Cena
1. Rua Desconhecida – Noite
Um homem misterioso olha
para o relógio.
HOMEM MISTERIOSO: Chegou
a hora! Hahaha
Cena
2. Favela – Casa de Tonhão – Interior – Noite
Catarina está cuidando
de sua filha, ainda bebê. Tonhão, seu marido, foi preso.
CATARINA – Dorme,
filhinha, dorme tranquila que mamãe tá aqui pra te proteger. Ai,
meu amor, que falta você me faz!
Alguém bate na porta.
Ela, com medo, vai atender.
CATARINA – Meu Deus!
Quem será essa hora?
Catarina coloca a filha
no berço e vai atender, assustada.
Ela mal abre a porta e um
bandido invade, armado.
BANDIDO – Tá lembrada
de mim, dona?
CATARINA – O que você
quer? Meu marido não tá aqui, você sabe!
BANDIDO – Hahaha.
Claro, essa hora deve tá virando mulherzinha na cadeia!
CATARINA – Não fala
assim do Tonhão.
BANDIDO – Cala a boca!
Eu falo como eu quiser! Tá querendo morrer é?
O bandido aponta a arma
na cabeça de Catarina.
CATARINA – Não, por
favor!
A bebê se agita e começa
a chorar.
BANDIDO – Que barulho
foi esse?
CATARINA – Por favor,
não faça nada com minha filha!
BANDIDO – Ah, então
quer dizer que essa é a filha do Tonhão? Ah, que gracinha!
CATARINA – Deixa ela em
paz! Me mata, mas não faça nada com ela!
O bandido vai até o
berço e pega a bebê no colo.
BANDIDO – Coisa linda!
Seria uma pena se titio te deixasse cair, né? Hahaha
CATARINA – Não!!!
Minha filha! Solta ela!
Catarina ameaça atacar o
bandido. Ele a contém, apontando a arma na cabeça da bebê.
BANDIDO – Quietinha aí,
dona! Mais um passo e eu estouro os miolos dela!
CATARINA – Não, por
favor! Não faça isso! Piedade!
BANDIDO – Nada de
gracinha senão eu atiro! Dá tchau pra mamãezinha aí, bebê!
O bandido sai, levando a
bebê, sempre com a arma apontada em direção a ela. Catarina fica
desesperada e começa a chorar.
Cena
3. Casa de Edvaldo – Interior – Sala – Noite
Edvaldo chega em casa, do
serviço, cansado. Fábio, seu filho de 5 anos vem correndo.
FÁBIO – Papai! Papai!
Ele pula no colo de
Edvaldo, quase o derrubando.
EDVALDO – Fábio, meu
filho! Quase derruba o papai! Haha. Tudo bem?
FÁBIO – Tudo papai!
Vamos brincar?
EDVALDO – Vamos, filho!
Deixa só o papai descansar um pouquinho.
Nesse instante, Viviane
vem do quarto correndo e se joga nos braços de Edvaldo.
VIVIANE – Já chegou,
meu amor! Que saudade! Como foi seu dia? Muito trabalho?
Eles se beijam.
EDVALDO – Nem imagina
como! To exausto!
VIVIANE – Ah é? Tá
cansado? Então vou deixar a novidade pra amanhã, quando você tiver
descansado.
EDVALDO – Novidade? Que
novidade? Conta....
VIVIANE – Não, amanhã
eu conto. Você tá cansado.
EDVALDO – Conta, Vivi.
Você sabe como eu sou curioso. Não conseguiria dormir.
VIVIANE – Você vai ser
papai! Parabéns!
Ela o beija de novo.
EDVALDO – Que
brincadeira é essa? Eu já sou! Olha o Fábio aí!
VIVIANE – Bobinho! Você
vai ser papai de novo! Eu to grávida!
Edvaldo leva um susto.
EDVALDO – O QUÊ???
GRÁVIDA???
VIVIANE – Que foi, meu
amor? Não gostou da novidade?
EDVALDO – Viviane, você
sabe que o que ganho como taxista é pouco. Mal dá pra sustentar eu,
você e o Fábio. Ainda não era a hora.
VIVIANE – Não acredito
que to ouvindo isso de você!
EDVALDO – Meu amor, não
fica assim.
VIVIANE – Você não me
ama! Tá jogando na minha cara que eu sou um encosto!
EDVALDO – Vivi, eu não
falei isso...
VIVIANE – Falou sim! Eu
toda feliz esperando você chegar pra contar e você fala isso.
EDVALDO – Desculpa, meu
amor! Não foi isso que eu quis dizer...
VIVIANE – Você não
quer outro filho? Não tá feliz?
Uma lágrima escorre do
rosto de Viviane. Ela ameaça ir pro quarto. Ela a segura.
EDVALDO – Claro que eu
quero! Esquece o que eu falei. To feliz sim... Vou me esforçar ainda
mais no trabalho pra dar a vida que minha família merece e Deus vai
ajudar!
