Cena 1/ Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Dia
LUANA: Licença? Eu acho um absurdo não poder participar dessa conversa.
TIAGO: Luana, por favor, sem confusão. A delegada já disse que te vê como uma suspeita do assassinato, sem falar que essa conversa é sigilosa.
LUANA: Até você, Tiago, desconfiando de mim? Não esperava isso de você. Bom, já que todos se sentem melhor com a minha ausência, fiquem a vontade para terem a conversa que quiser. Com licença.
(Luana sobe a escada)
TIAGO: Bom, pode começar a contar, Lucrécio. Estou bastante curioso. O que você viu na noite da morte da Amanda?
LUCRÉCIO: Será que poderíamos conversar em um lugar mais reservado, Tiago?
TIAGO: Tem o escritório do meu pai.
LUCRÉCIO: Perfeito. Vamos para lá, então.
(Lucrécio, Tiago e Isadora saem)
Cena 2/ Penitenciária/ Cela de Alexandre/ Interno/ Dia
(Alexandre está dormindo. Um guarda bate na grade e Alexandre acorda)
GUARDA: Onde está o seu companheiro de cela, rapaz?
ALEXANDRE: O Tonhão? Eu não sei.
GUARDA: Como não sabe?
ALEXANDRE: Eu não sei. Você acabou de me acordar, seu guarda. E, como você pode notar, eu também não sei por que o Tonhão não está aqui. Quem sabe, ele está no pátio tomando um banho de sol ou então na sala de visitas.
GUARDA: Isso está muito estranho.
(O guarda sai)
Cena 3/ Penitenciária/ Diretoria/ Interno/ Dia
DIRETORA: Sentiu falta de um detento?
GUARDA: Isso mesmo, diretora. Passei na frente da cela dele e nem sinal. O companheiro de cela dele também não sabe dizer onde ele está.
DIRETORA: Você já verificou os outros aposentos do presídio? Ele pode estar com alguma visita.
GUARDA: Ainda não, diretora.
DIRETORA: Então, vasculhe essa penitenciária inteira. Ele deve estar em algum lugar.
GUARDA: Sim senhora.
(O guarda sai)
Cena 4/ Hospital/ Sala do médico/ Interno/ Dia
(Marta e o médico estão sentados frente a frente)
MÉDICO: Eu chamei a senhora na minha sala, dona Marta, para falar sobre o estado de saúde do seu Caio.
MARTA: E então? Vocês já sabem qual é o tipo de tumor que meu marido tem?
MÉDICO: Sim. Felizmente, é um tumor benigno. Ou seja, seu Caio não está com câncer.
MARTA: Graças a Deus.
MÉDICO: Mas isso não é motivo para comemoração, dona Marta. Mesmo sendo benigno, esse tumor oferece riscos para o seu Caio, como causar outros infartos, por exemplo.
MARTA: E o que vocês da equipe médica irão fazer agora? O Caio corre risco de morrer? Ele está com tempo limitado de vida?
MÉDICO: Uma pergunta de cada vez. Bom, a presença de um tumor no organismo é algo bastante sério, ainda mais no caso do seu Caio, onde a anomalia se encontra em um lugar bastante vulnerável do corpo. Com a presença desse tumor, é óbvio que o seu marido obtenha um tempo limitado de vida, mas não dá para dizer com exatidão quanto tempo será esse. Agora, existe uma maneira do seu Caio se salvar. Existem cirurgias especializadas para retirar o tumor.
MARTA: Cirurgia para retirar o tumor? Ai que bom.
MÉDICO: Exatamente. Mas para que essa cirurgia ocorra, é necessário que o paciente concorde com a prática dela. No caso, eu terei que perguntar ao seu Caio se ele deseja passar por essa operação de retirada do tumor.
MARTA: Não precisa nem perguntar, doutor. É claro que ele aceita.
MÉDICO: Infelizmente, a sua decisão não vale, dona Marta. Só a escolha do seu Caio pode ser levada em consideração.
Cena 5/ Mansão Bertolin/ Escritório/ Interno/ Dia
(Lucrécio, Tiago e Isadora entram e se acomodam. Lucrécio revista o lugar com os olhos e vê uma câmera. Todos se sentam)
LUCRÉCIO: Bom, Tiago, antes de tudo, eu quero que você saiba que eu sou a testemunha ocular.
TIAGO: Você?
LUCRÉCIO: Isso mesmo. A Luana não te contou? Ela já sabia disso.
TIAGO: Não, a Luana não me falou nada. Mas Lucrécio, se você viu a Amanda ser morta, porque não revelou isso naquele período em que o assassinato tinha ocorrido? Por que esperar tanto tempo para dizer isso só agora?
