sábado, 7 de fevereiro de 2015

Velhos Tempos - Capítulo 12


Cena 1/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
BONAVANTE: Você sempre adepto do cinismo, Viriato.
VIRIATO: Fazer o quê? O cinismo é a minha marca registrada, Bonavante.
BONAVANTE: Por que você voltou para Vila Prata? O que você está armando, seu infeliz?
VIRIATO: Nossa, como você é grosseiro. O que te faz pensar que estou armando, Bonavante?
BONAVANTE: Você sempre odiou Vila Prata e, de repente, decide voltar para cá, com mala e tudo. A capital não estava sendo suficiente para você?
VIRIATO: Eu nasci aqui, cresci aqui, vivi as minhas melhores experiências nesse lugar. Nada mais normal que eu queira voltar a passar um tempo em Vila Prata.
BONAVANTE: Conta outra, Viriato. Você até pôs essa fazenda para vender.
VIRIATO: Mas desisti quando descobri que era você que estava por trás daquele processo de compra e venda. Usando o pobre do Simão para adquirir bens, Bonavante. É assim que você costuma explorar as pessoas que trabalham contigo?
BONAVANTE: Se tem alguém conhecido por explorar as pessoas, esse alguém é você. Não só explorar, como fazer coisas bem piores do que isso, não é verdade? Como, por exemplo, armar um atentado contra mim.
VIRIATO: Eu não sei do que você está falando.
BONAVANTE: Não se faça de desentendido. Confesse que foi você quem organizou o maldito atentado contra mim hoje pela manhã.
VIRIATO: Eu não organizei atentado nenhum, mas fico muito triste em saber que a pessoa que armou isso pra cima de você falhou na sua missão.
BONAVANTE: Olha aqui, seu desgraçado, eu vou te dar um recado e espero que você o apreenda muito bem. Não se meta com a minha família, entendeu?
VIRIATO: Isso é uma declaração de guerra?
BONAVANTE: Interprete como quiser. Apenas saiba que eu posso ser muito perigoso. E no que se refere a você, Viriato, piedade é uma palavra que não faz parte do meu vocabulário.
VIRIATO: Que maravilha. Somos dois, então. Agora se sinta livre para dar meia volta e sair da minha casa.
BONAVANTE: Esteja avisado.
(Bonavante sai. Viriato o olha, furioso.)
GERTRUDE: Mais vinho tinto, doutor Viriato?
VIRIATO: Sim.
(Gertrude põe um pouco de vinho na taça segurada por Viriato, que bebe o liquido)

Cena 2/ Mansão Bragança/ Quarto Charles/ Interno/ Noite
(Charles deitado em sua cama, lendo um livro. Laurinda entra)
LAURINDA: Boa noite, filho.
CHARLES: Boa noite, mãe.
LAURINDA: Tudo bem?
CHARLES: Na medida do possível, sim.
LAURINDA: Eu sei que você não gostou muito dessa mudança repentina, mas eu garanto que você irá se adaptar.
CHARLES: Assim eu espero. Eu já estava com uma vida estabelecida na capital, quando vocês de repente decidiram voltar para cá.
LAURINDA: Alguma lembrança de Vila Prata?
CHARLES: Nenhuma. Mas eu era criança quando fomos morar na capital, não? Tinha uns três, quatro anos de idade na época.
LAURINDA: Na verdade, tinha cinco. Bom, mas não se preocupe com isso, filho. Seu pai não lhe prometeu que irá montar um escritório de advocacia aqui para você trabalhar?
CHARLES: Prometeu, mãe. Só resta saber se ele irá cumprir a promessa.

Cena 3/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Noite
(Bonavante e Simão, em pé, frente a frente)
BONAVANTE: Obrigado por ter me acompanhado na casa daquele maldito, Simão.
SIMÃO: Não precisa agradecer, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Eu vou me vingar daquele desgraçado. Além de me pagar por ter matado a Madalena, ele vai me pagar também por ter armado aquele atentado contra mim. Eu sei que tem dedo dele nessa história. Eu irei mostrar pra ele o quanto eu posso ser perigoso.
SIMÃO: E o senhor já sabe o que fazer?
BONAVANTE: Sim. Nós iremos seqüestrar o Osório, o braço direito do Viriato.
SIMÃO: O Osório? E fazer o quê com o Osório?
BONAVANTE: Umas coisinhas bem ruins.
(Bonavante dá um sorriso sarcástico)

