sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Fixação - Capítulo 45


Cena 1/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
LUANA: Agora quem não quer participar dessa conversa sou eu. Não sou obrigada a ouvir tantos absurdos. Por que essa suspeita é um absurdo.
ISADORA: Sendo um absurdo ou não, eu peço que você se retire, Luana.
LUANA: Com prazer.
(Luana sobe a escada)
TIAGO: Você acha que não foi muito dura com ela?
ISADORA: Ela pediu para que eu me comportasse assim. Tentei tirá-la dessa conversa de maneira delicada, mas chegou um momento em que eu tive que ser dura para ela sair.
TIAGO: Delegada Isadora, eu confio na minha esposa. A Luana tinha um apreço enorme pela Amanda. Essa suspeita realmente é um absurdo.
ISADORA: Tiago, eu tenho motivos suficientes para desconfiar da sua esposa. Acredite. Eu não estou apontando-a como suspeita à toa.
TIAGO: A Luana é uma mulher bondosa. Nunca seria capaz de cometer tal crueldade, ainda mais com a Amanda, por quem ela tinha muita consideração.
ISADORA: Tanta consideração que a Luana não pensou duas vezes em te seduzir e te prender em um casamento.
TIAGO: As coisas não aconteceram dessa maneira, delegada.
ISADORA: Bom, Tiago, eu não vim aqui para discutir o relacionamento que você criou ao lado da Luana. Vim te contar uma coisa muito importante.
TIAGO: Que coisa importante é essa?
ISADORA: Eu visitei o Alexandre na penitenciária. Fiz uma espécie de interrogatório com ele e ele me disse coisas estarrecedoras a respeito da sua esposa. Depois de ouvir tudo o que eu tenho a te dizer, acho que você irá entender porque eu passei a ver a Luana como uma suspeita do crime.

Cena 2/ Casa de Salete/ Sala/ Interno/ Noite
(Alguém bate a porta e Salete atende)
SALETE: Filho. Quanta saudade de você.
(Salete abraça Felipe)
FELIPE: Oi, filho.
SALETE: Estou tão feliz em te ver. Depois que você se mudou para a mansão da Luiza, minha vida ficou tão sozinha nessa casa.
FELIPE: Mãe, eu só aceitei morar na mansão por causa do meu filho. A senhora sabe disso.
SALETE: Seu filho? Filho da Luiza, né?
FELIPE: Mãe, por favor. Meu filho, sim.
SALETE: Você sabe que eu nunca me acostumei com a idéia de você assumir um filho que não é seu. Mas se você está feliz com isso, quem sou eu para atrapalhar a sua felicidade?
FELIPE: Vim aqui avisar que o meu filho nasceu. Nasceu hoje de manhã.
SALETE: Nasceu? Que coisa boa, Felipe. Agora, eu entendi qual é o motivo desse brilho no olhar. O menino já tem nome?
FELIPE: Sim. Marcos.
SALETE: Que nome lindo, meu filho. E como está a Luiza? Reagiu bem aos efeitos do parto?
FELIPE: Bem até demais. Ela e o bebê já receberam alta e eu quero que a senhora venha nos visitar.
SALETE: Eu? Pisar naquela casa?
FELIPE: Qual é o problema? É para visitar o seu neto. Por favor, mãe. A Luiza também quer vê-la.
SALETE: Eu irei pensar, Felipe.
FELIPE: Pensar nada. A senhora vai e ponto final.