LUCRÉCIO: Eu fiquei com medo, Tiago. Medo que os assassinos da Amanda viessem atrás de mim, caso eu desse com a língua nos dentes.
TIAGO: Assassinos? Então, foi mais de uma pessoa que matou a Amanda?
LUCRÉCIO: Foi sim, Tiago. Bom, eu vou explicar tudo. Você sabe que o Alexandre era apaixonado pela Amanda, não sabe?
TIAGO: Claro que eu sei. Foi um choque quando eu descobri.
LUCRÉCIO: O Alexandre havia me pedido para preparar um jantar romântico para ele e para a Amanda.
TIAGO: Espera aí. O Alexandre disse que aquele jantar era em homenagem a mim e à Amanda.
LUCRÉCIO: Ele estava mentindo. Continuando, o combinado era que quando eu terminasse de preparar o jantar, eu ligasse para o Alexandre avisando que tudo já estava pronto. O problema era que naquela noite, eu havia esquecido o meu celular em cima da mesa do jantar e só dei falta quando eu já estava no carro, indo para sua festa de casamento. Então, tive que voltar para o cais para resgatar esse celular e quando eu cheguei lá, notei duas coisas diferentes. Havia um carro parado na frente do cais e o portão estava semi-aberto, sendo que quando eu saí, eu havia deixado-o trancado. Achei aquilo muito estranho, cheguei a pensar que um ladrão tinha invadido. Mesmo assim, eu entrei no cais e foi aí que eu percebi um movimento. Vi a Amanda sendo segurada por um homem e, na frente deles, havia uma mulher apontando uma arma em direção à sua noiva. Eu me assustei com aquilo e me escondi atrás de uma árvore, já com meu celular em mãos. Um tempo depois, questão de poucos minutos, a mulher que segurava o revólver atirou na Amanda, que caiu no chão. Eu fiquei apavorado com aquilo, sem saber o que fazer. Pensei até em interferir, mas fiquei com medo de ser a próxima vitima daquela dupla de assassinos. Então, eu saí do cais e fui para a sua festa.
TIAGO: Agora eu entendo como você soube da morte da Amanda, quando apareceu na festa dizendo que sabia onde ela estava.
LUCRÉCIO: Só que antes de dizer a todos que ela estava morta, eu encontrei o Alexandre no jardim e contei tudo a ele. Foi por isso que quando vocês chegaram, o Alexandre já estava lá. Ele foi a primeira pessoa que eu contei.
ISADORA: Tiago, o Lucrécio afirma que não foi o Alexandre quem assassinou a Amanda, porque, segundo ele, não haveria tempo do Alexandre matar a Amanda no cais e depois, estar na sua festa antes do Lucrécio chegar.
TIAGO: Eu entendo. E também faz sentido. Mas, Lucrécio, você conseguiu identificar o rosto desse casal de assassinos?
LUCRÉCIO: Não. Estava tudo muito escuro. O homem, que segurava a Amanda, estava o tempo todo de costas para mim e a fantasia que ele usava também não dava para ser identificada.
TIAGO: Fantasia?
LUCRÉCIO: Isso mesmo. Tanto o homem quanto a mulher estavam fantasiados, Tiago. Bem capaz que eles estavam freqüentando a sua festa, antes de matarem a Amanda.
ISADORA: E a mulher?
LUCRÉCIO: Quanto à mulher, eu também não consegui reconhecer nem o rosto nem a fantasia que ela usava. Mas tem um detalhe que eu consegui identificar. A fantasia dela era bastante justa. Tão justa que delineava perfeitamente as curvas do corpo.
Cena 6/ Mansão Bertolin/ Quarto de Marta e Caio/ Interno/ Dia
(Luana está sentada e frente a um computador, que está reproduzindo na tela imagens da conversa de Lucrécio, Tiago e Isadora. Ela, que usa um fone de ouvido, também consegue ouvir tudo)
LUANA (para si): Ainda bem que dentro daquele escritório tem uma câmera. E ainda bem que a dona Marta está naquele hospital. Se estivesse aqui, não me deixaria nem chegar perto do computador. Agora, eu te peguei, Lucrécio.
(Luana dá um sorriso)
Cena 7/ Supermercado/ Interno/ Dia
(Solano entrega as sacolas para Vera)
VERA: Obrigada pela ajuda.
SOLANO: Imagina. É sempre bom ajudar uma mulher bonita. Não é todo dia que temos esse prazer.
