Continuação imediata do
capítulo anterior.
Cena 1. Favela –
Exterior – Dia
Depois de entrar na
favela, fazer várias voltas, o táxi de Edvaldo se aproxima da casa
de Tonelada. Tonhão tá sentado do lado de fora da casa.
TONELADA – Então, é
ali naquela casa.
EDVALDO – Qual delas?
TONELADA – Aquela ali
onde tem um homem sentado na frente.
Edvaldo olha para a casa
e para o homem.
EDVALDO – Aquele homem?
TONELADA – Isso.
Aquele.
No momento em que o táxi
de Edvaldo se aproxima da casa, Tonhão entra.
TONELADA – Muito
obrigado.
Tonelada paga Edvaldo,
que logo vai embora.
Cena 2. Ponto de Táxi
– Dia
Edvaldo chega no ponto de
táxi. Fica pensando na última corrida que fez.
EDVALDO – Aquele
homem... Que estranho! Parece que já o vi em algum lugar. Mas, onde?
Ah, deve ser bobagem minha! Talvez um passageiro...
Cena 3. Favela –
Sala - Interior – Dia
TONHÃO – Tava onde,
Tonelada?
TONELADA – Ah por aí.
Fui dar uma volta na cidade.
TONHÃO – Volta? E eu
aqui sozinho! Todo mundo resolveu sair hoje!
TONELADA – Catarina
também?
TONHÃO – Aquela lá
deve ter ido no médico.
TONELADA – To
preocupado. Ela anda tomando muito remédio.
TONHÃO – Esquece. Ela
sempre foi assim. E o Guilherme?
TONELADA – Ele ainda
não chegou?
TONHÃO – Não. E to
precisando dele pra umas coisas aí.
TONELADA – Tonhão, não
vá colocar ele em perigo!
TONHÃO – Acorda,
Tonelada! O Guilherme não é mais nenhuma criança!
TONELADA – E por isso
precisa se expor ao risco como você?
TONHÃO – Virou anjinho
protetor agora?
TONELADA – Não é
isso! Cê sabe que ele é como um sobrinho meu.
TONHÃO – Chega de
sentimentalismo! Quando ele chegar, cê me avisa!
Tonhão sai, deixando
Tonelada sozinho.
Cena 4. Casa da
família Bertollo – Sala – Interior – Noite
Franchesco chega em casa.
DORIVAL – Ana?
FRANCHESCO – Não,
filho. Sou eu.
DORIVAL – Ah, oi pai!
Como foi o trabalho?
FRANCHESCO – Foi bom,
filho. E a sua escola?
DORIVAL – Foi boa. Teve
um lá que começou a falar da minha deficiência, mas nem liguei.
FRANCHESCO – Sério,
filho? Quer que eu faça alguma coisa?
DORIVAL – Não, pai.
Obrigado! Tá tranquilo. Sabe que eu não me importo. Deixa falarem.
FRANCHESCO – Tá bom,
filho. Mas, quando precisar, estarei aqui.
DORIVAL – Obrigado,
pai!
Franchesco abraça
Dorival.
DORIVAL – Pai?
FRANCHESCO – Que foi,
filho?
DORIVAL – Vamos jogar
futebol depois?
FRANCHESCO – Claro,
filho. Deixa só eu trocar de roupa.
DORIVAL – Tá bom, pai.
Cena 5. Casa de
Edvaldo – Sala – Interior – Noite
Edvaldo chegando do
trabalho. Não encontra ninguém em casa.
EDVALDO – Ué? Cadê
todo mundo?
Edvaldo vai até o quarto
de Fábio e de Marcelo pra procurá-los.
Cena 6. Casa da
Família Bertollo – Sala – Interior – Noite
A porta abre. Mariana
chega em casa.
DORIVAL – Ana?
MARIANA – Não, filho.
É a mamãe.
DORIVAL – Oi, mãe!
Mariana abraça Dorival.
MARIANA – Mas por quê
você perguntou direto pela Ana? Ela ainda não chegou?
DORIVAL – Não, mãe.
Não sei. To achando estranha essa demora dela.
Franchesco vem vindo do
quarto.
FRANCHESCO – Vamos lá,
filho! Jogar um pouquinho. Mariana, já chegou?
