terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Alice - Capítulo 12


ALICE

Capítulo 12

Cena 1/Agência de Viagens/Garagem/Noite
Alice encara a faca em sua mão, manchada com o sangue de Joana.
ALICE – Meu Deus... O que eu fiz?
Alice chora e depois ri.
ALICE – Quem manda ser burra, otária. Me desafiou e deu nisso! Eu não tenho culpa, seu delegado. Ela que me provocou e me levou a cometer esse ato impensável! (rindo) Agora eu tenho que me livrar do corpo...
Alice pega a chave do carro de Joana no bolso da calça dela, abre o porta-malas e arrasta o corpo da secretária até lá. Em seguida o tranca, entra no carro e sai. A câmera foca no rastro de sangue que ficou no chão.

Cena 2/Copacabana Palace/Último andar/Noite
CRISTINA – (para si mesma) Pensa no que você vai fazer, Cristina... Pensa!
Paloma se aproxima do fosso e olha para baixo.
CRISTINA – É agora!
Cristina caminha lentamente em direção ao fosso e coloca a mão no ombro de Paloma, que assustada, se vira.
CRISTINA – Cuidado! Você podia cair!
PALOMA – Ai, que susto.
CRISTINA – Perdão. Não foi a minha intenção!
PALOMA – Não, que isso. Não tem problema!
CRISTINA – Se lembra de mim?
PALOMA – Sim, lembro.
CRISTINA – Seu nome é Paloma, não?
PALOMA – Exatamente. E o seu... ?
CRISTINA – Cristina.
Elas se cumprimentam.
PALOMA – Você é a filha da Renata, certo?
CRISTINA – Talvez. Ainda não fizemos exame de DNA para comprovar a veracidade dessa história.
PALOMA – Entendi. Bom, se você não se incomoda, eu tenho que ir. Acabei o meu serviço por hoje!
CRISTINA – Eu sei que você está exausta, mas posso pedir um favor.
PALOMA – Claro!
CRISTINA – Passa no meu quarto.
PALOMA – Pra quê?
CRISTINA – Eu quero te dar uma coisa.
PALOMA – Tá bom. Eu só vou me trocar e depois passo lá! Qual o seu quarto mesmo?
CRISTINA – 330.
PALOMA – Ok, irei lá.
Cristina vai embora.
PALOMA – O que será que ela quer?

Cena 3/Rua/Noite
Alice anda com o carro a toda velocidade, ocilando entre acelerar e andar devagar. Ela chora e ri ao mesmo tempo.
ALICE – Mais uma vítima... Mais uma! Quem será o próximo? (rindo)

Cena 4/Penhasco/Noite
Alice chega em uma rua totalmente deserta e anda com o carro bem devagar, ela se aproxima de um penhasco, o estaciona e sai do carro, deixando a porta aberta. Alice vai até o porta-malas e o abre.
ALICE – Pobre Joana... Coitadinha!
Alice puxa o corpo de Joana e o coloca no banco do motorista, colocando o pé de Joana no acelerador. Ela liga o carro e fecha a porta.
ALICE – Que o inferno lhe acolha com carinho, querida.
O carro de Joana cai, em câmera lenta, no pescanho. Chegando ao chão ele explode. Alice ri.

Cena 5/Copacabana Palace/Quarto de Cristina/Noite
Paloma bate na porta e Cristina abre.
CRISTINA – Entre, querida. Estava esperando por você!
Paloma entra no quarto.
CRISTINA – Sente-se.
PALOMA – Não, obrigada. Eu não posso demorar!
CRISTINA – Mas por quê? A noite é uma criança, bebê.
PALOMA – Seja breve, Cristina.
CRISTINA – Eu te chamei aqui para lhe dar uma coisa.
PALOMA – E eu posso saber o que é?
Cristina se aproxima lentamente de Paloma e a abraça. Paloma fica sem entender.
PALOMA – Cristina?
Cristina chora.
PALOMA – Cristina, o que foi? Pelo amor de Deus, me fala!
CRISTINA – É que eu me sinto tão sozinha.
PALOMA – Eu não sei o que falar.
CRISTINA – Só me abraça... Forte!
Paloma abraça Cristina e em seguida as duas sentam-se na cama.
PALOMA – Mas se você sente-se tão sozinha, por que não sai para fazer amizade? Sei lá, um namorado talvez seja a melhor companhia.
CRISTINA – Não é esse tipo de companhia que eu quero, Paloma. Eu quero um colo de mãe, sabe?
PALOMA – Mas a sua mãe não está por perto?
CRISTINA – Eu não sei se a Renata é a minha mãe.
PALOMA – E por que vocês não fazem logo esse exame de DNA?
CRISTINA – Porque eu tenho medo!
PALOMA – Medo de quê?
CRISTINA – Medo da Renata não ser a minha mãe e no final de contas ela achar que eu sou uma golpista. Ela e eu estamos nos ludribiando demais com tudo isso! Eu acho que posso ser filha dela e ela diz que tem certeza que é minha mãe.
PALOMA – Mas se ela diz ter certeza de que você é filha dela, por que você tem medo de não ser e sair como a golpista da história?
CRISTINA – Porque no final de contas, a corda sempre arrebenta pro lado mais fraco. Eu tenho medo de ser taxada de golpista, mentirosa e todas essas outras coisas. Eu sou só uma menina frágil, pobre, indefesa.
PALOMA – Me perdoe, mas pobre não é o que parece.
CRISTINA – Oi?
PALOMA – Isso mesmo, oras. Uma pessoa pobre não estaria hospedada num hotel luxuoso como esse! Ainda mais quem saiu de um orfanato. Eu não quero me intrometer demais, mas como você conseguiu dinheiro pra se hospedar aqui?
Cristina engole a seco e fica sem resposta.

