Cena 1/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
CASSANDRA: Não vai me convidar para entrar?
JOCA: Ah, claro. Entre, por favor.
(Cassandra entra e Joca fecha a porta. Cassandra senta-se em uma poltrona)
JOCA: Deseja alguma bebida? Um chá, suco?
CASSANDRA: Não, obrigada. Só vim conversar com você mesmo.
JOCA (sentando-se): Ainda não consigo identificar quais assuntos temos para discutir.
CASSANDRA: Joca, eu já soube que você e minha irmã terminaram o namoro. Eu vim dizer que eu não tenho participação nenhuma nesse término.
JOCA: Se não tem participação, não entendo porque está querendo discutir isso.
CASSANDRA: Apenas para esclarecer que eu nunca influenciei a Carlota a fazer isso com o namoro de vocês. Recentemente, eu havia descoberto que vocês namoravam, mas, em momento algum, quis interferir nesse relacionamento. Você poderia achar que eu pudesse ter algo a ver com esse término.
JOCA: Para ser bem sincero, Cassandra, eu ainda não consigo entender os motivos desse término.
CASSANDRA: A Carlota deve ter ficado com medo que papai descobrisse. Carlota sempre teve medo do papai, do temperamento dele quando algo foge do seu controle.
JOCA: Tem algo a mais por trás desse término, eu sinto. Quanto a sua outra irmã?
CASSANDRA: A Cassilda? Bem, ela é uma mulher bastante manipuladora, mas acredito que também não tenha a ver com tudo isso. Quero dizer, a Cassilda sempre teve um poder sobre a Carlota muito grande. Se o término do namoro de vocês fosse benéfico para ela, eu não duvidaria que ela tivesse influenciado a Carlota a terminar.
Cena 2/ Mansão Sabarah/ Sala de artesanato/ Interno/ Tarde
(Continuação imediata da cena 13 do capítulo anterior)
CARLOTA: Isso não pode ser verdade.
CASSILDA: Mas infelizmente é, Carlota. Para ser mais sincera, foi por isso que eu bati na Cassandra naquele dia. Porque ela tinha confessado isso com a cara mais lavada do mundo.
CARLOTA: A Cassandra também apaixonada pelo Joca? Foi por isso que ela me ameaçou, para ver o Joca disponível para ela. Desgraçada.
CASSILDA: Mas não se preocupe com isso, minha irmã.
(Cassilda levanta-se e se direciona para a porta)
CARLOTA: Vai sair?
CASSILDA: Sim. Irei cortar o mal pela raiz.
(Cassilda sai)
Cena 3/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Tarde
(Geraldo e Vitorino em pé. Ariana entra)
ARIANA: Com licença.
GERALDO: Olá, Ariana.
ARIANA: Boa tarde.
VITORINO: Boa tarde.
ARIANA: Padrinho me pediu para entregar isso para a inauguração do comércio.
(Ariana entrega um envelope para Geraldo, que abre)
GERALDO: Dinheiro?
ARIANA: Sim, em nome da paróquia de Vila Prata.
GERALDO: Ah, não precisava. Repasse meus agradecimentos para o Padre Juscelino
ARIANA: Repassarei. Bom, já vou indo. Até mais.
VITORINO: Ariana, eu te acompanho em casa. Até amanhã, Geraldo.
GERALDO: Até, Vitorino. Tchau, Ariana. Mais uma vez, obrigado pela doação.
(Vitorino e Ariana saem)
Cena 4/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Frente/ Externo/ Tarde
(Ariana e Vitorino param na frente da casa de Juscelino)
VITORINO: Está entregue.
ARIANA: Obrigada pela companhia, Vitorino.
VITORINO: Eu que agradeço.
ARIANA: Soube que você trabalhará com o seu Geraldo no comércio. Desejo todo o sucesso do mundo pra vocês.
VITORINO: Muito obrigado, Ariana.
ARIANA: Serei uma cliente fiel.
VITORINO: Que coisa boa de ouvir. Bom, mas agora tenho que ir. Ainda vou na passar da tenda da Soraya para falar com a Liduína.
