Continuação imediata do
capítulo anterior.
Cena 1 – Casa de
Luiza – Dia
Luiza vai até o sofá,
fingindo estar muito fraca. Fábio vai atrás. Guilherme aproveita
pra colocar um pano em seu nariz. Fábio desmaia.
GUILHERME –
Conseguimos! Hahaha
LUIZA – E agora, o que
fazemos com ele?
GUILHERME – Vamos pra
um lugarzinho muito especial pra dar um fim nesse otário! Hahaha
LUIZA – Não sei onde
você pretende ir, mas é melhor irmos rápido!
GUILHERME – Vamos!
Luiza e Guilherme saem
carregando Fábio, desmaiado.
Cena 2 – Hospital –
Dia
Ana foi doar sangue.
Tonelada aguarda apreensivo, na sala de espera. De repente,
Franchesco chega.
TONELADA – O senhor???
FRANCHESCO – Boa tarde!
Nos conhecemos?
TONELADA – E quem não
conhece Franchesco Bertollo?
FRANCHESCO – haha.
Verdade!
TONELADA – Pera aí, o
senhor não tinha morrido? Eu vi nos noticiários.
FRANCHESCO – Quase!
Posso dizer que to vivo por um milagre. Um milagre de Deus me salvou
daquele terrível acidente.
TONELADA – Amém! Sabe
que eu tenho um sobrinho, quer dizer, ele é filho de um amigo, mas é
praticamente meu sobrinho, que trabalha no seu jornal?
FRANCHESCO – Ah é? Que
coincidência! Quem é o rapaz?
TONELADA – È o
Guilherme. O senhor conhece ele.
FRANCHESCO – Ô se
conheço! Nem me fala daquele desgraçado do Guilherme!
TONELADA – Desgraçado?
Por que tá falando assim dele? O que ele aprontou?
FRANCHESCO – Esse
maldito foi o responsável pelo meu acidente! Ele quis tomar tudo de
mim!
TONELADA – Não é
possível. Não! Não estamos falando da mesma pessoa. O Guilherme
não seria capaz de tamanha crueldade.
FRANCHESCO – Mas foi.
Ele mesmo confessou, diante de testemunhas que podem provar o que eu
to dizendo!
TONELADA – O Guilherme
passou de todos os limites!
FRANCHESCO – No que
depender de mim, ele vai pra cadeia!
Cena 3 – Rua
Indeterminada – Dia
Luiza e Guilherme estão
no carro decidindo o futuro. Fábio tá no porta-malas.
LUIZA – E então, o que
você pensa em fazer com ele? Matar?
GUILHERME – Não seria
uma má ideia! Com ele morto, eu consquistaria a minha Ana de volta!
Hahaha
LUIZA – Mas eu quero o
Fábio pra mim! Não podemos matá-lo! Podemos quem sabe extorquir
uma boa grana e eu sumo com ele do país!
GUILHERME – Quem
sabe... hahaha
Cena 4 – Hospital –
Dia
Franchesco tá
conversando com Tonelada, nem suspeitando do que tá acontecendo
naquele local. Minutos depois, Ana chega. Franchesco tá de costas
pra ela.
TONELADA – E então?
Tudo certo? O sangue pra salvar a Catarina já foi tirado?
ANA – Tudo certo,
Tonelada! Agora é esperar por notícias, que serão ótimas!
Franchesco se assusta ao
reconhecer a voz de Ana.
FRANCHESCO – Essa
voz...
Ele se vira.
FRANCHESCO – Ana!
ANA – (assustada) Pai!
É o senhor mesmo? O senhor tá vivo?
FRANCHESCO –
(emocionado) Sim, filha, sou eu mesmo! Eu sobrevivi!
Ana corre pros braços de
Franchesco e os dois se abraçam. Tonelada apenas observa o abraço
emocionado entre pai e filha.
ANA – Pai, me conta,
onde o senhor tava? Por que não apareceu antes? Sentimos tanto a sua
falta! A mãe precisa saber que o senhor tá vivo! O Dorival também!
