ALICE
OITAVO CAPÍTULO
Cena 1/Hotel Copacabana/Quarto
330/Noite
CRISTINA – E você acha que isso vai
dar certo?
ADRIANA – Certo? Vai dar certíssimo!
Se tudo sair conforme o meu planejado, a Renata vai ficar na miséria
muito em breve.
CRISTINA – E você acha isso justo?
ADRIANA – Não vai me dizer que você
sente pena dela?
CRISTINA – Não, não é bem isso. É
que a Renata é uma pessoa do bem, que tá lutando pra encontrar a
filha que ela perdeu anos atrás! Você acha justo deixa-la na
miséria e ainda mais sem saber quem é a verdadeira filha?
ADRIANA – Acho. E por que não? Nessa
vida todos nós já sofremos.
CRISTINA – Mas ela ainda sofre por
essa perda!
ADRIANA – Eu não estou te
entendendo.
CRISTINA – Eu sou realista! Ela não
merece sofrer mais!
ADRIANA – Não adianta recuar agora
que foi dada a largada. Se você voltar atrás, vai cair tão baixo,
mas tão baixo, que o inferno vai ser pouco perto do seu sofrimento!
Não tem mais como desistir. Você está do meu lado e do meu lado
que você vai ficar até o último minuto! Entendeu?
Cristina faz que sim com a cabeça.
ADRIANA – Espero que isso sirva pra
você refletir.
Adriana vai embora. Cristina fecha a
porta.
CRISTINA – Com quem será que eu fui
me meter, hein?
Cena 2/Hotel
Copacabana/Garagem/Noite
Adriana acabara de sair do elevador que
dá na garagem. Ela caminha em direção a seu carro. O carro de
Renata, que está acompanhada de Marcos, entra na garagem do hotel.
Renata avista Adriana.
RENATA – (sussurro) O que será que
ela tá fazendo aqui?
MARCOS – O que você disse?
RENATA – A Adriana!
MARCOS – O que tem a Adriana?
RENATA – Ela estava aqui no hotel!
MARCOS – (surpreso) A ADRIANA? AQUI?
RENATA – Sim, querido. Mas por que a
surpresa?
MARCOS – Me surpreendi porque mesmo
que a Adriana receba um salário polpudo, ela não teria condições
de sequer passar uma noite aqui.
RENATA – Talvez ela tenha vindo com
um namorado.
MARCOS – A Adriana com um namorado?
Por favor, Renata!
RENATA – E por que não? Ela é
jovem, bonita, solteira. Tá com a bola toda!
MARCOS – Ela só vive para o
trabalho. Jamais se envolveria com outros homens!
RENATA – E você se importaria se ela
se envolvesse?
MARCOS – Que pergunta é essa,
Renata?
RENATA – É que você ficou tão
preocupado quando eu disse que ela poderia estar aqui com um namorado
que eu pensei que você se importaria caso ela namorasse.
MARCOS – Claro que não me
importaria! A vida é dela! Desde que isso não atrapalhe o
desempenho dela na empresa, pouco me importo com a vida amorosa da
Adriana. Se ela se envolvesse até com outra mulher eu não me
importaria, desde que ela continuasse desempenhando bem a função
dela dentro da empresa.
RENATA – Que radical, senhor Marcos.
(risos)
MARCOS – Agora vamos logo pro quarto
porque eu não vim a esse hotel pra ficar discutindo sobre a vida
pessoal de uma funcionária em plena garagem. (sussurrando no ouvido
de Renata) Vim aqui pra fazer outras coisas!
RENATA – O senhor é quem manda.
Renata arranca com o carro e estaciona
em uma vaga. Eles saem do carro, entram no elevador e sobem para o
hotel.
Cena 3/Mansão Guimarães/Sala/Noite
Estevão está sentado em uma poltrona.
No sofá, abraçados, estão Bárbara e Fernando.
BÁRBARA – Que coisa horrível esse
assalto, né filho?
ESTEVÃO – Só de pensar que eu
poderia perder a Estrela dessa maneira fico arrepiado.
FERNANDO – Mas graças a Deus tudo se
saiu bem!
ESTEVÃO – Graças a Deus e a Alice!
BÁRBARA – Ela foi bem corajosa, não?
ESTEVÃO – Muito!
FERNANDO – Me explica essa história
direito, filho. Como a Alice salvou a Estrela?
ESTEVÃO – Pelo que Alice nos disse,
o policial não queria atirar no tal bandido, mas se ele não fizesse
isso, a Estrela seria morta porque o bandido a soltou e apontou uma
arma pra ela.
BÁRBARA – E quando a Alice entra
nessa história?
ESTEVÃO – Ela foi mais ágil, pegou
a arma do policial e atirou no bandido. Um tiro fatal! Ele morreu na
hora!
FERNANDO – E ela não pode ser
indiciada por isso?
ESTEVÃO – Não pelo que eu sei. Foi
dado como legítima defesa!
BÁRBARA – Isso é mais instigante
que qualquer série de ação!
Cena 4/Vila do Sossego/Casa de
Madalena/Sala/Noite
Alice levanta-se. Madalena está
sentada no sofá.
ALICE – Claro que é mentira, mãe!
MADALENA – Então você não matou o
tal bandido?
ALICE – Não! Eu não matei!
MADALENA – Então todos precisam
saber disso.
ALICE – E quem disse que eu quero
contar?
MADALENA – Alice, desde pequena eu te
criei ensinando que mentir é feio!
ALICE – Mas quem disse que eu menti?
MADALENA – Não?
