ALICE
NONO CAPÍTULO
Cena 1/Mansão
Grimaldi/Corredor/Manhã
Estrela, ainda um pouco tonta, caminha
pelo corredor, trançando as pernas.
ESTRELA – O que tá acontecendo
comigo, hein?
Estrela chega à escada e se
desequilibra, rolando escada a baixo. A ruiva chega ao chão,
desmaiada.
A câmera se aproxima do rosto de
Estrela, desmaiada.
Cena 2/Mansão
Albuquerque/Jardim/Manhã
Rebeca está sentada em volta da mesa
tomando café com César.
CÉSAR – E então, meu amor, o Olavo
não quis vender a empresa pra você?
REBECA – Não! O Olavo sempre foi
cabeça dura. Eu insisti até quando pude, mas ele não aceitou a
proposta!
CÉSAR – Eu não entendo essa paixão
do Olavo pela empresa.
REBECA – E eu não entendo por que
você tanto quer aquela agência. Com a fortuna que nós temos, dá
pra montar umas vinte empresas melhores que a dele!
CÉSAR – Você sabe muito bem o
motivo.
REBECA – Uma vingança boba.
CÉSAR – Boba? O canalha do Olavo me
destruiu! Me passou a perna! Se hoje ele é um dos homens mais ricos
desse país, tem que agradecer a mim!
REBECA – Agradecer a você? (risos)
Poupe-me, César.
CÉSAR – Eu não contei piada alguma
para você rir.
REBECA – Você é a piada! Um homem
derrotado, fraco, idiota. Se não fosse por mim, você estaria
trabalhando de camelô na Avenida Brasil até hoje!
CÉSAR – Vai jogar na minha cara que
você me tirou da miséria?
REBECA – Não, não vou! Só estou te
lembrando de que do mesmo jeito que eu estendi a mão e te tirei da
miséria, posso te colocar nela de novo.
CÉSAR – Você seria capaz?
REBECA – Eu sou capaz de coisas que
Deus duvida e o Diabo aplaude.
CÉSAR – Capazes de coisas horríveis,
não?
REBECA – O que você está
insinuando?
CÉSAR – Rebeca me responde uma
coisa, você seria capaz de matar?
Bianca entra no jardim e ouve a
conversa dos dois.
BIANCA – Matar? Que história é
essa?
Rebeca e César a encaram, sem saber o
que falar.
Cena 3/Mansão Grimaldi/Sala/Manhã
A empregada entra na sala e encontra
Estrela desmaiada. Assustada, ela grita.
EMPREGADA – JESUS MARIA JOSÉ! A DONA
ESTRELA MORREU!
Victoria e Olavo, ao ouvirem o
escândalo, entram na sala.
VICTORIA – O que você tá falan...
ESTRELA! ESTRELA MEU DEUS!
Victoria corre para perto de Estrela.
Olavo faz o mesmo.
OLAVO – O que aconteceu?
EMPREGADA – Eu não sei! Quando
entrei aqui na sala ela tava aí, estirada no chão.
Olavo pega o braço de Estrela e sente
o pulso.
OLAVO – Ela tá viva!
EMPREGADA – Ai, graça a Deus!
VICTORIA – Chama uma ambulância,
vai! Corre!
A empregada corre pra perto do telefone
e liga para o hospital onde os Grimaldi tem convênio.
EMPREGADA – Alô? É do hospital São
Lucas?
Cena 4/Agência de Modelos/Sala do
Vice-Presidente/Manhã
Adriana entra na sala. Marcos, que
estava sentado, levanta-se e vai ao encontro dela. Adriana tenta
beijá-lo, mas ele segura seus braços e a impede.
ADRIANA – Ai, assim você me machuca!
MARCOS – E é pra machucar mesmo!
ADRIANA – Que isso? Sexo selvagem?
Não pensei que você ia querer logo aqui! (risos)
Marcos a solta.
MARCOS – Eu não estou para as suas
gracinhas, Adriana.
ADRIANA – E pra que você me chamou
então?
MARCOS – O que você foi fazer no
Copacabana Palace?
ADRIANA – Eu?
MARCOS – Não, Adriana. Você não! A
Cleópatra!
ADRIANA – Talvez ela tenha ido trair
o Faraó, ora essas.
Marcos se aproxima de Adriana, a segura
pelos ombros e a sacode.
MARCOS – Eu tô falando sério,
Adriana. O que você foi fazer naquele hotel?
ADRIANA – Me solta primeiro e eu
conto!
Marcos solta Adriana.
ADRIANA – Eu fui visitar a Cristina.
MARCOS – ELA ESTÁ NO COPACABANA?
