quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Fixação - Capítulo 28


Cena 1/ Cemitério/ Externo/ Anoitecendo
(Três guardas põem Alexandre na viatura, que parte)

Cena 2/ Mansão Bertolin/ Quarto de Luiza/ Interno/ Noite
LUIZA: E agora, Felipe? O que eu faço?
FELIPE: Calma, Luiza. Mantenha a calma.
LUIZA: Que calma? Não dá para se acalmar. O teste deu positivo. Meu Deus, minha família inteira vai me matar.
FELIPE: Esse teste de farmácia pode estar errado. Muitas vezes, eles não são confiáveis. Eu te aconselho a fazer um exame médico.
LUIZA: Você tem razão. Eu vou fazer um exame. O resultado é mais preciso. Tomara que esse teste esteja errado, Felipe. Tomara.

Cena 3/ Motel/ Quarto/ Interno/ Noite
(Solano está deitado na cama. Luana, ao lado dele)
SOLANO: Alguém daquela família sabe que você não foi para a mansão depois que o enterro acabou?
LUANA: O Tiago sabe. Avisei a ele que iria passar na casa da tia Raimunda para dizer como foi o enterro. Ah, Solano, você deveria ter ido. Foi muito divertido ver o Alexandre sendo preso. Agora, eu quero ver ele me desmascarar para a família Bertolin dentro de uma cadeia. Tudo deu certo, da maneira que planejamos.
SOLANO: Como você poderia ter tanta certeza que o Alexandre iria acabar pegando na arma?
LUANA: Eu não tinha certeza. A sorte que ficou do nosso lado e nos proporcionou essa alegria. Em compensação, hoje eu tive um momento bem desagradável com a minha tia.
SOLANO: O que houve?
LUANA: Ela me acusou pelo assassinato da Amanda. Ela sabe que eu fui armada para a festa de casamento do Tiago e me perguntou se eu tinha alguma participação na morte da sonsa da Amanda.
SOLANO: E o que você respondeu?
LUANA: Disse que ela estava me ofendendo. Banquei a vítima da história. Mas eu acho que no fim das contas, ela acabou acreditando na minha encenação.
SOLANO: Menos mal.
LUANA: Mas a relação da minha tia com o Lucrécio me preocupa.
SOLANO: Por quê?
LUANA: O Lucrécio estava por dentro da investigação do assassinato. Ele sabe qual o tipo de revólver foi usado, como tudo aconteceu, essas coisas. Quando eu conversei com minha tia hoje, dei a entender que o revólver dela foi usado para matar a Amanda, mas ela não sabe que a arma foi analisada e o Lucrécio pode contar isso a ela.
SOLANO: Mas e daí?
LUANA: Minha tia não é burra. Uma hora, ela vai acabar sacando que fui eu mesma que matei a Amanda, sem falar que ela pode contar para o Lucrécio as desconfianças que ela está tendo a meu respeito. Ou seja, é necessário que a gente ponha um fim ma relação da minha tia com aquele velhote.
SOLANO: E como você pretende fazer isso?
LUANA: Minha tia é muito conservadora. Por isso, não será preciso a gente montar um plano tão complexo. Eu já sei o que fazer e eu vou precisar da sua ajuda. Se tia Raimunda perceber algo de imoral no Lucrécio, já é motivo o suficiente para ela querer se afastar dele.
SOLANO: Mas como ela vai ver essa tal imoralidade no Lucrécio?
LUANA: E se minha tia pensar que o Lucrécio está traindo-a? A gente nem precisa montar uma cena de flagra. É só tia Raimunda ver o velhote entrando em um motel que ela já vai pensar isso.
(Luana dá um sorriso maléfico)

Cena 4/ Clínica de Tratamento/ Quarto de Vera/ Interno/ Noite
VERA: Morta? Minha única irmã está morta?
VITOR: Mãe, não queria dizer isso dessa maneira.
VERA: Isso não pode ser verdade. Você está mentindo para mim.
VITOR: Você acha que eu mentiria sobre algo tão sério como isso, mãe?
VERA (começando a chorar): Não. Não pode ser verdade. Isso não pode ser verdade. Minha irmã, não. NÃO!
(Vera levanta-se e começa a destruir o quarto, derrubando os quadros da parede e os remédios em cima da mesa. Vitor tenta segurá-la, mas Vera o empurra. O garoto cai no chão. Enfermeiros entram na sala e conseguem imobilizar Vera. Ela é posta na cama e um dos enfermeiros enfia uma injeção na mulher. Vitor assiste a tudo com os olhos marejados)

Cena 5/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
TIAGO: Cretino. Como eu nunca consegui enxergar isso, mãe? Como?
MARTA: Acalme-se, Tiago.
TIAGO: Não dá para se acalmar. O Alexandre, meu amigo, matou minha mulher. Eu não acredito que um dia pude chamar um assassino de meu amigo.
MARTA: Tiago, você está muito nervoso. Deseja algum chá ou café? Eu peço para a Luana preparar.
TIAGO: Eu só quero uma coisa: que o Alexandre apodreça na prisão.