Cena 4/ Mansão Bragança/ Gabinete/ Interno/ Noite
(Viriato e Osório, em pé, frente a frente)
VIRIATO: Aquele infame veio até aqui para me ameaçar. Quem ele pensa que é para fazer uma coisa dessas, Osório?
OSÓRIO: Eu não sei, doutor Viriato.
VIRIATO: Mas ele vai me pagar por isso.
OSÓRIO: Bom, de qualquer forma, eu sinto muito pelo fracasso do atentado. Eu deveria ter contratado matadores de aluguéis melhores.
VIRIATO: Não tem problema, Osório. Pelo menos, com o fracasso desse atentado, agora eu tenho a oportunidade de matar o Bonavante com as minhas próprias mãos. Afinal, não foi pra isso que eu voltei para Vila Prata? Pra tirar esse estorvo definitivamente da minha vida?
OSÓRIO: Foi sim senhor.
VIRIATO: O Bonavante que me aguarde. Preparei inúmeras surpresas desagradáveis para ele.

Cena 5/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Liduína/ Interno/ Noite
(Vitorino e Liduína no quarto. Ele sentado na cama e ela na frente de um espelho, provando um vestido)
LIDUÍNA: Não estou linda com esse vestido, Vitorino?
VITORINO: Está maravilhosa, Liduína. Agora só falta pagar pela roupa, né?
LIDUÍNA: Como assim pagar, Vitorino? O Geraldo me deu todos esse produtos de graça, esqueceu?
VITORINO: E você acha certo isso, Liduína? Pegar as coisas gratuitamente enquanto outras tiveram que pagar pelos produtos?
LIDUÍNA: Eu não tenho culpa se sou poderosa o bastante para não precisar pagar os itens que eu consumo, ta? E você, como meu irmão, não deveria me criticar.
VITORINO: Eu só acho que você deveria pegar um terço daquele dinheiro que ganhou do papai e usar para pagar essas coisas. Afinal, isso ajudará e muito no lucro do comércio.
LIDUÍNA: E você acha que eu seria idiota a ponto de fazer isso, Vitorino? O Geraldo me vendeu gratuitamente e pronto. Assunto encerrado. Eu, por exemplo, não fico te dizendo como você deve usar aquele seu dinheiro que você ganhou do papai também.
VITORINO: O meu dinheiro está inteirinho, com a mesma quantia que o papai me entregou naquele dia. Já você, Liduína, deveria tomar cuidado, porque vai chegar o dia em que o papai perguntará pelo seu salário e você não terá dinheiro pra mostrar, visto que seu emprego não é remunerado.
(Vitorino levanta-se da cama e sai. Liduína fica lá, pensativa)
LIDUÍNA (para si): Não precisa se preocupar comigo, Vitorino. Eu sei muito bem como enganar o papai quanto a essa história de salário.

Cena 6/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Quarto Soraya/ Interno/ Noite
(Soraya está dormindo. De repente, uma forte ventania atinge a tenda, que derruba todos os objetos que nela se encontram. Soraya acorda, assustada)
SORAYA: O que será que foi isso, meu Deus? Um furacão?
(De repente, Soraya vê na sua frente um vulto)
VULTO: A partir de hoje, você não será a mesma, Soraya Hannah.
SORAYA: Quem é você?
(O vulto desaparece)
SORAYA: O que está acontecendo aqui? Por favor, me proteja, Nossa Senhora das Videntes Charlatãs Desesperadas.

Cena 7/ Paisagens de Vila Prata/ Manhã
(Toca Scream My Name – Tove Lo)

Cena 8/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/ Interno/ Manhã
ARIANA: Eu não acredito que o padrinho te ameaçou expulsar de casa.
JOCA: Ele fez isso. Eu passei a noite inteira acordado pensando no que ele me disse.
ARIANA: Joca, você não pode ser padre só porque o padrinho quer que você seja.
JOCA: Ariana, eu não tenho nenhuma visibilidade de futuro para mim. A Carlota não quer mais nada comigo. Eu não tenho lugar pra ir, caso eu fuja. O jeito vai ser ceder às chantagens do padrinho.
ARIANA: Não vá me dizer que...
JOCA: Eu virarei padre.

