Cena 1/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Carlota e Cassilda/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
CASSANDRA: E então, o que você prefere?
CARLOTA: Eu não acredito que você está me ameaçando, Cassandra. Eu sou sua irmã.
CASSANDRA: E desde quando isso é impedimento para eu te colocar contra a parede?
CARLOTA: Por que você está fazendo isso? Por que esse interesse todo em me prejudicar, em acabar com o meu namoro?
CASSANDRA: Já disse. Papai sempre nos ensinou a falar a verdade, só estou fazendo jus aos ensinamentos dele.
CARLOTA: Mentira descarada.
CASSILDA: Cassandra, o que você está fazendo não é certo.
CASSANDRA: Cala a boca, Cassilda. Fica quieta, porque eu não me lembro de ter pedido sua intervenção.
CARLOTA: Vai cuidar da sua vida, Cassandra. É o melhor que você faz.
CASSANDRA: Chega, chega desse mimimi. Diga logo, Carlota, que eu não tenho todo o tempo do mundo. Você vai terminar o seu namoro com o Joca por livre e espontânea vontade ou terei que contar tudo para o papai? Você sabe o que ele pode fazer com o seu namoradinho quando nosso pai descobrir, não sabe? Esfolá-lo vivo será o mínimo.
CARLOTA: Eu preciso de um prazo.
CASSANDRA: Nada disso. Eu quero a resposta agora.
CARLOTA: Cassandra, isso não é simples de se resolver. Envolve sentimentos.
CASSANDRA: Tudo bem, tudo bem. Dou pra você 24 horas pra você terminar com o Joca. 24 horas, Carlota. Se esse tempo passar e eu souber que você não tirou o Joca da sua vida, eu contarei a verdade para o papai. Esteja avisada.
(Cassandra sai)
CARLOTA (com os olhos marejados, iniciando a chorar): Você viu o que ela acabou de fazer, Cassilda? E agora?
CASSILDA (abraçando Carlota): Calma, minha irmã. No fim das contas, tudo irá se resolver da melhor forma possível.
CARLOTA: Duvido muito disso. Deve haver uma maneira de eu me livrar da chantagem da Cassandra sem precisar terminar meu namoro com o Joca.
CASSILDA: Você quer que eu seja franca?
CARLOTA: Claro.
CASSILDA: Eu acho melhor você contar a verdade para o papai. Quem sabe ele ouvindo essa história da sua boca, tudo não se torna mais fácil? Papai te ama, Carlota. Ele é capaz de tudo para te ver feliz, até de consentir um relacionamento que foge às pretensões e padrões dele.
CARLOTA: Mas você acha que eu devo obrigatoriamente contar tudo para o papai?
CASSILDA: Claro. A meu ver, contar essa história para o papai é a única saída que você tem sem se entregar à chantagem da Cassandra. Sem falar que é muito melhor do papai ficar sabendo disso pela sua boca, do que pela boca da nossa amarga e invejosa irmã, que tem o poder de deturpar tudo. Você não acha?
CARLOTA: Você tem razão, Cassilda. Uma hora eu teria que confrontar meu pai a respeito desse meu relacionamento mesmo. Acho que essa hora chegou.
Cena 2/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Manhã
(Bonavante sentado à mesa, vendo inúmeros papéis. Alzira entra)
ALZIRA: Com licença, Dr. Bonavante.
BONAVANTE: Aconteceu alguma coisa, Alzira?
ALZIRA: Dr. Plínio, o fazendeiro vizinho, está aqui querendo falar com o senhor.
BONAVANTE: Mande-o entrar, por favor.
ALZIRA: Sim senhor, com licença.
(Alzira sai. Tempo. Plínio entra. Bonavante levanta-se, aproxima-se do amigo e os dois se abraçam)
BONAVANTE: Plínio Sampaio. Quanto tempo não me faz uma visita.
PLÍNIO: Digo o mesmo de você, caro amigo.
BONAVANTE: Desde quando Madalena morreu, a tendência é que eu fique mais recluso.
