Cena 1/ Propriedade Sabarah/ Pasto/ Externo/ Manhã
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
BONAVANTE: Alguém pode me explicar o que significa isso?
CASSANDRA: Pai, não é nada disso que o senhor está pensando.
BONAVANTE: Eu não estou pensando, eu estou vendo. (para Joca): Foi pra isso que você veio pra cá, rapaz? Pra seduzir minha filha?
JOCA: Não, senhor. Eu estava...
CASSANDRA: Pai, o Joca não tem culpa de nada.
BONAVANTE: Um beijo só acontece quando as duas partes querem, que foi o que aconteceu aqui.
JOCA: Perdão, senhor.
BONAVANTE: Não perca seu tempo me pedindo perdão. Você está demitido.
CASSANDRA: Pai, o senhor não pode fazer isso.
BONAVANTE: Tanto posso que estou fazendo. Eu quero você fora daqui.
JOCA: Sim senhor. Com licença.
(Joca sai)
CASSANDRA: Pai, o senhor está sendo...
BONAVANTE: Para dentro, Cassandra. PARA DENTRO!
(Cassandra e Bonavante se direcionam para o interior da mansão)
Cena 2/ Mansão Bragança/ Cozinha/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da cena 12 do capítulo anterior)
LAURINDA: Você me ajudar quem é essa maldita meretriz, Gertrude?
GERTRUDE: Claro que ajudo, dona Laurinda. Conte comigo para o que a senhora precisar.
LAURINDA: Fico feliz que tenho sua ajuda. Vamos começar procurando pela região. Como eu disse, essa vagabunda deve morar por perto para o Viriato poder passar todas as noites com ela, como ele vem passando.
GERTRUDE: E a senhora já sabe por onde começar a procura?
LAURINDA: No centro de Vila Prata, mas hoje você não precisa ir comigo. Cuide do almoço. Hoje eu vou sozinha.
(Laurinda sai)
Cena 3/ Vila Prata/ Praça/ Interno/ Manhã
(Marilda e Carlota sentadas em um mesmo banco, lado a lado)
MARILDA: Você conversou com a Clarissa?
CARLOTA: Tentei, mas ela não me deu ouvidos. A Clarissa continua chateada comigo. Ela nunca vai me perdoar por não ter contado a verdade para ela.
MARILDA: Sinceramente, Carlota, eu irei lavar as minhas mãos. A Clarissa nunca irá me aceitar.
CARLOTA: Não, Marilda, você não pode desistir. A Clarissa é sua filha, vocês precisam conversar e se entenderem.
MARILDA: Isso é algo que nunca acontecerá. E eu não tiro a razão da Clarissa em me odiar. Eu a entreguei para dona Eva apenas com dois dias de nascida.
CARLOTA: Você teve seus motivos e ela precisa saber disso. Você tem que insistir em uma conversa com a Clarissa.
MARILDA: Farei mais uma tentativa. Se essa conversa não der certo, eu irei desistir.
Cena 4/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Manhã
(Cassandra entra. Bonavante logo atrás)
CASSANDRA: O senhor não poderia ter demitido o Joca.
BONAVANTE: Por quê? Pra você ficar perto dele?
CASSANDRA: Eu e o Joca estamos apaixonados.
BONAVANTE: Eu não estou lhe impedindo de correr atrás dele. Mas aqui ele não trabalha mais.
CASSANDRA: Como? Deixa eu ver se entendi bem. Você não se importaria se eu namorasse o Joca?
BONAVANTE: De maneira alguma.
CASSANDRA: Mas e aquela história de dar pretendentes ricos e com boas condições de vida para suas filhas?
BONAVANTE: Você não se enquadra nisso. Em contrapartida, a Carlota e a Cassilda, sim, porque elas merecem ter um futuro brilhante, ao contrário de você.
CASSANDRA: Por que o senhor me odeia?
BONAVANTE: Você me fez te odiar.
CASSANDRA: Eu ainda serei melhor de vida do que a Carlota e a Cassilda juntas.
BONAVANTE: Namorando esse pobretão que não tem onde cair morto, o Joca, eu duvido muito.
