sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Velhos Tempos - Capítulo 11


Cena 1/ Estrada/ Tarde
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Bonavante a encarar os dois homens a sua frente, que apontam um rifle em sua direção. Tensão no ar.)
BONAVANTE: Vocês não vão atirar em mim.
(Um dos rapazes atira a flecha contida no rifle na direção de Bonavante, que, por pouco, não lhe atinge o rosto. Bonavante, apavorado, vira-se de costas para os dois rapazes e começa a correr. Os rapazes correm atrás dele. Bonavante entra na floresta que fica ao lado da estrada e se esconde atrás de uma árvore. Ele vê os rapazes passarem por ele e seguem a frente. Bonavante respira aliviado. Cautelosamente, ele sai da floresta e se surpreende com um rapaz vindo a cavalo em sua direção. Com o susto, Bonavante cai no chão e Joca para o cavalo antes que o animal passe por cima do fazendeiro. Bonavante levanta-se e se aproxima de Joca)
BONAVANTE: Você precisa me ajudar. Tem gente querendo me matar.
JOCA: Claro.
(Joca ajuda Bonavante a subir no cavalo)
JOCA: Para onde eu levo o senhor?
BONAVANTE: Para a minha fazenda, mas antes eu preciso que você passe em um lugar.
(Joca retorna a cavalgar, em direção ao sentido indicado por Bonavante)

Cena 2/ Estrada/ Tarde
(Outro canto da estrada. Joca e Bonavante, montados a cavalo, se aproximam do carro de Plínio, com este dentro, desacordado e ensangüentado. Bonavante desce do cavalo)
BONAVANTE: Meu amigo não resistiu.
JOCA: Meus sentimentos.
BONAVANTE: Eu preciso tirá-lo daqui. Tem como levar o corpo dele no seu cavalo?
JOCA: Sinto muito, mas acho que não, por conta das minhas malas.
BONAVANTE: Tudo bem. Então, leve-me à minha fazenda agora, por favor. Lá, eu peço para o meu capataz vir aqui e resgatar o corpo do Plínio.
JOCA: Certo.
(Bonavante sobe no cavalo e ele e Joca partem)

Cena 3/ Vila Prata/ Cemitério/ Interno/ Tarde
(Clarissa e Carlota caminhando, lado a lado. Carlota abraçada a Clarissa, que acabara de enterrar Eva)
CLARISSA: Ainda não caiu a ficha que mamãe morreu.
CARLOTA: Você precisa ser forte, amiga.
CLARISSA: O que vai ser de mim agora, Carlota? Eu dependia da mamãe pra tudo.
CARLOTA: Não se preocupe. Você sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa, não sabe?
CLARISSA: Sei e eu sou muito agradecida pela sua amizade. Eu fico pensando no Sávio, meu irmão. Eu não faço ideia de como dar a notícia para ele.
CARLOTA: Ele era muito apegado a dona Eva, não era?
CLARISSA: Demais. E ele já está voltando de Londres. Ele ficará devastado quando souber o que aconteceu.
(Carlota abraça Clarissa)

Cena 4/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Tarde
(O comércio não está tanto lotado assim. Geraldo e Vitorino no balcão)
VITORINO: Geraldo, você ficou louco de ter oferecido os produtos gratuitamente para a Liduína, sabia?
GERALDO: Eu sei o que eu estava fazendo.
VITORINO: Será se sabe mesmo? Os outros clientes ficarão furiosos quando eles descobrirem que tiveram que pagar pelos produtos, enquanto a Liduína pegou tudo de graça.
GERALDO: Ninguém vai saber. Eu pedi para a Liduína ser discreta.
VITORINO: Eu conheço a irmã que eu tenho, Geraldo. A Liduína pode ser tudo nesse mundo, menos discreta. Mas eu sei porque você fez isso. Para agradá-la, não é? Você acha que é assim, oferecendo gratuitamente os produtos do comércio, que irá conquistá-la?
GERALDO: O que eu sei é que ela gostou muito disso.
VITORINO: Geraldo, a minha irmã pode ter o jeito que tem, mas não é assim que você conquistará de fato o coração dela. Seja mais romântico.
GERALDO: Não me diga que a Liduína gosta de romantismo.
VITORINO: Ela ama.