PLÍNIO: Você tem que reverter essa situação, Bonavante. Não pode ficar de luto pela sua esposa eternamente.
BONAVANTE: Eu sei disso, mas não consigo. Mas posso saber que bons ventos te trazem em minha propriedade?
PLINIO: Maus ventos, você quer dizer.
BONAVANTE: Como assim?
PLINIO: Minha filha, Marjorie, sumiu. Eu preciso da sua ajuda para encontrá-la, Bonavante.
Cena 3/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/ Interno/ Manhã
(Joca e Ariana sentados na cama, frente a frente)
JOCA: Estou com tantas saudades da Carlota. Se eu pudesse, passaria todas as horas da minha vida ao lado dela, sem interrupções.
ARIANA: Fico me perguntando quando terei um amor avassalador como o seu e o da Carlota, meu irmão.
JOCA: E quanto ao Vitorino?
ARIANA: Paixão de escola. Ele também nunca me notou.
JOCA: Ariana, você é linda. Se ficasse mais próxima dele, tenho certeza que ele passaria a te notar.
ARIANA: Você só diz isso porque é meu irmão e não quer me ver triste.
JOCA: Carlota ainda não te procurou para marcar um novo encontro comigo?
ARIANA: Ainda não. Mas, acalme-se, vocês se viram antes de ontem, esqueceu?
JOCA: Sinto como se algo estivesse acontecendo, algo que pusesse o meu relacionamento com ela em risco.
ARIANA: Vocês tem que se resolverem, isso sim. Você com o padre Juscelino, porque ele acha que você quer ser padre, e a Carlota com o pai dela, botando o pé na parede que ela quer ficar com você, e não com um riquinho metido a besta.
Cena 4/ Estrada/ Externo/ Manhã
(Simão conduzindo uma carroça em direção à capital. Ele acabara de sair da propriedade de Bonavante. O capataz passa por uma curva. Marcílio, que vinha caminhando na direção oposta a pé, se assusta ao ver o cavalo e cai no chão, torcendo o pé. Simão também se surpreende ao se deparar com o rapaz na estrada de repente e tenta parar a carroça. O cavalo chega a pisar na pé torcido de Marcílio, que grita de dor. A carroça para. Simão sai dela, se aproximando de Marcílio, caído no chão)
MARCÍLIO: Não olha pra onde anda? Por um milagre, não acabei atropelado por essa carroça.
SIMÃO: Não foi a minha intenção. A curva era fechada, não dava pra ver quem vinha na direção oposta. Desculpe.
MARCÍLIO: Ai, meu pé. Como dói.
SIMÃO: Tenho uns curativos aqui. Posso imobilizá-lo. Posso saber para onde você está indo?
MARCÍLIO: Para a fazenda de Bonavante Sabarah à procura de emprego. Talvez, possa haver uma vaga pra qualquer coisa na propriedade dele. Vaqueiro, cocheiro, mordomo, quem sabe.
SIMÃO: Você só iria perder seu tempo com isso. Todas as funções na fazenda do Dr. Bonavante já foram preenchidas.
MARCÍLIO: E como você sabe disso?
SIMÃO: Porque eu trabalho com ele.
MARCÍLIO: Estou sem sorte mesmo. E eu preciso de um emprego pra hoje, o mais rápido possível.
SIMÃO: E por que essa agonia?
MARCÍLIO: Meu pai ta me enchendo o saco pra procurar o emprego. Ele quer ver dinheiro no fim do mês.
SIMÃO: E precisa ser exatamente no fim do mês?
MARCILIO: Como assim? Não estou entendendo aonde você quer chegar.
SIMÃO: E se você aparecer com alguma grana em sua casa hoje. Seu pai vai achar que você procurou algum emprego que se paga diariamente e aí sim não reclamará mais de você.
MARCÍLIO: É uma boa, mas como vou conseguir isso?