(Cassandra sai)
Cena 5/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Manhã
(Vitorino no balcão. Geraldo entra, acompanhado de Nuno)
GERALDO: Bom dia.
VITORINO: Bom dia.
GERALDO: Vitorino, eu quero te apresentar meu filho, Nuno.
VITORINO: Filho?
NUNO: Prazer, Vitorino.
VITORINO: Igualmente. Mas desde quando você tem filho, Geraldo?
GERALDO: Descobri ontem, mas adorei a surpresa.
NUNO: Bom, eu tenho uns compromissos para resolver agora. Com licença.
(Nuno sai. Dorotéia entra)
DOROTÉIA: Bom dia.
VITORINO: Olá, mãe. O que a senhora deseja?
DOROTÉIA: Um saco de arroz e um chá de boldo. Seu pai está reclamando de dor de cabeça.
VITORINO: Um instante.
(Vitorino sai. Ficam Geraldo e Dorotéia)
GERALDO: Como está a Liduína, dona Dorotéia? Já faz um tempo que ela não apareceu aqui.
DOROTÉIA: Minha filha está na labuta, Geraldo.
Cena 6/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Sala de consultas/ Interno/ Manhã
SORAYA: Os folhetos acabaram.
LIDUÍNA: De novo? Vou passar o dia inteiro enfiada aqui olhando para essa lona?
SORAYA: Fique à vontade para ir para casa.
LIDUÍNA: Você sabe que não posso. Tenho que chegar tarde em casa, para minha família achar que meu trabalho é coisa séria.
SORAYA: Poupe-me, Maria Rapariga. A vila inteira sabe que você distribui panfleto. Bom, eu tenho outra notícia pra te dar. E essa eu tenho certeza que você vai adorar.
LIDUÍNA: Desembucha.
SORAYA: As minhas consultorias aumentaram graças à previsão que fiz do seu atropelamento e agora eu tenho condições de te pagar um salário.
LIDUÍNA: AHHH, eu não acredito. Isso é o máximo, mãe Soraya.
(Liduína, alegre, abraça Soraya, que a empurra)
SORAYA: Nunca se deve abraçar uma vidente.
Cena 7/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Manhã
(Todos da cena 05 presentes.)
VITORINO: Aqui estão o saco de arroz e o chá de boldo.
DOROTÉIA: Anote na minha conta, filho.
GERALDO: Nós não trabalhamos com conta, dona Dorotéia.
VITORINO: Aqui as coisas devem ser pagas na hora.
DOROTÉIA: Eu não trouxe dinheiro suficiente. Poxa, Vitorino, você é meu filho. Poderia quebrar meu galho.
VITORINO: Regras são regras, mãe.
(Laurinda entra)
LAURINDA (para Dorotéia): Não se preocupe. Eu pago pela senhora.
(Laurinda dá uma nota para Vitorino)
LAURINDA (para Vitorino): Fique com o troco.
DOROTÉIA: Muito obrigada. A senhora nem me conhece e já foi me fazendo essa ajuda.
GERALDO (para Laurinda): A senhora deseja algo?
LAURINDA: Uma água mineral, por favor.
(Geraldo sai para mais dentro em busca da água)
DOROTÉIA (para Laurinda): Você é nova na vila, não é?
LAURINDA: Não necessariamente. Eu já passei uns anos morando aqui, depois fui viver na capital e, agora, estou de volta. Sou esposa de Viriato Bragança.
DOROTÉIA: Viriato? Ah sim, eu o conheço. De vista, claro. Bom, muito obrigada pela ajuda. Vamos até a minha casa? Lá eu lhe reembolso.
LAURINDA: Não é necessário.
(Geraldo volta com a água e entrega para Laurinda)
LAURINDA: (para Geraldo) Muito obrigada. Quanto custa?
Cena 8/ Estrada/ Manhã
(Carlota caminha pela estrada. Ela se depara com Joca, vindo na direção oposta)
CARLOTA: Joca?
JOCA: Oi amor.
(Eles se beijam rapidamente)
CARLOTA: O que houve? Não era para você estar trabalhando a essa hora?
JOCA: Seu pai me demitiu.