VIVIANE – Mesmo?
EDVALDO – Claro. Foi só
o impacto da novidade. Eu to muito feliz! Parabéns meu amor!
Ele a beija.
Cena
4. Paisagens da cidade – Início do dia
Nove meses depois...
LETREIRO: Porto Alegre –
1987.
Cena
5. Ponto de táxi – Exterior – Dia
Edvaldo dá risadas, em
uma conversa animada com os colegas. Chega um passageiro.
PASSAGEIRO – Por favor,
eu preciso de um táxi!
EDVALDO – Deixa comigo!
Eu te levo! O meu táxi é aquele ali, vamos!
Edvaldo e o passageiro
vão em direção ao táxi. O celular de Edvaldo toca.
EDVALDO – Um
momentinho, por favor...
Edvaldo pega o celular e
atende.
EDVALDO – Alô! … O
quê??? … Como assim??? Calma, to indo pra aí agora mesmo!
Edvaldo corre, entra no
táxi e sai, deixando o passageiro ali, sem explicações.
Cena
6. Favela – Casa de Tonhão – Interior – Dia
Batidas na porta.
Catarina se assusta, lembrando do que ocorreu quase um ano atrás.
Ela vai devagar, abre a porta e tem uma grande surpresa.
CATARINA – Tonhão, meu
amor! Não acredito que você foi solto! Graças à Deus!
Catarina se joga nos
braços de Tonhão e começa a chorar. Ele a conforta.
TONHÃO – Eu não fui
solto, Catarina. Eu fugi!
Catarina
se assusta
com a notícia.
CATARINA – Fugiu? Você
não podia ter feito isso! Agora vai se complicar!
TONHÃO
- Isso não vem ao caso! E
nossa filha, cadê? To louco
pra ver minha menina!
Catarina começa a chorar
ainda mais.
TONHÃO – Calma,
Catarina! O que houve? Isso tudo é saudade?
CATARINA
– A nossa
filha...
TONHÃO – O que tem
nossa filha, Catarina? Cadê ela?
CATARINA – Levaram!
Roubaram a nossa filhinha, Tonhão! Foram eles!
TONHÂO – O QUÊ???
Quando foi isso? Vamos atrás, vamos buscar nossa filha!
CATARINA – Nove meses
atrás...
TONHÃO – Nove meses? E
nesse tempo todo em que foi me visitar, não falou nada???
CATARINA – Tive medo de
que você fosse fazer algo e complicar mais sua situação...
TONHÃO – Isso não vai
ficar assim! Eu vou dar um jeito!
CATARINA – Não,
Tonhão! Não adianta...
TONHÃO – Não vai me
dizer que...
CATARINA – Nossa filha
se foi, Tonhão.
Tonhão abraça Catarina.
Ela chora muito.
Cena 7. Casa de
Edvaldo – Interior – Dia
Edvaldo entra correndo em
casa. Fábio aparece.
EDVALDO – Filho, o que
foi? Cadê a mamãe?
FÁBIO – Mamãe tá no
quarto, dodói.
Edvaldo corre até o
quarto e encontra Viviane se contorcendo de dor.
EDVALDO – Meu amor, o
que houve?
VIVIANE – Aiii ainda
bem que você chegou Ed! Tá na hora!
EDVALDO – Ai, meu Deus!
Vamos pro hospital!
Edvaldo pega algumas
roupas o mais rápido possível e leva Viviane pro hospital.
Cena 8. Favela - Casa
de Tonhão – Interior – Dia
CATARINA – E foi
assim... pelo que fiquei sabendo por aquela vizinha gorda lá do
beco.
TONHÃO – Pobre destino
teve nossa filha... Mas, Deus sabe o que faz e agora ela tá lá com
Ele, como um anjinho.
CATARINA – É... Por
que que tem que ser assim? Por que?
TONHÃO – Catarina, eu
vou sair pra resolver algumas coisas.
CATARINA – Não,
Tonhão! Não vá se meter com eles de novo!
TONHÃO – Até mais
tarde, Catarina!
Tonhão dá um beijo em
Catarina, pega uma arma e sai.
CATARINA – Não,
Tonhão! Por favor!
Cena 9. Hospital de
Clínicas – Sala de espera – Interior – Dia
Edvaldo apreensivo,
andando de um lado pro outro.
EDVALDO (pensando) –
Não quis mais comentar pra não magoar a Vivi, mas ainda acho que
não era a hora pra termos mais um filho... Como eu vou fazer pra
sustentar a família agora? A situação tá difícil...
O médico chega com
expressão séria.
EDVALDO – Doutor... E
então? Como foi? Nasceu? Como tá minha esposa? E meu filho? É
menino ou menina?
Congela em Edvaldo
apreensivo.
FIM DE CAPÍTULO.
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