VERA: Obrigada mais uma vez. Mas não sou tão bonita assim.
SOLANO: Claro que é. Foi bom ajudá-la.
VERA: Bom, agora tenho que ir. Com licença.
(Vera sai)
Cena 8/ Mansão Bertolin/ Quarto de Luiza/ Interno/ Dia
LUIZA: Esse tumor no meu pai está me rendendo tantas preocupações, Felipe.
FELIPE: Calma, meu amor. Tudo vai dar certo. Seu pai é um homem forte. Ele vai sair dessa.
LUIZA: Eu espero. A vida é tão imprevisível, não é mesmo? Até semana passada, meu pai estava vendendo saúde e agora, ele está internado numa cama de hospital. Tenho medo que alguma surpresa da vida nos abale, como ocorreu com meu pai.
FELIPE: Como assim, Luiza?
LUIZA: Felipe, nós estamos tão bem juntos, vivendo uma vida perfeita. Tenho medo que isso acabe se desestruturando repentinamente. Medo que alguma coisa ocorra e acabe abalando nossa vida.
FELIPE: Você está se referindo ao Vitor?
LUIZA: Tenho medo que ele volte e acabe estragando essa vida que estamos construindo.
FELIPE: Isso não vai acontecer, Luiza. Você lembra que ele disse que pretende ficar na Inglaterra para sempre? Então, tudo indica que ele ficará. E mesmo que ele volte, a presença dele não irá nos abalar em nada. Eu garanto isso a você.
(Felipe e Luiza se abraçam)
Cena 9/ Mansão Bertolin/ Quarto de Celso/ Interno/ Dia
(Marta entra e vê Celso arrumando as malas)
MARTA: Mas o que é isso? Que malas são essas?
CELSO: Oi, mãe.
MARTA: Você vai viajar, Celso?
CELSO: Vou sim, mãe. Irei para São Paulo ainda hoje.
MARTA: Mas por quê? Celso, você não pode sair daqui. Seu pai está num hospital, precisando da nossa ajuda.
CELSO: Foi o próprio seu Caio que me encomendou essa viagem, mãe.
MARTA: O quê? Isso não faz sentido. A troco de quê seu pai te pediria para ir a São Paulo? Algum problema nos negócios da cooperativa?
CELSO: Eu serei franco com a senhora, mãe. Meu pai acredita que, por conta do tumor, o tempo de vida dele irá se reduzir.
MARTA: Não, seu pai está enganado. Celso, hoje eu conversei com o médico e ele me disse que o tumor do Caio é benigno e que há uma cirurgia para retirá-lo. Se essa operação for feita, seu pai volta a viver normalmente como antes.
CELSO: Quando ele me fez esse pedido, acho que ainda não sabia que tipo de tumor era. Bom, o que importa é que meu pai pediu para procurar a Lara e convencê-la a vir a Dourados para passar um tempo com ele.
MARTA: O quê? Seu pai quer a companhia da bastardinha?
CELSO: Não se refira a Lara dessa maneira, mãe. Ela é filha do meu pai. E ele tem todo o direito de querer ficar ao lado da filha em momentos críticos como esse.
MARTA: E, pelo visto, você adorou esse pedido, não é mesmo?
CELSO: Gostei bastante.
MARTA: Seu pai vai ter que saber o que eu penso sobre esse pedido.
(Marta sai)
Cena 10/ Galpão/ Interno/ Dia
SOLANO: Então o Lucrécio não conseguiu reconhecer os nossos rostos?
LUANA: Nem os rostos nem as fantasias que estávamos usando.
SOLANO: Graças a Deus.
LUANA: Mesmo assim, eu continuo achando que devemos dar um fim no Lucrécio. Tenho medo que ele acabe associando alguma de nossas coisas com o que viu naquele cais e, por conseqüência, acabe descobrindo que fomos nós que matamos a Amanda.
SOLANO: Luana, isso não vai acontecer. Já se passaram nove meses desde a morte da Amanda e, nesse intervalo de tempo, o Lucrécio nunca desconfiou da gente, pois se já estivesse desconfiado, teria contado nesse depoimento que ele deu para o Tiago. Sem falar que levantaria muitas suspeitas se o Lucrécio aparecesse morto em algum canto da cidade.
LUANA: Você tem razão. Nesse momento, o Lucrécio está sendo o destaque, o centro das atenções.
SOLANO: Além disso, temos várias formas de lidar com o Lucrécio sem precisar apelar para a morte. Você sabe que eu não gosto de ter que matar as pessoas.
LUANA: Porque é fraco, é emotivo demais. Bom, já se aproximou da Vera?
