(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
JOCA: Você está pedindo um tempo, Carlota? Por que isso?
CARLOTA: Joca, eu sinto que nós estamos ficando cada vez menos cautelosos em relação ao nosso namoro. Minhas irmãs descobriram sobre o nosso relacionamento e eu estou com medo que isso chegue aos ouvidos do meu pai.
JOCA: Por acaso, alguma das suas irmãs está te ameaçando, te pressionando a terminar o namoro comigo?
CARLOTA: Não, claro que não. O que está acontecendo é que duas pessoas já descobriram a nossa relação. Tenho medo que mais alguém descubra.
JOCA: Carlota, meu amor, eu, finalmente, tive coragem de dizer ao padrinho que eu não quero ser padre.
CARLOTA: Você contou para o seu padrinho sobre a nossa relação?
JOCA: Não, mas, Carlota, eu acho que nós devemos assumir logo o nosso amor e enfrentar esses obstáculos que se encontram no nosso caminho.
CARLOTA: Mas como, Joca? Com quais bases? Com quais recursos? Eu sou completamente dependente do meu pai e você, do seu padrinho. Nós não temos estruturas para enfrentá-los e declarar nossa independência.
JOCA: Mas a gente se ama.
CARLOTA: Infelizmente, amor não é a única coisa que se deve ter em uma relação séria.
JOCA: Nós podemos fugir para um lugar bem longe daqui.
CARLOTA: E como a gente iria se sustentar, Joca? Você não trabalha, não tem como trazer segurança financeira para uma família. Por isso que acho que devemos dar um tempo, pra cada um ir arranjando seus próprios recursos e sua própria independência.
JOCA: E você acha que tudo isso seria melhor conquistado separadamente, com cada um no seu canto?
CARLOTA: Acho.
JOCA: Desculpa, Carlota, mas isso não entra na minha cabeça. A gente se ama, nós devemos ficar juntos.
CARLOTA: Mas eu acho que devemos nos separar, pelo menos por enquanto.
JOCA: Se você quer assim, tudo bem. Eu não vou forçar a barra. Só espero não perdermos contato.
CARLOTA: Quanto menos contato a gente tiver, melhor. Acredite. Bom, até mais, Joca.
JOCA: Até.
(Carlota levanta-se e sai. Seus olhos ficam marejados. Joca permanece sentado, olhando a moça sair de seu campo de visão)
Cena 2/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Ariana/ Interno/ Manhã
(Ariana sentada em sua cama. Joca em pé, de frente a ela)
ARIANA: A Carlota terminou com você?
JOCA: Sim. Ela disse que estava com medo do pai descobrir a nossa relação e, por isso, quis terminar. Mas isso não me convenceu. Acho que tem coisa mais séria por trás disso.
ARIANA: E você faz ideia do que possa ser?
JOCA: Não sei, talvez uma das irmãs dela pressionando-a a terminar comigo.
ARIANA: E agora que você não está mais namorando, você vai assumir a batina?
JOCA: Nunca, jamais.
ARIANA: Padrinho fez uma ameaça hoje mais cedo. Ele disse que se você não for padre, você terá que procurar outro lugar para ficar.
JOCA: Eu já imaginava algo desse tipo.
ARIANA: Joca, se você sair dessa casa, eu saio também.
JOCA: Eu preciso arranjar um emprego o mais rápido possível, Ariana. Só assim eu poderei sair definitivamente do campo de ameaças e pretensões do padrinho.
Cena 3/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da cena 12 do capítulo anterior)
GERALDO: Eu, apaixonado pela Liduína?
VITORINO: Foi o que eu pensei quando você me pediu para convidá-la para a vir à inauguração do comércio amanhã.
GERALDO: Impressão sua.
VITORINO: Você pode ser sincero comigo, Geraldo.
GERALDO: Está tão na cara assim o meu interesse pela sua irmã?
VITORINO: Nem tanto. Mas como eu convivo muito com você, eu já fui capaz de perceber esse interesse que você tem por ela.
GERALDO: Bem que você poderia me ajudar a conquistar a Liduína, facilitar algumas coisas pra mim.
VITORINO: Geraldo, você é meu melhor amigo, eu gosto muito de você e eu ficaria muito feliz caso você e a Liduína se envolvessem, mas conquistar a minha irmã é algo que só você pode fazer. Você tem que saber chegar no coração dela por si só.
GERALDO: Você tem razão, Vitorino.
VITORINO: Mas não se preocupe. Eu irei convidá-la para a inauguração do comércio. Mas é aquilo que eu te falei, eu não sei se ela poderá comparecer.
Cena 4/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Manhã
(Cassandra deitada em sua cama. Carlota entra)
CARLOTA: Cadê a Cassilda?
(Com um sorriso largo no rosto, Cassandra se levanta, ficando frente a frente com Carlota)
CASSANDRA: Carlota, minha irmã querida, você não sabe o quanto eu estava ansiosa pela sua chegada.
(Carlota dá um tapa na cara de Cassandra)
CARLOTA: Cretina ordinária. Sua verme, parasita infernal.
CASSANDRA: Esse tapa significa que...