Nossa, eles vão ficar tão felizes!
FRANCHESCO – Calma,
Ana! Calma! Tudo a seu tempo! Uma pergunta de cada vez! Haha. Eu não
vim antes porque o acidente tirou minha memória por um tempo. Fui
cuidado por uma família gaúcha, que me ajudou muito. Já marquei
com sua mãe pra contar tudo, marquei aqui no hospital. Por isso to
aqui.
ANA – Nossa! Que
história hein, pai? Daria uma bela matéria pro jornal! Mas, por que
o senhor marcou com a mãe aqui?
FRANCHESCO – Imagino
que vai ser um grande choque pra ela me ver vivo, então marquei no
hospital pro caso de qualquer emergência.
ANA – O senhor sempre
muito inteligente.
Ana dá um beijo no rosto
de Franchesco. Tonelada, que só observava, comenta.
TONELADA – Que bela
história mesmo! Mas eu to preocupado com a minha Catarina.
ANA – Calma, Tonelada.
Ela vai ficar bem!
Cena 5 – Casa de
Edvaldo – Dia
EDVALDO – O Fábio tá
demorando demais. Tenho que ir buscar as crianças agora. Assim que
chegar, se ele não tiver chegado, vou dar uma ligada pra ver como
ficou a situação lá na casa da Luiza.
Cena 6 – Cativeiro –
Dia
GUILHERME – Que lugar é
esse? Lugar pobre, feio! Haha
LUIZA – Não importa.
Vamos ficar por um tempo aqui, até decidirmos o que fazer. Foi aqui
que eu mantive o Marcelo preso. Só que o Fábio estragou tudo.
Poderíamos ter sido uma família feliz.
GUILHERME – O quê??? O
Fábio já teve aqui??? E você é louca de trazer ele aqui de novo?
LUIZA – Relaxa! Tá com
medo? Ele vai ficar bem preso. Não vai poder fazer nada.
Cena 7 – Hospital –
Sala de Espera – Dia
O doutor Arthur chega com
novidades.
TONELADA – E então,
doutor?
ARTHUR – Trago ótimas
notícias! Deu tudo certo! A dona Catarina tá bem melhor!
ANA – Graças a Deus!
TONELADA – E a você e
seu sangue, Ana!
Mariana chega.
MARIANA – Ana, você
aqui? Foi você quem mandou me chamar, filha? Por que aqui? Haha
ANA – Mãe! Não não.
Fica calma, viu mãe! A senhor vai ter uma grande surpresa.
MARIANA – Do que você
tá falando, filha? Não vá me dizer que...
Mariana olha pra barriga
de Ana.
ANA – Não, mãe! Haha.
Não to grávida. A surpresa é outra.
No momento, Franchesco
chega e se emociona ao rever Mariana.
FRANCHESCO – Fui eu
quem mandou te chamar, Mariana!
Mariana olha pra
Franchesco e quase desmaia, é amparada por Ana.
MARIANA – Franchesco!
Não acredto! É você mesmo? Não, não pode ser. Eu to sonhando.
Você, infelizmente, nos deixou.
FRANCHESCO – Não,
Mariana! Sou eu mesmo! Eu sobrevivi ao acidente. Não deixei vocês e
nunca irei deixar!
MARIANA – Franchesco,
meu amor!
Mariana corre, abraça e
beija Franchesco, emocionada.
Todos secam as lágrimas
nos olhos, diante da cena de reencontro, inclusive o doutor Arthur.
Cena 8 – Escola
Napoinara – Estacionamento – Dia
EDVALDO – E então,
crianças, como foi a aula hoje?
MARCELO – Ah, vô! Foi
chata hoje! O professor Miguel e a professora Vanessa não estavam.
EDVALDO – Pelo jeito,
vocês gostam muito deles, né? Haha
DORIVAL – Eles são
super legais e cá pra nós, acho que um tem uma quedinha pelo outro.
Eu sinto nas vozes deles quando um fala com o outro.
Todos riem.
EDVALDO – Vamos?
MARCELO – Vô, podemos
dar uma carona pra um amigo? O senhor leva ele até em casa?
