quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Fixação - Capítulo 24


Cena 1/ Igreja/ Externo/ Escadaria/ Dia
(Todos os convidados estão na escadaria e se ajeitam, formando um corredor entre eles. Amanda e Tiago, de mãos dadas, passam acenando e os convidados mais próximos começam a jogar arroz no casal. Amanda e Tiago entram no carro e partem)
ALEXANDRE (gritando): Agora, todos partindo para a mansão Bertolin, pois é lá onde ocorrerá a festa de casamento da Amanda e do Tiago. Não se esqueçam: a festa é à fantasia. Apareçam na celebração vestidos com seus determinados trajes. Até lá.
(Os convidados entram em seus carros. Alguns caminham pelas ruas. Alexandre entra no carro e sai. Luana monta na sua moto e parte)

Cena 2/ Paisagens de Dourados/ Noite
(Toca Silhouettes – Avicii)

Cena 3/ Mansão Bertolin/ Externo/ Noite
(Carros estacionam na frente da mansão. Pessoas entram na casa)

Cena 4/ Mansão Bertolin/ Quarto de Tiago/ Interno/ Noite
(Amanda e Tiago estão em pé, nus, um na frente do outro)
AMANDA: Oficialmente casados.
TIAGO: Eu esperei tanto por isso. Hoje é o dia mais lindo de toda a minha vida. Obrigado por tudo, Amanda.
AMANDA: Eu que agradeço por você existir na minha vida. Eu te amo, Tiago.
TIAGO: Eu te amo, Amanda.
(Amanda e Tiago se beijam)

Cena 5/ Clínica de Tratamento/ Quarto de Vera/ Interno/ Noite
(Vera está deitada. Vitor entra no local, vestido de enfermeiro)
VITOR: Está tudo certo para a sua fuga, mãe.
VERA: O que eu terei que fazer, exatamente?
VITOR: Vista outro vestido, um mais surrado e bagunce um pouco o cabelo. Enquanto isso, eu vou cobrir os travesseiros da sua cama com um lençol, para quando o médico chegar, ele pensar que a senhora está dormindo. Ah, a senhora não pode esquecer o fato de que quando sairmos daqui, a senhora vai ter que andar de cabeça abaixada.
VERA: Certo, eu entendi. E nós vamos sair mesmo pela porta da frente?
VITOR: Não. Os vigias podem reconhecer a senhora. Nós vamos ao pátio e iremos pular o muro.
VERA: Pular o muro? Você tem certeza, filho? Eu acho que não tenho mais idade de ficar pulando muro.
VITOR: Bobagem. A senhora está mais jovem do que imagina.

Cena 6/ Clínica de Tratamento/ Corredor/ Interno/ Noite
(Vitor, vestido de enfermeiro, e Vera, com o cabelo bagunçado e cabeça abaixada, andam pelo corredor. Eles chegam a um portão, vigiado por um segurança, que dá acesso ao pátio, que está vazio)
VITOR: Com licença. O senhor pode abrir?
SEGURANÇA: Não é mais horário de ficar no pátio.
VITOR: Eu sei, mas a paciente teve um surto e o médico achou melhor eu levá-la ao pátio para que ela pudesse se acalmar e se distrair.
SEGURANÇA: Eu nunca te vi trabalhando aqui antes.
VITOR: Eu sou novo na clínica. Para ser mais sincero, sou um residente.
SEGURANÇA: Sinceramente, eu não estou comprando a sua história. Eu quero falar com o médico que autorizou a saída da paciente para o pátio. Se ele me confirmar, eu libero o portão para vocês.
VITOR: Tudo bem. Vá até ele e fale com ele. Sala cinco.
(O segurança tranca o portão e guarda a chave no bolso. Vitor vê uma barra de madeira em cima de uma das macas deixadas no corredor e pega o objeto. Vitor, fazendo uso da madeira, atinge o segurança, que cai no chão. Ele pega a chave e abre o portão. Vitor e Vera entram no pátio e pulam o muro)

Cena 7/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Marta, vestida de rainha, e Caio, fantasiado de rei, estão sentados no sofá. Luiza, vestida de colegial e Felipe, fantasiado de marinheiro, se aproximam do casal)
LUIZA: Mãe, pai, eu quero apresentar-lhes uma pessoa. Esse é o Felipe, meu amigo.
CAIO: Prazer Felipe.
FELIPE: O prazer é todo meu.
MARTA: Felipe, você é filho de quem?
LUIZA: Mãe, isso é pergunta que se faça?
MARTA: Qual o problema? Eu quero conhecer as origens do garoto.
LUIZA: Isso é uma atitude muito indelicada, mãe.
FELIPE: Eu respondo a pergunta da sua mãe numa boa, Luiza. Dona Marta, minha mãe se chama Salete.
MARTA: Salete? Não conheço.
FELIPE: Ela é faxineira da escola onde eu estudo. No caso, a mesma em que Luiza estuda também.
MARTA: Filho da faxineira? Com certeza, você é pobre, então.
CAIO: Marta.
MARTA: O que foi?
LUIZA: Por favor, Felipe. Vamos sair daqui.
FELIPE: Só um instante. Eu sou pobre sim, dona Marta, mas isso não me faz inferior a senhora nem a ninguém nessa festa. Sou pobre financeiramente, mas rico em sentimentos e em sonhos. Piores são aquelas pessoas que vivem em situação contrária a isso. Agora podemos ir, Luiza. Com licença.
(Felipe sai. Luiza o acompanha)
MARTA: Menino insolente.

