Cena 1/ Mansão Bovary/ Quarto Eva/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
CARLOTA: Eu não sei o que dizer com essa revelação, dona Eva.
EVA: Apenas conte para a Clarissa. Ela merece saber.
CARLOTA: Dona Eva, seja forte. A Clarissa já está chegando.
EVA: Eu sinto muito por estar te colocando nessa situação difícil, Carlota, mas você é a melhor amiga da Clarissa, ela confia muito em você.
CARLOTA: Eu também confio muito nela.
(Eva pega na mão de Carlota. Os olhos de ambas marejados)
EVA: Prometa-me que você contará a verdade para a Clarissa. Prometa-me, Carlota.
CARLOTA: Dona Eva, eu não...
EVA: Por favor, prometa-me. Eu não quero partir sabendo que minha filha não saberá da verdade sobre o nascimento dela.
CARLOTA: Certo, eu prometo.
EVA: Muito obrigada, minha querida. Deus irá te recompensar por esse ato de bondade. Diga à Clarissa que eu a amo muito e que, apesar dos pesares, ela sempre será a minha filha. Sempre, sempre.
(Eva dá um último e longo suspiro. A mão de Eva para sobre a de Carlota. Eva morre. Os olhos de Carlota mais lacrimejados ainda ao constatar a morte da mulher.)
CARLOTA: Dona Eva, fale comigo, por favor. Dona Eva, reaja. Não, dona Eva, não vá embora. A Clarissa precisa da senhora. Fique conosco, não se vá.
(Carlota chora copiosamente)
Cena 2/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Noite
(Bonavante sentado à mesa. Alzira entra)
ALZIRA: Doutor Bonavante, dona Cassandra já chegou.
BONAVANTE: Obrigado por avisar, Alzira.
ALZIRA: O doutor Plínio Sampaio também está. Ele quer falar com o senhor.
BONAVANTE: Mande-o entrar.
(Alzira sai. Plínio entra)
PLÍNIO: Boa noite, meu amigo.
BONAVANTE: Boa noite, Plínio. Alguma notícia da sua filha desaparecida?
PLÍNIO: Nada, meu caro. A Marjorie fugiu com aquele forasteiro vagabundo desde a semana passada e não mandou nenhum recado desde então. Bonavante, eu preciso da sua ajuda. Você poderia ir amanhã comigo para vasculhar a região atrás da minha filha? Talvez, ela esteja por perto.
BONAVANTE: Claro, Plínio. Ajudarei no que for necessário.
Cena 3/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da cena 14 do capítulo anterior)
ELIZEU: E então, Marcílio? Quando você vai tomar vergonha na cara e responder as perguntas que eu te fiz?
MARCÍLIO: O senhor deve ter ido à fazenda errada. Eu estou trabalhando na propriedade do doutor Plínio Sampaio sim.
ELIZEU: O próprio doutor Plínio falou comigo e me garantiu que você nunca pôs os pés lá nem pra buscar emprego nem pra nada. Onde foi que você arranjou aquele dinheiro, Marcílio?
MARCÍLIO: Eu não sou obrigado a responder nada. Com licença.
(Marcílio sai da casa. Elizeu vai atrás)
Cena 4/ Rua/ Noite
(Marcílio e Elizeu surgem)
ELIZEU: É isso que você quer, Marcílio? Uma discussão no meio da rua para que a vila inteira ouça?
MARCÍLIO: Eu sei muito bem o que o senhor está pretendendo. Quer que eu diga algo ruim ao meu respeito que não é verdade, que eu lhe dê motivos para o senhor me odiar ainda mais.
ELIZEU: Eu sou seu pai, Marcílio. Eu preciso saber da verdade.
MARCÍLIO: A verdade, pai, é que o senhor não me suporta. Eu estou trabalhando como capataz do Plínio Sampaio, sim. Aquele velho esclerosado que está mentindo.
ELIZEU: E você recebeu pagamento no mesmo dia que foi buscar emprego? Engraçado, porque eu conversei com um capataz do doutor Plínio e ele me disse que o salário que ele recebe não é diário, e sim mensal.
MARCÍLIO: Porque ele é um capataz incompetente, com certeza.
(Elizeu pega no braço de Marcílio. Algumas pessoas já assistem a discussão)
ELIZEU: Chega, chega desse espetáculo de mentiras e desculpas esfarrapadas. Eu não idiota, Marcílio. Ou você me fala a verdade sobre a origem daquele dinheiro agora ou eu te dou uma surra na frente da vila inteira.
(Clarissa e Dr. Pessoa passam por Marcílio e Elizeu. Clarissa para, chocada)
DR. PESSOA: O que foi, Clarissa?