Cena 9/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Manhã
(Carlota e Bonavante sentados à mesa)
CARLOTA: O senhor está bem mesmo, pai? Fiquei tão preocupada quando a Cassilda me falou sobre o seu atentado.
BONAVANTE: Não precisa se preocupar comigo, filha. Estou ótimo.
(Alzira bate na porta)
ALZIRA: Com licença. Doutor Bonavante, o Simão deseja falar com o senhor.
BONAVANTE: Mande-o entrar, por favor.
(Alzira sai)
CARLOTA: Bom, eu deixarei o senhor e o Simão a sós. Com licença.
BONAVANTE: Filha, tente tirar a Cassilda de casa hoje. Estou notando que sua irmã está bastante enfurnada. Ela precisa sair, respirar ares diferentes.
CARLOTA: Sim senhor.
(Carlota sai. Simão entra)
SIMÃO: Bom dia, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Bom dia, Simão.
SIMÃO: Eu descobri a identidade do rapaz que salvou sua vida.
BONAVANTE: Ah é? E quem é ele?
SIMÃO: João Carlos Vieira, afilhado do padre Juscelino.

Cena 10/ Mansão Sabarah/ Corredor/ Interno/ Manhã
(Carlota caminha no corredor. Cassandra a intercepta)
CARLOTA: Com licença, Cassandra. Eu quero passar.
CASSANDRA: Não antes de conversarmos.
CARLOTA: Não temos nada para conversar. Saia da minha frente.
CASSANDRA: Ah não? E quanto ao fato da Clarissa não ser filha da dona Eva? Você acha que esse assunto não merece uma conversa?
(Carlota e Cassandra se encaram)

Cena 11/ Mansão Bovary/ Quarto Clarissa/ Interno/ Manhã
(Clarissa deitada na cama. Marilda entra, com uma bandeja de café da manhã)
MARILDA: Trouxe o seu café da manhã.
(Marilda põe a bandeja em cima de um criado mudo)
CLARISSA: Eu não quero nada.
MARILDA: Mas a senhora precisa comer, dona Clarissa.
CLARISSA: Eu já disse que eu não quero nada. Será que eu preciso desenhar para que você entenda isso?
MARILDA: Tudo bem.
(Marilda se prepara para sair do quarto, mas de repente para. Ela respira fundo e vira-se para Clarissa)
MARILDA: Dona Clarissa, eu acho que precisamos conversar.
CLARISSA: Desde quando eu tenho assuntos para tratar com a criadagem?
MARILDA: Ah a senhora tem, sim. E principalmente comigo.
(Marilda encara Clarissa)

Cena 12/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/ Interno/ Manhã
(Joca sentado em sua cama. Ariana entra)
ARIANA: Joca, você tem visitas.
JOCA: Quem?
ARIANA: Eu acho melhor você ver com os seus próprios olhos.

Cena 13/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Joca entra e vê Bonavante sentado em uma cadeira. Bonavante levanta-se ao ver Joca)
BONAVANTE: Bom dia, Joca.
JOCA: Bom dia.
BONAVANTE: Lembra de mim?
JOCA: Sim. O homem que eu ajudei ontem pela manhã na estrada.
BONAVANTE: Você salvou a minha vida, Joca. E eu só tenho a agradecer.
JOCA: Não precisa, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Então você sabe quem eu sou?
JOCA: Quem não sabe, não é mesmo?
BONAVANTE: Bom, Joca, eu não vim aqui só para te agradecer pelo que você fez por mim. Eu quero te recompensar.
JOCA: Na verdade, não precisa, doutor Bonavante.
BONAVANTE: Eu faço questão. Eu passei na igreja antes de vir para cá e conversei com o padre Juscelino a respeito de você. Ele me disse que está te treinando para ser o próximo padre de Vila Prata, mas que ainda levará um tempo para você assumir a paróquia.
JOCA: É isso mesmo.
BONAVANTE: Ele me disse também que você está desempregado. Então, eu pensei, por que não oferecer um emprego para o Joca na minha fazenda enquanto ele não assume a paróquia?
JOCA: Um emprego na sua fazenda?
BONAVANTE: Exatamente. O que você me diz? Aceita?
(Close em Joca)


FIM DO CAPÍTULO (Toca o refrão de A Rush of Blood to the Head – Coldplay)
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