Cena 5/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Quarto Soraya/ Interno/ Tarde
SORAYA: Gratuitamente?
LIDUÍNA: Sou ou não sou poderosa?
SORAYA: Você poderia fazer uma média entre mim e o Geraldo para eu garantir uns produtos de graça também.
LIDUÍNA: Nem precisa olhar em bola de cristal pra você saber que eu não vou fazer isso. Bom, estou indo pra casa aproveitar meus novos utensílios.
SORAYA: Como? E aquela história de que seus pais irão desconfiar do trabalho se você chegar cedo em casa?
LIDUÍNA: Eu digo pra eles que você me liberou mais cedo. Até amanhã, mãe Soraya.
(Liduína sai)

Cena 6/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Cozinha/ Interno/ Tarde
(Ariana lavando as louças. Juscelino entra)
JUSCELINO: Onde está o seu irmão? Fui ao quarto dele e encontrei todos os móveis vazios.
ARIANA: Eu não faço a mínima ideia do que está acontecendo.
JUSCELINO: Não minta pra mim, Ariana. Eu sei que você sabe onde foi parar o seu irmão. Eu percebi que nesses últimos dias vocês ficaram mais próximos do que de costume.
ARIANA: O Joca fugiu, padrinho.
JUSCELINO: O quê?
(Joca entra)
JOCA: Estou em casa, não estou?
JUSCELINO: Você ia fugir, Joca?
JOCA: Essas malas respondem a sua pergunta?
JUSCELINO: Por quê?
JOCA: O senhor ainda pergunta? Com licença, vou voltar para o meu quarto.
(Joca sai)

Cena 7/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Tarde
(Bonavante e Simão, em pé, frente a frente)
SIMÃO: Mas o senhor está bem, doutor Bonavante?
BONAVANTE: Sim, eu estou, Simão.
SIMÃO: Certeza?
BONAVANTE: Absoluta.
SIMÃO: Eu estou me sentindo tão culpado, doutor Bonavante. Eu deveria estar ao seu lado, lhe protegendo.
BONAVANTE: Não precisa se culpar por nada. O que importa é que eu estou vivo, graças a um rapaz que apareceu no meio da estrada e me prestou ajuda. Inclusive, Simão, eu quero que você descubra a identidade desse rapaz que salvou a minha vida. Ele tem um cavalo amarronzado, estava com duas malas amarradas no animal e eu tenho a leve impressão de que já o vi aqui em Vila Prata. Procure saber o nome de todos que resolveram viajar ou chegaram de viagem hoje.
SIMÃO: Sim senhor.
BONAVANTE: Além disso, Simão, eu quero que você descubra quem esteve por trás desse atentado contra mim.
SIMÃO: Pode deixar, doutor Bonavante.
(Simão sai)

Cena 8/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Elizeu sentado em sua poltrona. Liduína chega, com sacolas em mãos)
ELIZEU: Posso saber que sacolas são essas?
LIDUÍNA: Umas coisinhas que eu comprei no comércio do Geraldo.
ELIZEU: E não era pra você estar trabalhando?
LIDUÍNA: Mãe Soraya me liberou mais cedo. Os panfletos acabaram rapidinho. Com licença, pai.
(Liduína entra no corredor. De lá, sai Marcílio)
ELIZEU: Até que enfim, você resolveu colocar a cara pra fora.
MARCÍLIO: Boa tarde, pai.
ELIZEU: Má tarde, para você.
MARCÍLIO: Pai, eu sinto muito pelo que...
ELIZEU: Marcílio, me poupe desse discurso de arrependido, porque pelo que eu conheço você, eu sei que você está morrendo de raiva de mim e, se pudesse, me mataria no meio dessa sala.
MARCÍLIO: Eu só não quero que fique essa tensão entre a gente.
ELIZEU: Ah, não quer tensão entre a gente? Então, tome jeito de homem, Marcílio. Vá procurar um emprego de verdade e, agora, decente, antes que eu exploda com você e te expulse dessa casa.
(Elizeu levanta-se da poltrona e sai. Marcílio fica lá, furioso)

Cena 9/ Vila Prata/ Cemitério/ Interno/ Tarde
(Marilda colocando uma flor no túmulo de Eva. Carlota se aproxima dela)
CARLOTA: A Dona Eva me contou tudo, Marilda.
MARILDA: O quê?
CARLOTA: Eu sei que você é a mãe verdadeira da Clarissa.
MARILDA: Mas porque ela contou isso pra você?
CARLOTA: No fundo, a dona Eva sabia que você não tem coragem de revelar a verdade pra Clarissa. Então, ela me contou tudo pra que depois eu repassasse pra Clarissa.
MARILDA: E você vai repassar?
CARLOTA: Eu não sei. O que eu sei, Marilda, é que você é a pessoa mais adequada para conversar com a Clarissa sobre isso.
MARILDA: A Clarissa me odeia, Carlota. Ela não vai suportar a ideia de ser minha filha biológica.
CARLOTA: Mas você não pode esconder isso dela. Talvez, se for você que contar toda a verdade pra ela, a relação entre vocês melhore ao invés de piorar. Pensa nisso.
(Carlota sai, deixando Marilda pensativa)

Cena 10/ Paisagens da fazenda Sabarah/ Noite
(Toca Tennis Court – Lorde)

