Cena 1/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/
Noite
(Continuação imediata da última cena do capítulo
anterior)
BONAVANTE: Você sempre adepto do cinismo,
Viriato.
VIRIATO: Fazer o quê? O cinismo é a minha marca
registrada, Bonavante.
BONAVANTE: Por que você voltou para Vila Prata? O
que você está armando, seu infeliz?
VIRIATO: Nossa, como você é grosseiro. O que te
faz pensar que estou armando, Bonavante?
BONAVANTE: Você sempre odiou Vila Prata e, de
repente, decide voltar para cá, com mala e tudo. A capital não estava sendo suficiente
para você?
VIRIATO: Eu nasci aqui, cresci aqui, vivi as
minhas melhores experiências nesse lugar. Nada mais normal que eu queira voltar
a passar um tempo em Vila Prata.
BONAVANTE: Conta outra, Viriato. Você até pôs
essa fazenda para vender.
VIRIATO: Mas desisti quando descobri que era
você que estava por trás daquele processo de compra e venda. Usando o pobre do
Simão para adquirir bens, Bonavante. É assim que você costuma explorar as
pessoas que trabalham contigo?
BONAVANTE: Se tem alguém conhecido por explorar
as pessoas, esse alguém é você. Não só explorar, como fazer coisas bem piores
do que isso, não é verdade? Como, por exemplo, armar um atentado contra mim.
VIRIATO: Eu não sei do que você está falando.
BONAVANTE: Não se faça de desentendido. Confesse
que foi você quem organizou o maldito atentado contra mim hoje pela manhã.
VIRIATO: Eu não organizei atentado nenhum, mas
fico muito triste em saber que a pessoa que armou isso pra cima de você falhou
na sua missão.
BONAVANTE: Olha aqui, seu desgraçado, eu vou te
dar um recado e espero que você o apreenda muito bem. Não se meta com a minha
família, entendeu?
VIRIATO: Isso é uma declaração de guerra?
BONAVANTE: Interprete como quiser. Apenas saiba
que eu posso ser muito perigoso. E no que se refere a você, Viriato, piedade é
uma palavra que não faz parte do meu vocabulário.
VIRIATO: Que maravilha. Somos dois, então. Agora
se sinta livre para dar meia volta e sair da minha casa.
BONAVANTE: Esteja avisado.
(Bonavante sai. Viriato o olha, furioso.)
GERTRUDE: Mais vinho tinto, doutor Viriato?
VIRIATO: Sim.
(Gertrude põe um pouco de vinho na taça segurada
por Viriato, que bebe o liquido)
Cena 2/ Mansão Bragança/ Quarto Charles/
Interno/ Noite
(Charles deitado em sua cama, lendo um livro. Laurinda
entra)
LAURINDA: Boa noite, filho.
CHARLES: Boa noite, mãe.
LAURINDA: Tudo bem?
CHARLES: Na medida do possível, sim.
LAURINDA: Eu sei que você não gostou muito dessa
mudança repentina, mas eu garanto que você irá se adaptar.
CHARLES: Assim eu espero. Eu já estava com uma
vida estabelecida na capital, quando vocês de repente decidiram voltar para cá.
LAURINDA: Alguma lembrança de Vila Prata?
CHARLES: Nenhuma. Mas eu era criança quando
fomos morar na capital, não? Tinha uns três, quatro anos de idade na época.
LAURINDA: Na verdade, tinha cinco. Bom, mas não
se preocupe com isso, filho. Seu pai não lhe prometeu que irá montar um
escritório de advocacia aqui para você trabalhar?
CHARLES: Prometeu, mãe. Só resta saber se ele
irá cumprir a promessa.
Cena 3/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Noite
(Bonavante e Simão, em pé, frente a frente)
BONAVANTE: Obrigado por ter me acompanhado na
casa daquele maldito, Simão.
SIMÃO: Não precisa agradecer, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Eu vou me vingar daquele desgraçado. Além
de me pagar por ter matado a Madalena, ele vai me pagar também por ter armado
aquele atentado contra mim. Eu sei que tem dedo dele nessa história. Eu irei
mostrar pra ele o quanto eu posso ser perigoso.
SIMÃO: E o senhor já sabe o que fazer?
BONAVANTE: Sim. Nós iremos seqüestrar o Osório,
o braço direito do Viriato.
SIMÃO: O Osório? E fazer o quê com o Osório?
