quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Fixação - Capítulo 33
Cena 1/ Mansão Bertolin/ Quartinho de Luana/ Interno/ Dia
LUANA: Dona Marta, procure se acalmar. A senhora está muito exaltada.
MARTA: Fora daqui agora.
(Marta pega Luana pelos cabelos e sai do quarto)
Cena 2/ Mansão Bertolin/ Jardim/ Interno/ Dia
(Marta caminha pelo jardim, segurando Luana pelos cabelos)
LUANA: Larga meu cabelo. Você está me machucando.
MARTA: Cala a boca, vadia. Eu não agüento mais ouvir a sua voz de taquara rachada. Cala a boca.
(Marta abre o portão e joga Luana na calçada, que cai. Marta fecha o portão)
MARTA: Aí é o seu lugar, sua ratazana. No chão.
LUANA (levantando e segurando nas grades do portão): E minhas coisas? Eu preciso das minhas coisas.
MARTA: Daqui a pouco, alguém vem te entregar suas tralhas. E nunca mais apareça na minha casa. Nunca mais, sua ordinária.
(Marta entra na mansão e Luana solta um grito)
Cena 3/ Casa de Raimunda/ Sala/ Interno/ Dia
LUCRÉCIO: Raimunda, eu nunca te traí, meu amor. Você entendeu tudo errado.
RAIMUNDA: Eu não sou burra, Lucrécio. Eu sei muito bem o que as pessoas vão fazer em um motel. Eu não tenho mínima vocação para corna. Eu sempre exigi respeito na nossa relação.
LUCRÉCIO: Raimunda, eu tenho uma explicação para tudo isso. Eu garanto que eu não te traí.
RAIMUNDA: O pior de tudo foi você recusar o meu convite para poder aproveitar a noite ao lado da sua amante. Por que você fez isso comigo, Lucrécio? Será que eu merecia algo desse tipo na minha vida?
LUCRÉCIO: Meu amor, acredite em mim. Eu nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas com você.
RAIMUNDA: Ainda mentiu para mim, dizendo que iria passar a noite resolvendo problemas financeiros de um amigo empresário.
LUCRÉCIO: Mas foi isso mesmo que eu fui fazer naquele motel, Raimunda.
RAIMUNDA: Ah, Lucrécio, me poupe. Eu já falei que eu não sou burra.
LUCRÉCIO: Mentiram para mim, Raimunda. Eu recebi uma ligação da dona daquele motel me pedindo ajuda para resolver alguns problemas financeiros que ela não estava sabendo administrar. Eu fui até lá e quando cheguei no motel, eu tive uma baita surpresa: não havia dona, e sim dono. E outra: ninguém de lá havia me ligado pedindo ajuda. Eu fui vítima de uma brincadeira muito da sem graça.
RAIMUNDA: E você acha que eu vou acreditar nessa desculpa esfarrapada? Toda a confiança que eu tinha em você se quebrou, Lucrécio. E eu acho que relacionamento sem confiança não é relacionamento.
LUCRÉCIO: O que você está querendo dizer com isso?
RAIMUNDA: Acabou. Eu estou terminando, Lucrécio. Não quero mais namorar você.
Cena 4/ Escola/ Refeitório/ Interno/ Dia
(Vitor está sentado sozinho. Felipe se aproxima dele)
FELIPE: Será que poderíamos conversar?
VITOR: É impressão minha ou você está falando comigo?
FELIPE: Vamos parar com essas brincadeiras infantis e se comportar como gente civilizada?
VITOR: O que você quer comigo, Felipe?
FELIPE: Quer conversar contigo.
VITOR: Sobre?
FELIPE: A gravidez da Luiza. Acho que você teve um comportamento indevido quando decidiu não assumir a paternidade da criança que ela está esperando.
VITOR: Essa gravidez da Luiza foi um acidente. Eu não pedi para ela engravidar.
FELIPE: A Luiza também não pediu, mas aconteceu.
VITOR: E você quer que eu faça o quê? Que eu assuma essa criança? Felipe, eu não tenho estrutura para assumir tamanha responsabilidade e também não tenho pretensão em ser pai nesse momento. Eu sugeri que a Luiza abortasse a criança.
FELIPE: E você acha que ela seria capaz de uma atitude tão baixa como essa? A Luiza também não tem estrutura para assumir essa gravidez, mas surgiu esse problema na vida dela e ela está disposta a encarar a realidade e enfrentar as conseqüências dos atos que ela cometeu. Então, seja homem de verdade, tenha vergonha na cara e se espelhe no comportamento dela.