EDVALDO – Marcelo, não
esquece que eu to a trabalho.
DORIVAL – Na qualidade
de homem da casa, eu autorizo, senhor Edvaldo!
EDVALDO – haha. Então
tá!
Marcelo coloca a cabeça
pra fora da janela e grita.
MARCELO – Pode vir!
Ciro se aproxima do carro
e vai entrando.
CIRO – Com licença!
Edvaldo se assusta ao ver
Ciro, pois sabe de todas as armações.
MARCELO – Vô, não
fica com essa cara. O Ciro agora é nosso amigo. Ele se arrependeu
das maldades.
CIRO – Verdade, tio! Eu
quero ser amigo de todos. Eu nunca tive amigos de verdade.
EDVALDO – Então, tudo
bem! Vamos criançada?
Edvaldo parte com o
carro, deixando Ciro em sua casa, Dorival na sua e depois vai pra
casa com Marcelo.
Cena 9 – Cativeiro –
Dia
GUILHERME – Já sei o
que fazer! Hahaha
LUIZA – O quê?
GUILHERME – Já vai
saber!
Guilherme pega o
telefone.
GUILHERME – Alô, pai?
TONHÃO – Fala,
Guilherme! Que é?
GUILHERME – Como é que
tá a mãe?
TONHÃO – Tá naquelas
ainda. O idiota do Tonelada ficou lá e vai me ligar se tiver
qualquer novidade.
GUILHERME – Tá certo.
Pai, vou te passar um endereço e você vem pra cá. Vai ser o evento
das nossas vidas, prometo!
TONHÃO – O que cê tá
aprontando?
GUILHERME – Anota aí,
velho! Não vai se arrepender! Hahaha
Guilherme passa o
endereço pra Tonhão e desliga o telefone. Ele se vira pra Luiza.
GUILHERME – Hora de
executarmos nosso plano! Vamos embora daqui!
LUIZA – Pra onde vamos?
GUILHERME – Logo vai
saber!
LUIZA – Você tá
misterioso demais!
Eles partem do cativeiro
para o local que apenas Guilherme sabe.
Cena 10 – Paisagens
da Cidade – Noite
Cenas da cidade
anoitecendo ao som de Raul Seixas – Tente Outra vez.
LETREIRO: Algum tempo
depois...
Cena 11 – Hospital –
Quarto 500 – Noite
Catarina já tá melhor e
podendo receber visitas. Tonelada, Franchesco, Mariana e Ana entram.
CATARINA – Nossa!
Quanta gente veio me ver! Não sabia que era tão importante assim!
TONELADA – Muito
importante, Catarina! Que bom que você tá melhor! Eu sofri tanto ao
te ver doente.
CATARINA – Tonelada,
meu amor! Eu voltei pra você. Vamos ficar juntos! Ninguém mais vai
nos atrapalhar.
Catarina olha pra Ana.
ANA – Ana, você sempre
tão prestativa comigo e dessa vez, salvou minha vida! Se não fosse
você, o que seria de mim?
Ana se enche de lágrimas
nos olhos.
ANA – Dona Catarina,
quando eu soube que a senhora tava precisando, nem pensei duas vezes.
Foi Deus quem a ajudou! Eu só fiz minha parte e fico grata a ele por
ter permitido que meu sangue fosse compatível com o da senhora.
ARTHUR – Até agora, eu
não entendo, como é que o sangue de você é tão parecido! Isso só
aconteceria no caso de ela ser sua mãe biológica.
TONELADA – Mas, os pais
da Ana estão aí.
CATARINA – Ah, nem me
fala. No passado eu perdi uma filha ainda bebê. Ainda lembro daquele
rostinho...
Cena 12 – Flash-Back
- Favela – Casa de Tonhão – Interior – Noite
Catarina está cuidando
de sua filha, ainda bebê. Tonhão, seu marido, foi preso.
CATARINA – Dorme,
filhinha, dorme tranquila que mamãe tá aqui pra te proteger. Ai,
meu amor, que falta você me faz!
