sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Superação - Último Capítulo


Continuação imediata do capítulo anterior.

Cena 1 – Casa de Luiza – Dia
Luiza vai até o sofá, fingindo estar muito fraca. Fábio vai atrás. Guilherme aproveita pra colocar um pano em seu nariz. Fábio desmaia.
GUILHERME – Conseguimos! Hahaha
LUIZA – E agora, o que fazemos com ele?
GUILHERME – Vamos pra um lugarzinho muito especial pra dar um fim nesse otário! Hahaha
LUIZA – Não sei onde você pretende ir, mas é melhor irmos rápido!
GUILHERME – Vamos!
Luiza e Guilherme saem carregando Fábio, desmaiado.

Cena 2 – Hospital – Dia
Ana foi doar sangue. Tonelada aguarda apreensivo, na sala de espera. De repente, Franchesco chega.
TONELADA – O senhor???
FRANCHESCO – Boa tarde! Nos conhecemos?
TONELADA – E quem não conhece Franchesco Bertollo?
FRANCHESCO – haha. Verdade!
TONELADA – Pera aí, o senhor não tinha morrido? Eu vi nos noticiários.
FRANCHESCO – Quase! Posso dizer que to vivo por um milagre. Um milagre de Deus me salvou daquele terrível acidente.
TONELADA – Amém! Sabe que eu tenho um sobrinho, quer dizer, ele é filho de um amigo, mas é praticamente meu sobrinho, que trabalha no seu jornal?
FRANCHESCO – Ah é? Que coincidência! Quem é o rapaz?
TONELADA – È o Guilherme. O senhor conhece ele.
FRANCHESCO – Ô se conheço! Nem me fala daquele desgraçado do Guilherme!
TONELADA – Desgraçado? Por que tá falando assim dele? O que ele aprontou?
FRANCHESCO – Esse maldito foi o responsável pelo meu acidente! Ele quis tomar tudo de mim!
TONELADA – Não é possível. Não! Não estamos falando da mesma pessoa. O Guilherme não seria capaz de tamanha crueldade.
FRANCHESCO – Mas foi. Ele mesmo confessou, diante de testemunhas que podem provar o que eu to dizendo!
TONELADA – O Guilherme passou de todos os limites!
FRANCHESCO – No que depender de mim, ele vai pra cadeia!

Cena 3 – Rua Indeterminada – Dia
Luiza e Guilherme estão no carro decidindo o futuro. Fábio tá no porta-malas.
LUIZA – E então, o que você pensa em fazer com ele? Matar?
GUILHERME – Não seria uma má ideia! Com ele morto, eu consquistaria a minha Ana de volta! Hahaha
LUIZA – Mas eu quero o Fábio pra mim! Não podemos matá-lo! Podemos quem sabe extorquir uma boa grana e eu sumo com ele do país!
GUILHERME – Quem sabe... hahaha

Cena 4 – Hospital – Dia
Franchesco tá conversando com Tonelada, nem suspeitando do que tá acontecendo naquele local. Minutos depois, Ana chega. Franchesco tá de costas pra ela.
TONELADA – E então? Tudo certo? O sangue pra salvar a Catarina já foi tirado?
ANA – Tudo certo, Tonelada! Agora é esperar por notícias, que serão ótimas!
Franchesco se assusta ao reconhecer a voz de Ana.
FRANCHESCO – Essa voz...
Ele se vira.
FRANCHESCO – Ana!
ANA – (assustada) Pai! É o senhor mesmo? O senhor tá vivo?
FRANCHESCO – (emocionado) Sim, filha, sou eu mesmo! Eu sobrevivi!
Ana corre pros braços de Franchesco e os dois se abraçam. Tonelada apenas observa o abraço emocionado entre pai e filha.
ANA – Pai, me conta, onde o senhor tava? Por que não apareceu antes? Sentimos tanto a sua falta! A mãe precisa saber que o senhor tá vivo! O Dorival também! Nossa, eles vão ficar tão felizes!
FRANCHESCO – Calma, Ana! Calma! Tudo a seu tempo! Uma pergunta de cada vez! Haha. Eu não vim antes porque o acidente tirou minha memória por um tempo. Fui cuidado por uma família gaúcha, que me ajudou muito. Já marquei com sua mãe pra contar tudo, marquei aqui no hospital. Por isso to aqui.
ANA – Nossa! Que história hein, pai? Daria uma bela matéria pro jornal! Mas, por que o senhor marcou com a mãe aqui?
FRANCHESCO – Imagino que vai ser um grande choque pra ela me ver vivo, então marquei no hospital pro caso de qualquer emergência.
ANA – O senhor sempre muito inteligente.
Ana dá um beijo no rosto de Franchesco. Tonelada, que só observava, comenta.
TONELADA – Que bela história mesmo! Mas eu to preocupado com a minha Catarina.
ANA – Calma, Tonelada. Ela vai ficar bem!