SOLANO: Sim. Esbarrei com ela hoje no supermercado.
Cena 11/ Penitenciária/ Diretoria/ Interno/ Dia
(O guarda entra)
DIRETORA: E então? Teve algum sinal do Tonhão?
GUARDA: Nenhum, diretora.
DIRETORA: Então, me traga o colega de cela dele, o Alexandre.
GUARDA: Mas ele disse que também não sabe de nada.
DIRETORA: Como não sabe de nada? Aquela cela é um cubículo. Com certeza, ele sabe de alguma coisa. Traga-o para mim agora.
GUARDA: Sim senhora
(O guarda sai)
Cena 12/ Hospital/ Quarto de Caio/ Interno/ Dia
(Caio está deitado, com os olhos fechados. Ludmila entra. Caio abre os olhos e vê a amante)
CAIO: Ludmila?
LUDMILA: Então, é verdade mesmo o que o Celso disse. Você está internado, Caio.
CAIO: O Celso?
LUDMILA: Sim. Ele foi ontem até a pousada me cobrar satisfações pelo nosso caso.
CAIO: Então ele já sabe?
LUDMILA: Claro que sabe, Caio.
CAIO: Foi você quem enviou aquelas fotos para a Marta, não foi? Porque você fez isso, Ludmila?
LUDMILA: Para dar uma adrenalina maior na nossa relação. É tão picante agora saber que a esposa sabe que o marido tem uma amante.
CAIO: Você ficou louca? Eu te pedi para ficar quieta. Por que você fez isso, Ludmila? E não vem com essa história de adrenalina, porque não me convenceu.
LUDMILA: Você quer saber a verdade?
CAIO: Quero
LUDMILA: Eu mandei aquelas imagens para a Marta por vingança.
CAIO: Vingança?
LUDMILA: Sim. A Marta me humilhou quando resolveu me enxotar da mansão como se eu fosse uma cachorra sarnenta. Seduzi você para dar o troco nela.
Cena 13/ Delegacia/ Interno/Dia
(Lucrécio e Isadora entram)
ISADORA: Sente-se, doutor Lucrécio, por favor. Vamos dar início à formalização do seu depoimento.
LUCRÉCIO: Espera. Antes da oficialização, eu quero dizer uma coisa, delegada Isadora. Eu omiti algumas informações para o Tiago.
ISADORA: Omitiu? Mas por que você fez isso, Lucrécio?
LUCRÉCIO: A senhora não viu aquele escritório? Havia uma câmera com áudio incrustada em um dos cantos. Eu fiquei com medo de que a Luana pudesse estar ouvindo o meu depoimento, então, preferi ser mais cauteloso. Você sabe como a Luana ficou possessa quando a expulsamos da conversa.
ISADORA: Lucrécio, eu entendo o seu comportamento de omitir detalhes para o Tiago, mas, para mim, você não pode esconder nada. Então, eu espero que você me revele essas informações agora.
LUCRÉCIO: Eu irei contar, delegada Isadora. Eu disse ao Tiago que não consegui identificar os rostos nem as fantasias da dupla que matou a Amanda. Bom, a verdade é que eu consegui reconhecer o que eles estavam usando.
ISADORA: Você viu as fantasias?
LUCRÉCIO: Sim. A mulher, que estava apontando a arma para a Amanda, estava usando uma fantasia bem justa, como eu falei lá no escritório da mansão. A fantasia dela era toda preta, que a cobria da cabeça aos pés. Era uma fantasia de mulher gato.
ISADORA: E a do homem?
LUCRÉCIO: Bem, a do homem eu não consegui identificar direito. Mas vi que na fantasia dele havia uma capa.
ISADORA: Bom, isso é fácil. Creio que o Tiago ainda tenha a lista de convidados da festa dele, onde mostra a fantasia que cada um estava usando.
LUCRÉCIO: E ainda tem outra coisa.
ISADORA: Outra? O quê?
LUCRÉCIO: A altura e o porte físico do homem me eram muito familiar. Eu tenho uma suspeita de quem possa ser ele.
ISADORA: Quem, Lucrécio?
LUCRÉCIO: O Solano.
ISADORA: O primo da Luana?
LUCRÉCIO: Esse mesmo. Ele tem um porte físico e uma altura bem parecidas com a do homem que estava no cais, segurando a Amanda.
ISADORA: Espera um pouco. Se o homem do casal de assassinos era o Solano, a mulher só pode ser a Luana. É isso, Lucrécio. O Solano e a Luana mataram a Amanda.
(Congela em Isadora. Toca Falling Down – Oasis)
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