Cena 1/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassilda, Cassandra e Carlota/ Interno/ Tarde
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
CASSILDA: Eu não acredito no que estou ouvindo. Então você ameaçou a Carlota para ver o Joca disponível para você, é isso?
CASSANDRA: Exatamente. E algo me diz que meu objetivo será alcançado.
(Cassilda larga o braço de Cassandra)
CASSILDA: Você é mesmo muito desgraçada, muito pérfida. Como você pôde fazer isso com a Carlota, cobiçar o namorado da sua própria irmã?
CASSANDRA: Pra sua informação, eu vi o Joca primeiro.
CASSILDA: Desde quando?
CASSANDRA: Na igreja, quando ele ajudou o padre Juscelino na missa. Lindo, encantador, charmoso. O homem que eu mereço e que a Carlota roubou de mim. É isso que ela faz, não é? Roubar as coisas dos outros. Já não basta ela ter atenção e o amor infinito do papai, ela quer ter também o Joca?
CASSILDA: Você é muito baixa mesmo.
CASSANDRA: Não. Eu sou realista, verdadeira naquilo que faço. Eu tomo partido das minhas atitudes. Eu deixo muito claro contra quem estou jogando e para quem estou torcendo, ao contrário de você, Cassilda, que fica em cima do muro, se fazendo de minha amiguinha e amiguinha da Carlota também, ouvindo os meus desabafos e os desabafos da Carlota. Você é falsa, ordinária, cretina...
(Cassilda dá um tapa na cara de Cassandra)
CASSILDA: Cala a boca, vagabunda. Dobre a língua quando for falar de mim, sua ratazana de esgoto.
CASSANDRA: Você me paga por esse tapa.
(Cassandra, com a mão na bochecha, sai)
Cena 2/ Vila Prata/ Praça/ Externo/ Tarde
(Carlota sentada. Joca aparece e senta-se ao lado dela)
CARLOTA: Oi.
JOCA: Estava com saudades de você.
CARLOTA: Eu também.
(Joca dá um selinho breve em Carlota)
CARLOTA: Joca, infelizmente eu não trago boas notícias.
JOCA: O que houve?
CARLOTA: Minhas irmãs descobriram que estamos namorando.
Cena 3/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Tarde
(Bonavante sentado à mesa. Cassandra entra, com a mão no rosto)
BONAVANTE: Isso é jeito de entrar no meu gabinete, Cassandra? Por que não bateu na porta?
CASSANDRA: Perdão, papai, mas eu estou atordoada.
BONAVANTE: O que houve?
CASSANDRA: O senhor está vendo essa marca vermelha na minha bochecha? Culpa da Cassilda.
Cena 4 / Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Tarde
(Cassilda sentada em sua cama, parada. Bonavante entra. Atrás dele, está Cassandra)
BONAVANTE: Posso saber por que você agrediu sua irmã?
CASSILDA: O quê? Eu não acredito que...
CASSANDRA: Contei sim, Cassilda. Ou você acha que eu não contaria?
CASSILDA: Pai, a Cassandra mereceu.
CASSANDRA: O que ela fez?
CASSILDA: Destruiu meu pano de renda que terminei hoje e demorei de dias para fazer.
(Cassilda mostra seu pano todo rasgado)
BONAVANTE: Você fez isso, Cassandra?
CASSANDRA: Claro que não, pai.
BONAVANTE: Você foi me importunar por causa de suas infantilidades, garota? Vê se cresce, Cassandra.
(Bonavante sai)
CASSANDRA: Você destruiu seu paninho só pra me culpar?
CASSILDA: Ficou surpresa? Saiba que posso fazer coisa bem pior.
Cena 5/ Vila Prata/ Praça/ Externo/ Tarde
(Continuação da cena 02)
JOCA: Como elas descobriram?
CARLOTA: A Cassandra nos viu se beijando naquele dia que você foi me deixar em casa. Depois, ela contou para Cassilda. Estou com medo que papai acabe fique sabendo dessa história.
JOCA: A gente não pode mais viver assim. Nós temos que assumir nosso namoro.
CARLOTA: Eu sei, mas como? Esse não é o momento mais oportuno. Além do mais, tenho medo da reação do meu pai. Ele é um amor de pessoa, mas quando algo sai do controle dele, ele se transforma numa fera indomável.
JOCA: A gente tem que pensar em algo.
CARLOTA: Bom, eu tenho que ir.
JOCA: Mas já?
CARLOTA: Papai acha que estou na casa da Clarissa. Não posso me arriscar a demorar aqui. Eu entro em contato. Te amo.
JOCA: Também te amo.
(Eles se beijam rapidamente. Carlota sai. Joca a observa sair de seu campo de visão. Ele levanta-se do banco e sai)
Cena 6/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Ariana sentada. Juscelino entra)
JUSCELINO: Onde está seu irmão?