CARLOTA: Significa que eu terminei com o Joca. Satisfeita?
CASSANDRA (com um sorriso sarcástico): Você não imagina o quanto. Ah, você me paga por esse tabefe. Escreve o que eu estou te dizendo.
(Cassandra sai)
Cena 5/ Mansão Bovary/ Quarto Eva/ Interno/ Manhã
(Eva deitada. Clarissa, eufórica, entra, com um telegrama em mãos)
CLARISSA: Mãe, olhe o que acabou de chegar.
(Clarissa entrega o telegrama para Eva)
EVA: Um telegrama do Sávio.
CLARISSA: Isso mesmo.
EVA: Ah, quanta saudade eu sinto do meu filho.
CLARISSA: Bom, eu tomei a iniciativa de ler e nessa carta ele fala que já terminou os estudos em Londres, que está se preparando para voltar.
EVA: Ah que maravilha. Pena que quando ele chegar aqui, talvez eu não esteja mais viva.
CLARISSA: Não diga uma coisa dessas, mamãe. A senhora vai ver o Sávio passar por aquela porta, sim.
EVA: Clarissa, minha filha, mudando de assunto, a Marilda me disse que você a tratou mal ontem à noite. Eu não quero mais que isso se repita, entendeu?
CLARISSA: A cozinheira pobretona já veio fazer fofoca?
EVA: Clarissa, eu não vou admitir esse desrespeito, ouviu bem? Eu quero que você peça desculpas à Marilda.
CLARISSA: Eu até posso pedir, se a senhora se submeter ao tratamento contra a tuberculose.
EVA: Clarissa, não dificulte as coisas.
CLARISSA: Mas como a senhora não quer se submeter ao tratamento, eu também não quero pedir desculpas para a cozinheira. Pronto, estamos quites agora.
(Clarissa sai. Eva, discretamente, tosse sangue.)
Cena 6/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Dorotéia limpando a mesinha de centro. Elizeu entra)
ELIZEU: Onde está o Marcílio?
DOROTÉIA: Já foi trabalhar.
ELIZEU: Eu preciso ter uma conversa muito séria com ele.
DOROTÉIA: Vai sair?
ELIZEU: Sim.
DOROTÉIA: E posso saber pra onde?
ELIZEU: Vou à fazenda do doutor Plínio Sampaio ver esse trabalho do Marcílio de perto.
(Elizeu sai)
Cena 7/ Estrada/ Manhã
(Marcílio espalha inúmeras pregos – com a ponta virada para cima – no meio da estrada)
MARCÍLIO (para si): Ótimo. Com esses pregos, muitos pneus irão furar e muitas pessoas eu irei roubar.
(Marcílio dá um sorriso vencedor)
Cena 8/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Juscelino entra. Joca vem em sua direção)
JOCA: Até que enfim o senhor chegou.
JUSCELINO: Grande coisa. Daqui a pouco, terei que sair para proferir a missa da tarde.
JOCA: Como o senhor teve a coragem de ameaçar me expulsar dessa casa, padrinho?
JUSCELINO: Não estou entendendo a surpresa e a revolta por causa disso. A casa é minha. Fica aqui quem eu quero que fique.
JOCA: Eu sou seu afilhado.
JUSCELINO: Para garantir sua permanência nessa casa, você é meu afilhado. Agora para assumir a batina, você esquece qualquer relação de parentesco que há entre a gente, não é, João Carlos? Tenha dó.
JOCA: Se o senhor acha que vai me fazer ser padre com a tentativa de me expulsar daqui, o senhor está redondamente enganado.
JUSCELINO: Pois eu acho melhor você começar a fazer suas malas.
JOCA: Se o senhor prefere assim.
JUSCELINO: Joca, espere. Eu não quero que as coisas aconteçam dessa maneira. Façamos o seguinte. Eu sei que você ainda anda meio perturbado com essa ideia de ser padre. Irei te dar dois dias para pensar a respeito dia. Passados esses dois dias e você permanecer nessa ideia de não querer assumir a batina, aí sim, você sai dessa casa. Tudo bem?
JOCA: Bom, se o senhor acha...
JUSCELINO: Ótimo. Agora, com licença, que eu tenho mais o que fazer.
(Juscelino passa por Joca e se direciona ao corredor)
Cena 9/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Sala de consulta/ Interno/ Manhã
(A mesinha de consulta ao centro. Soraya sentada em seu lugar. Liduína entra)
LIDUÍNA: Terminei de entregar os panfletos.
SORAYA: Mas já? Pensei que ia levar o dia todo.
LIDUÍNA: Também fiquei surpresa. Mas também, mãe Soraya, com a minha beleza e sensualidade, ninguém resiste.
SORAYA: Menos, Maria Rapariga. Bom, você já está liberada, pode ir para casa.
LIDUÍNA: O quê? De jeito nenhum, eu não posso ir pra casa agora, mãe Soraya. Se eu for agora, meus pais poderão desconfiar, implicar. Não, não vou. Eu tenho que ficar aqui até o anoitecer, no mínimo.