Cena 3/ Mansão Amorim/ Quarto de Vera/ Interno/ Noite
(Vera está sentada. Mirna entra, segurando uma bandeja. Ela pousa a bandeja no criado mudo)
MIRNA: Aqui está a sobremesa que a senhora me pediu, dona Vera.
VERA: Obrigada, Mirna. Será que você poderia sentar e me acompanhar nesse sorvete de baunilha?
MIRNA: Seria um prazer. Aconteceu alguma coisa? A senhora parece que está triste.
VERA: Só estou remoendo coisas ruins que ocorreram no meu passado.
MIRNA: Dona Vera, isso não é bom. A senhora que essas lembranças ruim podem fazer despertar na senhora aquele sentimento de depressão.
VERA: As coisas também não são assim, Mirna. Hoje, eu encontrei a Marta no supermercado e ela me tratou tão mal.
MIRNA: Marta Bertolin? Mãe do Tiago, aquele que iria se casar com a dona Amanda?
VERA: Essa mesma.
MIRNA: E por que ela tratou a senhora mal, dona Vera?
VERA: Isso é uma coisa que já vem de anos, Mirna. No passado, quando eu era jovem, a Marta e eu éramos melhores amigas. Mas ocorreu uma coisa entre a gente que fez com que nos separássemos.
MIRNA: O que aconteceu?
VERA: Eu e a Marta nos apaixonamos pelo mesmo homem. Só que, no fim das contas, quem terminou ao lado desse homem fui eu.
MIRNA: A dona Marta era apaixonada pelo seu Ernesto?
VERA: Sim, mas o Ernesto sempre gostou de mim. Por isso, ele a dispensou e ela teve que se casar com o Caio, que era um pretendente que a família dela arrumou.
MIRNA: Nossa.
VERA: A partir daí, ela nunca mais quis falar comigo ou resgatar nossa amizade.

Cena 4/ Mansão Bertolin/ Escritório/ Interno/ Noite
(Caio entra e vê Celso sentado na poltrona)
CAIO: Celso?
CELSO: Onde o senhor estava, pai?
CAIO: Na cooperativa. Estava resolvendo alguns problemas. Não sabia que você chegava hoje de São Paulo. Conseguiu arranjar novas filiais?
CELSO: Claro. Sou ótimo em negócios.
CAIO: E você fez aquilo que combinamos? Procurou a Lara?
CELSO: Procurei, mas ela me dispensou na hora. Eu esperei tantos meses para reencontrá-la, achando que o tempo iria curar toda aquela mágoa absorvida pela confusão, mas me enganei. A Lara continua chateada e disposta a me esquecer, a esquecer a nossa família.
CAIO: Também pudera. Você ainda continuará insistindo nessa idéia de montar um bom relacionamento com ela?
CELSO: Não sei, pai.
CAIO: Filho, eu sei que, no início, eu te incentivei a ir procurá-la, mas agora, eu acho melhor você esquecê-la, da mesma maneira que ela está lutando para nos esquecer. De qualquer maneira, você não irá conseguir resgatar aquele amor que vocês sentiam antes de descobrirem que eram irmãos.

Cena 5/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
TIAGO: Isso o que você está me contando não pode ser verdade. A Luana nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas com a Amanda. Nunca. O Alexandre está mentindo.
ISADORA: De qualquer forma, Tiago, eu não posso virar as costas para esse testemunho realizado pelo Alexandre. Se a Luana realmente tentou matar a Amanda duas vezes antes de ela ser assassinada, eu irei descobrir.
TIAGO: Delegada Isadora, a senhora é uma mulher inteligente. Não pode cair na conversa do Alexandre.
ISADORA: Tiago, eu imagino como deve ter sido um baque enorme para você quando descobriu que seu melhor amigo tinha um caso com a sua ex-noiva, mas você não pode deixar a emoção falar mais alto que a razão. Só porque o Alexandre te traiu, você não pode achar que ele também seria capaz de matar a Amanda.
TIAGO: As digitais dele foram encontradas na arma do crime.
ISADORA: Mas isso não significa nada. Alguém pode ter feito o serviço e o Alexandre estava apenas no lugar errado e na hora errada. Essa é uma hipótese que eu não posso descartar. Bom, Tiago, eu vim te contar isso porque eu achei que você deveria saber, por ser o viúvo da Amanda. Com licença.
(Isadora sai)

Cena 6/ Mansão Bertolin/ Quarto de Tiago/ Interno/ Noite
(Pela janela, Luana vê Isadora atravessar o jardim e sair da mansão)
LUANA (para si): É agora que eu descubro quem é essa testemunha ocular. Eu preciso seguir essa delegada de quinta.
(Luana sai)

Cena 7/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Luana desce a escada.)
TIAGO: Luana? Aonde você vai? Precisamos conversar.
LUANA: Outra hora, meu amor. Tenho um compromisso super importante agora e já estou atrasada.
(Luana sai)

Cena 8/ Pousada/ Quarto de Ludmila/ Interno/ Noite
(A CAM foca em uma cartolina recheada de fotos que mostram Ludmila e Caio juntos. Ludmila pega o cartaz e dá um sorriso sarcástico)
LUDMILA: Está pronto. A Marta que me aguarde.