ARIANA: Ah claro. Até qualquer dia.
VITORINO: Até.
(Vitorino sai. Ariana o olha encantada. Depois de um tempo, ela entra em casa.)
Cena 5/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Ariana entra e vê Cassandra sentada, sozinha na sala)
ARIANA: Boa tarde.
CASSANDRA: Boa. Você deve ser a Ariana, não é?
ARIANA: Sim. E você é...
CASSANDRA: Cassandra Sabarah, irmã da Carlota.
ARIANA: O que você está fazendo aqui?
(Joca entra com um copo de suco em mãos)
JOCA: Ela veio conversar. (para Cassandra): Aqui seu suco.
(Cassandra pega seu suco)
ARIANA: Bom, vou para o meu quarto. Depois, eu quero conversar com você, Joca. Com licença.
(Ariana sai)
Cena 6/ Vila Prata/ Igreja/ Confessionário/ Interno/ Tarde
(Juscelino está dentro do confessionário. Cassilda se aproxima)
CASSILDA: Boa tarde, padre Juscelino.
JUSCELINO: Boa tarde, minha querida. Qual seu pecado?
CASSILDA: Na verdade, padre Juscelino, eu vim fazer uma denúncia.
JUSCELINO: Que denúncia?
CASSILDA: Minha irmã Cassandra Sabarah está cobiçando um homem que não pode ser cobiçado e eu não sei como ajudá-la.
JUSCELINO: Quem é esse homem? Se eu souber a identidade dele, fica mais fácil de eu poder aconselhar.
CASSILDA: João Carlos Vieira, mais conhecido como Joca. O que eu faço para ajudá-la a desistir dele, padre?
JUSCELINO: O quê?
(Juscelino sai de dentro do confessionário e não vê ninguém. Em outro ângulo da igreja, a CAM foca Cassilda saindo do lugar apressadamente, com um sorriso no rosto)
Cena 7/ Mansão Bovary/ Quarto Eva/ Interno/ Tarde
(Eva deitada na cama. Marilda ao lado dela)
EVA: A Clarissa te pediu desculpas pela forma que te tratou?
MARILDA: Não senhora.
EVA: Que menina difícil. Eu disse para ela se retratar com você.
MARILDA: Mas não tem importância ela me tratar daquele jeito, dona Eva.
EVA: Como não, Marilda? Ela não pode ser ignorante com você e você sabe disso mais do que ninguém.
MARILDA: Eu entendo o comportamento dela.
(Eva começa a tossir sem parar)
MARILDA: A senhora está bem, dona Eva? Eu vou pegar seu medicamento.
EVA: Onde está a Clarissa?
MARILDA: Na sala, conversando com a Carlota. Aqui, tome este comprimido.
(Eva pega o comprimido e tosse com mais força. Eva, em um momento, tosse sangue sem parar. Marilda se desespera e sai do quarto)
Cena 8/ Mansão Bovary/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Carlota e Clarissa sentadas em um sofá, lado a lado)
CLARISSA: Sua irmã é uma cachorra, viu? Ah, Carlota, desculpe.
CARLOTA: Não precisa se desculpar. Ela é uma vagabunda mesmo.
(Marilda entra, desesperada)
MARILDA: Dona Clarissa, chame um médico. A dona Eva está tossindo sangue.
CLARISSA: Ai meu Deus. Claro, claro. Irei à vila em busca do Dr. Pessoa.
CARLOTA: Eu vou com você, Clarissa.
CLARISSA: Não, Carlota, fique com minha mãe, por favor. Ajude a Marilda no que for necessário.
(Clarissa sai. Carlota e Marilda vão para o quarto de Eva)
Cena 9/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Tarde
(Bonavante sentado à mesa. Alzira entra)
ALZIRA: Com licença, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Olá, Alzira. A Cassandra já chegou?
ALZIRA: Ainda não. O Simão quer falar com o senhor.
BONAVANTE (levantando-se, surpreso): O Simão? Mande-o entrar.
