara perto de mim também. Acho, que por isso, também criei esperança para que ela aceitasse essa tal proposta.
(Alguém bate na porta)
CAIO: Quem será?
CELSO: Eu atendo.
(Celso atende)
CELSO: Lara?
LARA: Oi Celso.
CELSO: O que você está fazendo aqui? Ontem mesmo, você disse que não viria para Dourados passar um tempo com meu pai.
CAIO: Lara? É você mesmo?
LARA: Sou eu sim, seu Caio.
CAIO: Por favor, me chame de pai.
LARA: Acho que é muito cedo para isso, seu Caio. Mas eu vim passar um tempo com o senhor, viu? Eu fiquei bastante comovida com o que o Celso me disse ontem em São Paulo. De inicio, eu recusei a proposta, mas depois, eu pensei bem e percebi que a vida estava me dando uma nova chance de eu conhecer meu pai de uma maneira mais correta, sem mentiras ou invenções. Então, eu pedi uma licença de um mês para o restaurante onde eu trabalho e decidi vim para cá.
CELSO: Eu estou muito feliz com a sua vinda, Lara.
LARA: Desculpe se eu fui dura com você ontem, Celso.
CAIO: Obrigado por vir, Lara.
LARA: Eu espero que esse tempo seja diferente da ultima vez que eu vim a Dourados, seu Caio.
CAIO: Ele será. Eu garanto.
Cena 7/ Paisagens de Dourados/ Noite
(Toca Beautiful Place – Good Charlotte)
Cena 8/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
LUIZA: Eu não sabia que a Ludmila era amante do meu pai.
MARTA: É sim, filha. Foi por isso que seu pai enfartou. Eu descobri a traição e nós tivemos uma briga por causa disso. No meio da discussão, ele passou mal. Luiza, eu não admito que aquela piranha seja babá do meu neto.
LUIZA: Ela não será, mãe. Se eu soubesse disso antes, teria negado a proposta dela desde cedo.
(Felipe entra)
FELIPE: Boa noite.
(Felipe beija Luiza e dá um beijo em Marquinhos)
FELIPE: Gente, o que aconteceu? Que caras são essas?
LUIZA: Felipe, eu preciso fazer uma coisa. Será que você pode ficar com o Marquinhos um instante?
FELIPE: Claro que fico. É sempre um prazer ficar com meu filho.
(Felipe pega Marquinhos no colo. Luiza sai)
FELIPE: O que aconteceu? Que coisa é essa que a Luiza disse que tinha que resolver?
MARTA: Você conversa com sua esposa, quando ela chegar. Soube que você pretende montar um escritório de advocacia na cidade usando umas economias.
FELIPE: Sim, dona Marta. Eu quero montar um negócio próprio.
MARTA: Gostei da sua idéia, Felipe.
(Tiago e Luana descem a escada)
TIAGO: Boa noite.
MARTA: Vão sair?
TIAGO: Luana me convenceu a jantar fora.
MARTA: Sempre a Luana te convencendo das coisas. Cadê sua vontade própria, Tiago?
(Toca a campainha)
MARTA: Podem deixar que eu atendo.
(Marta atende)
ANDRADE: Com licença. Onde está Luana Carvalho Bertolin?
LUANA: Aqui estou, delegado Andrade. Aconteceu alguma coisa?
ANDRADE: Recebi uma ligação anônima atestando que sua tia Raimunda Carvalho foi encontrada morta próximo ao Desfiladeiro das Pedras.
LUANA: O quê? Minha tia está morta?
ANDRADE: Nós já fomos ao local, fizemos a perícia e levamos o corpo para o necrotério. É necessário que você nos acompanhe para fazer o reconhecimento do corpo, Luana.
LUANA (fingindo choro): Não pode ser. O senhor está mentindo para mim, delegado. Minha tia não está morta. Não está. Eu sei que não está.
TIAGO: Luana, acalme-se.
LUANA: Eu não quero me acalmar, Tiago. Isso não pode ser verdade.
TIAGO: Vamos ao necrotério tirar a prova dos nove. Lá, você terá a certeza se é ou não a dona Raimunda.
Cena 9/ Casa de Lucrécio/ Sala/ Interno/ Dia
LUCRÉCIO: Fico feliz que a Raimunda tenha colaborado com a investigação, delegada Isadora.
ISADORA: Ela me deu informações necessárias sobre a Luana. Além de comentar que a Luana foi armada para a festa de casamento da Amanda, ela me disse que a Luana também levou para a festa uma sacola transparente, com algo preto dentro.