SIMÃO: Sabe como eu virei capataz e braço direito do Dr. Bonavante? Roubando as pessoas no meio da estrada. Todo dia, eu tinha dinheiro pra me sustentar. Todo santo dia. Por que você não tenta o mesmo? Quem sabe você tem esse talento.
Cena 5/ Paisagens de Vila Prata/ Tarde
(Toca A Rush Of Blood to the Head – Coldplay)
Cena 6/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Tarde
(Bonavante entra. Atrás dele, Carlota. A filha fecha a porta e senta-se, ficando frente a frente com seu pai, que já está sentado)
CARLOTA: Pai, eu fico feliz pelo senhor ter concedido esse tempo para conversarmos.
BONAVANTE: Tenho todo o tempo do mundo para te ouvir, Carlota. Filha, tem alguma coisa estranha entre você e a Cassandra?
CARLOTA: Bom , tem a ver com isso a conversa que eu quero ter com o senhor e...
BONAVANTE: Espera. Você não sabe o quanto estou alegre por estarmos aqui, conversando como pai e filha.
CARLOTA: Sua alegria me deixa alegre também, pai.
BONAVANTE: Sabe, Carlota, o Plínio veio aqui hoje. Ele me contou que a Marjorie, filha dele, sumiu com um galanteador. Três dias atrás. Ele está sofrendo tanto. Agradeço por ter você por perto, meu bem. Você é tudo pra mim, Carlota. Se você fugisse com algum rapaz ou pelo namorasse um que eu saberia que não iria te fazer feliz e que te traria dor e sofrimento, eu ficaria tão desapontado.
CARLOTA: Eu prezo muito pelo seu amor e afeto, pai.
BONAVANTE: E eu pelo seu, filha. Desculpe por esse momento emotivo, mas não pude deixar passar. Certo, agora é sua vez. O que mesmo você quer conversar comigo?
CARLOTA: Bom... É, não é nada demais, é besteira, pode esperar. Lembrei que tenho um compromisso agora com a Clarissa. Até mais, pai.
(Carlota sai, apressada)
BONAVANTE: Até mais, filha.
Cena 7/ Mansão Sabarah/ Quarta Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Tarde
(Cassilda e Carlota sentadas na cama da primeira)
CARLOTA: Não tive coragem de revelar a verdade, Cassilda. Fiquei com medo da reação do papai. Ele começou a falar da alegria de eu estar ao lado dele, de nunca tê-lo desapontado que perdi a determinação que eu tinha quando decidi falar com ele.
CASSILDA: Tudo bem, minha irmã, não precisa se explicar. Eu entendo. Deve ser difícil essa situação pela qual você está passando.
CARLOTA: E tudo culpa da Cassandra. E agora, o que eu faço?
CASSILDA: O que acha de falar com o Joca, alertá-lo com o que ta acontecendo?
CARLOTA: Será que é uma boa ideia?
CASSILDA: Se estiver com duvidas, procure uma segunda opinião.
Cena 8/ Mansão Bovary/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Marilda e Carlota na sala, as duas em pé)
MARILDA: A dona Clarissa acabou de sair, Carlota. Algum problema?
CARLOTA: Não é nada demais. Você sabe dizer para onde ela foi?
MARILDA: Para a vila. Ela foi falar com o Dr. Pessoa sobre a doença da dona Eva, além de comprar alguns medicamentos. Quer deixar um recado?
CARLOTA: Não é necessário. Obrigada, Marilda.
(Carlota sai)
Cena 9/ Vila Prata/ Comércio de Geraldo/ Interno/ Tarde
(Geraldo e Liduína dentro do comércio, sozinhos. O interior do estabelecimento em processo de reforma)
LIDUÍNA: Seu comércio irá ficar lindo, Geraldo.
GERALDO: Obrigado, Maria Rap..., quero dizer, Liduína.
LIDUÍNA: Você ia me chamando de Maria Rapariga, não é? Tudo bem, eu não me importo. Já passou o tempo em que eu arrancava meus cabelos por causa disso.