Alguém bate na porta.
Ela, com medo, vai atender.
CATARINA – Meu Deus!
Quem será essa hora?
Catarina coloca a filha
no berço e vai atender, assustada.
Ela mal abre a porta e um
bandido invade, armado.
BANDIDO – Tá lembrada
de mim, dona?
CATARINA – O que você
quer? Meu marido não tá aqui, você sabe!
BANDIDO – Hahaha.
Claro, essa hora deve tá virando mulherzinha na cadeia!
CATARINA – Não fala
assim do Tonhão.
BANDIDO – Cala a boca!
Eu falo como eu quiser! Tá querendo morrer é?
O bandido aponta a arma
na cabeça de Catarina.
CATARINA – Não, por
favor!
A bebê se agita e começa
a chorar.
BANDIDO – Que barulho
foi esse?
CATARINA – Por favor,
não faça nada com minha filha!
BANDIDO – Ah, então
quer dizer que essa é a filha do Tonhão? Ah, que gracinha!
CATARINA – Deixa ela em
paz! Me mata, mas não faça nada com ela!
O bandido vai até o
berço e pega a bebê no colo.
BANDIDO – Coisa linda!
Seria uma pena se titio te deixasse cair, né? Hahaha
CATARINA – Não!!!
Minha filha! Solta ela!
Catarina ameaça atacar o
bandido. Ele a contém, apontando a arma na cabeça da bebê.
BANDIDO – Quietinha aí,
dona! Mais um passo e eu estouro os miolos dela!
CATARINA – Não, por
favor! Não faça isso! Piedade!
BANDIDO – Nada de
gracinha senão eu atiro! Dá tchau pra mamãezinha aí, bebê!
O bandido sai, levando a
bebê, sempre com a arma apontada em direção a ela. Catarina fica
desesperada e começa a chorar.
Fim do Flash-Back.
Cena 13 – Hospital –
Quarto 500 – Noite
CATARINA – (chorando) E
foi assim que minha filha se separou de mim.
TONELADA – E a Catarina
sofreu tanto. Vive tomando remédios pros nervos, pra se acalmar.
ARTHUR – Esses remédios
lhe prejudicaram muito, dona Catarina! Se não tivesse ingerido
tanto, seu organismo não teria rejeitado a maioria que tentamos lhe
dar dessa vez. Já não fazia mais efeito algum. Inclusive, seu
próprio organismo faria com que melhorasse mais rápido. Sua
imunidade estaria melhor.
TONELADA – Eu sempre
disse a ela, doutor, mas quem disse que ela escutou?
ANA – Agora a senhora
vai escutar, né? Faça isso por mim! Mas, que mal lhe pergunte, o
que aconteceu com sua filha que roubaram?
CATARINA – Soube depois
que mataram ela.
ANA – Nossa! Que
triste!
Franchesco não para de
chorar.
ANA – Pai, a história
te chocou tanto assim? Calma!
FRANCHESCO – (chorando)
Filha, diante dessa história, precisamos te confessar uma coisa.
ANA – Fala pai!
FRANCHESCO – (chorando)
Você não é nossa filha biológica. Nós adotamos você quando era
bem pequena!
Cena 14 – Flash-Back
- Casa da Família Bertollo – Sala – Interior – Dia
Franchesco vai até a
porta, com cuidado, abre, observa que não há ninguém. Ele olha pra
baixo e grita.
FRANCHESCO – Mariana,
corre aqui! Rápido!
Mariana vem correndo.
MARIANA – O que houve,
Franchesco? Quem era?
FRANCHESCO – Veja você
mesma!
Franchesco se afasta um
pouco, deixando o caminho visível à Mariana.
MARIANA – Oh, meu Deus!
Um bebê!
Fim do Flash-Back.
Cena 15 – Hospital –
Quarto 500 – Noite
MARIANA – E esse bebê
que encontramos, era você, filha!
ANA – (chorando) E por
quê nunca me contaram? Eu tinha o direito de saber!
MARIANA – Você sempre
foi pra nós como nossa filha verdadeira! Sempre te amamos muito,
minha filha!