CLARISSA: Aquele rapaz.
DR. PESSOA: O Marcílio? O que tem ele?
CLARISSA: Foi ele quem me assaltou. Vagabundo. Esse imbecil me paga.
(Clarissa se aproxima de Marcílio e Elizeu)
CLARISSA (para Marcílio): Ei, você.
(Marcílio se vira para Clarissa. Clarissa dá um tapa em Marcílio)
CLARISSA: Cadê o meu dinheiro, hein, seu ladrãozinho de quinta?
ELIZEU: Ladrãozinho?
CLARISSA: O senhor não sabia que esse idiota é um assaltante, não? Ontem, ele me abordou na estrada, me agrediu e depois levou todo o meu dinheiro.
(Clarissa dando vários tabefes em Marcílio)
CLARISSA: Cadê meu dinheiro, infeliz? Eu quero o meu dinheiro de volta. Cadê?
ELIZEU: Para com isso.
CLARISSA: O senhor vai defender esse meliante?
MARCÍLIO: Pai, eu não sei o que essa louca está falando.
CLARISSA: Deixa de ser cínico, seu marginal.
(Clarissa dá outro tapa em Marcílio)
ELIZEU: Você roubou essa garota, Marcílio?
MARCÍLIO: Pai, eu posso explicar.
(Elizeu não consegue disfarçar a decepção)
ELIZEU: Então, o dinheiro que você trouxe é fruto do assalto que você cometeu a essa menina?
MARCÍLIO: Pai, eu já disse que posso explicar.
ELIZEU: CALA A BOCA, MOLEQUE!
(Elizeu dá dois socos na cara de Marcílio. O nariz dele sangra)
ELIZEU (para Clarissa): Eu irei devolver todo o seu dinheiro, mas não agora. Se puder passar aqui amanhã.
CLARISSA: Passarei, sim. (para Marcílio): Verme.
(Clarissa sai)
ELIZEU: E quanto a você, Marcílio, pra dentro.
MARCÍLIO: Pai, por favor, me ouça.
ELIZEU: PRA DENTRO.
(Marcílio, visivelmente apavorado, entra. Elizeu, furioso, entra logo atrás)
Cena 5/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Liduína/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da cena 15 do capítulo anterior)
LIDUÍNA: Eu realmente não sei se poderei comparecer na inauguração. Mas por que esse interesse do Geraldo em me convidar?
VITORINO: Eu acho que ele está apaixonado por você.
LIDUÍNA: O Geraldo? Será? Nossa, eu não esperava que ele gostasse de mim.
VITORINO: Por quê?
LIDUÍNA: Porque antes de eu aceitar o emprego da mãe Soraya, eu pedi emprego para ele e ele recusou. Se ele realmente estivesse interessado em mim, ele teria me dado o trabalho, não?
VITORINO: Ele já tinha se comprometido comigo.
LIDUÍNA: Eu sei. Mas de qualquer forma, eu fico lisonjeada pelo convite. Tentarei ir para a inauguração, mas não é certeza que irei.
Cena 6/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Marcílio, visivelmente apavorado, sentado no sofá. Elizeu, furioso, em pé, olhando para ele)
MARCÍLIO: Pai, eu posso explicar.
ELIZEU: Explique.
MARCÍLIO: O senhor criou aquela competição e aquilo me fez sentir pressionado a buscar um emprego, mas eu não consegui.
ELIZEU: E viu no roubo a oportunidade perfeita de me enganar, dizendo que tinha arranjado um trabalho?
MARCÍLIO: Perdão, pai. Perdão.
ELIZEU: Alguma coisa da educação que eu te dei saiu errado, Marcílio. E eu já sei o que foi.
(Dorotéia entra)
DOROTÉIA: Algum dos dois pode me explicar que gritaria foi aquela no meio da rua?
ELIZEU: Seu filho virou um ladrãozinho, Dorotéia. Você sabia disso?
DOROTÉIA: O quê?
ELIZEU: O dinheiro que ele trouxe ontem para casa era de uma garota que ele assaltou na estrada. Não bastou roubá-la, ainda a agrediu. Mas eu já tenho a punição perfeita para o Marcílio.
DOROTÉIA: O que você vai fazer, Elizeu?
ELIZEU: Você verá. Apenas tranque a porta e feche as janelas.
DOROTÉIA: Elizeu...
ELIZEU: Faça o que eu estou mandando, Dorotéia.
(Dorotéia se direciona até a porta e a tranca. Elizeu tira seu cinto.)
MARCÍLIO: Pai, piedade de mim, por favor.