BONAVANTE: Umas coisinhas bem ruins.
(Bonavante dá um sorriso sarcástico)
Cena 4/ Mansão Bragança/ Gabinete/ Interno/
Noite
(Viriato e Osório, em pé, frente a frente)
VIRIATO: Aquele infame veio até aqui para me
ameaçar. Quem ele pensa que é para fazer uma coisa dessas, Osório?
OSÓRIO: Eu não sei, doutor Viriato.
VIRIATO: Mas ele vai me pagar por isso.
OSÓRIO: Bom, de qualquer forma, eu sinto muito
pelo fracasso do atentado. Eu deveria ter contratado matadores de aluguéis
melhores.
VIRIATO: Não tem problema, Osório. Pelo menos,
com o fracasso desse atentado, agora eu tenho a oportunidade de matar o
Bonavante com as minhas próprias mãos. Afinal, não foi pra isso que eu voltei
para Vila Prata? Pra tirar esse estorvo definitivamente da minha vida?
OSÓRIO: Foi sim senhor.
VIRIATO: O Bonavante que me aguarde. Preparei inúmeras
surpresas desagradáveis para ele.
Cena 5/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto
Liduína/ Interno/ Noite
(Vitorino e Liduína no quarto. Ele sentado na
cama e ela na frente de um espelho, provando um vestido)
LIDUÍNA: Não estou linda com esse vestido,
Vitorino?
VITORINO: Está maravilhosa, Liduína. Agora só
falta pagar pela roupa, né?
LIDUÍNA: Como assim pagar, Vitorino? O Geraldo
me deu todos esse produtos de graça, esqueceu?
VITORINO: E você acha certo isso, Liduína? Pegar
as coisas gratuitamente enquanto outras tiveram que pagar pelos produtos?
LIDUÍNA: Eu não tenho culpa se sou poderosa o
bastante para não precisar pagar os itens que eu consumo, ta? E você, como meu
irmão, não deveria me criticar.
VITORINO: Eu só acho que você deveria pegar um
terço daquele dinheiro que ganhou do papai e usar para pagar essas coisas. Afinal,
isso ajudará e muito no lucro do comércio.
LIDUÍNA: E você acha que eu seria idiota a ponto
de fazer isso, Vitorino? O Geraldo me vendeu gratuitamente e pronto. Assunto encerrado.
Eu, por exemplo, não fico te dizendo como você deve usar aquele seu dinheiro
que você ganhou do papai também.
VITORINO: O meu dinheiro está inteirinho, com a
mesma quantia que o papai me entregou naquele dia. Já você, Liduína, deveria
tomar cuidado, porque vai chegar o dia em que o papai perguntará pelo seu
salário e você não terá dinheiro pra mostrar, visto que seu emprego não é
remunerado.
(Vitorino levanta-se da cama e sai. Liduína fica
lá, pensativa)
LIDUÍNA (para si): Não precisa se preocupar
comigo, Vitorino. Eu sei muito bem como enganar o papai quanto a essa história
de salário.
Cena 6/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Quarto Soraya/
Interno/ Noite
(Soraya está dormindo. De repente, uma forte
ventania atinge a tenda, que derruba todos os objetos que nela se encontram. Soraya
acorda, assustada)
SORAYA: O que será que foi isso, meu Deus? Um furacão?
(De repente, Soraya vê na sua frente um vulto)
VULTO: A partir de hoje, você não será a mesma,
Soraya Hannah.
SORAYA: Quem é você?
(O vulto desaparece)
SORAYA: O que está acontecendo aqui? Por favor,
me proteja, Nossa Senhora das Videntes Charlatãs Desesperadas.
Cena 7/ Paisagens de Vila Prata/ Manhã
(Toca Scream My
Name – Tove Lo)
Cena 8/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/
Interno/ Manhã
ARIANA: Eu não acredito que o padrinho te
ameaçou expulsar de casa.
JOCA: Ele fez isso. Eu passei a noite inteira
acordado pensando no que ele me disse.
ARIANA: Joca, você não pode ser padre só porque
o padrinho quer que você seja.
JOCA: Ariana, eu não tenho nenhuma visibilidade
de futuro para mim. A Carlota não quer mais nada comigo. Eu não tenho lugar pra
ir, caso eu fuja. O jeito vai ser ceder às chantagens do padrinho.
ARIANA: Não vá me dizer que...
JOCA: Eu virarei padre.