Cena 8/ Casa de Raimunda/ Quarto de Solano/ Interno/ Noite
(Luana, fantasiada de Chapeuzinho Vermelho, está em frente ao espelho. Ao seu lado, encontra-se uma sacola transparente com um conteúdo preto dentro. Raimunda entra)
RAIMUNDA: Luana, que bom ver você aqui.
LUANA: Vim buscar minha fantasia que tinha guardado aqui.
RAIMUNDA: Você está linda fantasiada de Chapeuzinho Vermelho.
LUANA: Ah tia, não minta, por favor. Estou parecendo uma animadora de festa infantil com essa fantasia. Mas foi o único traje que meu bolso pôde arcar.
RAIMUNDA: Não se inferiorize. Você está linda. O que você está levando naquela escola? Posso ver?
LUANA: Não é nada, tia.
RAIMUNDA: Como não é nada? Tem algo dentro daquela sacola. Algo preto, especificamente. Dá para ver pelo fato da sacola ser transparente.
LUANA: Tia, é uma surpresa para o casal de recém – casados de Dourados. Eu prefiro que ninguém veja. Pode atrair azar.
RAIMUNDA: Azar? Nunca ouvi falar dessa superstição, mas já que você prefere assim, ok.
LUANA: Bom, vou ir para festa. Já está na minha hora.
RAIMUNDA: Antes disso, eu faço questão de te dar um abraço.
LUANA: Não, tia, não precisa. Pode amassar a fantasia.
RAIMUNDA: Eu já disse que faço questão.
(Raimunda abraça Luana e, de repente, a expressão da tia muda, deixando-a intrigada. Ela se afasta de Luana)
RAIMUNDA: Estranho. Eu senti uma protuberância na sua cintura quando eu te abracei.
LUANA: Protuberância? Deve ser impressão da senhora, tia. Não tem nada na minha cintura.
RAIMUNDA: Mas eu senti algo. Eu quero ver se tem alguma coisa presa na sua cintura.
LUANA: Não, tia. Mas o que é isso?
RAIMUNDA: Luana, eu senti algo na sua cintura e eu quero saber o que é.
(Raimunda levanta o vestido de Luana e vê um revólver preso no short da garota, na altura da cintura)
RAIMUNDA: O que o meu revólver calibre 16 faz aí na sua cintura, Luana? Você, por acaso, está pensando em ir armada para a festa de casamento da Amanda e do Tiago? Por quê?

Cena 9/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Marta e Caio continuam sentados no sofá. Celso, vestido de pirata, e Lara, fantasiada de Cleópatra, se aproximam)
MARTA: Olha quem resolveu aparecer. O casal de fantasia menos improvável dessa festa.
CELSO: O que quer dizer com isso, mamãe?
MARTA: Cleópatra e um pirata namorando? Nem em histórias em quadrinhos isso seria possível.
CELSO: Mas nessa festa tudo é possível. Essa Cleópatra conseguiu o meu amor.
LARA: E esse pirata, em vez de roubar minhas jóias, acabou roubando meu coração.
(Celso e Lara se beijam. Caio fica tonto)
CAIO: Ai minha cabeça.
MARTA: Você está bem, meu amor?
CAIO: Só tive uma tontura. Mas estou melhor. Foi coisa rápida.

Cena 10/ Casa de Raimunda/ Quarto de Solano/ Interno/ Noite
RAIMUNDA: Por que você está levando essa arma para a festa, Luana?
LUANA: Tia, não precisa fazer esse alarde todo. Vou para festa armada apenas para me proteger.
RAIMUNDA: Proteger?
LUANA: É. Eu ainda não me adaptei por inteiro com essa cidade, sem falar que eu estou indo para a mansão sozinha. Não posso correr o risco de ser pega por um assaltante ou por um estuprador no meio da rua. Preciso me proteger.
RAIMUNDA: Luana, assaltos e estupros não costumam acontecer aqui em Dourados.
LUANA: Hoje em dia, todo lugar está violento, tia. Eu não posso vacilar. Preciso estar preparada para me defender, caso algum imprevisto perigoso ocorra comigo.
RAIMUNDA: Bom, eu espero que você não faça nenhuma besteira com esse revólver.
LUANA: Fica tranqüila, tia. Quando eu chegar na mansão, eu tiro esse revólver e escondo no meu quartinho. Amanhã, eu venho devolvê-lo para a senhora. Agora, com licença, pois eu já estou atrasada. Boa noite.
(Luana sai)

Cena 11/ Mansão Amorim/ Sala/ Interno/ Noite
(Vera e Vitor entram)
VERA: Por que você me trouxe aqui? Vamos direto para a festa na mansão Bertolin. Eu quero ver a Amanda.
VITOR: Mãe, eu não vou deixar a senhora aparecer naquela casa toda desarrumada.
(Mirna entra)
MIRNA: Dona Vera? O que a senhora está fazendo aqui?
VERA: Mirna, eu preciso ver a minha irmã. Vitor, eu não vou me trocar coisa nenhuma.
(Vera sai e Vitor a acompanha)
MIRNA (pegando o telefone, discando alguns números e levando-o ao ouvido): Atende, por favor, dona Amanda. Atende. Droga, caixa postal.