ELIZEU: Você teve piedade daquela garota quando a roubou? Você teve piedade da sua família quando resolveu mentir sobre a origem daquele dinheiro? Não. Com certeza, você não teve. Porque, agora, eu haverei de ter piedade por você?
DOROTÉIA: Elizeu, não faça nada que você possa se arrepender depois.
ELIZEU: Quem disse que eu irei me arrepender, Dorotéia?
(Elizeu atinge Marcílio com o cinto, que grita de dor. Elizeu começa a bater no filho copiosamente, com mais força a cada cintada. Marcílio se encolhe no sofá, recebendo as cintadas, com muita dor e lágrimas nos olhos. Dorotéia, parada, estática, olhando o filho apanhar. Os olhos dela marejados, esboçando todo o sofrimento de uma mãe impotente. Elizeu, inerte, olhando fixamente para o filho, batendo-o cada vez mais. Liduína e Vitorino entram, surpresos com o que vêem)
Cena 7/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Noite
(Cassilda sentada em sua cama, lendo um livro. Cassandra deitada na sua cama, olhando para o teto. Bonavante entra)
BONAVANTE: Que bom que você chegou, Cassandra.
CASSANDRA (levantando-se): Estava preocupado comigo, papai?
BONAVANTE: Cassilda, você poderia me deixar a sós com a sua irmã?
CASSILDA: Sim senhor. Com licença.
(Cassilda levanta-se e sai)
CASSANDRA: Quer conversar comigo? Qual assunto nós iremos tratar?
(Bonavante dá um tapa na cara de Cassandra, que leva a mão ao rosto)
BONAVANTE: Isso é apenas uma prévia do que eu posso fazer com você, caso você volte a insultar a Carlota, entendeu?
CASSANDRA: Eu, sinceramente, não estou entendendo.
BONAVANTE: Vai bancar a desentendida pra cima de mim? Onde foi que eu errei com você, Cassandra? Sim, porque eu não entendo a sua inveja, a sua obscuridade, se a educação que eu te dei foi a mesma que dei para suas outras irmãs. Você deve ser podre por natureza mesmo.
(Bonavante sai)
Cena 8/ Mansão Bovary/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Clarissa e Dr. Pessoa entram e encontram Marilda e Carlota sentadas no sofá)
CLARISSA: Mamãe está dormindo? Eu trouxe Dr. Pessoa para consultá-la.
CARLOTA: Eu receio que tenha sido tarde demais, Clarissa.
CLARISSA: Como assim?
MARILDA: Você precisará ser forte, dona Clarissa.
CLARISSA: Não vão me dizer que mamãe...
CARLOTA: Dona Eva faleceu.
CLARISSA (os olhos marejados): Não, isso não pode ser verdade.
CARLOTA: Eu sinto muito, minha amiga.
(Carlota abraça Clarissa, que desaba no choro)
Cena 9/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da cena 16 do capítulo anterior)
ARIANA: Fugir? Você tem certeza disso, Joca?
JOCA: Certeza absoluta.
ARIANA: Mas e a Carlota?
JOCA: A Carlota terminou comigo, lembra? Nada mais me prende nessa vila.
ARIANA: Então, eu vou com você.
JOCA: Nada disso, Ariana. Você ficará aqui por um tempo. Antes, eu terei que me estabilizar nesse novo lugar onde irei morar. Quando tudo estiver dando certo, eu volto para te buscar.
ARIANA: Você jura?
JOCA: Juro.
(Ariana e Joca se abraçam)
Cena 10/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Noite
(Cassandra deitada em sua cama. Carlota entra)
CASSANDRA: Até que enfim você chegou. Nós precisamos conversar.
CARLOTA: Não me venha com as suas asneiras, Cassandra.
CASSANDRA: Papai me bateu, você sabia disso? E algo me diz que tem dedo seu nessa história.
CARLOTA: Se ele te bateu, é porque você mereceu.
CASSANDRA: Que mentira você inventou sobre mim para o papai vir me agredir?
CARLOTA: Você virou um verdadeiro saco de pancadas, né? Primeiro foi a Cassilda, depois eu e agora o papai.
CASSANDRA: Eu não estou pra brincadeiras, Carlota.
CARLOTA: E você acha que eu estou, sua ratazana? Hoje eu descobri que você também é apaixonada pelo Joca. Sua falsa.
CASSANDRA: Ninguém manda no coração, querida.
CARLOTA: Mau caráter.
(Carlota dá um tabefe na cara de Cassandra.)
CARLOTA: Agora você vai me pagar pelo que fez comigo.
(Carlota dá outro tapa em Cassandra, que cai no chão. As duas se encaram. Close em Cassandra)
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