Cena 6/ Mansão Bertolin/ Quarto de Luiza/ Interno/ Noite
(Luana entra no quarto com um aspirador de pó)
LUANA: Velha maldita da dona Marta. Já não basta me explorar como cozinheira, ela quer que eu faça serviços de faxineira nessa bosta de mansão. Essa coroca me paga.
(Luana entra no banheiro do quarto e pega um pedaço de papel higiênico. Ela olha para o banheiro de Luiza como um todo e paralisa ao ver o que está dentro da lixeira. Luana se depara com o teste de farmácia)
LUANA: Não pode ser. A Luiza está grávida. Grávida.
(Luana dá um sorriso)

Cena 7/ Paisagens de Dourados/ Dia
(Toca Silhouettes – Avicii)

Cena 8/Mansão Bertolin/ Sala de jantar/ Interno/ Dia
(Estão no café da manhã ao redor da mesa: Marta, Tiago, Celso, Lara e Caio)
TIAGO: Estou sentindo tanta falta da Amanda nas refeições daqui de casa. Em todas elas, a Amanda estava presente, me fazendo companhia.
CAIO: Você ainda continua pensando muito na Amanda, não é, meu filho?
TIAGO: Claro. Acho que o fato de eu ter perdido a Amanda para sempre será uma dor no meu coração que nunca terá cura.
LARA: Eu entendo como você se sente, Tiago. Quando minha mãe morreu, também senti a mesma coisa, achava que minha vida nunca mais teria sentido. Mas, com o tempo, a gente aprende a se reerguer.
MARTA: Sua mãe morreu de quê, Lara?
LARA: Acidente de ônibus. Ela havia viajado para o Nordeste para visitar minha avó. Infelizmente, o ônibus capotou no meio da estrada. Foi horrível.
MARTA: E você não estava no ônibus? Não iria acompanhar sua mãe na viagem?
LARA: Eu iria para o Nordeste também, só que no dia seguinte. Minha mãe resolveu se adiantar na viagem.
CELSO: Vamos parar de falar sobre isso, por favor? Vamos falar de coisa boa, atrair energias positivas.
MARTA: Já que todos preferem mudar de assunto, tudo bem. Tiago, por que a Luana não veio nos servir o café da manhã, e sim a Vivian?
TIAGO: A Luana teve que passar na casa da tia para resolver um compromisso com ela. Eu a liberei.
MARTA: Lembro também de você tê-la liberado ontem depois do enterro da Amanda. Você não acha que está dando muita liberdade para aquela incompetente?
TIAGO: Mãe, não se refira à Luana dessa maneira depreciativa, por favor. E tem outra coisa. A vida da Luana não é só cozinhar e nos servir. Ela tem coisas a fazer fora dessa mansão. A senhora como patroa deveria saber disso.
MARTA: Não sei por que você defende tanto essa garota.
TIAGO: Porque, por incrível que pareça, ela é a única que está parecendo se importar com o meu luto.
MARTA: Não diga besteiras.
CAIO: Marta, vamos parar de falar sobre isso. Sempre quando você toca no nome da Luana, tem briga.
MARTA: Tudo bem. Eu só não gosto de ver essa menina montando em cima do Tiago.
TIAGO: Ela não está montando em cima de mim, mãe. Eu não sou nenhum burro.
CAIO: CHEGA! SERÁ QUE PODEMOS TOMAR ESSE CAFÉ DA MANHÃ EM PAZ?
(Pausa. Todos ficam calados)
MARTA: Celso, você se lembra da Ludmila, aquela sua ex-namorada?
CELSO: O que tem ela, mãe?
MARTA: Finalmente, consegui descobrir o que ela anda fazendo em Nova York.
CELSO: Qualquer coisa que ela esteja fazendo, eu prefiro não saber.
CAIO: Por quê? O namoro de vocês duraram por tanto tempo. Creio eu que ela tenha te marcado muito.
CELSO: Eu não quero saber. Atualmente, eu estou muito melhor com a Lara. É ela que eu amo. E também não estou entendendo o porquê de vocês terem tocado no nome da Ludmila tão de repente.
MARTA: Eu toquei porque pensei que você queria saber o que ela anda fazendo nos Estados Unidos. Afinal, ela só viajou para lá, porque você decidiu terminar com ela.
CELSO: Vocês sabem muito bem porque eu terminei com a Ludmila. Ela havia me traído com a metade dos homens de Dourados. E eu pensei que vocês a odiassem por isso. A senhora mesmo, mamãe, dizia que a Ludmila não era a mulher certa para mim, porque ela era muito vulgar.
MARTA: Mas ela era vulgar. Traía você na sua cara e você não percebia.
CELSO: Outro motivo para eu não entender o porquê de vocês estarem tocando no nome dela. Eu não quero saber da Ludmila. Ponto final.
TIAGO: Respeitem a vontade dela. Deixem de ser insistentes.
LARA: Bom, eu vou subir para o quarto. Com licença.
(Lara sai e sobe a escada)
CELSO: Viu o que vocês fizeram? Tenho certeza que ela saiu daqui por causa da Ludmila.
MARTA: Não tenho culpa se sua namorada vê ciúmes onde não existe.
(Celso sai)