Cena 12/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Marta e Caio continuam sentados)
MARTA: Você tem certeza que está melhor?
CAIO: Já disse que sim. Não foi nada demais. Apenas uma tontura básica.
MARTA: Você acha que eu sou idiota, Caio?
CAIO: Por acaso, alguém disse isso?
MARTA: Eu sei que você não estava passando mal coisa nenhuma. Você fingiu essa tontura porque estava se sentindo incomodado com o beijo do Celso e da Lara. Por quê?
CAIO: Deixa de ser louca, Marta. Eu realmente fiquei tonto. Mas quanto a relação do nosso filho com essa Lara, eu confesso que não gosto. Será que o Celso não vê que essa menina não passa de uma golpista?
MARTA: Não seja ridículo, Caio. A Lara é uma mulher muito boa para o Celso. Ele não poderia ter encontrado uma melhor. A golpista dessa história é a Luana. Aquela garota não presta. Ela está tramando algo contra a nossa família.
CAIO: Lá vem você com essa cisma.
MARTA: Não é cisma, Caio. A Luana é uma pilantra. Isso é fato.
(Tiago e Amanda, fantasiados respectivamente de príncipe e princesa, descem a escada e se aproximam de Caio e Marta)
MARTA: Até que enfim o casal homenageado da noite resolveu aparecer.
TIAGO: Estávamos estreando o nosso quarto.
CAIO: Vocês terão todo o tempo do mundo daqui para frente para curtirem esse quarto. Agora, vocês devem receber os seus convidados.
MARTA: Caio tem razão.
TIAGO: Não se preocupem. Nós já estamos indo fazer isso: receber os nossos convidados.
AMANDA: Com licença
(Tiago e Amanda saem da sala, se aproximando do portão da mansão)

Cena 13/ Portaria/ Interno/ Noite
(Luana se aproxima de Amanda e Tiago)
TIAGO: Amanda, que bom que você veio.
AMANDA: É verdade. Eu e Tiago ficamos muito felizes em ver você na igreja, assistindo o nosso casamento e sentada em um daqueles bancos.
LUANA: Foi um prazer.
TIAGO: E ficamos mais felizes ainda em saber que você veio para a festa como convidada.
LUANA: Eu que agradeço o convite.
AMANDA: Fique a vontade.
LUANA: Eu ficarei.
(Luana entra)

Cena 14/ Cais/ Interno/ Noite
(Ao centro da cena está uma mesa romântica. Lucrécio, fantasiado de Fantasma da Ópera, circula pela mesa, dando os últimos retoques. O telefone de Lucrécio toca e ele atende)
LUCRÉCIO: Alô. Alexandre?
ALEXANDRE (do outro lado da linha): Já está tudo pronto?
LUCRÉCIO: Estou terminando. Apenas dando os últimos retoques na mesa.
ALEXANDRE (do outro lado da linha): Não se esqueça de me ligar quando sair daí. Estarei no aguardo.
(Lucrécio põe o celular na mesa)

Cena 15/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Luana caminha entre as pessoas e vê Solano, fantasiado de Harry Potter)
LUANA: O que você está fazendo aqui?
SOLANO: Fui convidado pela mãe do noivo.
LUANA: A Marta continua te cercando dessa maneira?
SOLANO: Com certeza, ela já sabe que nós dois estamos tramando algo.
LUANA: Isso é mais do que óbvio.
SOLANO: Você acredita que ela mandou a Vivian se insinuar para cima de mim?
LUANA: Percebi quando eu vi vocês conversando na cozinha naquele dia. Ela continua te rondando?
SOLANO: Não. Ela parou. Acredito que pelo fato de eu tê-la chamado de tribufu. Bom, mudando um pouco de assunto, mas não tanto, o que você pretende fazer para garantir seu lugar na família Bertolin agora que o Tiago e a Amanda casaram? Vai desistir?
LUANA: Solano, aqui não é lugar para falar sobre isso.
SOLANO: Eu sei, mas fiquei curioso. Perguntar é crime?
LUANA: Bom, então, respondendo a sua pergunta, eu não vou desistir. Não me submeti a humilhações para desistir só porque o Tiago se casou com a Amanda. Eu ainda não estou completamente fora do jogo. Ainda resta uma alternativa.
SOLANO: E o que você vai fazer?
LUANA: Acabar com a Amanda de uma vez por todas. E vou fazer isso hoje, ou não me chamo Luana Carvalho.
(Luana dá um sorriso sarcástico)
(Congela em Luana. Toca Promises – The Cramberries)
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