ARIANA: Não está no quarto dele?
JUSCELINO: Se ele estivesse, eu não estaria aqui perguntando pelo paradeiro dele.
ARIANA: Bom, infelizmente, não sei onde ele se encontra. E se soubesse, não contaria.
JUSCELINO: Senti um deboche?
ARIANA: Perdão pela grosseria, padrinho, mas eu não quero ficar no meio dos problemas que o senhor tem com o Joca.
JUSCELINO: Então isso é por causa daquele pedido que eu te fiz pra saber se o Joca quer ou não ser padre?
ARIANA: Também.
(Juscelino senta-se ao lado de Ariana. Ele começa a acariciar o cabelo da moça)
JUSCELINO (encarando Ariana): E existe outro motivo? Eu posso saber qual?
(Joca entra. Juscelino levanta-se rapidamente)
JUSCELINO (para Joca): Onde você estava?
JOCA: Cuidando da minha vida.
(Joca vai ao corredor e entra no seu quarto. Ariana vai atrás do irmão)
Cena 7/ Vila Prata/ Praça/ Externo/ Tarde
(Clarissa, ainda chorando, sai de seu carro e senta-se em um dos bancos da praça. Ela continua a chorar. Vitorino, que está passando, a vê naquela situação e se aproxima dela)
VITORINO (sentando ao lado de Clarissa): Clarissa. Algum problema?
CLARISSA: Fica longe de mim, seu pobre.
VITORINO: Isso é jeito de me tratar? Eu fiz alguma coisa ruim pra você?
CLARISSA: Nasceu.
VITORINO: Nossa, só estou preocupado com você, Clarissa. O que houve?
CLARISSA: Para com isso, Vitorino. Você sabe que eu nunca te suportei, desde os tempos da escola. Para de se importar comigo, de falar comigo. Finge que eu não existo, ok? Gentalha como você eu quero longe da minha vida.
(Clarissa levanta-se, entra no carro e sai)
Cena 8/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Tarde.
(Geraldo e Vitorino em pé)
VITORINO: E ela me destratou, como sempre.
GERALDO: Mas por que ela te trata sempre como grosseria?
VITORINO: Diferença de classe. Ela é rica e, por isso, acha que não pode se envolver com pessoas de menor poder aquisitivo. A verdade é que a Clarissa é extremamente fútil, mas, mesmo assim, eu a amo. A gente não manda no coração, não é mesmo?
GERALDO: É verdade, meu caro.
VITORINO: É impressão minha ou você também está apaixonado por alguém?
GERALDO: Não sei se é amor, paixão ou só atração, Vitorino, mas tem uma mulher me virando a cabeça. Mas é melhor não prolongarmos nesse assunto. Temos que dar os últimos retoques nesse comércio antes da inauguração.
VITORINO: Ok. Você que manda, chefe.
Cena 9/ Paisagens de Vila Prata/ Noite
(Toca Sister Sin – Nickelback)
Cena 10/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Elizeu e Dorotéia sentados no sofá. Vitorino entra)
VITORINO: Boa noite. Algum sinal do Marcílio ou da Liduína?
ELIZEU: Ainda não. Será que eles ainda estão nessa corrida para arranjar um emprego?
DOROTÉIA: Eu falei que essa ideia era estúpida. Agora, meus filhos podem estar correndo algum perigo.
(Liduína entra)
LIDUÍNA: Boa noite.
DOROTÉIA: Onde você esteve, menina?
LIDUÍNA: Na tenda da mãe Soraya.
ELIZEU: Outra consulta espiritual, Liduína?
LIDUÍNA: Não, pai. Inclusive, pode me passar meu prêmio porque eu arranjei um emprego.
(Marcílio entra)
MARCÍLIO: Eu também. E inclusive já trouxe o gratificante resultado do meu trabalho.
(Marcílio mostra pra família um maço de dinheiros. Dorotéia, alegre, corre até onde está o filho)
DOROTÉIA (beijando a bochecha de Marcílio): Uau, quanta competência, meu filho. Ganhar dinheiro no dia que foi buscar emprego. Isso que é eficiência.
LIDUÍNA: Será que eu perdi o prêmio?
MARCÍLIO: Com certeza.
LIDUÍNA: Mas isso é injusto, porque eu cheguei primeiro, eu anunciei o emprego primeiro.
MARCÍLIO: Mas não trouxe dinheiro pra casa como eu.
ELIZEU: CHEGA!
VITORINO: Para quem você vai dar o prêmio, pai?
DOROTÉIA: É, Elizeu. Pra quem?