Cena 5 – Casa de Edvaldo – Dia
EDVALDO – O Fábio tá demorando demais. Tenho que ir buscar as crianças agora. Assim que chegar, se ele não tiver chegado, vou dar uma ligada pra ver como ficou a situação lá na casa da Luiza.

Cena 6 – Cativeiro – Dia
GUILHERME – Que lugar é esse? Lugar pobre, feio! Haha
LUIZA – Não importa. Vamos ficar por um tempo aqui, até decidirmos o que fazer. Foi aqui que eu mantive o Marcelo preso. Só que o Fábio estragou tudo. Poderíamos ter sido uma família feliz.
GUILHERME – O quê??? O Fábio já teve aqui??? E você é louca de trazer ele aqui de novo?
LUIZA – Relaxa! Tá com medo? Ele vai ficar bem preso. Não vai poder fazer nada.

Cena 7 – Hospital – Sala de Espera – Dia
O doutor Arthur chega com novidades.
TONELADA – E então, doutor?
ARTHUR – Trago ótimas notícias! Deu tudo certo! A dona Catarina tá bem melhor!
ANA – Graças a Deus!
TONELADA – E a você e seu sangue, Ana!
Mariana chega.
MARIANA – Ana, você aqui? Foi você quem mandou me chamar, filha? Por que aqui? Haha
ANA – Mãe! Não não. Fica calma, viu mãe! A senhor vai ter uma grande surpresa.
MARIANA – Do que você tá falando, filha? Não vá me dizer que...
Mariana olha pra barriga de Ana.
ANA – Não, mãe! Haha. Não to grávida. A surpresa é outra.
No momento, Franchesco chega e se emociona ao rever Mariana.
FRANCHESCO – Fui eu quem mandou te chamar, Mariana!
Mariana olha pra Franchesco e quase desmaia, é amparada por Ana.
MARIANA – Franchesco! Não acredto! É você mesmo? Não, não pode ser. Eu to sonhando. Você, infelizmente, nos deixou.
FRANCHESCO – Não, Mariana! Sou eu mesmo! Eu sobrevivi ao acidente. Não deixei vocês e nunca irei deixar!
MARIANA – Franchesco, meu amor!
Mariana corre, abraça e beija Franchesco, emocionada.
Todos secam as lágrimas nos olhos, diante da cena de reencontro, inclusive o doutor Arthur.