Cena 9/ Carro de Isadora/ Interno/ Noite
(Isadora está dirigindo o carro. Ela olha para o retrovisor e vê Luana atrás dela, pilotando sua moto.)
ISADORA: É impressão minha ou a Luana está me seguindo? Irei tirar essa história limpo agora.
(Isadora dobra o carro em um beco)

Cena 10/ Beco/ Interno/ Noite
(Luana dobra a moto no mesmo beco que Isadora dobrou o seu carro, mas vê o lugar vazio e sem movimento. Luana tira o capacete)
LUANA: Que estranho. A Isadora dobrou o carro nesse beco. Eu vi. Onde será que ela foi parar?
(Isadora surge atrás de Luana)
ISADORA: Procurando por mim, Luana?
(Luana olha assustada para Isadora)
LUANA: Delegada Isadora. Que surpresa em vê-la aqui.
ISADORA: Realmente, a surpresa foi enorme, analisando a expressão que você fez quando me viu. Parece que andamos nos encontrando casualmente demais hoje.
LUANA: É verdade.
ISADORA: Você não estava me seguindo não, né?
LUANA: Eu seguindo a senhora? Claro que não. De onde tirou essa idéia absurda?
ISADORA: Engraçado. Tudo para você é absurdo. Acho que isso é o seu conceito de verdade.
LUANA: Como assim? Não entendi o que você quis dizer.
ISADORA: É melhor que não entenda. Espero que não nos encontremos mais. Pelo menos hoje. Seu rosto já me enjoou, Luana. Até mais.
(Isadora sai)

Cena 11/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Luana entra e é surpreendida por Tiago)
TIAGO: Onde você estava?
LUANA: Fui passear pela cidade. Dar uma arejada.
TIAGO: Luana, a gente precisa conversar.
LUANA: Sobre o quê?
TIAGO: Quando a delegada Isadora veio aqui, ela me pediu sigilo, mas eu não posso esconder isso de você. Eu quero explicações. Eu exijo esclarecimentos.
LUANA: Ainda não consegui captar que mensagem é essa que você está querendo me enviar, Tiago.
TIAGO: Luana, a Isadora visitou o Alexandre na cadeia e fez algumas perguntas para ele. Em uma dessas perguntas, ele acabou respondendo que você tinha tentado matar a Amanda duas vezes antes de ela ter sido assassinada naquele cais. É verdade?
LUANA: Claro que não, meu amor. Eu seria capaz de cometer algo tão cruel como isso, muito menos com a Amanda, que é uma pessoa que eu tinha uma consideração enorme. Isso é mentira do Alexandre. Eu tenho certeza. Ele está querendo me desmoralizar para essa delegada. Deve ser por isso, que ela não gosta de mim.
TIAGO: E por que ele tentaria te desmoralizar, Luana? O que você pensa a respeito disso?
LUANA: Tiago, eu penso que essa história de testemunha ocular não existe. Para mim, tudo isso é mentira, uma invenção criada pelo Alexandre para queimar meu filme. Você sabe que ele me odeia. Aliás, que ele e sua mãe não me suportam. Desde quando uma delegada aparece na nossa casa me apontando como principal suspeita sem ter ao menos provas contra mim? Para mim, ela acabou sendo convocada para investigar uma reviravolta que não existe.
TIAGO: Você acha que esse papo de testemunha ocular é uma maneira que o Alexandre encontrou para se livrar da cadeia e colocar outra pessoa no lugar dele?
LUANA: Isso mesmo. E está mais do que na cara de que essa pessoa sou eu.
TIAGO: De fato, isso faz sentido.
LUANA: Claro que faz, meu amor.

Cena 12/ Paisagens de Dourados/ Dia
(Toca Beautiful Place – Good Charlotte)

Cena 13/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Dia
(Luiza, Felipe e Marcos entram. Marta e Caio os recebem)
MARTA: Sejam bem vindos de volta.
LUIZA: Bom dia, mãe.
MARTA: Olha o nosso netinho, Caio. Como ele é lindo.
CAIO: Parece com a Luiza quando era bebê.
MARTA: É verdade.
FELIPE: Eu acho melhor subirmos para o quarto, Luiza. O nosso filho é um recém-nascido. Vamos logo confortá-lo.
MARTA: O Felipe tem razão. Com criança de colo, todo cuidado é pouco.
(Todos sobem)