TONELADA – Meu Deus! E
em que ano foi isso? E onde?
FRANCHESCO – Em Porto
Alegre, no ano de 1987.
TONELADA – Então quer
dizer que...
CATARINA (chorando) –
Ana, você é a minha filha! A minha querida filhinha que foi tirada
de mim quando bebê!
ARTHUR – Isso explica
toda a compatibilidade sanguínea!
Ana abraça Catarina.
ANA – (chorando) Então,
a senhora é a minha mãe?
CATARINA – Sim, filha!
Sou!
ANA – Mamãe!
As duas se abraçam
emocionadas. Franchesco e Mariana também se abraçam e Tonelada se
junta a Ana e Catarina, abraçando as duas.
Cena 16 – Pedra da
Gávea – Noite
TONHÃO – O que
pretende fazer, Guilherme?
GUILHERME – Liga pra
esse número e faz o que te falei.
Tonhão liga.
Cena 17 – Casa de
Edvaldo – Noite
EDVALDO – Marcelo, já
liguei pro seu pai e nada! Só da na caixa de mensagens!
MARCELO – Calma, vô!
O telefone toca.
MARCELO – Olha aí,
deve ser ele.
EDVALDO – Alô, Fábio?
Onde você tá, meu filho?
….
EDVALDO – O quê??
Edvaldo desliga.
MARCELO – O que houve,
vô?
EDVALDO – Vamos sair,
rápido!
Eles saem correndo.
Cena 18 – Pedra da
Gávea – Noite
TONHÂO – Pronto! O
cara tá vindo! Hahaha
GUILHERME – Ótimo!
Disse pra ele trazer a grana, né?
TONHÃO – Claro!
LUIZA – Vamos logo com
isso! Tá frio aqui!
GUILHERME – Calma!
O tempo passa e Edvaldo
chega.
EDVALDO – Cadê meu
filho?
TONHÃO – Vai acalmando
aí! Trouxe a grana?
EDVALDO – Tá aqui!
Guilherme tá com uma
arma apontada pra Fábio, na beira da Pedra da Gávea.
FÀBIO – Aqui, pai!
EDVALDO – Meu filho!
GUILHERME – Nem mais um
passo! Senão ele vai pra baixo!
EDVALDO – Não, por
favor! Não mata o meu filho!
TONHÃO – Acaba logo
com isso, Guilherme! Mata logo e vamos embora com a grana!
FÁBIO – Pai, não faz
nada!
LUIZA – Hahaha. Obedece
sogrinho!
EDVALDO – Tinha que ter
dedo seu né, Luiza?
LUIZA – Claro!
No momento, Fábio
percebe que Guilherme se distraiu, pega a arma dele e os dois começam
a brigar. Tonhão ameaça ir em auxílio de Guilherme, mas é
impedido por Edvaldo. Fábio e Guilherme rolam no chão, trocando
socos.
FÁBIO – Me diz? Por
quê tanta raiva?
GUILHERME – A Ana é
minha! Ela vai ser minha!
FÀBIO – A Ana tá
comigo!
GUILHERME – Você vai
morrer!
Continuam trocando socos
até que Guilherme tropeça e quase cai da Pedra da Gávea. Ele fica
pendurado.
TONHÃO – Meu filho!
GUILHERME – Socorro!
Fábio segura o braço
dele e o impede de cair. Ele puxa Guilherme pra cima, à salvo.
Edvaldo fica com a arma. Ele se aproxima de Guilherme, que tá com a
camisa rasgada, com o braço à mostra. Ele observa a “coroa”,
sinal que Guilherme tem no braço.
EDVALDO – Esse sinal...
GUILHERME – Que é?
Achou bonito? Eu não gosto de homem não, hein?
EDVALDO – Não pode
ser! Você...
FÀBIO – O que tem ele,
pai?
EDVALDO – Ele é o seu
irmão, Fábio! É ele! O filho que eu abandonei naquela rouparia de
hospital 27 anos atrás, em Porto Alegre!