VITOR: Felipe, quem é você para vim até aqui e me dar lição de moral? Se enxerga, cara.
FELIPE: Eu sou amigo da Luiza e me importo bastante com ela. Eu enfrentei a raiva e o nojo que eu tenho de você para te orientar a fazer a coisa certa e assumir o seu filho, mas parece que você pretende continuar sendo esse moleque repugnante e imbecil, que não enxerga a palma da mão e acha que o mundo gira ao redor do próprio umbigo. Eu tenho pena da Luiza ter se relacionado com você algum dia, mas tenho mais pena de você, por ser esse homem triste, seco, duro e burro. Burro por não se dar conta da vida ter te dado uma mulher incrível e que está esperando um filho seu. Então, continue vivendo essa sua vida medíocre, já que você se sente tão bem assim.
(Felipe sai)
Cena 5/ Penitenciária/ Pátio/ Interno/ Dia
(Alexandre e Tonhão estão sentados em um banco)
ALEXANDRE: Já faz muito tempo que você está aqui?
TONHÃO: Uns dois anos.
ALEXANDRE: Então,já deve ter vivido muita coisa dentro dessa penitenciária.
TONHÃO: Verdade. Já vi cada coisa aqui dentro que até Deus duvida. Muitos dos presos que estão aqui não se conformam de terem sido presos e, por isso, descontam em muita gente. Muitos deles são bastante perigosos.
ALEXANDRE: Ainda bem que me colocaram para dividir a cela com alguém legal como você.
TONHÃO: A vida aqui é bem difícil, Alexandre. Todo dia ao acordar, a gente tem que rezar pedindo proteção, porque, se lá fora, a gente não sabe o que vai acontecer conosco, aqui dentro, as coisas ficam bem piores.
Cena 6/ Pousada/ Quarto/ Interno/ Dia
(Celso e Lara entram. Celso põe as malas de Lara em um canto do quarto)
CELSO: Você tem certeza que não quer mudar de idéia e voltar para a mansão?
LARA: Não. Eu me sinto bem melhor aqui. A Ludmila chega hoje e eu não vou me sentir bem em ter que dividir a mesma casa com ela.
CELSO: Eu vou arrumar minhas coisas e vir ficar com você.
LARA: De jeito nenhum. Eu não quero separar você da sua família.
CELSO: Mas não é você que está me afastando deles. Eles próprios já fazendo esse serviço. E eu também quero ficar perto de você.
LARA: Eu te prometo que a gente vai se ver todos os dias.
CELSO: Lara, eu estava pensando em algo que me veio a cabeça. Quando você voltar para São Paulo, eu irei com você.
LARA: Jura?
CELSO: Sim. Eu transponho os meus serviços da cooperativa para lá e fico em Sampa com você. Você aceita dividir sua casa comigo?
LARA: Por acaso você está se convidando para morar comigo?
CELSO: Mais ou menos isso.
LARA: Irei pensar no seu caso.
CELSO: Pensa com carinho, por favor.
LARA: Já pensei e minha resposta é sim. Eu quero morar com você, Celso.
CELSO: Você está falando sério?
LARA: Eu acho que eu nunca falei tão sério em toda a minha vida.
(Celso abraça Lara e a rodopia pelo quarto)
CELSO: Eu te amo.
LARA: Eu também, seu bobo.
(O casal se beija)
Cena 7/ Mansão Bertolin/ Sala de jantar/ Interno/ Dia
(Estão sentados à mesa: Marta e Caio. Tiago entra)
MARTA: Até que enfim resolveu acordar. A noite com a Luana foi boa?
TIAGO: Noite com a Luana? Do que a senhora está falando?
MARTA: Não se faça de cínico, Tiago. Você sabe muito bem do que eu estou falando. Seu cachorro. Como você se atreveu a passar a noite com aquela pilantra? E o seu amor pela Amanda? Onde estava? Seu falso, cínico.
CAIO: Acalme-se, Marta.
MARTA: Calma? Eu cansei de ouvir o Tiago fazendo juras de amor para Amanda nessa mesa aqui e olha o que ele faz. Transa com a vagabunda da Luana antes mesmo de completar uma semana da morte da noiva. Você nunca a amou de verdade, não é, Tiago?
TIAGO: A senhora não tem o direito de questionar os meus sentimentos pela Amanda.
MARTA: Você que não tem o direito de dormir com aquela vadia e desrespeitar a memória da Amanda daquela maneira. Verme. É isso que você é, Tiago. Um verme.