(Alzira sai. Simão entra)
SIMÃO: Com licença.
BONAVANTE: Já de volta, Simão?
SIMÃO: Sim. Dr. Bonavante, não houve venda, muito menos compra, da propriedade do doutor Viriato.
BONAVANTE: Como?
SIMÃO: Ele cancelou o processo de compra e venda da propriedade.
BONAVANTE: Mas por quê?
SIMÃO: Ele não deu nenhuma justificativa.
BONAVANTE: Que estranho. Será que o Viriato está pretendendo voltar para Vila Prata? Simão, qualquer movimento desse canalha, me avise. Eu quero ser o primeiro a saber caso esse vadio volte para cá.
SIMÃO: Sim senhor.
(Simão sai. Bonavante permanece pensativo)
Cena 10/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Sala de consulta/ Interno/ Tarde
LIDUÍNA: Pronto. Suas galinhas estão alimentadas.
SORAYA: Obrigada pela disponibilidade, querida.
LIDUÍNA: Finalmente, poderei ir embora. Até amanhã, mãe Soraya.
SORAYA: Até, Maria Rapariga.
LIDUÍNA: Ah, e amanhã nada de me explorar. Não é porque o meu emprego não é remunerado que eu tenha que me submeter a qualquer tipo de serviço.
(Liduína sai. Ao sair da tenda, ela se depara com Vitorino, que ouviu tudo)
VITORINO: Então o seu trabalho não é remunerado. Posso saber quando você pretendia revelar esse detalhe para a família?
Cena 11/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Cassandra e Joca rindo de algo)
CASSANDRA: Bom, o suco estava ótimo.
JOCA: Foi bom conversar com você, Cassandra.
CASSANDRA: Eu digo o mesmo.
JOCA: Cassandra, será que você poderia me avisar sobre qualquer coisa que estiver incomodando a Carlota? Eu quero saber mesmo se tem dedo da sua irmã Cassilda nesse término do meu namoro.
CASSANDRA: Claro, Joca. Conte com a minha ajuda sempre quando precisar.
(Juscelino entra e não esconde a surpresa ao ver Cassandra)
JUSCELINO: Cassandra Sabarah?
CASSANDRA: Olá, padre Juscelino.
JUSCELINO: O que você está fazendo aqui?
JOCA: Ela veio conversar comigo, padrinho. Algum problema?
JUSCELINO: Todos os problemas, Não quero ninguém na minha casa sem a minha prévia autorização. Sinta-se livre para ir embora, Cassandra.
JOCA: Padrinho, isso é jeito de...
CASSANDRA: Eu já estava de saída, padre Juscelino. Até mais, Joca. Com licença.
(Cassandra sai)
JOCA: Isso é jeito de tratar as pessoas, padrinho?
JUSCELINO: Você está apaixonado por essa moça, Joca? É por causa dela que você não quer ser padre?
JOCA: O quê? O senhor acabou de atingir o nível do ridículo, padrinho.
(Joca se direciona para o seu quarto)
Cena 12/ Paisagens de Vila Prata/ Noite
(Toca Coming of Age – Foster The People)
Cena 13/ Vila Prata/ Casa Dr. Pessoa/ Sala de estar/ Interno/ Noite
CLARISSA: O senhor precisa ir lá em casa, doutor Pessoa. Precisa fazer alguma coisa, salvar a minha mãe.
DR. PESSOA: Fique tranqüila, Clarissa. Eu irei. Só falta eu pegar a minha maleta.
(Dr. Pessoa pega sua maleta, que está em cima de uma mesa, e sai, junto com Clarissa)
Cena 14/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Elizeu sentado. Marcílio entra)
ELIZEU: Até que enfim você chegou. Preciso conversar com você.
MARCÍLIO: Aconteceu alguma coisa?
ELIZEU: Aconteceu que eu fui à fazenda de Plínio Sampaio hoje pela manhã e ele me disse que você não está trabalhando lá, que nem chegou a pedir emprego lá.
MARCÍLIO: Isso é um absurdo.