GERALDO: De qualquer forma, perdão. Não é de bom tom tratar uma mulher deslumbrante como você de uma forma tão chula.
LIDUÍNA: Agradeço o elogio. Bom, eu sinto que seu armazém será o sucesso da cidade.
GERALDO: Tomara.
LIDUÍNA: E se isso acontecer, você precisará de muitos funcionários, não?
GERALDO: Sim, sim, claro.
LIDUÍNA: E você não tem um trabalho pra me dar, não, Geraldo? Eu estou precisando muito.
GERALDO: Daqui a uns dois anos, quando o comércio deslanchar, quem sabe.
LIDUINA: Eu quero agora.
(Liduína se aproxima de Geraldo, de maneira sensual. Ela põe suas mãos no ombro dele)
GERALDO: Er... Bom... Agora, não posso, Liduína. (ela tira as mãos do ombro dele) Já dei um emprego pro seu irmão, o Vitorino. É só em um funcionário que estou podendo investir no momento.
LIDUÍNA: Tudo bem, Geraldo. Eu já imaginava. Bom, de qualquer forma, obrigada. Até mais.
(Liduína sai, deixando Geraldo entristecido)
Cena 10/ Estrada/ Tarde
(Marcílio em pé, caminhando. Simão na sua frente)
SIMÃO: Fico mais tranqüilo vendo você caminhar normalmente.
MARCÍLIO: Não foi nada demais. Obrigado pela ajuda. Será que você poderia me tirar uma dúvida?
SIMÃO: Claro.
MARCÍLIO: Como você se tornou o braço direito do seu Bonavante?
SIMÃO: Desde pequeno, trabalhei na fazenda do Dr. Bonavante. Ele nunca se queixou do meu trabalho e, com o passar do tempo, ele foi me confidenciando algumas coisas, nos tornamos mais próximos, e tudo foi importante para resultar nessa relação que eu e ele temos hoje.
MARCÍLIO: Que bom para você.
SIMÃO: Se você levar dinheiro pra sua casa, seu pai vai acreditar que você arranjou emprego, não é, verdade? Faça isso acontecer.
(Simão sobe em sua carroça)
SIMÃO: Só o que tem nessa estrada é gente rica passando, com muitos baús, barras de ouro, moedas. Apenas aproveite o momento certo.
(Simão parte, deixando Marcílio na estrada, pensativo)
Cena 11/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Liduína/ Interno/ Tarde
(Liduína e Vitorino, conversando)
LIDUÍNA: Eu não sei o que faço, Vitorino. Ninguém me ofereceu um emprego decente.
VITORINO: Ninguém mesmo?
LIDUÍNA: Bom, teve a Mãe Soraya. Ela disse que eu poderia distribuir por aí uns panfletos de divulgação que ela preparou.
VITORINO: E por que você não aceitou? Por acaso, tem algo de errado nesse emprego?
LIDUÍNA: Algo de errado? Não, não tem nada de errado.
VITORINO: Então, deixe de ser boba e aceite a oferta da Mãe Soraya, apesar de ela ser uma pilantra de mão cheia, não é mesmo? O que importa é que se você vier com essa contratação antes do Marcilio, você ganha o prêmio. E, sinceramente, estou torcendo por você.
Cena 12/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Ariana sentada. Juscelino se aproxima da moça)
JUSCELINO: Ariana, minha querida, você conseguiu obter alguma informação do Joca a respeito de ele querer ser padre ou não?
ARIANA: Ainda não, padrinho.
JUSCELINO: Querida, você tem que mexer seus pauzinhos.
ARIANA: Por que o senhor mesmo não pergunta para ele?
JUSCELINO: A cada dia que passa, sinto seu irmão mais distante de mim. Se eu chegar até ele com essa pergunta, talvez as coisas possam piorar.
(Juscelino põe sua mão no ombro de Ariana e a acaricia)
JUSCELINO: Estou indo proferir uma missa agora. Você me acompanha?
ARIANA: Bom, padrinho, eu estou meio...