CAIO: Marta, acalme-se. Você nunca falou com o Tiago dessa maneira tão depreciativa.
MARTA: Esse merda está merecendo. Você me magoou demais, Tiago.
TIAGO: Cadê a Luana?
MARTA: A sua protegida? Aquela cachorra ordinária? Mandei embora. Expulsei dessa casa.
TIAGO: O quê? A senhora não tinha esse direito. Não tinha.
(Tiago sai)
Cena 8/ Casa de Raimunda/ Sala/ Interno/ Dia
(Alguém bate na porta e Raimunda atende)
RAIMUNDA: Luana?
(Luana entra no local, segurando algumas malas)
RAIMUNDA: Luana, que malas são essas? O que aconteceu?
LUANA: Fui demitida. Dona Marta me expulsou da mansão. Será que eu poderia passar um tempo aqui? Meu salário não dá para pagar um quarto na pousada e a senhora é minha única parente na cidade.
RAIMUNDA: É claro que pode, Luana. Você acha que eu negaria abrigo a você? Nunca. Bom, você sabe que o Solano está ocupando seu antigo quarto.
LUANA: Não tem problema. Eu converso com ele e a gente decide onde cada um vai dormir. Deixa eu arrumar minhas coisas no quarto, então.
RAIMUNDA: Só um momento, Luana. Eu não sei se você se lembra da última vez em que eu fui te visitar na mansão.
LUANA: Lembro sim, tia. A senhora praticamente me acusou de ter matado a Amanda.
RAIMUNDA: Eu não te acusei. Apenas comentei que era muita coincidência a Amanda ter sido assassinada a tiros na mesma noite em que você foi armada para a festa de casamento dela.
LUANA: Que, para mim, foi o mesmo que ter me acusado.
RAIMUNDA: Bom, prosseguindo, eu me lembro de ter pedido para que você desse conta do paradeiro do meu revólver, que você disse que havia sido roubado. Mas depois dessa conversa, você nunca me procurou para dizer que fim minha arma teve.
LUANA: Bom, tia Raimunda, é complicado dizer, mas sua arma foi apreendida pela polícia. Foi provado que ela foi o revólver usado para matar a Amanda.
RAIMUNDA: Não acredito nisso. Eu nunca pensei que aquela arma um dia seria utilizada para fazer valer uma monstruosidade como foi a morte da Amanda.
LUANA: Eu sinto muito, tia, mas seu revólver está agora sob poder da polícia. Eu não posso fazer mais nada. Com licença.
(Luana sai)
Cena 9/ Escola/ Sala de aula/ Interno/ Dia
(Luiza está sentada na carteira. Cíntia se aproxima dela)
CÍNTIA: Soube que você está grávida.
LUIZA: Era previsível que o Vitor contasse a você.
CÍNTIA: Você acha que me engana, Luiza?
LUIZA: Não estou entendendo.
CÍNTIA: Eu sei que você ainda ama o Vitor e inventou essa história de gravidez para reconquistá-lo.
LUIZA: Não seja ridícula.
CÍNTIA: Mas eu te digo uma coisa: o Vitor não caiu na sua armadilha.
LUIZA: Acabou? Agora, por favor, dê meia volta e me poupe de ver essa carranca que você carrega no lugar da cara. Obrigada.
(Cíntia sai)
Cena 10/ Casa de Raimunda/ Quarto de Solano/ Interno/ Dia
SOLANO: Agora, faça o favor de me explicar o porquê da dona Marta ter te expulsado da mansão.
MARTA: Eu armei uma situação para que o Tiago pensasse que nós tínhamos transado. Parece que isso chegou aos ouvidos da velha maldita e, por causa disso, ela me expulsou. Bom, o que importa é que meu plano deu certo e o Tiago pensa mesmo que transou comigo. E quanto a tia Raimunda?
SOLANO: Não tem mais namorado. Terminou tudo com o Lucrécio.
LUANA: Essa idéia de separar a tia Raimunda e o Lucrécio foi uma baita perda de tempo. Você lembra porque a gente resolveu separá-los, não lembra?
SOLANO: Claro. Para impedir que o Lucrécio contasse para a dona Raimunda que a arma usada para matar a Amanda foi o revólver dela.
LUANA: Isso mesmo. E eu acabei de contar para ela isso.
SOLANO: O quê? Você contou para a sua tia que o revólver dela foi a arma utilizada para assassinar a Amanda?