ADRIANA – Sim, está. Preferi que ela
ficasse lá porque é próximo da empresa e ela poderia “esbarrar”
com a Renata mais vezes. Mas por que tamanha surpresa? E afinal, como
você me viu lá?
MARCOS – Ontem a noite a Renata e eu
fomos lá!
Adriana fica surpresa.
ADRIANA – E ela me viu?
MARCOS – Sim! Se não fosse por ela
eu não saberia que você esteve lá.
ADRIANA – E o que ela disse?
MARCOS – Várias coisas como, por
exemplo, se você não foi se encontrar com um homem.
ADRIANA – (rindo) Mal sabe ela com
qual homem eu me deito! Mas o que você disse?
MARCOS – Que eu pouco me importo com
quem você se relaciona, que por mim você poderia ir pra cama até
com uma mulher que eu não daria a mínima!
ADRIANA – (rindo) Que radical você,
hein? Então quer dizer que se eu me envolvesse com uma mulher, você
não se importaria?
MARCOS – Por favor, Adriana!
ADRIANA – (rindo) Mas imagina que
excitante: você, eu e mais uma mulher. Na casa da corna! Naquela
banheira de hidromassagem maravilhosa que ela tem. Vai me dizer que
você não toparia? Todo homem tem fetiche em transar com duas
mulheres ao mesmo tempo, ainda mais se for com uma gostosa como eu!
MARCOS – Falando desse jeito você
parece uma prostituta! Uma mulher que não vale um centavo sequer.
Adriana dá uma bofetada em Marcos.
ADRIANA – Me respeite porque sou
mulher casada, decente e virgem! Estou me guardando para o meu
marido! (risos)
Marcos retribui a bofetada.
MARCOS – Tapa de amor não dói!
Agora sai da minha sala, sai. Não tenho tempo para suas bobeiras!
Adriana, que havia caído no sofá com
o impacto do tapa, se levanta.
ADRIANA – Agressivo... Gosto assim!
(risos)
Adriana sai da sala. Marcos ri.
Cena 5/Copacabana/Hospital São
Lucas/Sala de Espera/Manhã
Victoria e Olavo estão andando de um
lado para o outro na sala.
VICTORIA – Que não seja nada de
grave coma minha filha, meu Deus!
OLAVO – Eu ainda estou intrigado com
esse desmaio.
VICTORIA – Eu também! A Estrela
nunca teve esses desmaios sem motivo aparente.
OLAVO – Você acha que pode ser algo
grave?
VICTORIA – Espero que não!
OLAVO – E o Estevão?
VICTORIA – O que tem?
OLAVO – Ele já sabe desse desmaio da
Estrela?
VICTORIA – Ah, que cabeça a minha!
Com tudo isso eu nem me lembrei de avisá-lo. Vou ligar pra ele.
Victoria pega o celular, aperta um
teclado e leva o celular ao ouvido.
VICTORIA – Estevão? Aconteceu uma
coisa com a Estrela.
Cena 6/Mansão Guimarães/Sala/Manhã
BÁRBARA – A Estrela o quê?
ESTEVÃO – Pelo que a Victoria me
disse, a Estrela desmaiou na mansão e rolou escada a baixo.
Bárbara fica perplexa.
BÁRBARA – Meu Deus! E está tudo bem
com ela?
ESTEVÃO – Ninguém sabe ainda. Ela
está sendo examinada!
BÁRBARA – E você quer que eu vá
contigo, querido?
ESTEVÃO – Mas você não vai abrir a
boutique?
BÁRBARA – Eu tenho empregados pra
isso, né querido. Eles podem segurar as pontas até eu chegar!
ESTEVÃO – Então vamos.
BÁRBARA – Eu vou lá em cima pegar a
minha bolsa.
ESTEVÃO – OK! Te espero na garagem.
Estevão sai correndo em direção à
garagem. Bárbara sobe as escadas.
Cena 7/Mansão
Albuquerque/Jardim/Manhã
BIANCA – E então, alguém vai me
explicar que história é essa?
CÉSAR – Sobre o que você está
falando, querida?
BIANCA – Não se faça, pai. Eu ouvi
muito bem você falando algo relacionado a matar!
REBECA – Olha como você fala com o
seu pai, menina.
BIANCA – Perdão! É que eu quero
saber sobre o que vocês estavam falando.
CÉSAR – É que... Que... Que...
BIANCA – (rindo) Travou o disco,
papi?
REBECA – O seu pai falou sobre matar
sim!
Bianca e César se surpreendem.
CÉSAR – Rebeca!