JUSCELINO (com sua mão no queixo de Ariana, apertando): Você vai.
Cena 13/ Estrada/ Tarde
(Clarissa dirigindo seu carro. Ela é interceptada por Marcílio, no meio da estrada, acenando, fazendo sinal, pedindo ajuda. Clarissa para)
CLARISSA: Será que dá pra sair do meio?
MARCILIO (aproximando-se da Clarissa): Eu preciso de ajuda.
CLARISSA: O que você quer?
MARCÍLIO: Seu dinheiro.
(Marcílio dá um soco em Clarissa e a puxa do carro, jogando-a no chão. Ela grita e ele lhe dá outro soco. Ele pega a bolsa de Clarissa e sai correndo, deixando-a ensangüentada na estrada. Ela, chorando compulsivamente, entra novamente no quarto)
Cena 14/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Interno/ Tarde
(Soraya sentada em um sofá. Liduína, à sua frente, sentada em uma cadeira)
SORAYA: Você pela segunda vez na minha tenda. Quer outra consulta?
LIDUÍNA: Não, eu vim falar sobre a sua proposta de emprego. Eu aceito, mãe Soraya.
SORAYA: Sem receber salário?
LIDUÍNA: Isso mesmo. Mas a senhora vai ter que me prometer que não comentará com ninguém que esse meu emprego não é remunerado, certo?
SORAYA: Condição aceita, minha querida.
Cena 15/ Vila Prata/ Igreja/ Interno/ Tarde
(Os fiéis saindo da igreja. A missa acabara de terminar. Carlota se aproxima de Juscelino. Ariana está ao lado dele.)
CARLOTA: Boa tarde, padre Juscelino.
JUSCELINO: Carlota. Fico feliz por ter vindo.
CARLOTA: O senhor sabe que eu não perco nenhuma missa, não é, mesmo? (para Ariana): Olá, Ariana. Tudo bem?
(Carlota abraça Ariana e cochicha no ouvido dela)
CARLOTA (cochichando): Preciso falar com o Joca agora. No local de sempre.
(Ela termina de abraçar Ariana e sorri para Juscelino, que revida com outro sorriso.)
ARIANA: Com licença. Terminarei de organizar as coisas na sacristia.
(Ariana sai)
Cena 16/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassilda, Cassandra e Carlota/ Interno/ Tarde
(Cassilda sentada em sua cama, fazendo crochê. Cassandra entra. Cassilda levanta-se ao ver a irmã)
CASSILDA: Você é mesmo uma ratazana.
CASSANDRA: Está falando comigo, querida?
CASSILDA: Não banque a cínica, Cassandra. Como você pôde ameaçar a Carlota daquele jeito?
CASSANDRA: Fui muito boazinha com ela.
CASSILDA: Você foi baixa, insensível, de uma petulância sem tamanho.
CASSANDRA: Ah, cala essa boca, Cassilda. Vai pagar da boa irmã agora? Volta pro seu crochêzinho e me deixa paz.
CASSILDA: Quer saber? Eu concordo com a Carlota quando ela disse que existe um motivo muito maior por trás dessa chantagem. Abra o jogo, Cassandra. Diga por que você ameaçou a Carlota desse jeito. Qual é esse motivo que você não revelou na chantagem?
CASSANDRA: Você não cansa de ser ridícula?
(Cassilda pega no braço de Cassandra)
CASSILDA: FALA, SUA VAGABUNDA.
CASSANDRA: Larga o meu braço. Você está me machucando.
CASSILDA: E posso machucar ainda mais.
(Cassilda aperta o braço de Cassandra)
CASSILDA: Diz logo qual é o real motivo daquela maldita chantagem antes que eu torça esse seu braço e te deixe aleijada.
CASSANDRA: Quer mesmo saber?
CASSILDA: DIGA!
CASSANDRA: Eu também sou apaixonada pelo Joca. Ameacei a Carlota para ela deixar o Joca disponível pra mim. Satisfeita ou quer que eu desenhe?