(Close alternado na cara de todos os personagens da cena)
Cena 11/ Mansão Bovary/ Quarto de Eva/ Interno/ Noite
(Eva deitada na cama, tossindo. Marilda entra)
EVA: Onde está Clarissa, Marilda?
MARILDA: Foi para o centro da vila atrás de alguns medicamentos para a senhora. Trouxe um chá de camomila, dona Eva.
(Marilda entrega o chá para Eva, que toma)
EVA: Muito obrigada. Você não acha que ela não está demorando muito?
MARILDA: Pra ser sincera, eu acho sim. O centro da vila não é tão longe e ela ainda foi de carro.
EVA: Será que aconteceu alguma coisa?
MARILDA: Não se preocupe, dona Eva. Tenho certeza que Clarissa está bem.
EVA: Marilda, você tem que me prometer que irá cuidar da Clarissa quando eu me for. É sua obrigação também.
MARILDA: Dona Eva...
EVA: Não se esqueça que estou morrendo pra consertar o erro que eu cometi no passado contra você, reparar o dano que te causei.
Cena 12/ Vila Prata/ Casa Dr. Pessoa/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Clarissa sentada. Dr. Pessoa entra, com um copo d’água nas mãos. Ele entrega a Clarissa e depois senta-se)
DR. PESSOA: Está mais calma?
CLARISSA: Sim. Eu nunca pensei que isso fosse acontecer comigo um dia. Agora, estou sem dinheiro para comprar os remédios que o senhor receitou para a mamãe.
DR. PESSOA: Não se preocupe. Eu lhe empresto uma determinada quantia e depois você me paga. Como está a dona Eva?
CLARISSA: Relutante. Ela não quer se submeter ao tratamento contra a tuberculose de jeito nenhum. Dr. Pessoa, o senhor precisa convencê-la a fazer o certo. Por isso, vim até aqui. O senhor faria isso por mim?
Cena 13/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Noite
(Cassilda sentada na cama fazendo seu crochê. Carlota entra)
CASSILDA: Carlota, que bom que você chegou.
CARLOTA: Houve alguma coisa de relevante durante minha ausência?
CASSILDA: Eu descobri algo muito importante que você precisa saber.
(Cassandra entra)
CASSANDRA: Carlota, minha irmã, você está cumprindo aquele combinado que fizemos?
CARLOTA: Ameaça, chantagem, tudo menos combinado.
CASSANDRA: Não importa como você chame. Está ou não cumprindo?
CARLOTA: Não é da sua conta.
CASSILDA: Saia daqui, Cassandra.
CASSANDRA: Carlota, você sabia que a Cassilda me deu um tapa na cara?
CARLOTA: Isso é verdade? Por que você fez isso, Cassilda?
CASSANDRA: É, Cassilda. Diz pra Carlota o porquê de você ter me agredido. Ou você quer que eu conte?
(Close alternado na cara das três irmãs)
Cena 14/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de jantar/ Interno/ Noite
(Juscelino, Ariana e Joca sentados à mesa)
JUSCELINO: Antes de comermos, vamos agradecer pela oportunidade de termos um jantar nesse momento.
JOCA: A gente sempre agradece após o jantar.
JUSCELINO: Mas hoje eu quero agradecer antes. Algum problema?
JOCA: Por que o senhor está fazendo isso?
JUSCELINO: Não estou entendendo a sua implicância, Joca. Eu venho percebendo ultimamente a sua distância em relação a mim. Algo de errado comigo?
JOCA: Porque sempre quando o senhor se aproxima de mim é para falar na paróquia ou na batina. Isso cansa, sabia?
JUSCELINO: Não vejo problema nenhum, visto que você irá me substituir futuramente naquela paróquia. Você vê algum problema nisso, Ariana?
ARIANA: Er...
JOCA: Não meta minha irmã no meio da história.
JUSCELINO: Como?
JOCA: Eu sei que o senhor mandou que ela descobrisse se eu quero ou não ser padre. O quanto covarde o senhor é que não veio até a mim e me questionou?
JUSCELINO: Olha como fala comigo, rapaz. Chega de conversa besta. Vamos rezar.
JOCA: Não vou rezar nada.
JUSCELINO: Como é?
JOCA: É isso mesmo que o senhor ouviu. Não irei rezar. Não sou obrigado.
JUSCELINO: Claro que é. E após o jantar, irei te passar alguns ensinamentos da Bíblia.
JOCA: CHEGA! Eu não agüento mais. Isso é sufocante.
JUSCELINO: João Carlos.
JOCA: Eu não vou ser padre, entendeu? Eu não quero e eu não vou ser porcaria de padre nenhum, ouviu bem? OUVIU BEM?
(Joca encara Juscelino. Close em Joca)
FIM DO CAPÍTULO (Toca Tennis Court – Lorde)
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