ELIZEU: Não minta para mim, Marcílio. No quê você está trabalhando? Como você arranjou aquele dinheiro que trouxe ontem pra casa?
(Elizeu encara Marcílio, que engole seco)
Cena 15/ Casa Chester/ Quarto Liduína/ Interno/ Noite
(Liduína e Vitorino, sentados lado a lado na cama dela)
LIDUÍNA: E foi isso, eu acabei aceitando aquele emprego não remunerado para ganhar o prêmio da competição que o papai criou.
VITORINO: Mas você mentiu para mim, não foi? Eu te perguntei se havia algo de errado no trabalho que a Soraya te ofereceu e você disse que não.
LIDUÍNA: Eu sei, me desculpe. Não conte isso para ninguém, Vitorino, por favor.
VITORINO: Fique tranqüila. Bom, falando em trabalho, amanhã é a inauguração do comércio do Geraldo e ele me pediu para te convidar.
LIDUÍNA: Como é? O Geraldo te pediu para me convidar?
VITORINO: Isso mesmo. Ele faz questão da sua presença. Você vai?
Cena 16/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/ Interno/ Noite
ARIANA: Eu, particularmente, não gostei de ver a Cassandra aqui, conversando com você.
JOCA: Por quê?
ARIANA: A Carlota sempre me disse que ela não é confiável. A Carlota nunca te falou sobre isso?
JOCA: Chegou a comentar, mas, sinceramente, não vi nada de maldade nela.
ARIANA: Cuidado, Joca. Eu não gostei dela nem um pouco.
JOCA: Você acredita que o padrinho me perguntou se eu estava interessado na Cassandra? Ele acha que é por causa dela que eu não quero ser padre. Padrinho a cada dia que passa está me sufocando mais. Por isso, eu tomei uma decisão, Ariana.
ARIANA: Que decisão?
JOCA: Eu vou fugir daqui. Amanhã.
Cena 17/ Mansão Bovary/ Quarto Eva/ Interno/ Noite
(Eva deitada. Carlota ao seu lado)
EVA: A Clarissa já chegou?
CARLOTA: Ainda não, dona Eva, mas já deve estar chegando.
EVA: Queria tanto me despedir dela.
CARLOTA: A senhora é uma mulher brava, forte, guerreira. Tenho certeza que irá superar tudo isso.
EVA: Bonitas palavras, Carlota, mas não condizem com a minha realidade. Eu sinto muito que estou partindo.
CARLOTA: Não diga uma coisa dessas, dona Eva. Pense em coisas boas, alegres.
(Eva tosse)
EVA: Você não está entendendo, minha querida. Eu não quero mais viver. Chega uma hora que viver cansa, que lutar cansa e se eu resistir, no meu caso, denotará mais sofrimento.
CARLOTA: Dona Eva, a senhora...
EVA: Mas eu não quero ir embora levando um grave segredo comigo. Eu tenho que morrer com a ideia de que a Clarissa saberá toda a verdade sobre a origem dela.
CARLOTA: Como?
EVA: Eu conversei com a Marilda a respeito desse segredo, pedi para ela contar para a Clarissa, mas acho que ela não terá coragem. Então, Carlota, minha querida, eu contarei pra você no intuito de que você revele para a Clarissa.
CARLOTA: Dona Eva, eu não sei se eu sou a pessoa mais adequada pra esse tipo de coisa. Seja forte, pelo menos mais um pouco, para que dê tempo da senhora conversar com a Clarissa.
EVA: Eu sinto que quando Clarissa chegar, eu não estarei mais aqui. E por isso não posso deixar de te contar, Carlota.
CARLOTA: Dona Eva, eu acho que...
EVA: A Clarissa não é minha filha, Carlota.
CARLOTA: O quê?
EVA: Eu não sou a mãe verdadeira da Clarissa. Ela é filha biológica da Marilda, da minha cozinheira.
(Close em Carlota, surpresa)
FIM DO CAPÍTULO (Toca Afterlife - Arcade Fire)
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