Cena 8 – Escola Napoinara – Estacionamento – Dia
EDVALDO – E então, crianças, como foi a aula hoje?
MARCELO – Ah, vô! Foi chata hoje! O professor Miguel e a professora Vanessa não estavam.
EDVALDO – Pelo jeito, vocês gostam muito deles, né? Haha
DORIVAL – Eles são super legais e cá pra nós, acho que um tem uma quedinha pelo outro. Eu sinto nas vozes deles quando um fala com o outro.
Todos riem.
EDVALDO – Vamos?
MARCELO – Vô, podemos dar uma carona pra um amigo? O senhor leva ele até em casa?
EDVALDO – Marcelo, não esquece que eu to a trabalho.
DORIVAL – Na qualidade de homem da casa, eu autorizo, senhor Edvaldo!
EDVALDO – haha. Então tá!
Marcelo coloca a cabeça pra fora da janela e grita.
MARCELO – Pode vir!
Ciro se aproxima do carro e vai entrando.
CIRO – Com licença!
Edvaldo se assusta ao ver Ciro, pois sabe de todas as armações.
MARCELO – Vô, não fica com essa cara. O Ciro agora é nosso amigo. Ele se arrependeu das maldades.
CIRO – Verdade, tio! Eu quero ser amigo de todos. Eu nunca tive amigos de verdade.
EDVALDO – Então, tudo bem! Vamos criançada?
Edvaldo parte com o carro, deixando Ciro em sua casa, Dorival na sua e depois vai pra casa com Marcelo.


Cena 9 – Cativeiro – Dia
GUILHERME – Já sei o que fazer! Hahaha
LUIZA – O quê?
GUILHERME – Já vai saber!
Guilherme pega o telefone.
GUILHERME – Alô, pai?
TONHÃO – Fala, Guilherme! Que é?
GUILHERME – Como é que tá a mãe?
TONHÃO – Tá naquelas ainda. O idiota do Tonelada ficou lá e vai me ligar se tiver qualquer novidade.
GUILHERME – Tá certo. Pai, vou te passar um endereço e você vem pra cá. Vai ser o evento das nossas vidas, prometo!
TONHÃO – O que cê tá aprontando?
GUILHERME – Anota aí, velho! Não vai se arrepender! Hahaha
Guilherme passa o endereço pra Tonhão e desliga o telefone. Ele se vira pra Luiza.
GUILHERME – Hora de executarmos nosso plano! Vamos embora daqui!
LUIZA – Pra onde vamos?
GUILHERME – Logo vai saber!
LUIZA – Você tá misterioso demais!
Eles partem do cativeiro para o local que apenas Guilherme sabe.

Cena 10 – Paisagens da Cidade – Noite
Cenas da cidade anoitecendo ao som de Raul Seixas – Tente Outra vez.
LETREIRO: Algum tempo depois...

Cena 11 – Hospital – Quarto 500 – Noite
Catarina já tá melhor e podendo receber visitas. Tonelada, Franchesco, Mariana e Ana entram.
CATARINA – Nossa! Quanta gente veio me ver! Não sabia que era tão importante assim!
TONELADA – Muito importante, Catarina! Que bom que você tá melhor! Eu sofri tanto ao te ver doente.
CATARINA – Tonelada, meu amor! Eu voltei pra você. Vamos ficar juntos! Ninguém mais vai nos atrapalhar.
Catarina olha pra Ana.
ANA – Ana, você sempre tão prestativa comigo e dessa vez, salvou minha vida! Se não fosse você, o que seria de mim?
Ana se enche de lágrimas nos olhos.
ANA – Dona Catarina, quando eu soube que a senhora tava precisando, nem pensei duas vezes. Foi Deus quem a ajudou! Eu só fiz minha parte e fico grata a ele por ter permitido que meu sangue fosse compatível com o da senhora.
ARTHUR – Até agora, eu não entendo, como é que o sangue de você é tão parecido! Isso só aconteceria no caso de ela ser sua mãe biológica.
TONELADA – Mas, os pais da Ana estão aí.
CATARINA – Ah, nem me fala. No passado eu perdi uma filha ainda bebê. Ainda lembro daquele rostinho...