(Cassilda olha chocada para Cassandra. Close em Cassandra)
FIM DO CAPÍTULO (Toca Drumming Song – Florence and the Machine)
(Bonavante entra. Atrás dele, Carlota. A filha fecha a porta e senta-se, ficando frente a frente com seu pai, que já está sentado)
CARLOTA: Pai, eu fico feliz pelo senhor ter concedido esse tempo para conversarmos.
BONAVANTE: Tenho todo o tempo do mundo para te ouvir, Carlota. Filha, tem alguma coisa estranha entre você e a Cassandra?
CARLOTA: Bom , tem a ver com isso a conversa que eu quero ter com o senhor e...
BONAVANTE: Espera. Você não sabe o quanto estou alegre por estarmos aqui, conversando como pai e filha.
CARLOTA: Sua alegria me deixa alegre também, pai.
BONAVANTE: Sabe, Carlota, o Plínio veio aqui hoje. Ele me contou que a Marjorie, filha dele, sumiu com um galanteador. Três dias atrás. Ele está sofrendo tanto. Agradeço por ter você por perto, meu bem. Você é tudo pra mim, Carlota. Se você fugisse com algum rapaz ou pelo namorasse um que eu saberia que não iria te fazer feliz e que te traria dor e sofrimento, eu ficaria tão desapontado.
CARLOTA: Eu prezo muito pelo seu amor e afeto, pai.
BONAVANTE: E eu pelo seu, filha. Desculpe por esse momento emotivo, mas não pude deixar passar. Certo, agora é sua vez. O que mesmo você quer conversar comigo?
CARLOTA: Bom... É, não é nada demais, é besteira, pode esperar. Lembrei que tenho um compromisso agora com a Clarissa. Até mais, pai.
(Carlota sai, apressada)
BONAVANTE: Até mais, filha.
Cena 7/ Mansão Sabarah/ Quarta Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Tarde
(Cassilda e Carlota sentadas na cama da primeira)
CARLOTA: Não tive coragem de revelar a verdade, Cassilda. Fiquei com medo da reação do papai. Ele começou a falar da alegria de eu estar ao lado dele, de nunca tê-lo desapontado que perdi a determinação que eu tinha quando decidi falar com ele.
CASSILDA: Tudo bem, minha irmã, não precisa se explicar. Eu entendo. Deve ser difícil essa situação pela qual você está passando.
CARLOTA: E tudo culpa da Cassandra. E agora, o que eu faço?
CASSILDA: O que acha de falar com o Joca, alertá-lo com o que ta acontecendo?
CARLOTA: Será que é uma boa ideia?
CASSILDA: Se estiver com duvidas, procure uma segunda opinião.
Cena 8/ Mansão Bovary/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Marilda e Carlota na sala, as duas em pé)
MARILDA: A dona Clarissa acabou de sair, Carlota. Algum problema?
CARLOTA: Não é nada demais. Você sabe dizer para onde ela foi?
MARILDA: Para a vila. Ela foi falar com o Dr. Pessoa sobre a doença da dona Eva, além de comprar alguns medicamentos. Quer deixar um recado?
CARLOTA: Não é necessário. Obrigada, Marilda.
(Carlota sai)
Cena 9/ Vila Prata/ Comércio de Geraldo/ Interno/ Tarde
(Geraldo e Liduína dentro do comércio, sozinhos. O interior do estabelecimento em processo de reforma)
LIDUÍNA: Seu comércio irá ficar lindo, Geraldo.
GERALDO: Obrigado, Maria Rap..., quero dizer, Liduína.
LIDUÍNA: Você ia me chamando de Maria Rapariga, não é? Tudo bem, eu não me importo. Já passou o tempo em que eu arrancava meus cabelos por causa disso.
GERALDO: De qualquer forma, perdão. Não é de bom tom tratar uma mulher deslumbrante como você de uma forma tão chula.
LIDUÍNA: Agradeço o elogio. Bom, eu sinto que seu armazém será o sucesso da cidade.