GUILHERME – O quê??
Que história é essa? Eu sou filho daquele ali, ó! - Aponta pra
Tonhão, que tá abismado com o que acaba de ouvir.
TONHÂO – Não,
Guilherme. Ele tem razão! Eu não sou seu pai verdadeiro.
GUILHERME – Como é? Tá
louco, velho?
TONHÃO – Não. Essa
história de esse senhor ter abandonado um bebê na rouparia de um
hospital, em Porto Alegre, 27 anos atrás, tem a ver comigo também.
Você era o bebê abandonado. Eu entrei lá pra roubar um disfarce
pra resgatar o Tonelada e te encontrei lá. Como a Catarina havia
perdido nossa filha, eu levei você comigo. Ele é seu verdadeiro
pai! - Aponta pra Edvaldo.
EDVALDO – Meu filho!
Ah, meu filho! Finalmente eu te encontrei!
Edvaldo entrega a arma na
mão de Fábio e abraça Guilherme, que não sabe como reagir.
GUILHERME – Então... O
senhor... é meu pai? E o Fábio...
FÀBIO – Como a vida é
irônica, Guilherme! Um amor acabou aproximando dois irmãos 27 anos
depois.
GUILHERME – Me recuso a
ser seu irmão! Não! Isso não é verdade! Diga que não, pai!
TONHÃO – Filho, é
tudo verdade! Ele é seu irmão sim. E agora, sua vida vai mudar. Eu
não soube criar você como um homem de bem, você aprendeu tudo
comigo, que sempre fui um bandido. Tá na hora de você ter a vida
que merece. E eu não vou atrapalhar.
GUILHERME – O que você
tá dizendo?
TONHÃO – Que eu não
vou atrapalhar mais a sua vida, Guilherme! Chega dessa vida de
crimes. Isso não leva a nada! Vou deixar Catarina também com
Tonelada. Ela merece ser feliz depois de tudo que passou! Eu só te
peço uma coisa, Guilherme: não deixe de visitar a Catarina. Ela te
ama. Eu, do meu modo, te amei também! Adeus, filho! Até um dia!
Tonhão, vai em direção
à ponta do precipício e se joga.
GUILHERME – PAI!!!!
Nãoooooooooo!!!
Ouve-se a sirene da
polícia chegando.
LUIZA – Droga! Droga!
Quem foi o otário que chamou a polícia?
EDVALDO – Eu! Assim que
fui informado, liguei pra policia e vim até aqui.
LUIZA – Eu não vou ser
presa, não vou!
Luiza ameaça correr.
Fábio aponta uma arma pra ela.
FÀBIO – Não vai a
lugar nenhum, meu amor! Despeça-se do seu filho, que tá no carro.
Você vai pagar pelo que fez.
GUILHERME – E eu?
EDVALDO – Meu filho,
você vai ter que pagar por tudo que fez também. Vai acertar as
contas com a justiça primeiro, como parte da modificação de sua
vida. Depois que cumprir a pena, vai morar conosco.
FÀBIO – Eu vou te dar
todo apoio, Guilherme.
GUILHERME – Droga!
A polícia chega e leva
Guilherme, machucado, e Luiza, presos.
EDVALDO – Enfim, tudo
acabou bem!
FÀBIO – Graças a
Deus, pai! Até agora não acredito que o Guilherme é meu irmão!
EDVALDO – Nem eu,
filho! A vida apronta das suas, eu paguei pelo meu erro tendo um
filho que fez o que fez. É minha missão agora, dar o amor que ele
nunca recebeu. Eu vou estar com ele esse tempo todo que ele estiver
preso e vamos ajudá-lo a ser um homem de bem, assim como você,
filho!
FÀBIO – Pode contar
comigo, pai!
EDVALDO – Eu sei disso!
Edvaldo e Fábio se
abraçam.
Cena 19 – Paisagens
da Cidade – Dia
Cenas da cidade ao som de
Raul Seixas – Tente Outra Vez
LETREIRO – Um mês
depois...
Cena 20 – Delegacia
– Sala de Visitas – Dia
EDVALDO – E então, meu
filho, como você tá?