Franchesco dá um beijo
em Mariana.
MARIANA – Oi, amor! To
preocupada agora. A Ana ainda não chegou.
FRANCHESCO – Calma,
Mari. Ela deve tá com o Guilherme. Logo tá chegando.
DORIVAL – Não gosto
dele. Não sei por quê.
MARIANA – Pra ser
sincera, eu também não.
FRANCHESCO – Deixem de
ser bobos. Ele me parece um rapaz responsável.
Cena 7. Casa de
Edvaldo – Quarto de Marcelo – Interior – Noite
Edvaldo chega no quarto
de Marcelo e encontra Marcelo, chorando. Ele corre pra consolar o
neto.
EDVALDO – Marcelo, o
que houve?
MARCELO – (chorando)
Não vou mais pra escola!
EDVALDO – O que
aconteceu, Marcelo? Não gostou da aula?
MARCELO – A aula até
que é boa, mas... (começa a chorar mais)
EDVALDO – Mas? Me
conta, Marcelo...
MARCELO – (chorando) Eu
disse que aconteceria isso!
EDVALDO – Isso o quê?
Ficaram te olhando? Deixa olharem, Marcelo. Eles tem olhos pra isso
mesmo.
MARCELO – (chorando
muito) Me chamaram de deficiente!
EDVALDO – Marcelo, não
fica assim. Dá um abraço no vovô. Vamos conversar.
Marcelo abraça Edvaldo,
chorando.
EDVALDO – Você não
pode ligar quando falarem assim. Olha o vovô! Eu uso óculos, sou
deficiente, porque não enxergo tão bem quanto você. Outros tem
alguma dificuldade em alguma outra coisa. Ninguém é perfeito. Você
tem uma cabeça boa, é inteligente...
MARCELO – Vovô, tem um
colega que é deficiente visual também.
EDVALDO – Ele usa
óculos assim como o vovô?
MARCELO – Ele é cego.
EDVALDO – Verdade?
Então, olha aí, Marcelo. Tem gente muito pior que você. Sei que é
difícil não poder andar direito, mas imagina ele, que não consegue
enxergar. Não é pior?
MARCELO – É...
EDVALDO – E chamaram
ele de deficiente também?
MARCELO – Sim.
EDVALDO – E como ele
reagiu? Ficou triste?
MARCELO – Não. Pelo
contrário. Parece que nem ligou. Inclusive deu uma resposta pro
menino.
EDVALDO – Olha aí, que
bom exemplo, Marcelo. Tenta conversar mais com ele. Ver como ele leva
sua vida. Você vai ver que a vida dele deve ser bem mais difícil.
Tem gente muito pior que você e gente ainda muito pior que ele.
MARCELO – Verdade,
vovô. Vou tentar falar com ele.
EDVALDO – Isso. Vocês
ainda vão ser bons amigos.
MARCELO – Obrigado,
vovô!
Marcelo abraça Edvaldo,
que retribui, feliz por ter ajudado o neto.
EDVALDO – E seu pai,
onde tá?
MARCELO – Ainda não
chegou.
EDVALDO – Como assim?
Cena 8. Rua – Noite
Guilherme e Ana saindo da
pizzaria.
GUILHERME – Gostou da
surpresa?
ANA – Amei!
GUILHERME – Que ótimo!
ANA – Só tem um
problema!
GUILHERME – Qual?
ANA – Não avisei
ninguém. Devem estar preocupados comigo.
GUILHERME – Relaxa!
Você já é adulta e tá comigo.
ANA – Eu sei, mas sabe
como são meus pais, né?
GUILHERME – Eles tem
que entender que você não é mais uma criança.
ANA – Ai, não fala
assim. Eles se preocupam porque gostam de mim.
GUILHERME – Tá bom,
não vamos discutir depois desse jantar maravilhoso.
Guilherme não percebe,
mas ultrapassa o sinal vermelho, no momento em que Fábio tá
atravessando a rua.
ANA – (gritando)
Guilherme, cuidado!
Guilherme atropela Fábio.
ANA – (gritando) Ai,
meu Deus!
Congela no desespero de
Ana.
FIM DE CAPÌTULO.
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