LUCRÉCIO: Algo preto?
ISADORA: Sim. Eu pensei na hora que poderia ser a fantasia de mulher gato.
LUCRÉCIO: Claro. Faz todo o sentido.
(Toca a campainha e Lucrécio atende)
LUCRÉCIO: Delegado Andrade?
ISADORA: Aconteceu alguma coisa, delegado?
ANDRADE: Sim. Doutor Lucrécio, eu vim dar uma notícia nada agradável ao senhor.
LUCRÉCIO: O que houve?
ANDRADE: Hoje, ao anoitecer, eu e minha equipe recebemos uma denúncia anônima afirmando que havia uma mulher morta próxima ao Desfiladeiro das Pedras. Nós fomos ao local, encontramos o corpo da tal mulher e encaminhamos para o necrotério.
LUCRÉCIO: Até agora não entendi onde eu entro nessa história, delegado.
ANDRADE: Mas já vai entender. Surgiu uma suspeita de que a mulher encontrada morta fosse sua noiva, dona Raimunda Carvalho.
LUCRÉCIO: A Raimunda? Impossível. A Raimunda nunca foi ao Desfiladeiro das Pedras, sem falar que eu não vejo motivos que a levariam até aquele lugar.
ANDRADE: A verdade é que eu chamei a Luana para fazer o reconhecimento de corpo e foi comprovado que a mulher morta é a Raimunda.
LUCRÉCIO: O quê? Isso está errado. Eu tenho certeza que a essa hora, a Raimunda está assistindo a novela preferida dela na TV. Não pode ser verdade. Delegada Isadora, não pode ser verdade.
ANDRADE: Bom, eu queria que você viesse comigo ao necrotério para ver o corpo também. A Luana estava muito nervosa. Pode ser que ela tenha se confundido.
LUCRECIO: A Luana. Delegada Isadora, foi ela. Foi a Luana que fez isso com a Raimunda. Eu tenho certeza.
ISADORA: Acalme-se, Lucrécio.
LUCRÉCIO: Foi a Luana. Ela e o capacho do Solano fizeram isso com a Raimunda. Aqueles assassinos. Assassinos.
Cena 10/ Pousada/ Quarto de Ludmila/ Interno/ Noite
(Alguém bate na porta e Ludmila atende)
LUDMILA: Luiza? Já veio me avisar quando irei começar a trabalhar?
LUIZA: Cínica. Eu só permiti que você fosse babá do meu filho, porque eu não sabia que você tinha um caso com meu pai. Como você teve a cara de pau de servir os seus serviços para mim, sua biscate?
LUDMILA: Luiza, aquilo foi passado. Eu não quero mais nada com o Caio.
LUIZA: Pouco me importa. Nunca mais chegue perto de mim, Ludmila. Eu quero distância de você.
LUDMILA: Mas e o emprego de babá?
LUIZA: Você acha mesmo que ainda será babá do meu filho depois disso? Se enxerga.
(Luiza sai)
Cena 11/ Necrotério/ Interno/ Noite
(Luana está abraçada a Tiago. A vilã continua fingindo choro e sofrimento. Andrade, Lucrécio e Isadora entram)
ANDRADE: Lucrécio, só você será permitido a entrar. É nessa sala da frente onde está o corpo da mulher.
(Andrade e Lucrécio entram)
LUANA: Delegada Isadora. É incrível como a senhora está em todos os lugares.
ISADORA: Eu estava com o Lucrécio, quando ele recebeu a notícia.
TIAGO: Boa noite, delegada Isadora.
ISADORA: Boa noite, Tiago.
(Lucrécio sai da sala, acompanhado de Andrade)
ISADORA: E então, Lucrécio? Era a dona Raimunda?
LUCRÉCIO: Sim.
(Isadora abraça Lucrécio, que cai no choro)
LUANA: Eu sinto muito, Lucrécio. Sei como você amava a minha tia. Eu estava conversando com o Tiago sobre algo que havia passado pela minha cabeça e eu decidi que irei fazer um funeral para minha tia.
LUCRÉCIO: Bom saber, Luana. Que horas?
LUANA: Amanhã de manhã, na funerária da cidade.
ISADORA: O senhor deseja ir para a casa, doutor Lucrécio? Eu o acompanho, se quiser.
LUCRÉCIO: Não precisa, delegada. Eu prefiro ir sozinho.
ISADORA: Como queira.
(Lucrécio sai)
TIAGO: Vamos, Luana?
LUANA: Vamos, meu amor.