CARLOTA: Por quê?
Cena 9/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Manhã
(Cassandra deitada. Carlota entra, furiosa)
CARLOTA: Sua ratazana.
CASSANDRA (levantando-se): Presumo que você já saiba o que aconteceu.
(Carlota dá um tapa na cara de Cassandra)
CARLOTA: Cínica. Você não cansa de seduzir o Joca, não é?
CASSANDRA: Eu vou ficar com ele, ouviu bem? Eu sou capaz de qualquer coisa para tê-lo.
CARLOTA: Possessiva maluca. O Joca me ama e eu o amo. Nós vamos ficar juntos para sempre.
CASSANDRA: Será mesmo? Tratarei de contar sobre o seu namoro para o papai e quero ver até quando irá esse para sempre.
CARLOTA: Conta, pode contar.
CASSANDRA: Pelo menos, o papai não irá se importar caso eu namore o Joca.
CARLOTA: Como?
CASSANDRA: Ele mesmo que falou. Já no seu caso, irmãzinha, papai não irá desistir de arranjar um pretendente a altura. Seu relacionamento com o Joca não tem futuro. Isso porque papai não vai deixar que ele tenha.
Cena 10/ Paisagens de Vila Prata/ Tarde
Cena 11/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Joca, Juscelino e Ariana sentados nas poltronas)
JUSCELINO (levantando-se): Demitido?
JOCA: Exatamente.
JUSCELINO: Parece que o destino quer que você seja mesmo padre, Joca. Isso não é bom?
JOCA: O senhor sabe muito bem o que eu penso a respeito disso.
ARIANA: E o que fez o doutor Bonavante te demitir, Joca?
JOCA: Ele viu a Cassandra me beijando.
JUSCELINO: O quê?
(Juscelino encara Joca)
Cena 12/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Marcílio/ Interno/ Tarde
(Dorotéia e Marcílio em pé, conversando)
DOROTÉIA: Eu encontrei uma maneira de arranjarmos mais dinheiro para a construção da confeitaria.
MARCÍLIO: E eu posso saber como?
DOROTÉIA: Hoje mais cedo eu conheci Laurinda Bragança, uma mulher extremamente rica. Eu quero que você investigue-a, Marcílio. Que você descubra tudo a respeito dessa mulher. Eu preciso me tornar amiga dela.
MARCÍLIO: Mas eu ainda não entendi em quê a sua amizade com essa Laurinda irá ajudar na construção da confeitaria.
DOROTÉIA: Se eu me tornar amiga da Laurinda, ela irá patrocinar a construção da confeitaria, entendeu? A Laurinda é a solução para os nossos problemas.
Cena 13/ Mansão Bovary/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Alguém bate na porta. Clarissa atende)
CLARISSA: Você é?
NUNO: Nuno, prazer.
CLARISSA: Posso saber o que quer comigo?
NUNO: Eu sou advogado de Eva Bovary.
CLARISSA: Como?
NUNO: Dona Eva, na última vez que foi à capital, me procurou para fazer um testamento. Agora que ela morreu, eu vim à Vila Prata para mediar a abertura do testamento dela. Posso entrar?
(Clarissa encara Nuno)
Cena 14/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Continuação imediata da cena 11 deste capítulo)
JUSCELINO: Como assim a Cassandra te beijou? Eu pedi pra aquela garota ficar longe de você e ela não me escutou. Você é apaixonado por ela, Juscelino?
JOCA: Claro que não.
JUSCELINO: Estranho. Uma mulher foi falar comigo no confessionário e me disse que vocês se amavam.
JOCA: É mentira, padrinho. Eu não amo a Cassandra.
JUSCELINO: De qualquer forma, eu preciso fazer alguma coisa para impedir que essa situação se repita.
(Juscelino sai)
JOCA: O que será que ele vai fazer?
ARIANA: Não faço ideia.
(Alguém bate na porta. Joca atende)
JOCA: Cassandra?
CASSANDRA: Podemos conversar?
(Close alternado em Joca e Cassandra. Congela em Joca)
FIM DO CAPÍTULO.
0 comentários:
Postar um comentário