Cena 9/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Manhã
(Carlota e Bonavante sentados à mesa)
CARLOTA: O senhor está bem mesmo, pai? Fiquei tão
preocupada quando a Cassilda me falou sobre o seu atentado.
BONAVANTE: Não precisa se preocupar comigo,
filha. Estou ótimo.
(Alzira bate na porta)
ALZIRA: Com licença. Doutor Bonavante, o Simão deseja
falar com o senhor.
BONAVANTE: Mande-o entrar, por favor.
(Alzira sai)
CARLOTA: Bom, eu deixarei o senhor e o Simão a
sós. Com licença.
BONAVANTE: Filha, tente tirar a Cassilda de casa
hoje. Estou notando que sua irmã está bastante enfurnada. Ela precisa sair,
respirar ares diferentes.
CARLOTA: Sim senhor.
(Carlota sai. Simão entra)
SIMÃO: Bom dia, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Bom dia, Simão.
SIMÃO: Eu descobri a identidade do rapaz que
salvou sua vida.
BONAVANTE: Ah é? E quem é ele?
SIMÃO: João Carlos Vieira, afilhado do padre
Juscelino.
Cena 10/ Mansão Sabarah/ Corredor/ Interno/
Manhã
(Carlota caminha no corredor. Cassandra a intercepta)
CARLOTA: Com licença, Cassandra. Eu quero
passar.
CASSANDRA: Não antes de conversarmos.
CARLOTA: Não temos nada para conversar. Saia da
minha frente.
CASSANDRA: Ah não? E quanto ao fato da Clarissa
não ser filha da dona Eva? Você acha que esse assunto não merece uma conversa?
(Carlota e Cassandra se encaram)
Cena 11/ Mansão Bovary/ Quarto Clarissa/
Interno/ Manhã
(Clarissa deitada na cama. Marilda entra, com
uma bandeja de café da manhã)
MARILDA: Trouxe o seu café da manhã.
(Marilda põe a bandeja em cima de um criado
mudo)
CLARISSA: Eu não quero nada.
MARILDA: Mas a senhora precisa comer, dona
Clarissa.
CLARISSA: Eu já disse que eu não quero nada. Será
que eu preciso desenhar para que você entenda isso?
MARILDA: Tudo bem.
(Marilda se prepara para sair do quarto, mas de
repente para. Ela respira fundo e vira-se para Clarissa)
MARILDA: Dona Clarissa, eu acho que precisamos
conversar.
CLARISSA: Desde quando eu tenho assuntos para
tratar com a criadagem?
MARILDA: Ah a senhora tem, sim. E principalmente
comigo.
(Marilda encara Clarissa)
Cena 12/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto
Joca/ Interno/ Manhã
(Joca sentado em sua cama. Ariana entra)
ARIANA: Joca, você tem visitas.
JOCA: Quem?
ARIANA: Eu acho melhor você ver com os seus
próprios olhos.
Cena 13/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de
estar/ Interno/ Manhã
(Joca entra e vê Bonavante sentado em uma
cadeira. Bonavante levanta-se ao ver Joca)
BONAVANTE: Bom dia, Joca.
JOCA: Bom dia.
BONAVANTE: Lembra de mim?
JOCA: Sim. O homem que eu ajudei ontem pela
manhã na estrada.
BONAVANTE: Você salvou a minha vida, Joca. E eu
só tenho a agradecer.
JOCA: Não precisa, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Então você sabe quem eu sou?
JOCA: Quem não sabe, não é mesmo?
BONAVANTE: Bom, Joca, eu não vim aqui só para te
agradecer pelo que você fez por mim. Eu quero te recompensar.
JOCA: Na verdade, não precisa, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Eu faço questão. Eu passei na igreja
antes de vir para cá e conversei com o padre Juscelino a respeito de você. Ele me
disse que está te treinando para ser o próximo padre de Vila Prata, mas que
ainda levará um tempo para você assumir a paróquia.
JOCA: É isso mesmo.
BONAVANTE: Ele me disse também que você está
desempregado. Então, eu pensei, por que não oferecer um emprego para o Joca na
minha fazenda enquanto ele não assume a paróquia?
JOCA: Um emprego na sua fazenda?
BONAVANTE: Exatamente. O que você me diz? Aceita?
(Close em Joca)
FIM DO CAPÍTULO (Toca o refrão de A Rush of
Blood to the Head – Coldplay)
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