ALICE – Claro que não!
MADALENA – Então me conta essa
história.
ALICE – O caso desse policial que
matou o tal bandido foi o primeiro realmente sério e perigoso. Ele
estava com medo de algo dar errado e eu apenas o incentivei a atira
no marginal! Eu disse que tudo ficaria bem e se ele não atirasse, aí
algo ruim aconteceria.
MADALENA – E por que você saiu como
heroína e não ele, que salvou a vida da Estrela?
ALICE – Porque fui em que o
incentivou a matar o bandidinho, fui eu quem mandou ele atirar no
marginalzinho, fui eu quem salvou a vida da Estrela, fui em que
merecia ganhar os créditos e sair como heroína, fui em quem
arriscou a própria vida pra salvar aquela garota, fui eu!
MADALENA – Você não merecia isso.
ALICE – E o que eu merecia, mãe? A
morte? É isso o que eu merecia?
Cena ao som da instrumental Suspense –
Império.
MADALENA – Claro que não, minha
filha.
ALICE – Então me diga! Me diga o que
eu merecia! Quer saber? CHEGA DESSE ASSUNTO! CHEGA!
Alice sai da sala e vai pro quarto.
MADALENA – Você não poderia ter
feito isso, minha filha. Não poderia!
Cena 5/Vila do Sossego/Quarto de
Alice/Noite
Alice entra no quarto quebrando tudo
que vê pela frente. E em seguida grita.
Cena ao som da instrumental Tema de
Mistério - Império
ALICE – EU NÃO ADMITO SER
CONTRARIADA! EU NÃO ADMITO!
Alice quebra mais coisas em seu quarto.
ALICE – Se minha mãe acha que eu ia
sair dessa história com as mãos abanando, ela que se engana! Eu não
nasci pra não ser creditada por um grande feito. Eu não nasci! Eu
não nasci! Eu não nasci!
Em seguida, ela deita em um canto da
cama e repete várias vezes a mesma coisa, com um ar de loucura.
ALICE – Eu não nasci! Eu não nasci!
Eu não nasci! Eu não nasci! Eu não nasci!
Cena 6/Vila do Sossego/Casa de
Carmen/Noite
Madalena bate várias vezes na porta.
Carmen abre. Madalena, chorando, abraça Carmen, que fica sem
entender o que está acontecendo.
Cena ao som da instrumental Tristeza –
A vida da Gente
MADALENA – Aconteceu de novo, Carmen!
Aconteceu!
CARMEN – O que, querida?
MADALENA – A Alice... Ela surtou de
novo!
CARMEN – Não! Não pode ser! Ela não
pode ter essas crises de novo.
MADALENA – Eu tenho medo do que pode
acontecer!
CARMEN – Você tem medo de que ela
repita o mesmo que fez no passado?
MADALENA – Sim! É o que eu mais
temo! Foi horrível ter que passar por aquilo. Não quero sofrer de
novo! Não mais uma vez!
Madalena abraça Carmen mais forte
ainda e chora.
CARMEN – Tudo vai se resolver, amiga.
Tudo vai!
Cena 7/Passagem de tempo da noite
para o dia ao som da instrumental Segredos e Brigas – Por Amor
Cena 8/Vila do Sossego/Casa de
Madalena/Sala de Jantar/Manhã
Madalena está sentada, tomando café.
Alice entra na sala.
ALICE – Mãe?
MADALENA – Bom dia, Alice.
ALICE – Eu posso te pedir uma coisa?
MADALENA – Diga.
ALICE – Me perdoa?
MADALENA – Por quê?
ALICE – Pelo surto de ontem.
MADALENA – Olha querida...
ALICE – Não diga nada! Só o que eu
pedi! Me perdoa?
MADALENA – É claro que eu te perdoo,
querida. Mas você tem que ter mais controle sobre os seus
sentimentos!
ALICE – Eu sei que deveria mas não
consigo! De repente eu perco o controle de tudo e quando vejo já
cometi uma besteira.
MADALENA – Como a que você cometeu
anos atrás, não é?
ALICE – Não me lembre disso! Eu me
martirizo por ter feito isso todos os dias!
MADALENA – Mas agora é vida que
segue. Não tem mais volta! O jeito é focar no futuro e esquecer
esse passado horroroso, por mais difícil que seja.
ALICE – Eu te juro que vou me
controlar ao máximo! Eu juro!
Alice dá um abraço aperto em
Madalena, que deixa algumas lágrimas caírem de seus olhos.
Cena 9/Mansão Grimaldi/Quarto de
Estrela/Manhã
Estrela está em frente à penteadeira.
Ela acabara de pentear seu cabelo. A governanta bate na porta e, após
autorização de Estrela, entra no quarto.
ESTRELA – Diga, querida.
GOVERNANTA – Eu só vim avisar que o
café da manhã está na mesa.
ESTRELA – Já vou descer. Pode ir!
GOVERNANTA – Com licença.
A governanta sai do quarto. Estrela
sente uma leve tontura e senta-se a cama.
ESTRELA – Que estranho!
Estrela se levanta e sai do quarto.
Cena 10/Mansão
Grimaldi/Corredor/Manhã
Estrela, ainda um pouco tonta, caminha
pelo corredor, trançando as pernas.
ESTRELA – O que tá acontecendo
comigo, hein?
Estrela chega à escada e se
desequilibra, rolando escada a baixo. A ruiva chega ao chão,
desmaiada.
Toca The Heart Wants
What It Wants – Selena Gomez
FIM DE CAPÍTULO
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