GUILHERME – Bem não dá
pra dizer que eu to. Quem é que tá bem numa cela de delegacia.
EDVALDO – É, meu
filho. Uma das primeiras lições que você tá aprendendo nessa nova
vida é que aqui se faz, aqui se paga. Tudo que fizermos na vida, tem
uma consequencia. Se fizermos coisas boas, teremos coisas boas, se
fizermos coisas más...
GUILHERME – E eu
aprontei muito, né? Me perdoa!
EDVALDO – Tá perdoado,
meu filho! Esse tempo na cadeia tá te fazendo bem, apesar de tudo.
Você pode refletir bastante e assim, vai ser tudo mais fácil. Nunca
esqueça de confiar em Deus, porque Ele sabe de tudo e poderá nos
ajudar.
GUILHERME – Pode
deixar, pai.
EDVALDO – (emocionado)
Você... me chamou....
GUILHERME – De pai!
Você não é meu verdadeiro pai? Então!
Edvaldo abraça
Guilherme, emocionado.
GUILHERME – Posso
perguntar uma coisa?
EDVALDO – Claro.
GUILHERME – E a minha
mãe, quer dizer, a dona Catarina, como tá?
EDVALDO – Pode chamá-la
de mãe, filho. Ela foi uma grande mãe pra você, pelo que eu soube.
Ela tá bem. Saiu do hospital e tá agora junto com o sujeito de nome
estranho.
GUILHERME – Haha.
Tonelada?
EDVALDO – Isso! Grande
homem! E não digo pelo tamanho!
GUILHERME – E eles
moram ainda na favela?
EDVALDO – Não. O seu
Franchesco empregou o Tonelada como segurança do jornal Bertollo e a
dona Catarina como empregada da casa dele. Eles moram nos fundos da
casa do seu Bertollo, numas peças.
GUILHERME – Que ótimo!
Pai, eu quero que o seu Franchesco, o Fábio e a Ana venham me
visitar. Quero pedir perdão a cada um deles, por tudo que fiz.
EDVALDO – Claro, filho.
Direi. Agora tenho que ir, porque hoje é casamento do seu irmão.
GUILHERME – Com a Ana,
né?
EDVALDO – É. Você tem
que aceitar isso, filho.
GUILHERME – Diga a eles
que eu desejo toda a felicidade do mundo.
EDVALDO – Direi.
Eles se abraçam e
Edvaldo sai.
Cena 21 – Igreja –
Dia
É o dia do casamento de
Ana e Fábio. O casamento não é só deles. No mesmo dia casam-se
Vanessa e Miguel, Catarina e Tonelada.
MARCELO – Ainda bem que
tudo acabou bem, né?
DORIVAL – Nem tudo.
Sinto muito por você, Marcelo, pela sua mãe.
MARCELO – Obrigado. Eu
não tinha muito contato com ela, mas fiquei triste de saber que ela
não aguentou a pressão e se matou na cadeia.
DORIVAL – Vou orar
muito por ela.
MARCELO – Tenho feito
isso sempre, pra que a alma dela encontre a luz.
CIRO – Eu também vou.
ARTHUR – Assim que se
fala, meu filho. Garotos, eu tenho que agradecer a vocês, por terem
feito do meu filho um jovem melhor. Ele agora é outro.
CIRO – Pai, não me
faça passar vergonha, por favor.
ARTHUR – Eu tenho que
agradecer muito a Deus também, desde que a mãe do Ciro morreu,
pelas minhas mãos, eu me sentia tão culpado, não queria mais fazer
cirurgia, mas aí, fui obrigado a operar a dona Catarina e graças a
ele, tudo deu certo e agora eu me sinto capaz de novo.
DORIVAL – Não foi
culpa sua, doutor Arthur. Se a sua esposa morreu na cirurgia, é
porque assim é que tinha que ser e fico feliz pelo senhor ter
superado tudo isso.
ARTHUR – Demorou, mas
superei todos meus traumas.
Num outro canto da
igreja.