Cena 6/Vila do Sossego/Casa de Madalena/Noite
Madalena está sentada no sofá, quase dormindo. Alice abre a porta e entra. Madalena desperta.
MADALENA – Alice?
ALICE – Não, mamãe. Um assaltante!
MADALENA – Isso são horas de chegar?
ALICE – A noite é uma criança, dona Madalena.
MADALENA – Então essa criança já passou da hora de estar na cama!
ALICE – Vai ficar me dando bronca a essa hora para dar bronca?
MADALENA – Claro que tem!
ALICE – Então essa não é a hora. Está muito tarde para discutir! Boa noite.
Alice passa por Madalena e vai para seu quarto.
MADALENA – Onde será que essa menina estava?

Cena 7/Vila do Sossego/Casa de Madalena/Quarto de Alice/Noite
Alice entra no quarto, tranca a porta e vai para frente do espelho. Ela tira faca da bolsa, ainda com o sangue de Joana, e a encara, levanto ela para frente do seu rosto.
ALICE – Tinha me esquecido como era prazeroso se livrar de pessoas que atrapalham os meus planos... Não que o assassinato dele tenha sido por isso! Ele não. Ele tentou abusar de mim! Ele tentou tirar a minha virgindade e eu era só uma criança. Uma pobre e indefesa criança! Dele eu tive que me livrar porque senão eu passaria o resto da minha vida sendo abusada. (chorando) Eu não merecia isso! Eu nunca o seduzi! Eu nunca fiz nada para ele sentir tesão, atração, prazer em mim. Mas ele adorava me tocar, susurrar no meu ouvido, dizer que apesar de pequena eu dava mais prazer que várias mulheres adultas... Que nojo! NOJO! NOJO! NOJO!
Alice começa a quebrar o seu quarto.
ALICE – AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA EU NÃO MERECIA AQUILO! NÃO!
Madalena se aproxima da porta do quarto de Alice.
MADALENA – Querida, tá tudo bem?
Alice se acalma.
ALICE – Tudo ótimo, mamãe. Foi só o abajour que caiu!
Madalena chora baixinho.
MADALENA – Menos mal, querida. Boa noite.
Madalena vai para seu quarto. Alice volta pra frente do espelho.
ALICE – Quem será a próxima vítima?
Alice ri histericamente.

Cena 8/Agência de Viagens/Garagem/Noite
A câmera “entra” na garagem e vai lentamente onde Alice matou Joana. Ao fundo, a voz da vilã em formato de narração.
ALICE – O meu trunfo é matar e não deixar rastros. Me livrar de ratos que não fariam a menor falta pra sociedade de uma forma cruel e eficiente! Joana foi só a primeira da minha lista. E quem não morrer nas minhas mãos, vai viver o inferno em vida.
A câmera se aproxima do rastro de sangue que o corpo de Joana deixou.

AMANHECE

Cena 9/Vila do Sossego/Casa de Madalena/Sala/Manhã
Madalena está tomando seu café da manhã. Alice entra na sala.
ALICE – Bom dia, mãe.
MADALENA – Bom dia, Alice. Conseguiu dormir bem?
ALICE – Para ser sincera, não.
MADALENA – E por que, querida?
ALICE – Me lembrei do passado.
MADALENA – Especificamente do quê?
ALICE – Você sabe muito bem o que tira o meu sono.
MADALENA – Você nunca vai esquecer disso, não é?
ALICE – Não, mamãe. Nunca! Isso é algo que vai me perseguir eternamente. É a sombra que vai me acompanhar até o último dia da minha vida. Podem se passar 20, 30, 40 anos e mesmo assim eu vou me lembrar como se fosse ontem. Eu ainda ouço o sussuro dele no meu ouvido! “Vem brincar, vem. Pula em cima de mim! Pula! É uma brincadeira tão gostosa. Você não vai sentir nada além de prazer!”
Madalena fecha o punho e bate a mão na mesa.
Toca a instrumental Tema de Claudius – Duas Caras
MADALENA – Chega! Só de lembrar disso eu sinto um nojo enorme. Me embrulha o estômago!
ALICE – O mesmo comigo, mãe.
Alice corre para perto de Madalena e a abraça. Alice chora.
ALICE – Será que ele vai voltar? Será que ele vai abusar de mim de novo? Eu sou só uma criança indefesa.
MADALENA – (chorando) Não, querida. Onde ele está não tem volta!
Foco na expressão de loucura de Alice.

Cena 10/Copacabana Palace/Quarto de Cristina/Manhã
ADRIANA – Ela o quê?
CRISTINA – Isso mesmo, ela me perguntou como eu consegui morar aqui, sendo que sou pobre.
ADRIANA – E o que você disse?
CRISTINA – Disse que a Renata está me bancando.
ADRIANA – E ela acreditou?
CRISTINA – Se ela acreditou ou não eu não sei, mas fui bem convincente.
ADRIANA – Essa garota ainda vai nos trazer muito problema!
CRISTINA – Eu sei.
ADRIANA – Você devia ter se livrado dela quando teve oportunidade.
CRISTINA – Eu sei, mas não consegui! Eu não tenho sangue de barata!
ADRIANA – Mas o Marcos tem.
CRISTINA – E eu com isso?
ADRIANA – Acontece que ele disse que se você não se livrar da Paloma, ele mesmo se livra. De uma vez por todas!
Cristina se assusta.

Cena 11/Mansão Grimaldi/Sala de Estar/Manhã
Victoria, Estrela e Olavo estão tomando o café da manhã.
VICTORIA – Que história é essa de mancha de sangue no estacionamento da agência?
OLAVO – Eu também não sei, amor. Me ligaram dizendo que encontraram um rastro de sangue numa das vagas.
VICTORIA – Que horror! Mas tem certeza que é mancha de sangue mesmo?
OLAVO – Pelo que me disseram, sim.
VICTORIA – E quem te ligou? A Joana?
OLAVO – Não! Foi um dos funcionários. A Joana ainda não chegou!
VICTORIA – Só de pensar nisso me dá uma arrepio.
ESTRELA – Chega! Vamos deixar esse assunto mórbido de lado e vamos falar da vida.
OLAVO – Como está sendo a gravidez, filhota?
ESTRELA – Enjoativa! Sinto enjoos diariamente.
VICTORIA – Normalíssimo, querida. Normalíssimo!
OLAVO – Eu queria poder compartilhar mais desse momento família, mas infelizmente não posso. Tenho que ir para a empresa resolver esse assunto!
ESTRELA – Que pena, papi. Bom, vá com Deus!
Olavo beija a testa de Estrela e dá um selinho em Victoria.
VICTORIA – Vai com Deus, querido.
Olavo sai.
VICTORIA – Estranha essa história, não?
ESTRELA – Muito!
Victoria e Estrela voltam a tomar o café.

Cena 12/Vila do Sossego/Portão/Manhã
Carmen, Patrícia e Madalena, arrumadas para ir ao cinema, saem da vila. Três homens na faixa de 50 e 60 anos as observam.
HOMEM 1 – Então são elas?
HOMEM 2 – Esse aqui é o lugar?
HOMEM 3 – Sim para as duas perguntas. São elas e aqui é o lugar!
Os homens observam Carmen, Patrícia e Madalena saírem.

Cena 13/Agência de Viagens/Estacionamento/Manhã
Há vários policias e funcionários, curiosos, próximos onde encontraram o rastro de sangue. Olavo chega perto de delegado.
OLAVO – Bom dia, delegado.
DELEGADO – Bom dia, seu Olavo.
OLAVO – E então, qual o problema?
DELEGADO – Um dos seus funcionários achou esse rastro de sangue e ligou para a policia.
OLAVO – E isso realmente é sangue humano?
DELEGADO – A tudo que indica, sim.
OLAVO – Bom, eu vou à minha sala organizar umas coisas e já volto.
DELEGADO – Como o senhor preferir!

Cena 14/Agência de Viagens/Sala Presidencial/Manhã
Olavo sai do elevador e caminha direto para a sala da presidência. Chegando lá, ele abre a porta e se depara com uma pessoa.
OLAVO – Você?
Toca a instrumental A Obra – Fina Estampa
Alice, que estava de costas, se vira para ele.
ALICE – Bom dia, doutor Olavo.
OLAVO – Alice, o que você faz aqui?
ALICE – Estava organizando a sua sala, ora essa.
OLAVO – Mas isso é função da minha secretária.
ALICE – Por isso mesmo. A partir de hoje eu ocupo esse cargo!
OLAVO – Perdão, Alice. Mas está havendo alguma confusão!
ALICE – Não, não está.
OLAVO – A minha secretária é a Joana.
ALICE – Não é mais.
OLAVO – E por que não?
ALICE – Porque a Joana não está mais entre nós.
Olavo fica surpreso ao ouvir.
OLAVO – Ela o quê?
ALICE – A Joana não está mais entre nós.
OLAVO – E isso significa o quê? Que ela morreu?
Olavo encara Alice, que apenas sorri.

Toca a instrumental A Obra – Fina Estampa.

FIM DE CAPÍTULO


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