REBECA – O que foi César? Ela quer
saber, oras! Não custa nada contar. O seu pai me perguntou se eu
teria coragem de matar um esquilo que passou aqui pelo jardim.
BIANCA – Um esquilo?
REBECA – Isso mesmo! Um esquilo
grande, não muito, mas pouco maior que um filhote. Acho que é ele
que está destruindo as minhas flores! E se for ele mesmo, assim como
César me perguntou e eu ia responder, eu o matarei. Não gosto que
nada atrapalhe o que me interessa!
César respira, aliviado. Bianca
senta-se à mesa.
BIANCA – E você seria capaz de matar
uma criatura indefesa?
REBECA – Eu sou capaz de muitas
coisas, querida! (risos) Agora cale-se, sente-se e tome o seu café
conosco.
BIANCA – Vou fazer isso mesmo, daqui
a pouco vou pra boutique da Bárbara.
REBECA – Você ainda não tirou essa
ideia de trabalhar da sua cabeça, minha filha?
BIANCA – Não, mãe. E não adianta
implorar porque eu vou continuar trabalhando!
REBECA – Olha só o Império que nós
temos, querida. Pra que trabalhar quando se tem tudo aos seus pés?
BIANCA – Você acha mesmo que eu
ficaria encostada na sua fortuna?
REBECA – Seria o mais coerente a
fazer.
BIANCA – O que você tem na sua
cabeça, hein mãe?
REBECA – Além dos meus lindos e
sedosos fios morenos? Um cérebro! E esse cérebro pensa bastante,
sabe Bianca. O suficiente para saber o que é melhor pra você!
BIANCA – Pois parece que pra isso ele
não está pensando. Que tipo de mulher eu seria se não corresse
atrás do que eu desejo, hein mãe? A vida não tem a menor graça
quando se tem tudo aos seus pés. Ainda mais quando você é filha de
Rebeca e César Montenegro!
REBECA – Eu nunca vou te entender,
Bianca. Nunca! Você tem uma vida confortabilíssima, tudo o que você
desejar pode aparecer na sua frente num estalar de dedos e você opta
por trabalhar? Se tornar uma assalariada? Por favor, né!
BIANCA – Tudo o que eu quero pode
aparecer na minha frente num estalar de dedos?
REBECA – Sim!
Começa a tocar a instrumental Amores
Distantes – Tema de José Alfredo – Império.
BIANCA – Então eu quero o meu pai!
Um clima de tensão toma conta do
jardim. Bianca olha para César.
BIANCA – Perdão, César. Perdão!
Você é o meu pai sim e eu te agradeço por ter me criado com todo
amor, todo carinho, todo apresso e atenção. Mas dentro de mim eu
sempre tive o desejo de conhecer o meu verdadeiro de pai, de ser
criada por ele, de vê-lo nas minhas peças na escola... Até levar
broncas eu queria!
César coloca sua mão sob a de Bianca.
Rebeca os observa.
CÉSAR – Eu te entendo, querida. Eu
te entendo!
Bianca seca algumas lágrimas que caem
de seus olhos.
REBECA – Isso infelizmente você não
pode ter, querida.
BIANCA – Viu como os desejos são
difíceis de realizar e, às vezes, até impossíveis, mãe? Então
tira essa ideia da sua cabeça porque esse é um dos desejos que
nunca vão se realizar! Eu vou continuar trabalhando até quando eu
puder. Quero receber o meu próprio salário, ter minha carteira de
trabalho assinada, levar, sim, com todo orgulho e felicidade, o
titulo de “assalariada”. Porque trabalhar é a melhor coisa que
uma pessoa pode fazer! O trabalho enaltece a alma, mãe. E com
licença, porque eu perdi o apetite.
Bianca se levanta da mesa e dá um
beijo na testa de César. Em seguida, sai.
CÉSAR – Viu o que você fez, Rebeca?
Você afasta de você todas as pessoas que se aproximam! Esse seu
jeito rancoroso só vai te levar a uma coisa: a solidão. Com
licença.
César joga o guardanapo sob a mesa e
sai.
REBECA – Quem tem dinheiro não
precisa da companhia de pessoas medíocres como você, César. Não
precisa mesmo!
Cena 8/Vila do Sossego/Pátio/Manhã
Madalena passa pelo pátio. Carmen e
Patrícia estão em pé, na porta.
CARMEN – E então, querida, se
recuperou?
PATRÍCIA – Aconteceu alguma coisa
com você, Madalena?
MADALENA – Não necessariamente
comigo, mas me atingiu.
PATRÍCIA – Te atingiu? Como assim?
MADALENA – A Alice, Pat... Ela teve
mais um daqueles surtos!