Cena 11/ Mansão Sabarah/ Quarto Carlota, Cassandra e Cassilda/ Interno/ Noite
(Cassilda e Carlota sentadas em uma cama)
CASSILDA: E você contou pra Clarissa que ela não é filha da dona Eva, e sim da Marilda?
CARLOTA: Não tive coragem. Ao invés disso, eu conversei com a Marilda para que ela conte a verdade para a Clarissa.
CASSILDA: E você acha que ela terá coragem?
CARLOTA: Eu espero.
CASSILDA: Tomara mesmo. Bom, mudando um pouco de assunto, você já soube que o papai sofreu um atentado?
CARLOTA: O quê? Como foi isso, Cassilda?
(A conversa entre as irmãs segue fora de áudio. No corredor, a CAM foca em Cassandra, que ouviu toda a conversa)

Cena 12/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/ Interno/ Noite
(Joca deitado em sua cama. Juscelino entra. Joca senta-se)
JUSCELINO: O que você tinha na cabeça quando resolveu fugir?
JOCA: Padrinho, eu voltei pra casa, não voltei?
JUSCELINO: Tudo isso foi por causa da ideia de ser padre?
JOCA: Uma ideia que o senhor projetou pra mim e que eu nunca aceitei.
JUSCELINO: E você acha que fugir foi a solução mais madura que você encontrou pra resolver o problema? Sabe de uma coisa, Joca? Você tem porte físico de adulto, mas tem uma mentalidade de um recém nascido. E você será, sim, o próximo padre de Vila Prata e assunto encerrado. E se recusar essa ideia, vai ter que morar na rua e pedir esmola pra se sustentar, entendeu?
JOCA (indignado): Que tipo de padre cristão é o senhor?
JUSCELINO: O que sabe qual é o melhor pra sua paróquia.
(Juscelino sai)

Cena 13/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Noite
(Bonavante sentado à mesa. Simão entra. Bonavante se levanta)
BONAVANTE: Descobriu a identidade do rapaz que me salvou?
SIMÃO: Ainda não.
BONAVANTE: Descobriu quem armou aquele atentado contra mim?
SIMÃO: Também não.
BONAVANTE: Então, o que houve? Algo a ver com o transporte e entrega do corpo do Plínio para a família dele?
SIMÃO: Não. Ocorreu tudo bem. Doutor Bonavante, eu descobri algo que o senhor precisa saber.
BONAVANTE: Então, diga, Simão.
SIMÃO: O doutor Viriato Bragança voltou para Vila Prata e parece que é pra ficar.
BONAVANTE: O quê? Agora tudo faz sentido. o Viriato volta para cá no mesmo dia que eu sofro um atentado. Está mais do que na cara que foi ele quem armou aquela emboscada para mim no meio da estrada. Simão, prepare meu carro. Você vai me levar até a propriedade daquele desgraçado.
SIMÃO: Sim senhor.
(Simão sai)

Cena 14/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Laurinda sentada em uma cadeira de balanço, fazendo crochê. Viriato entra)
VIRIATO: Ah, Laurinda, você e sua mania patética de ficar fazendo crochê.
LAURINDA: Não entendo qual é a sua implicância por isso.
VIRIATO: Porque sempre quando eu olho pra você, você está construindo esses paninhos de renda.
LAURINDA: Construindo paninhos de renda? Viriato, você não percebe o quão monótona é a minha vida? (levantando-se da cadeira): Eu não tenho nada para fazer, a não ser construir esses PANINHOS DE RENDA.
(Viriato dá um tapa na cara de Laurinda, que leva a mão ao rosto)
VIRIATO: Nunca mais levante a voz para mim. Agora, saia da minha frente. Vai bancar a rendeira inconformada em outro lugar, de preferência longe de mim.
(Laurinda, com os olhos marejados, sobe as escadas. Gertrude entra, com uma garrafa de vinho e uma taça nas mãos)
GERTRUDE (entrega a taça para Viriato, abre a garrafa de vinho); Aqui está seu vinho tinto, doutor Viriato.
VIRIATO (vendo Gertrude pôr parte do vinho na taça): Você sempre eficiente, Gertrude. (ele leva a taça com vinho à boca e bebe o líquido): Ah, o doce sabor de um gostoso vinho tinto. Só não mais gostoso do que você, Gertrude.
GERTRUDE: Fico lisonjeada, doutor Viriato.
(Bonavante entra, acompanhado de Simão)
BONAVANTE: Então, é mesmo verdade? Viriato Bragança voltou para Vila Prata.
VIRIATO: Bonavante Sabarah. Que surpresa.
BONAVANTE: Eu queria ser o primeiro a vir te recepcionar, Viriato.
VIRIATO: Quanta gentileza da sua parte. E o que você está fazendo parado aí? Venha me dar um abraço de boas vindas. Ou você prefere um aperto de mãos?
(Viriato, cínico, encara Bonavante, que o encara de volta. Close em Bonavante)

FIM DO CAPÍTULO (Toca Sister Sin - Nickelback)



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