FRANCHESCO – E aí,
falou com o Guilherme?
EDVALDO – Falei. Ele tá
muito mudado. Acho que aquele Tonhão influenciava muito a vida dele.
E eu me sinto tão culpado por isso.
MARIANA – Não sinta,
seu Edvaldo. Tudo foi como tinha que ser e agora, com a sua ajuda,
ele vai se tornar um homem melhor, pode ter certeza.
EDVALDO – Deus queira,
dona Mariana! Deus queira!
FRANCHESCO – Olhem, vai
começar!
As noivas, Catarina,
Vanessa e Ana vão entrando, ao som instrumental do matrimônio
sagrado.
PADRE – Estamos aqui
hoje, reunidos, para celebrar o amor. O amor verdadeiro, aquele que
passa por diversas provações, que enfrenta obstáculos, mas que se
mantém firme e forte. O amor que agora trás esses três casais
aqui, nesta igreja, para oficializar perante o Senhor, esse laço que
se for da vontade do criador, será eterno.
E então, Vanessa e
Miguel, Cataria e José Antônio, mais conhecido como Tonelada, Fábio
e Ana, aceitam um ao outro como seus legítimos esposos e prometem
amar um ao outro e serem fiéis, na alegria e na tristeza, na saúde
e na doença, até que a morte os separe?
VANESSA
– Sim.
MIGUEL
– Sim.
CATARINA
– Sim.
TONELADA
– Sim.
FÀBIO
– Sim.
ANA
– Sim.
PADRE
– Então, se é da vontade de todos e principalmente da vontade de
Deus que esses casamentos se concretizem, eu os declaro, maridos e
mulheres. Podem beijar-se.
Os
três casais se beijam.
Cena 22 –
Salão de Festas – Dia
Na
festa toca a música Tente Outra Vez. Os convidados comem, bebem e se
divertem. Edvaldo fica pensativo.
EDVALDO
– (pensando) Deus, muito obrigado por tudo! Apesar de todas as
dificuldades que passamos, o senhor provou que sempre está ao nosso
lado. Não importa o tamanho da dificuldade, o senhor sempre nos
ajudará. Eu abandonado meu filho, por não ter condições de
criá-lo na época, agora ele cresceu, tá preso. Mas ele tá
refletindo na vida e aos poucos tá mudando de vida. Eu, da minha
parte, vou ajudá-lo em tudo que eu puder, fazendo dele, um homem de
bem, igual ao Fábio. E graças ao senhor, superei esse trauma, essa
tristeza que me consumia. A dona Catarina, após sofrer nas mãos do
Tonhão, encontrou o verdadeiro amor com Tonelada, que sempre esteve
ao seu lado e soube esperar o momento certo, aprendeu a superar o seu
vício em remédios e aprendeu que o melhor remédio é a felicidade,
a confiança em ti, pai. As crianças, ah, a juventude! Marcelo, com
sua deficiência física soube que a deficiência tá é no
preconceito. Ele não pode caminhar direito, mas tem muitas coisas
que ele pode fazer e faz muito bem. Graças ao seu amigo Dorival, que
também com suas dificuldades, superou tudo, com muito otimismo,
sabendo que mesmo que ele não pudesse enxergar, poderia sim fazer
muitas coisas. O Ciro, por sua vez, superou o rancor e a mágoa de
nunca ter amigos e agora é um grande amigo deles e inclusive ajudou
seu pai, o doutor Arthur, a superar o trauma de ter perdido a esposa
e o medo de fazer cirurgias novamente. Senhor, peço-te que aqueles
que não souberam aproveitar as chances que a vida dá, como Tonhão
e Luiza, que cometeram o suicídio, possam superar, onde quer que
estejam, se arrependerem e procurarem a luz. Muito obrigado, Pai!
Muito obrigado ao nos ensinar a ver que apesar de todas as
dificuldades, o senhor sempre nos provê a saída, sempre nos
fortalece e nos ajuda a encontrar a nossa própria SUPERAÇÃO.
FIM
lindo capítulo, principalmente o ultimo diálogo
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