SORAYA: E vai ficar fazendo o quê aqui, menina? Olhe, Maria Rapariga, eu não quero que você fique parada no meio da minha tenda feito uma estátua. Assim, vai espantar toda a minha clientela.
LIDUÍNA: Está me chamando de feia, mãe Soraya?
SORAYA: Não, querida, é que as minhas clientes ficarão desconfortáveis se tiver outra pessoa aqui na tenda, entendeu?
LIDUÍNA: E o que eu vou fazer, então?
SORAYA: Você pode dar comida pras minhas galinhas lá no quintal.
LIDUÍNA: O quê? Mas isso é exploração.
SORAYA: Ou você faz isso ou volta pra casa agora. O que vai ser?
LIDUÍNA: Onde está a comida das galinhas?
(Liduína olha furiosamente para Soraya)
Cena 10/ Paisagens de Vila Prata/ Tarde
(Toca Hips Don’t Lie – Shakira)
Cena 11/ Mansão Sabarah/ Sala de artesanato/ Interno/ Manhã
(Cassilda está pintando algumas telas. Carlota entra)
CARLOTA: Presumi que você estivesse aqui quando não te encontrei no quarto.
CASSILDA: Carlota...
CARLOTA: Eu terminei com o Joca, Cassilda.
(Cassilda abraça Carlota, que começa a chorar dolorosamente)
CASSILDA: Chora, minha irmã. Chora.
CARLOTA: Tá doendo muito, Cassilda. Tudo por culpa daquela desgraçada da Cassandra.
CASSILDA: Ela vai pagar pelo que fez.
CARLOTA: Eu sempre fui legal com ela, sempre. Mas chega, cansei de ser apática com aqueles que só me fazem mal. Se mexer comigo, vai levar na cara.
CASSILDA: É assim que se fala, minha irmã.
(Carlota torna a chorar copiosamente. Bonavante entra)
BONAVANTE: Carlota, minha filha, você está chorando?
CARLOTA: Não pai, não é nada. É apenas um pouco de areia no meu olho.
BONAVANTE: Carlota, eu não nasci ontem. Eu sei que você está chorando. O que aconteceu, minha filha?
Cena 12/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Dorotéia sentada na cadeira, fazendo crochê. Elizeu entra apreensivo)
ELIZEU: Dorotéia, ainda bem que você está casa.
DOROTÉIA: O que foi, homem?
ELIZEU: Marcílio está mentindo pra gente.
DOROTÉIA: O quê?
ELIZEU: Fui até a fazenda do doutor Plínio Sampaio e o próprio me disse que o Marcílio não está trabalhando lá, que ele nunca foi lá atrás de emprego.
DOROTÉIA: Não pode ser verdade.
ELIZEU: Mas é. E o Marcílio vai me pagar por essa mentira.
Cena 13/ Mansão Sabarah/ Sala de artesanato/ Interno/ Tarde
(Continuação imediata da cena 11 deste capítulo)
BONAVANTE: Por que você está chorando, Carlota?
CARLOTA: Por causa da Cassandra.
BONAVANTE: O que aquela demônia fez dessa vez?
CARLOTA: Ela me insultou, pai, me fez diversas acusações, me chamou de infeliz. Foi horrível.
BONAVANTE: E por que ela fez isso?
CARLOTA: Eu não sei. Eu acho que a Cassandra sempre me odiou.
BONAVANTE: Essa garota vai ter o que merece.
(Bonavante sai)
CASSILDA: Carlota, você tem noção do que acabou de fazer? Vai que a Cassandra resolve contar sobre o seu namoro, ex-namoro, não sei como chamar, para o papai.
CARLOTA: Ela me deu a palavra dela que não iria contar. Se ela pensar em falar, ela vai me pagar bem caro.
CASSILDA: De qualquer forma, eu adorei o que você fez.
CARLOTA: Eu não me orgulho muito disso, afinal a Cassandra, apesar dos pesares, é minha irmã. Mas quem sabe assim ela toma juízo.
CASSILDA: Carlota, eu preciso te falar uma coisa muito importante. Você estava certa quando disse que havia um motivo muito maior por trás da ameaça da Cassandra.
CARLOTA: E que motivo maior é esse, Cassilda?
CASSILDA: Carlota, a Cassilda também é apaixonada pelo Joca.
CARLOTA: O quê?
Cena 14/ Mansão Sabarah/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Bonavante entra e vê Alzira passar pela sala de estar)
BONAVANTE: Alzira, você viu a Cassandra?
ALZIRA: Ela saiu, doutor Bonavante, e não disse para onde ia.
BONAVANTE: Obrigado pela informação.
Cena 15/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Alguém bate na porta. Joca atende)
JOCA: Você é...
CASSANDRA: Cassandra Sabarah, irmã da Carlota. Nós precisamos conversar.
JOCA: Sinceramente, não vejo nenhum assunto para tratarmos juntos.
CASSANDRA: Mas eu vejo, e são vários. Não vai me convidar para entrar?
(Cassandra encara Joca. Close em Joca)
FIM DO CAPÍTULO (Toca o refrão de Goodness Gracious – Ellie Goulding)
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