Cena 12 – Flash-Back - Favela – Casa de Tonhão – Interior – Noite
Catarina está cuidando de sua filha, ainda bebê. Tonhão, seu marido, foi preso.
CATARINA – Dorme, filhinha, dorme tranquila que mamãe tá aqui pra te proteger. Ai, meu amor, que falta você me faz!
Alguém bate na porta. Ela, com medo, vai atender.
CATARINA – Meu Deus! Quem será essa hora?
Catarina coloca a filha no berço e vai atender, assustada.
Ela mal abre a porta e um bandido invade, armado.
BANDIDO – Tá lembrada de mim, dona?
CATARINA – O que você quer? Meu marido não tá aqui, você sabe!
BANDIDO – Hahaha. Claro, essa hora deve tá virando mulherzinha na cadeia!
CATARINA – Não fala assim do Tonhão.
BANDIDO – Cala a boca! Eu falo como eu quiser! Tá querendo morrer é?
O bandido aponta a arma na cabeça de Catarina.
CATARINA – Não, por favor!
A bebê se agita e começa a chorar.
BANDIDO – Que barulho foi esse?
CATARINA – Por favor, não faça nada com minha filha!
BANDIDO – Ah, então quer dizer que essa é a filha do Tonhão? Ah, que gracinha!
CATARINA – Deixa ela em paz! Me mata, mas não faça nada com ela!
O bandido vai até o berço e pega a bebê no colo.
BANDIDO – Coisa linda! Seria uma pena se titio te deixasse cair, né? Hahaha
CATARINA – Não!!! Minha filha! Solta ela!
Catarina ameaça atacar o bandido. Ele a contém, apontando a arma na cabeça da bebê.
BANDIDO – Quietinha aí, dona! Mais um passo e eu estouro os miolos dela!
CATARINA – Não, por favor! Não faça isso! Piedade!
BANDIDO – Nada de gracinha senão eu atiro! Dá tchau pra mamãezinha aí, bebê!
O bandido sai, levando a bebê, sempre com a arma apontada em direção a ela. Catarina fica desesperada e começa a chorar.
Fim do Flash-Back.

Cena 13 – Hospital – Quarto 500 – Noite
CATARINA – (chorando) E foi assim que minha filha se separou de mim.
TONELADA – E a Catarina sofreu tanto. Vive tomando remédios pros nervos, pra se acalmar.
ARTHUR – Esses remédios lhe prejudicaram muito, dona Catarina! Se não tivesse ingerido tanto, seu organismo não teria rejeitado a maioria que tentamos lhe dar dessa vez. Já não fazia mais efeito algum. Inclusive, seu próprio organismo faria com que melhorasse mais rápido. Sua imunidade estaria melhor.
TONELADA – Eu sempre disse a ela, doutor, mas quem disse que ela escutou?
ANA – Agora a senhora vai escutar, né? Faça isso por mim! Mas, que mal lhe pergunte, o que aconteceu com sua filha que roubaram?
CATARINA – Soube depois que mataram ela.
ANA – Nossa! Que triste!
Franchesco não para de chorar.
ANA – Pai, a história te chocou tanto assim? Calma!
FRANCHESCO – (chorando) Filha, diante dessa história, precisamos te confessar uma coisa.
ANA – Fala pai!
FRANCHESCO – (chorando) Você não é nossa filha biológica. Nós adotamos você quando era bem pequena!

Cena 14 – Flash-Back - Casa da Família Bertollo – Sala – Interior – Dia
Franchesco vai até a porta, com cuidado, abre, observa que não há ninguém. Ele olha pra baixo e grita.
FRANCHESCO – Mariana, corre aqui! Rápido!
Mariana vem correndo.
MARIANA – O que houve, Franchesco? Quem era?
FRANCHESCO – Veja você mesma!
Franchesco se afasta um pouco, deixando o caminho visível à Mariana.
MARIANA – Oh, meu Deus! Um bebê!
Fim do Flash-Back.