GERALDO: Tomara.
LIDUÍNA: E se isso acontecer, você precisará de muitos funcionários, não?
GERALDO: Sim, sim, claro.
LIDUÍNA: E você não tem um trabalho pra me dar, não, Geraldo? Eu estou precisando muito.
GERALDO: Daqui a uns dois anos, quando o comércio deslanchar, quem sabe.
LIDUINA: Eu quero agora.
(Liduína se aproxima de Geraldo, de maneira sensual. Ela põe suas mãos no ombro dele)
GERALDO: Er... Bom... Agora, não posso, Liduína. (ela tira as mãos do ombro dele) Já dei um emprego pro seu irmão, o Vitorino. É só em um funcionário que estou podendo investir no momento.
LIDUÍNA: Tudo bem, Geraldo. Eu já imaginava. Bom, de qualquer forma, obrigada. Até mais.
(Liduína sai, deixando Geraldo entristecido)
Cena 10/ Estrada/ Tarde
(Marcílio em pé, caminhando. Simão na sua frente)
SIMÃO: Fico mais tranqüilo vendo você caminhar normalmente.
MARCÍLIO: Não foi nada demais. Obrigado pela ajuda. Será que você poderia me tirar uma dúvida?
SIMÃO: Claro.
MARCÍLIO: Como você se tornou o braço direito do seu Bonavante?
SIMÃO: Desde pequeno, trabalhei na fazenda do Dr. Bonavante. Ele nunca se queixou do meu trabalho e, com o passar do tempo, ele foi me confidenciando algumas coisas, nos tornamos mais próximos, e tudo foi importante para resultar nessa relação que eu e ele temos hoje.
MARCÍLIO: Que bom para você.
SIMÃO: Se você levar dinheiro pra sua casa, seu pai vai acreditar que você arranjou emprego, não é, verdade? Faça isso acontecer.
(Simão sobe em sua carroça)
SIMÃO: Só o que tem nessa estrada é gente rica passando, com muitos baús, barras de ouro, moedas. Apenas aproveite o momento certo.
(Simão parte, deixando Marcílio na estrada, pensativo)
Cena 11/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Liduína/ Interno/ Tarde
(Liduína e Vitorino, conversando)
LIDUÍNA: Eu não sei o que faço, Vitorino. Ninguém me ofereceu um emprego decente.
VITORINO: Ninguém mesmo?
LIDUÍNA: Bom, teve a Mãe Soraya. Ela disse que eu poderia distribuir por aí uns panfletos de divulgação que ela preparou.
VITORINO: E por que você não aceitou? Por acaso, tem algo de errado nesse emprego?
LIDUÍNA: Algo de errado? Não, não tem nada de errado.
VITORINO: Então, deixe de ser boba e aceite a oferta da Mãe Soraya, apesar de ela ser uma pilantra de mão cheia, não é mesmo? O que importa é que se você vier com essa contratação antes do Marcilio, você ganha o prêmio. E, sinceramente, estou torcendo por você.
Cena 12/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Ariana sentada. Juscelino se aproxima da moça)
JUSCELINO: Ariana, minha querida, você conseguiu obter alguma informação do Joca a respeito de ele querer ser padre ou não?
ARIANA: Ainda não, padrinho.
JUSCELINO: Querida, você tem que mexer seus pauzinhos.
ARIANA: Por que o senhor mesmo não pergunta para ele?
JUSCELINO: A cada dia que passa, sinto seu irmão mais distante de mim. Se eu chegar até ele com essa pergunta, talvez as coisas possam piorar.
(Juscelino põe sua mão no ombro de Ariana e a acaricia)
JUSCELINO: Estou indo proferir uma missa agora. Você me acompanha?
ARIANA: Bom, padrinho, eu estou meio...
JUSCELINO (com sua mão no queixo de Ariana, apertando): Você vai.