LUANA: Contei. Eu não tive escolha. Ela já havia me cobrado pelo paradeiro do revólver. A única alternativa que restou foi contar a verdade. Ou seja, gastamos neurônios à toa pensando em afastar o Lucrécio da minha tia.
Cena 11/ Paisagens de Dourados/ Tarde
(Toca Ships – Umbrellas)
Cena 12/ Praça/ Interno/ Tarde
(Felipe e Luiza estão sentados lado a lado)
FELIPE: Não adiantou muito em conversar com o Vitor. Ele permanece irredutível.
LUIZA: Eu já deveria esperar por esse comportamento dele. Não acredito que ele permitiu que eu enfrentasse essa barra sozinha. Pensei que ele me apoiaria, mas não. Eu me enganei novamente com o Vitor.
(Os olhos de Luiza ficam marejados)
FELIPE: Já disse que você não está sozinha. Eu estou aqui para me te apoiar e te ajudar no que for preciso. Eu gosto de você, Luiza, e te ver assim me parte o coração.
LUIZA: O que seria de mim sem a sua ajuda, Felipe? Mas eu acho que você não pode fazer mais nada por mim.
FELIPE: Luiza, eu te amo.
LUIZA: Eu sei. Você já me contou e eu sinto muito por não gostar de você de você da mesma maneira que você gosta de mim.
FELIPE: Dá uma chance para mim. Eu posso te fazer feliz.
LUIZA: Felipe, eu não quero te decepcionar. Tenho medo de você criar expectativas comigo e eu acabar destruindo-as. Melhor deixar como está. Eu prefiro.
FELIPE: Tudo bem. Mas eu não quero deixar que você passe por esse problema sozinha. Eu estou disposto a te ajudar.
LUIZA: Ah é? E como? Vai conversar com o Vitor novamente para tentar convencê-lo a assumir a paternidade dessa criança?
FELIPE: Não.
LUIZA: E vai fazer o quê?
FELIPE: Eu vou assumir o seu bebê como meu filho.
LUIZA: Como é?
FELIPE: É isso mesmo, Luiza. Eu te amo demais para te deixar desamparada. Eu estou disposto a assumir a paternidade dessa criança, a ser o pai desse bebê. Você permite que isso aconteça?
Cena 13/ Casa de Raimunda/ Sala/ Interno/ Tarde
(Alguém bate na porta e Luana atende)
LUANA: Tiago? O que você está fazendo aqui?
TIAGO: Eu vim te buscar, Luana. Vim te levar de volta para a mansão. Você aceita?
Cena 14/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Estão Caio e Marta conversando, sentados no sofá. A campainha toca e Vivian atende. Ludmila entra)
LUDMILA: Boa tarde a todos.
MARTA: Ludmila. Que bom ver você.
CAIO: É muito gratificante vê-la.
(Marta abraça Ludmila)
LUDMILA: Amei o seu convite, dona Marta.
(Caio abraça Ludmila)
LUDMILA: Onde está o Celso?
MARTA: Saiu, mas depois está de volta.
LUDMILA: Não vejo a hora de revê-lo.
(Tiago e Luana, atrás dele, entram)
MARTA: O que essa piranha de araque está fazendo aqui?
TIAGO: Eu trouxe a Luana de volta.
MARTA: Isso é um disparate gritante. Eu mesma expulsei essa vagabunda daqui e acho que fui bem clara quando disse que ela não seria bem vinda na minha casa.
TIAGO: Eu não sei se a senhora se lembra, mas a Luana só sairia dessa casa por meio do meu aval. E eu não lembro de tê-la demitido.
MARTA: Mas eu me encarreguei disso. A casa é minha e eu escolho quem entra e quem sai. A Luana só volta a trabalhar aqui só se for por cima do meu cadáver.
TIAGO: Então morra, mamãe.
CAIO: Tiago.
MARTA: O quê?
TIAGO: É isso mesmo. Se está insatisfeita, morra. Mas a Luana volta a trabalhar aqui, sim.
MARTA: Não me desautorize, Tiago. Você não manda em nada daqui. Quem paga as contas dessa casa sou eu.
TIAGO: Ok. Então, eu saio dessa casa e a Luana me acompanha. Se ela tiver que sair dessa casa, eu saio também.
MARTA: Inadmissível. Você tem uma família aqui, que te ama e te acolhe. Não tem precisão de você sair de casa por causa dessa ordinária.
TIAGO: As coisas funcionarão dessa maneira, mãe. Seu a Luana não puder mais trabalhar aqui, eu vou embora. O que a senhora prefere?
(Congela em Marta. Toca Radioactive – Imagine Dragons)
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