Cena 15 – Hospital – Quarto 500 – Noite
MARIANA – E esse bebê que encontramos, era você, filha!
ANA – (chorando) E por quê nunca me contaram? Eu tinha o direito de saber!
MARIANA – Você sempre foi pra nós como nossa filha verdadeira! Sempre te amamos muito, minha filha!
TONELADA – Meu Deus! E em que ano foi isso? E onde?
FRANCHESCO – Em Porto Alegre, no ano de 1987.
TONELADA – Então quer dizer que...
CATARINA (chorando) – Ana, você é a minha filha! A minha querida filhinha que foi tirada de mim quando bebê!
ARTHUR – Isso explica toda a compatibilidade sanguínea!
Ana abraça Catarina.
ANA – (chorando) Então, a senhora é a minha mãe?
CATARINA – Sim, filha! Sou!
ANA – Mamãe!
As duas se abraçam emocionadas. Franchesco e Mariana também se abraçam e Tonelada se junta a Ana e Catarina, abraçando as duas.

Cena 16 – Pedra da Gávea – Noite
TONHÃO – O que pretende fazer, Guilherme?
GUILHERME – Liga pra esse número e faz o que te falei.
Tonhão liga.

Cena 17 – Casa de Edvaldo – Noite
EDVALDO – Marcelo, já liguei pro seu pai e nada! Só da na caixa de mensagens!
MARCELO – Calma, vô!
O telefone toca.
MARCELO – Olha aí, deve ser ele.
EDVALDO – Alô, Fábio? Onde você tá, meu filho?
.
EDVALDO – O quê??
Edvaldo desliga.
MARCELO – O que houve, vô?
EDVALDO – Vamos sair, rápido!
Eles saem correndo.

Cena 18 – Pedra da Gávea – Noite
TONHÂO – Pronto! O cara tá vindo! Hahaha
GUILHERME – Ótimo! Disse pra ele trazer a grana, né?
TONHÃO – Claro!
LUIZA – Vamos logo com isso! Tá frio aqui!
GUILHERME – Calma!
O tempo passa e Edvaldo chega.
EDVALDO – Cadê meu filho?
TONHÃO – Vai acalmando aí! Trouxe a grana?
EDVALDO – Tá aqui!
Guilherme tá com uma arma apontada pra Fábio, na beira da Pedra da Gávea.
FÀBIO – Aqui, pai!
EDVALDO – Meu filho!
GUILHERME – Nem mais um passo! Senão ele vai pra baixo!
EDVALDO – Não, por favor! Não mata o meu filho!
TONHÃO – Acaba logo com isso, Guilherme! Mata logo e vamos embora com a grana!
FÁBIO – Pai, não faz nada!
LUIZA – Hahaha. Obedece sogrinho!
EDVALDO – Tinha que ter dedo seu né, Luiza?
LUIZA – Claro!
No momento, Fábio percebe que Guilherme se distraiu, pega a arma dele e os dois começam a brigar. Tonhão ameaça ir em auxílio de Guilherme, mas é impedido por Edvaldo. Fábio e Guilherme rolam no chão, trocando socos.
FÁBIO – Me diz? Por quê tanta raiva?
GUILHERME – A Ana é minha! Ela vai ser minha!
FÀBIO – A Ana tá comigo!
GUILHERME – Você vai morrer!
Continuam trocando socos até que Guilherme tropeça e quase cai da Pedra da Gávea. Ele fica pendurado.
TONHÃO – Meu filho!
GUILHERME – Socorro!
Fábio segura o braço dele e o impede de cair. Ele puxa Guilherme pra cima, à salvo. Edvaldo fica com a arma. Ele se aproxima de Guilherme, que tá com a camisa rasgada, com o braço à mostra. Ele observa a “coroa”, sinal que Guilherme tem no braço.
EDVALDO – Esse sinal...
GUILHERME – Que é? Achou bonito? Eu não gosto de homem não, hein?
EDVALDO – Não pode ser! Você...
FÀBIO – O que tem ele, pai?
EDVALDO – Ele é o seu irmão, Fábio! É ele! O filho que eu abandonei naquela rouparia de hospital 27 anos atrás, em Porto Alegre!
GUILHERME – O quê?? Que história é essa? Eu sou filho daquele ali, ó! - Aponta pra Tonhão, que tá abismado com o que acaba de ouvir.
TONHÂO – Não, Guilherme. Ele tem razão! Eu não sou seu pai verdadeiro.
GUILHERME – Como é? Tá louco, velho?
TONHÃO – Não. Essa história de esse senhor ter abandonado um bebê na rouparia de um hospital, em Porto Alegre, 27 anos atrás, tem a ver comigo também. Você era o bebê abandonado. Eu entrei lá pra roubar um disfarce pra resgatar o Tonelada e te encontrei lá. Como a Catarina havia perdido nossa filha, eu levei você comigo. Ele é seu verdadeiro pai! - Aponta pra Edvaldo.
EDVALDO – Meu filho! Ah, meu filho! Finalmente eu te encontrei!
Edvaldo entrega a arma na mão de Fábio e abraça Guilherme, que não sabe como reagir.
GUILHERME – Então... O senhor... é meu pai? E o Fábio...
FÀBIO – Como a vida é irônica, Guilherme! Um amor acabou aproximando dois irmãos 27 anos depois.
GUILHERME – Me recuso a ser seu irmão! Não! Isso não é verdade! Diga que não, pai!
TONHÃO – Filho, é tudo verdade! Ele é seu irmão sim. E agora, sua vida vai mudar. Eu não soube criar você como um homem de bem, você aprendeu tudo comigo, que sempre fui um bandido. Tá na hora de você ter a vida que merece. E eu não vou atrapalhar.
GUILHERME – O que você tá dizendo?
TONHÃO – Que eu não vou atrapalhar mais a sua vida, Guilherme! Chega dessa vida de crimes. Isso não leva a nada! Vou deixar Catarina também com Tonelada. Ela merece ser feliz depois de tudo que passou! Eu só te peço uma coisa, Guilherme: não deixe de visitar a Catarina. Ela te ama. Eu, do meu modo, te amei também! Adeus, filho! Até um dia!
Tonhão, vai em direção à ponta do precipício e se joga.
GUILHERME – PAI!!!! Nãoooooooooo!!!
Ouve-se a sirene da polícia chegando.
LUIZA – Droga! Droga! Quem foi o otário que chamou a polícia?
EDVALDO – Eu! Assim que fui informado, liguei pra policia e vim até aqui.
LUIZA – Eu não vou ser presa, não vou!
Luiza ameaça correr. Fábio aponta uma arma pra ela.
FÀBIO – Não vai a lugar nenhum, meu amor! Despeça-se do seu filho, que tá no carro. Você vai pagar pelo que fez.
GUILHERME – E eu?
EDVALDO – Meu filho, você vai ter que pagar por tudo que fez também. Vai acertar as contas com a justiça primeiro, como parte da modificação de sua vida. Depois que cumprir a pena, vai morar conosco.
FÀBIO – Eu vou te dar todo apoio, Guilherme.
GUILHERME – Droga!
A polícia chega e leva Guilherme, machucado, e Luiza, presos.
EDVALDO – Enfim, tudo acabou bem!
FÀBIO – Graças a Deus, pai! Até agora não acredito que o Guilherme é meu irmão!
EDVALDO – Nem eu, filho! A vida apronta das suas, eu paguei pelo meu erro tendo um filho que fez o que fez. É minha missão agora, dar o amor que ele nunca recebeu. Eu vou estar com ele esse tempo todo que ele estiver preso e vamos ajudá-lo a ser um homem de bem, assim como você, filho!
FÀBIO – Pode contar comigo, pai!
EDVALDO – Eu sei disso!
Edvaldo e Fábio se abraçam.

Cena 19 – Paisagens da Cidade – Dia
Cenas da cidade ao som de Raul Seixas – Tente Outra Vez
LETREIRO – Um mês depois...

Cena 20 – Delegacia – Sala de Visitas – Dia
EDVALDO – E então, meu filho, como você tá?
GUILHERME – Bem não dá pra dizer que eu to. Quem é que tá bem numa cela de delegacia.
EDVALDO – É, meu filho. Uma das primeiras lições que você tá aprendendo nessa nova vida é que aqui se faz, aqui se paga. Tudo que fizermos na vida, tem uma consequencia. Se fizermos coisas boas, teremos coisas boas, se fizermos coisas más...
GUILHERME – E eu aprontei muito, né? Me perdoa!
EDVALDO – Tá perdoado, meu filho! Esse tempo na cadeia tá te fazendo bem, apesar de tudo. Você pode refletir bastante e assim, vai ser tudo mais fácil. Nunca esqueça de confiar em Deus, porque Ele sabe de tudo e poderá nos ajudar.
GUILHERME – Pode deixar, pai.
EDVALDO – (emocionado) Você... me chamou....
GUILHERME – De pai! Você não é meu verdadeiro pai? Então!
Edvaldo abraça Guilherme, emocionado.
GUILHERME – Posso perguntar uma coisa?
EDVALDO – Claro.
GUILHERME – E a minha mãe, quer dizer, a dona Catarina, como tá?
EDVALDO – Pode chamá-la de mãe, filho. Ela foi uma grande mãe pra você, pelo que eu soube. Ela tá bem. Saiu do hospital e tá agora junto com o sujeito de nome estranho.
GUILHERME – Haha. Tonelada?
EDVALDO – Isso! Grande homem! E não digo pelo tamanho!
GUILHERME – E eles moram ainda na favela?
EDVALDO – Não. O seu Franchesco empregou o Tonelada como segurança do jornal Bertollo e a dona Catarina como empregada da casa dele. Eles moram nos fundos da casa do seu Bertollo, numas peças.
GUILHERME – Que ótimo! Pai, eu quero que o seu Franchesco, o Fábio e a Ana venham me visitar. Quero pedir perdão a cada um deles, por tudo que fiz.
EDVALDO – Claro, filho. Direi. Agora tenho que ir, porque hoje é casamento do seu irmão.
GUILHERME – Com a Ana, né?
EDVALDO – É. Você tem que aceitar isso, filho.
GUILHERME – Diga a eles que eu desejo toda a felicidade do mundo.
EDVALDO – Direi.
Eles se abraçam e Edvaldo sai.