Cena 14/ Pousada/ Quarto de Ludmila/ Interno/ Dia
(Alguém bate na porta)
LUDMILA: Deve ser o garotinho que eu chamei.
(Ludmila atende)
GAROTO: A senhora me chamou?
LUDMILA: Chamei sim, garotinho. Será que você poderia me fazer um favor?
GAROTO: O que eu devo fazer?
LUDMILA (entregando um envelope para o garoto): Eu preciso que você entregue essa encomenda para uma mulher chamada Marta Bertolin. Você a conhece?
GAROTO: Quem não conhece, não é mesmo?
LUDMILA: Mas sabe onde ela mora?
GAROTO: Sei sim.
LUDMILA: Ótimo. Então, entregue esse envelope somente a ela, entendeu?
GAROTO: Entendi sim. Com licença.
(O garoto sai e Ludmila dá um sorriso sarcástico)

Cena 15/ Mansão Bertolin/ Quarto de Luiza/ Interno/ Dia
(Marta, Felipe, Luiza e Caio estão ao redor de Marquinhos. Francisca, uma das empregadas, entra)
FRANCISCA: Dona Marta.
MARTA: O que você quer, Francisca?
FRANCISCA: Tem uma senhora lá embaixo dizendo ser avó do Marquinhos. Posso deixá-la subir para ver o neto?
MARTA: Volte ao seu trabalho, Francisca. Eu lido com essa senhora.
(Francisca e Marta saem)

Cena 16/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Dia
(Marta desce a escada e vê Salete, sentada em um dos sofás)
MARTA: Salete. O que você está fazendo aqui?
SALETE: Vim visitar meu neto.
MARTA: Eu sinto muito, mas isso é inadmissível. Pode dar meia volta e sair da minha casa. Eu não quero uma favelada pisando com suas patas imundas na minha cerâmica branquinha. Vá embora daqui, Salete.
SALETE: Eu fui convidada, dona Marta.
MARTA: Convidada? Por quem?
(Felipe aparece atrás de Marta)
FELIPE: Por mim. Minha mãe tem todo o direito de visitar o meu filho. Vamos mãe. O Marquinhos está lá em cima.
MARTA: De jeito nenhum. Essa pobretona não dá mais nem um passo.
FELIPE: Ela vai ver o meu filho, sim, dona Marta. A senhora querendo ou não.

Cena 17/ Casa de Raimunda/ Cozinha/ Interno/ Dia
(Raimunda está lavando algumas verduras na pia. Luana está sentada)
RAIMUNDA: Ainda não entendi o que você veio fazer aqui, Luana.
LUANA: Nossa tia. Com essas palavras, até parece que eu só venho na sua casa com segundas intenções.
RAIMUNDA: Mas é isso mesmo o que eu estou querendo dizer. Desde quando se casou com Tiago, essa é a primeira vez que você aparece na minha casa.
LUANA: Ah tia, as coisas foram muito corridas. Fui arranjar tempo agora. O Solano está?
RAIMUNDA: Não. Ele está no posto.
LUANA: Tinha esperanças em vê-lo. Já faz algum tempo que não vejo o Solano. Bom, a senhora soube que houve uma reviravolta no caso da Amanda?
RAIMUNDA: Sim. O Lucrécio me contou. Ele está bastante interado desse assunto. Ele me disse que queria mesmo falar com o Tiago sobre isso. Parece que era sobre a noite da morte da Amanda.
LUANA: O que o Lucrécio tem a dizer sobre a morte da Amanda, tia?
RAIMUNDA: Você ainda não está sabendo? O Lucrécio viu a Amanda ser assassinada.
LUANA: O quê? O Lucrécio é a testemunha ocular de que estão tanto falando?
RAIMUNDA: Parece que sim. Pensei que você sabia.

Cena 18/ Casa de Raimunda/ Externo/ Dia
(Luana se aproxima de sua moto, com o celular ao ouvido)
LUANA: Alô. Solano? Eu preciso falar com você. Descobri quem é a testemunha ocular.
...
LUANA: É o Lucrécio. Acredita nisso?
...
LUANA: Eu ainda não sei o que ele viu de fato. Por isso que não podemos nos arriscar tanto. Já está na hora da gente calar a boca do Lucrécio de uma vez por todas.
(Congela em Luana. Toca Baiya – Delphic)

Compartilhar:
← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário