ALICE
Capítulo 12
Cena 1/Agência de
Viagens/Garagem/Noite
Alice encara a faca em sua mão,
manchada com o sangue de Joana.
ALICE – Meu Deus... O que eu fiz?
Alice chora e depois ri.
ALICE – Quem manda ser burra, otária.
Me desafiou e deu nisso! Eu não tenho culpa, seu delegado. Ela que
me provocou e me levou a cometer esse ato impensável! (rindo) Agora
eu tenho que me livrar do corpo...
Alice pega a chave do carro de Joana no
bolso da calça dela, abre o porta-malas e arrasta o corpo da
secretária até lá. Em seguida o tranca, entra no carro e sai. A
câmera foca no rastro de sangue que ficou no chão.
Cena 2/Copacabana Palace/Último
andar/Noite
CRISTINA – (para si mesma) Pensa no
que você vai fazer, Cristina... Pensa!
Paloma se aproxima do fosso e olha para
baixo.
CRISTINA – É agora!
Cristina caminha lentamente em direção
ao fosso e coloca a mão no ombro de Paloma, que assustada, se vira.
CRISTINA – Cuidado! Você podia cair!
PALOMA – Ai, que susto.
CRISTINA – Perdão. Não foi a minha
intenção!
PALOMA – Não, que isso. Não tem
problema!
CRISTINA – Se lembra de mim?
PALOMA – Sim, lembro.
CRISTINA – Seu nome é Paloma, não?
PALOMA – Exatamente. E o seu... ?
CRISTINA – Cristina.
Elas se cumprimentam.
PALOMA – Você é a filha da Renata,
certo?
CRISTINA – Talvez. Ainda não fizemos
exame de DNA para comprovar a veracidade dessa história.
PALOMA – Entendi. Bom, se você não
se incomoda, eu tenho que ir. Acabei o meu serviço por hoje!
CRISTINA – Eu sei que você está
exausta, mas posso pedir um favor.
PALOMA – Claro!
CRISTINA – Passa no meu quarto.
PALOMA – Pra quê?
CRISTINA – Eu quero te dar uma coisa.
PALOMA – Tá bom. Eu só vou me
trocar e depois passo lá! Qual o seu quarto mesmo?
CRISTINA – 330.
PALOMA – Ok, irei lá.
Cristina vai embora.
PALOMA – O que será que ela quer?
Cena 3/Rua/Noite
Alice anda com o carro a toda
velocidade, ocilando entre acelerar e andar devagar. Ela chora e ri
ao mesmo tempo.
ALICE – Mais uma vítima... Mais uma!
Quem será o próximo? (rindo)
Cena 4/Penhasco/Noite
Alice chega em uma rua totalmente
deserta e anda com o carro bem devagar, ela se aproxima de um
penhasco, o estaciona e sai do carro, deixando a porta aberta. Alice
vai até o porta-malas e o abre.
ALICE – Pobre Joana... Coitadinha!
Alice puxa o corpo de Joana e o coloca
no banco do motorista, colocando o pé de Joana no acelerador. Ela
liga o carro e fecha a porta.
ALICE – Que o inferno lhe acolha com
carinho, querida.
O carro de Joana cai, em câmera lenta,
no pescanho. Chegando ao chão ele explode. Alice ri.
Cena 5/Copacabana Palace/Quarto de
Cristina/Noite
Paloma bate na porta e Cristina abre.
CRISTINA – Entre, querida. Estava
esperando por você!
Paloma entra no quarto.
CRISTINA – Sente-se.
PALOMA – Não, obrigada. Eu não
posso demorar!
CRISTINA – Mas por quê? A noite é
uma criança, bebê.
PALOMA – Seja breve, Cristina.
CRISTINA – Eu te chamei aqui para lhe
dar uma coisa.
PALOMA – E eu posso saber o que é?
Cristina se aproxima lentamente de
Paloma e a abraça. Paloma fica sem entender.
PALOMA – Cristina?
Cristina chora.
PALOMA – Cristina, o que foi? Pelo
amor de Deus, me fala!
CRISTINA – É que eu me sinto tão
sozinha.
PALOMA – Eu não sei o que falar.
CRISTINA – Só me abraça... Forte!
Paloma abraça Cristina e em seguida as
duas sentam-se na cama.
PALOMA – Mas se você sente-se tão
sozinha, por que não sai para fazer amizade? Sei lá, um namorado
talvez seja a melhor companhia.
CRISTINA – Não é esse tipo de
companhia que eu quero, Paloma. Eu quero um colo de mãe, sabe?
PALOMA – Mas a sua mãe não está
por perto?
CRISTINA – Eu não sei se a Renata é
a minha mãe.
PALOMA – E por que vocês não fazem
logo esse exame de DNA?
CRISTINA – Porque eu tenho medo!
PALOMA – Medo de quê?
CRISTINA – Medo da Renata não ser a
minha mãe e no final de contas ela achar que eu sou uma golpista.
Ela e eu estamos nos ludribiando demais com tudo isso! Eu acho que
posso ser filha dela e ela diz que tem certeza que é minha mãe.
PALOMA – Mas se ela diz ter certeza
de que você é filha dela, por que você tem medo de não ser e sair
como a golpista da história?
CRISTINA – Porque no final de contas,
a corda sempre arrebenta pro lado mais fraco. Eu tenho medo de ser
taxada de golpista, mentirosa e todas essas outras coisas. Eu sou só
uma menina frágil, pobre, indefesa.
PALOMA – Me perdoe, mas pobre não é
o que parece.
CRISTINA – Oi?
PALOMA – Isso mesmo, oras. Uma pessoa
pobre não estaria hospedada num hotel luxuoso como esse! Ainda mais
quem saiu de um orfanato. Eu não quero me intrometer demais, mas
como você conseguiu dinheiro pra se hospedar aqui?
Cristina engole a seco e fica sem
resposta.
Cena 6/Vila do Sossego/Casa de
Madalena/Noite
Madalena está sentada no sofá, quase
dormindo. Alice abre a porta e entra. Madalena desperta.
MADALENA – Alice?
ALICE – Não, mamãe. Um assaltante!
MADALENA – Isso são horas de chegar?
ALICE – A noite é uma criança, dona
Madalena.
MADALENA – Então essa criança já
passou da hora de estar na cama!
ALICE – Vai ficar me dando bronca a
essa hora para dar bronca?
MADALENA – Claro que tem!
ALICE – Então essa não é a hora.
Está muito tarde para discutir! Boa noite.
Alice passa por Madalena e vai para seu
quarto.
MADALENA – Onde será que essa menina
estava?
Cena 7/Vila do Sossego/Casa de
Madalena/Quarto de Alice/Noite
Alice entra no quarto, tranca a porta e
vai para frente do espelho. Ela tira faca da bolsa, ainda com o
sangue de Joana, e a encara, levanto ela para frente do seu rosto.
ALICE – Tinha me esquecido como era
prazeroso se livrar de pessoas que atrapalham os meus planos... Não
que o assassinato dele tenha sido por isso! Ele não. Ele tentou
abusar de mim! Ele tentou tirar a minha virgindade e eu era só uma
criança. Uma pobre e indefesa criança! Dele eu tive que me livrar
porque senão eu passaria o resto da minha vida sendo abusada.
(chorando) Eu não merecia isso! Eu nunca o seduzi! Eu nunca fiz nada
para ele sentir tesão, atração, prazer em mim. Mas ele adorava me
tocar, susurrar no meu ouvido, dizer que apesar de pequena eu dava
mais prazer que várias mulheres adultas... Que nojo! NOJO! NOJO!
NOJO!
Alice começa a quebrar o seu quarto.
ALICE – AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA EU
NÃO MERECIA AQUILO! NÃO!
Madalena se aproxima da porta do quarto
de Alice.
MADALENA – Querida, tá tudo bem?
Alice se acalma.
ALICE – Tudo ótimo, mamãe. Foi só
o abajour que caiu!
Madalena chora baixinho.
MADALENA – Menos mal, querida. Boa
noite.
Madalena vai para seu quarto. Alice
volta pra frente do espelho.
ALICE – Quem será a próxima vítima?
Alice ri histericamente.
Cena 8/Agência de
Viagens/Garagem/Noite
A câmera “entra” na garagem e vai
lentamente onde Alice matou Joana. Ao fundo, a voz da vilã em
formato de narração.
ALICE – O meu trunfo é matar e
não deixar rastros. Me livrar de ratos que não fariam a menor falta
pra sociedade de uma forma cruel e eficiente! Joana foi só a
primeira da minha lista. E quem não morrer nas minhas mãos, vai
viver o inferno em vida.
A câmera se aproxima do rastro de
sangue que o corpo de Joana deixou.
AMANHECE
Cena 9/Vila do Sossego/Casa de
Madalena/Sala/Manhã
Madalena está tomando seu café da
manhã. Alice entra na sala.
ALICE – Bom dia, mãe.
MADALENA – Bom dia, Alice. Conseguiu
dormir bem?
ALICE – Para ser sincera, não.
MADALENA – E por que, querida?
ALICE – Me lembrei do passado.
MADALENA – Especificamente do quê?
ALICE – Você sabe muito bem o que
tira o meu sono.
MADALENA – Você nunca vai esquecer
disso, não é?
ALICE – Não, mamãe. Nunca! Isso é
algo que vai me perseguir eternamente. É a sombra que vai me
acompanhar até o último dia da minha vida. Podem se passar 20, 30,
40 anos e mesmo assim eu vou me lembrar como se fosse ontem. Eu ainda
ouço o sussuro dele no meu ouvido! “Vem brincar, vem. Pula em cima
de mim! Pula! É uma brincadeira tão gostosa. Você não vai sentir
nada além de prazer!”
Madalena fecha o punho e bate a mão na
mesa.
Toca a instrumental Tema de Claudius –
Duas Caras
MADALENA – Chega! Só de lembrar
disso eu sinto um nojo enorme. Me embrulha o estômago!
ALICE – O mesmo comigo, mãe.
Alice corre para perto de Madalena e a
abraça. Alice chora.
ALICE – Será que ele vai voltar?
Será que ele vai abusar de mim de novo? Eu sou só uma criança
indefesa.
MADALENA – (chorando) Não, querida.
Onde ele está não tem volta!
Foco na expressão de loucura de Alice.
Cena 10/Copacabana Palace/Quarto de
Cristina/Manhã
ADRIANA – Ela o quê?
CRISTINA – Isso mesmo, ela me
perguntou como eu consegui morar aqui, sendo que sou pobre.
ADRIANA – E o que você disse?
CRISTINA – Disse que a Renata está
me bancando.
ADRIANA – E ela acreditou?
CRISTINA – Se ela acreditou ou não
eu não sei, mas fui bem convincente.
ADRIANA – Essa garota ainda vai nos
trazer muito problema!
CRISTINA – Eu sei.
ADRIANA – Você devia ter se livrado
dela quando teve oportunidade.
CRISTINA – Eu sei, mas não consegui!
Eu não tenho sangue de barata!
ADRIANA – Mas o Marcos tem.
CRISTINA – E eu com isso?
ADRIANA – Acontece que ele disse que
se você não se livrar da Paloma, ele mesmo se livra. De uma vez por
todas!
Cristina se assusta.
Cena 11/Mansão Grimaldi/Sala de
Estar/Manhã
Victoria, Estrela e Olavo estão
tomando o café da manhã.
VICTORIA – Que história é essa de
mancha de sangue no estacionamento da agência?
OLAVO – Eu também não sei, amor. Me
ligaram dizendo que encontraram um rastro de sangue numa das vagas.
VICTORIA – Que horror! Mas tem
certeza que é mancha de sangue mesmo?
OLAVO – Pelo que me disseram, sim.
VICTORIA – E quem te ligou? A Joana?
OLAVO – Não! Foi um dos
funcionários. A Joana ainda não chegou!
VICTORIA – Só de pensar nisso me dá
uma arrepio.
ESTRELA – Chega! Vamos deixar esse
assunto mórbido de lado e vamos falar da vida.
OLAVO – Como está sendo a gravidez,
filhota?
ESTRELA – Enjoativa! Sinto enjoos
diariamente.
VICTORIA – Normalíssimo, querida.
Normalíssimo!
OLAVO – Eu queria poder compartilhar
mais desse momento família, mas infelizmente não posso. Tenho que
ir para a empresa resolver esse assunto!
ESTRELA – Que pena, papi. Bom, vá
com Deus!
Olavo beija a testa de Estrela e dá um
selinho em Victoria.
VICTORIA – Vai com Deus, querido.
Olavo sai.
VICTORIA – Estranha essa história,
não?
ESTRELA – Muito!
Victoria e Estrela voltam a tomar o
café.
Cena 12/Vila do Sossego/Portão/Manhã
Carmen, Patrícia e Madalena, arrumadas
para ir ao cinema, saem da vila. Três homens na faixa de 50 e 60
anos as observam.
HOMEM 1 – Então são elas?
HOMEM 2 – Esse aqui é o lugar?
HOMEM 3 – Sim para as duas perguntas.
São elas e aqui é o lugar!
Os homens observam Carmen, Patrícia e
Madalena saírem.
Cena 13/Agência de
Viagens/Estacionamento/Manhã
Há vários policias e funcionários,
curiosos, próximos onde encontraram o rastro de sangue. Olavo chega
perto de delegado.
OLAVO – Bom dia, delegado.
DELEGADO – Bom dia, seu Olavo.
OLAVO – E então, qual o problema?
DELEGADO – Um dos seus funcionários
achou esse rastro de sangue e ligou para a policia.
OLAVO – E isso realmente é sangue
humano?
DELEGADO – A tudo que indica, sim.
OLAVO – Bom, eu vou à minha sala
organizar umas coisas e já volto.
DELEGADO – Como o senhor preferir!
Cena 14/Agência de Viagens/Sala
Presidencial/Manhã
Olavo sai do elevador e caminha direto
para a sala da presidência. Chegando lá, ele abre a porta e se
depara com uma pessoa.
OLAVO – Você?
Toca a instrumental A Obra – Fina
Estampa
Alice, que estava de costas, se vira
para ele.
ALICE – Bom dia, doutor Olavo.
OLAVO – Alice, o que você faz aqui?
ALICE – Estava organizando a sua
sala, ora essa.
OLAVO – Mas isso é função da minha
secretária.
ALICE – Por isso mesmo. A partir de
hoje eu ocupo esse cargo!
OLAVO – Perdão, Alice. Mas está
havendo alguma confusão!
ALICE – Não, não está.
OLAVO – A minha secretária é a
Joana.
ALICE – Não é mais.
OLAVO – E por que não?
ALICE – Porque a Joana não está
mais entre nós.
Olavo fica surpreso ao ouvir.
OLAVO – Ela o quê?
ALICE – A Joana não está mais entre
nós.
OLAVO – E isso significa o quê? Que
ela morreu?
Olavo encara Alice, que apenas sorri.
Toca a instrumental A Obra – Fina
Estampa.
FIM DE CAPÍTULO









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