Cena 9/ Casa de Raimunda/ Sala/ Interno/ Dia
(Raimunda está sentada na cadeira, bordando. Solano passa por ela, todo vestido)
RAIMUNDA: Já vai sair, Solano?
SOLANO: Sim, dona Raimunda. Tenho uma entrevista de emprego.
RAIMUNDA: Ah, que coisa boa. Então, boa sorte, Solano. Tenho certeza que você será aprovado nessa visita.
SOLANO: Tomara.
(Solano sai)

Cena 10/ Posto de gasolina/ Interno/ Dia
(O posto fica na entrada de Dourados. Solano chega caminhando. Ele vê Luana em cima da moto dela)
LUANA: Ainda bem que você chegou. Demorou muito.
SOLANO: Claro. Vim caminhando. E não se preocupe, que inventei para a dona Raimunda aquela história de que tinha uma entrevista de emprego. A história que você me recomendou.
LUANA: Ótimo. Acabei de falar com o seu Matias e ele disse que te empregava no posto. Você vai trabalhar aqui a partir de amanhã, Solano.
SOLANO: Aqui?
LUANA: Isso. Melhor do que nada. Foi a proposta de emprego mais rápida que eu consegui para você. Bom, tenho outra coisa para te falar. Não poderemos mais no encontrar no motel. É possível que alguém nos veja entrando e isso não pode acontecer. Confesso que fiquei com medo disso depois de bolar o plano para separar minha tia do Lucrécio. Teremos que encontrar um lugar mais reservado e afastado da cidade também para nos encontrar.
SOLANO: Tem um galpão abandonado um pouco perto da placa de entrada da cidade. É um pouco sujo e desorganizado, mas se a gente fizer algumas mudanças, daria um ótimo ponto de encontro.
LUANA: Vou pensar a respeito disso. Bom, é só para isso mesmo que eu te chamei. Agora, preciso ir.
SOLANO: Vai voltar para a mansão?
LUANA: Não. Tenho que passar em outro lugar antes de voltar para a mansão.

Cena 11/ Escola/ Sala de aula/ Interno/ Dia
(Luiza e Felipe estão sentados frente a frente)
LUIZA: Eu aproveitei e marquei o exame para hoje depois da aula. Você me acompanha, Felipe?
FELIPE: Claro que sim, Luiza. E não se preocupe. Vai dar tudo certo.
LUIZA: Tomara que aquele teste de farmácia esteja errado. Tomara.

Cena 12/ Penitenciária/ Cela de Alexandre/ Interno/ Dia
(Alexandre divide a cela com mais dois presos. O guarda se aproxima da cela)
GUARDA: Alexandre Bueno?
ALEXANDRE: Sou eu.
GUARDA: Você tem visita.
ALEXANDRE: Quem?

Cena 13/ Penitenciária/ Sala de visita/ Interno/ Dia
(O guarda abre o portão da sala e Alexandre entra. A visita está de costas para ele, mas Alexandre reconhece quem está ali)
ALEXANDRE: Luana
LUANA: Alexandre. Fiquei com saudades de você. Como foi passar a noite aqui? Foi bom?
(Alexandre encara Luana, que dá um sorriso irônico)
(Congela em Alexandre. Toca Spiritual – Katy Perry)
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