PATRÍCIA – Meu Deus! E por quê? O
que a motivou a isso?
MADALENA – Eu não posso explicar o
motivo, me perdoe.
PATRÍCIA – E ela cometeu algo grave
durante esse surto?
MADALENA – Não! Apenas quebrou o
próprio quarto.
CARMEN – Eu tenho medo, Mad. Eu tenho
medo!
MADALENA – Eu também, Carmen. Tenho
medo de ela cometer mais uma atrocidade como há anos atrás!
PATRÍCIA – Olha (mostrando o braço),
só de lembrar disso fico toda arrepiada!
MADALENA – Eu também.
CARMEN – E você não tem medo da
Alice fazer o mesmo contigo?
MADALENA – Não! Apesar de tudo, eu
tenho a convicção de que a Alice não faria o mesmo comigo.
PATRÍCIA – Todo louco sabe a loucura
que está cometendo!
Carmen olha para Patrícia.
PATRÍCIA – Ai, ai, perdão! É que
saiu!
MADALENA – Tudo bem, Patrícia. Você
não é a primeira e nem será a última pessoa a rotular a Alice
como louca. Todos que conhecem o passado dela e o que ela fez a
chamam assim!
Carmen se aproxima de Madalena e coloca
a mão sob seu ombro.
CARMEN – Tudo vai se resolver,
querida. Tenha fé!
Cena 9/Passagem de tempo da manhã
para o fim da tarde
Cena 10/Copacabana/Hospital São
Lucas/Sala de Espera/Noite
Victoria, Olavo, Estevão, Bárbara,
Alice, Melissa e Afonso estão na sala de espera.
MELISSA – Eu não aguento mais essa
espera! Eu quero notícias sobre o estado da minha neta!
AFONSO – Calma, meu amor. A
enfermeira que veio aqui informou que está tudo bem!
MELISSA – E eu lá quero informação
de enfermeira, Afonso? Quero ouvir da boca do próprio médico que
está tudo bem com a Estrela!
VICTORIA – Eu também quero ouvir
essas palavras vindas da boca dele, mãe.
OLAVO – Eu vou procura-lo porque é
impossível que ele não venha até nós!
ALICE – Calma, Olavo! Eles vão vir
falar com o senho.. Digo, com você! E com todos nós!
ESTEVÃO – Eu só espero que esteja
tudo bem com a minha esposa.
BÁRBARA – E está, querido. Se Deus
quiser, há de estar!
A enfermeira entra na sala de espera.
ENFERMEIRA – Vocês são os parentes
da paciente Estrela Grimaldi?
TODOS – Sim!
ENFERMEIRA – Me acompanhem então.
Ela acabou de acordar!
TODOS – Graças a Deus!
Todos saem da sala de espera e
acompanham a enfermeira até o quarto onde Estrela está.
Cena 11/Copacabana/Hospital São
Lucas/Quarto de Estrela/Noite
A enfermeira abre a porta do quarto e
todos entram. Estevão corre para o lado de Estrela, pega em sua mão
e a beija.
ESTEVÃO – Eu estava tão preocupado
com você, meu amor. Tão preocupado!
VICTORIA – Todos estávamos, querida.
OLAVO – Eu pensei que o pior poderia
ter acontecido!
MELISSA – Todos nós pensamos!
AFONSO – Mas graças a Deus tudo está
bem!
ALICE – Graças a ele!
BÁRBARA – E onde está o médico?
AFONSO – Eu também quero saber!
Quero informações sobre o estado da minha neta!
ESTRELA – Eu estou bem, gente. Se
acalmem! (risos)
Neste instante, o médico entra no
quarto.
MÉDICO – Me desculpem a demora. Tive
que resolver um problema com a balconista!
OLAVO – Tudo bem, sem problema. Mas
agora nos diga, a Estrela tem alguma coisa?
MÉDICO – Sim.
ESTRELA – (surpresa) EU TENHO?
Todos ficam surpresos.
MÉDICOS – Mas não é motivo de
preocupação! Pelo contrário, podem comemorar.
VICTORIA – E o que é?
MELISSA – Nos diga, por favor! Estou
ficando apreensiva!
ALICE – Todos estão!
MÉDICOS – Estevão, parabéns.
ESTEVÃO – Parabéns? E por quê? Eu
não tô entendendo mais nada!
Estevão segura Estrela pela mão.
Todos estão nervosos.
MÉDICO – A Estrela está grávida!
TODOS – GRÁVIDA?
O médico faz que sim com a cabeça.
Todos ficam surpresos. Alice e Estevão se olham e sorriem.
FIM DE CAPÍTULO
0 comentários:
Postar um comentário