(Tiago sai, acompanhado de Andrade. Luana para na frente de Isadora)
LUANA: Saiba que você não está convidada, delegada Isadora. Não banque a penetra no funeral da minha tia. Boa noite.
(Luana sai)
Cena 12/ Mansão Bertolin/ Externo/ Noite
(Celso para o carro em frente à mansão. Ele e Lara saem do veículo)
LARA: Acho melhor eu ficar em uma pousada, Celso.
CELSO: Nada disso. Você ficará hospedada na mansão. Ordens do seu Caio Bertolin.
(Celso pega as malas de Lara no bagageiro e ambos sobem a escadaria da frente da mansão)
Cena 13/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Marta desce a escada. Celso e Lara entram)
MARTA: Não pode ser. Estou vendo coisas que não existem. Celso, o que essa bastarda está fazendo aqui?
CELSO: Respeite a Lara, mãe.
MARTA: Bastarda, bastarda e bastarda. Eu não quero essa garota dentro da minha casa.
CELSO: Pois ela ficará. O papai fez questão de hospedar a filha dele na casa dele.
LARA: Boa noite, dona Marta.
MARTA: Não dirija a palavra a mim, bastardinha.
LARA: Quando a senhora parar de me chamar de bastarda, talvez eu não dirija.
(Celso e Lara sobem a escada. Tiago e Luana entram)
MARTA: Tiago? E então, era a Raimunda mesmo?
TIAGO: Sim.
MARTA: Meus sentimentos, Luana. Mas vamos pensar pelo lado positivo.
TIAGO: Que lado positivo, mãe?
MARTA: A Raimunda não terá mais que aturar a presença desse encosto que é a Luana.
LUANA: Respeite minha dor, dona Marta. Isso, se a senhora for capaz.
TIAGO: Amanhã haverá um funeral para a dona Raimunda. Boa noite.
(Tiago e Luana sobem a escada)
Cena 14/ Paisagens de Dourados/ Dia
(Toca Young And Beautiful – Lana Del Rey)
Cena 15/ Funerária/ Interno/ Dia
(O caixão encontra-se no meio da sala. Todos estão dispersos ao redor do objeto. Luana se encontra abraçada ao caixão, enquanto o resto dos personagens está em diferentes cantos da sala.)
LUANA (abraçada ao caixão e fingindo choro): Ah tia. Por que me deixastes?
(Ao fundo, está Lucrécio, que olha fixamente e com descrença para Luana. Isadora entra e Luana vê. Ela se afasta do caixão e se aproxima da delegada)
LUANA (enxugando os olhos): O que você está fazendo aqui? Lembro-me perfeitamente de não ter te convidado.
ISADORA: Mas eu fui convidada, Luana.
LUANA: Por quem?
(Lucrécio aparece atrás de Luana)
LUCRÉCIO: Por mim.
LUANA: Doutor Lucrécio, o senhor não poderia ter feito isso. Esse é um funeral para os familiares e amigos. Essa delegada não tem vínculo nenhum com a minha tia.
ISADORA: Apesar do que você pensa ao meu respeito, eu vim desejar os meus sentimentos.
LUANA: Dispenso os seus sentimentos.
ISADORA: Você sabe que isso é desacato a autoridade, não sabe? Só estou relevando, porque eu entendo a dor que você está sofrendo. Ou que diz estar sofrendo.
LUANA: Quem é você para duvidar dos meus sentimentos? Você mal me conhece.
LUCRÉCIO: Ah, Luana, enxuga essas lágrimas de crocodilo, por favor. Cansei da sua encenação.
LUANA: O quê? Lágrimas de crocodilo? Logo o senhor falando isso, doutor Lucrécio? Vejo que o senhor também foi contaminado pela mente pérfida dessa delegada.
LUCRÉCIO: Fale o que quiser, mas eu não acredito no seu sofrimento. Para mim, tudo não passa de uma farsa.
ISADORA: Lucrécio, é melhor você não exaltar a sua dor.
LUCRÉCIO: Foi você que matou a Raimunda, não foi? Você e o verme do Solano acabaram com a vida dela. Confessa, vadia.
LUANA: Eu não vou ficar aqui ouvindo um monte de besteiras.
(Lucrécio pega o braço de Luana)
LUCRÉCIO (gritando): ASSASSINA.
(Todos olham para Lucrécio e Luana)
LUCRÉCIO: EU SEI QUE VOCÊ MATOU A RAIMUNDA. ASSASSINA. ASSASSINA. ASSASSINA!
(Congela em Luana. Toca Radioactive – Imagine Dragons)
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