Cena 21 – Igreja – Dia
É o dia do casamento de Ana e Fábio. O casamento não é só deles. No mesmo dia casam-se Vanessa e Miguel, Catarina e Tonelada.
MARCELO – Ainda bem que tudo acabou bem, né?
DORIVAL – Nem tudo. Sinto muito por você, Marcelo, pela sua mãe.
MARCELO – Obrigado. Eu não tinha muito contato com ela, mas fiquei triste de saber que ela não aguentou a pressão e se matou na cadeia.
DORIVAL – Vou orar muito por ela.
MARCELO – Tenho feito isso sempre, pra que a alma dela encontre a luz.
CIRO – Eu também vou.
ARTHUR – Assim que se fala, meu filho. Garotos, eu tenho que agradecer a vocês, por terem feito do meu filho um jovem melhor. Ele agora é outro.
CIRO – Pai, não me faça passar vergonha, por favor.
ARTHUR – Eu tenho que agradecer muito a Deus também, desde que a mãe do Ciro morreu, pelas minhas mãos, eu me sentia tão culpado, não queria mais fazer cirurgia, mas aí, fui obrigado a operar a dona Catarina e graças a ele, tudo deu certo e agora eu me sinto capaz de novo.
DORIVAL – Não foi culpa sua, doutor Arthur. Se a sua esposa morreu na cirurgia, é porque assim é que tinha que ser e fico feliz pelo senhor ter superado tudo isso.
ARTHUR – Demorou, mas superei todos meus traumas.
Num outro canto da igreja.
FRANCHESCO – E aí, falou com o Guilherme?
EDVALDO – Falei. Ele tá muito mudado. Acho que aquele Tonhão influenciava muito a vida dele. E eu me sinto tão culpado por isso.
MARIANA – Não sinta, seu Edvaldo. Tudo foi como tinha que ser e agora, com a sua ajuda, ele vai se tornar um homem melhor, pode ter certeza.
EDVALDO – Deus queira, dona Mariana! Deus queira!
FRANCHESCO – Olhem, vai começar!
As noivas, Catarina, Vanessa e Ana vão entrando, ao som instrumental do matrimônio sagrado.
PADRE – Estamos aqui hoje, reunidos, para celebrar o amor. O amor verdadeiro, aquele que passa por diversas provações, que enfrenta obstáculos, mas que se mantém firme e forte. O amor que agora trás esses três casais aqui, nesta igreja, para oficializar perante o Senhor, esse laço que se for da vontade do criador, será eterno.
E então, Vanessa e Miguel, Cataria e José Antônio, mais conhecido como Tonelada, Fábio e Ana, aceitam um ao outro como seus legítimos esposos e prometem amar um ao outro e serem fiéis, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?
VANESSA – Sim.
MIGUEL – Sim.
CATARINA – Sim.
TONELADA – Sim.
FÀBIO – Sim.
ANA – Sim.
PADRE – Então, se é da vontade de todos e principalmente da vontade de Deus que esses casamentos se concretizem, eu os declaro, maridos e mulheres. Podem beijar-se.
Os três casais se beijam.

Cena 22 – Salão de Festas – Dia
Na festa toca a música Tente Outra Vez. Os convidados comem, bebem e se divertem. Edvaldo fica pensativo.
EDVALDO – (pensando) Deus, muito obrigado por tudo! Apesar de todas as dificuldades que passamos, o senhor provou que sempre está ao nosso lado. Não importa o tamanho da dificuldade, o senhor sempre nos ajudará. Eu abandonado meu filho, por não ter condições de criá-lo na época, agora ele cresceu, tá preso. Mas ele tá refletindo na vida e aos poucos tá mudando de vida. Eu, da minha parte, vou ajudá-lo em tudo que eu puder, fazendo dele, um homem de bem, igual ao Fábio. E graças ao senhor, superei esse trauma, essa tristeza que me consumia. A dona Catarina, após sofrer nas mãos do Tonhão, encontrou o verdadeiro amor com Tonelada, que sempre esteve ao seu lado e soube esperar o momento certo, aprendeu a superar o seu vício em remédios e aprendeu que o melhor remédio é a felicidade, a confiança em ti, pai. As crianças, ah, a juventude! Marcelo, com sua deficiência física soube que a deficiência tá é no preconceito. Ele não pode caminhar direito, mas tem muitas coisas que ele pode fazer e faz muito bem. Graças ao seu amigo Dorival, que também com suas dificuldades, superou tudo, com muito otimismo, sabendo que mesmo que ele não pudesse enxergar, poderia sim fazer muitas coisas. O Ciro, por sua vez, superou o rancor e a mágoa de nunca ter amigos e agora é um grande amigo deles e inclusive ajudou seu pai, o doutor Arthur, a superar o trauma de ter perdido a esposa e o medo de fazer cirurgias novamente. Senhor, peço-te que aqueles que não souberam aproveitar as chances que a vida dá, como Tonhão e Luiza, que cometeram o suicídio, possam superar, onde quer que estejam, se arrependerem e procurarem a luz. Muito obrigado, Pai! Muito obrigado ao nos ensinar a ver que apesar de todas as dificuldades, o senhor sempre nos provê a saída, sempre nos fortalece e nos ajuda a encontrar a nossa própria SUPERAÇÃO.


FIM
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