Cena 13/ Estrada/ Tarde
(Clarissa dirigindo seu carro. Ela é interceptada por Marcílio, no meio da estrada, acenando, fazendo sinal, pedindo ajuda. Clarissa para)
CLARISSA: Será que dá pra sair do meio?
MARCILIO (aproximando-se da Clarissa): Eu preciso de ajuda.
CLARISSA: O que você quer?
MARCÍLIO: Seu dinheiro.
(Marcílio dá um soco em Clarissa e a puxa do carro, jogando-a no chão. Ela grita e ele lhe dá outro soco. Ele pega a bolsa de Clarissa e sai correndo, deixando-a ensangüentada na estrada. Ela, chorando compulsivamente, entra novamente no quarto)
Cena 14/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Interno/ Tarde
(Soraya sentada em um sofá. Liduína, à sua frente, sentada em uma cadeira)
SORAYA: Você pela segunda vez na minha tenda. Quer outra consulta?
LIDUÍNA: Não, eu vim falar sobre a sua proposta de emprego. Eu aceito, mãe Soraya.
SORAYA: Sem receber salário?
LIDUÍNA: Isso mesmo. Mas a senhora vai ter que me prometer que não comentará com ninguém que esse meu emprego não é remunerado, certo?
SORAYA: Condição aceita, minha querida.
Cena 15/ Vila Prata/ Igreja/ Interno/ Tarde
(Os fiéis saindo da igreja. A missa acabara de terminar. Carlota se aproxima de Juscelino. Ariana está ao lado dele.)
CARLOTA: Boa tarde, padre Juscelino.
JUSCELINO: Carlota. Fico feliz por ter vindo.
CARLOTA: O senhor sabe que eu não perco nenhuma missa, não é, mesmo? (para Ariana): Olá, Ariana. Tudo bem?
(Carlota abraça Ariana e cochicha no ouvido dela)
CARLOTA (cochichando): Preciso falar com o Joca agora. No local de sempre.
(Ela termina de abraçar Ariana e sorri para Juscelino, que revida com outro sorriso.)
ARIANA: Com licença. Terminarei de organizar as coisas na sacristia.
(Ariana sai)
Cena 16/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassilda, Cassandra e Carlota/ Interno/ Tarde
(Cassilda sentada em sua cama, fazendo crochê. Cassandra entra. Cassilda levanta-se ao ver a irmã)
CASSILDA: Você é mesmo uma ratazana.
CASSANDRA: Está falando comigo, querida?
CASSILDA: Não banque a cínica, Cassandra. Como você pôde ameaçar a Carlota daquele jeito?
CASSANDRA: Fui muito boazinha com ela.
CASSILDA: Você foi baixa, insensível, de uma petulância sem tamanho.
CASSANDRA: Ah, cala essa boca, Cassilda. Vai pagar da boa irmã agora? Volta pro seu crochêzinho e me deixa paz.
CASSILDA: Quer saber? Eu concordo com a Carlota quando ela disse que existe um motivo muito maior por trás dessa chantagem. Abra o jogo, Cassandra. Diga por que você ameaçou a Carlota desse jeito. Qual é esse motivo que você não revelou na chantagem?
CASSANDRA: Você não cansa de ser ridícula?
(Cassilda pega no braço de Cassandra)
CASSILDA: FALA, SUA VAGABUNDA.
CASSANDRA: Larga o meu braço. Você está me machucando.
CASSILDA: E posso machucar ainda mais.
(Cassilda aperta o braço de Cassandra)
CASSILDA: Diz logo qual é o real motivo daquela maldita chantagem antes que eu torça esse seu braço e te deixe aleijada.
CASSANDRA: Quer mesmo saber?
CASSILDA: DIGA!
CASSANDRA: Eu também sou apaixonada pelo Joca. Ameacei a Carlota para ela deixar o Joca disponível pra mim. Satisfeita ou quer que eu desenhe?
(Cassilda olha chocada para Cassandra. Close em Cassandra)
FIM DO CAPÍTULO (Toca Drumming Song – Florence and the Machine)
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