segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Velhos Tempos - Capítulo 13




Cena 1/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
BONAVANTE: Você aceita um emprego na minha fazenda?
JOCA: Eu não sei nem o que dizer, doutor Bonavante. Um emprego é justamente o que estou precisando no momento.
BONAVANTE: Então aceite.
JOCA: Eu aceito.
BONAVANTE: Você não imagina o quanto isso me deixa feliz, saber que estou ajudando alguém que me ajudou.
JOCA: Muito obrigado, doutor Bonavante. Muito obrigado mesmo.
(Joca e Bonavante apertam as mãos)

Cena 2/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/ Interno/ Manhã
(Joca e Ariana, sentados na cama dele, lado a lado)
ARIANA: Eu não acredito que você aceitou esse emprego. Joca, você tem noção que esse homem, o Bonavante, é pai da Carlota, não tem?
JOCA: Claro que tenho, Ariana.
ARIANA: E mesmo assim você aceita trabalhar na fazenda dele?
JOCA: Eu e a Carlota não estamos mais namorando. Eu não tenho mais que me preocupar com ela.
ARIANA: Mas vai ficar uma situação estranha entre vocês.
JOCA: Ariana, eu preciso desse emprego. Com ele, eu irei passar a me sustentar, a viver do meu próprio dinheiro, a ficar independente do padrinho, você entende?
ARIANA: E independente do padrinho, consequentemente, você terá peito para não ceder às chantagens dele e não se tornar padre. Eu entendi, Joca. Mas você vai negar que você também aceitou esse emprego para ficar perto da Carlota?
JOCA: Não nego. Eu ainda a amo, Ariana.

Cena 3/ Mansão Bovary/ Quarto Clarissa/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da cena 11 do capítulo anterior)
CLARISSA: Conversar comigo? E desde quando temos assuntos a tratar?
MARILDA: É importante.
CLARISSA: Marilda, eu não quero falar com ninguém, muito menos com você.
MARILDA: Dona Clarissa, o assunto é de extrema importância.
CLARISSA: Sabe o que é de extrema importância, Marilda? A minha vontade de ficar sozinha e você está atrapalhando isso. Suma da minha frente antes mesmo que eu faça isso.
MARILDA: Sim senhora, com licença.
(Marilda sai)

Cena 4/ Mansão Sabarah/ Corredor/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da cena 10 do capítulo anterior)
CARLOTA: Como você descobriu?
CASSANDRA: Digamos que você não é a pessoa mais discreta do mundo. Conversar com a Cassilda sobre um assunto dessa gravidade no quarto com a porta aberta? É muita estupidez, você não acha?
CARLOTA: Cassandra, você tem que me prometer que ficará de boca fechada. Isso é um assunto que só envolve a Clarissa e a família dela. Você não tem que se envolver.
CASSANDRA: Que família? A Marilda?
(Cassandra dá uma gargalhada de deboche)
CASSANDRA: Além do mais, eu não tenho que te prometer nada. Você, Carlota, que tem que me prometer que não se meterá na minha história com o Joca, ou eu conto tudo para Clarissa.
CARLOTA: Outra ameaça, Cassandra?
CASSANDRA: Interprete como quiser.
CARLOTA: Pois fique sabendo que dessa vez eu não vou abaixar a minha cabeça para as suas chantagens. E se você abrir a boca para Clarissa, eu mesma me certificarei de arrancar a sua língua.
(Carlota vai saindo, mas para alguns metros à frente)
CARLOTA: Ah, e não crie ilusões quanto ao Joca. Ele nunca vai ter nada com você, ele nunca vai te amar do jeito que ele ainda me ama. Nunca.
(Carlota sai)
CASSANDRA: Veremos, irmãzinha.

Cena 5/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Sala de consulta/ Interno/ Manhã
(Soraya arrumando o local. Liduína entra)
LIDUÍNA: Bom dia, mãe Soraya.
SORAYA: Bom dia
LIDUÍNA: Nossa, o que aconteceu aqui? Algum furacão passou por aqui?
SORAYA: Não só por aqui, como por Vila Prata inteira, né?
LIDUÍNA: A senhora só pode estar louca, porque na minha casa não passou furacão nenhum.
SORAYA: Como não? Uma forte ventania atingiu minha tenda ontem pela madrugada.
LIDUÍNA: Pois essa ventania só ganhou forma aqui, pois está tudo bem no resto da vila. Nossa, que estranho. Será que isso foi obra de alguns dos espíritos que a senhora costuma entrar em contato?
SORAYA: Impossível.
LIDUÍNA: Por que impossível?
SORAYA: Oras, porque não existe, quero dizer, porque nenhum dos espíritos que eu falo faria algo de ruim comigo. Bom, eu sinceramente não sei como explicar isso.
LIDUÍNA: Veja na sua bola de cristal.
SORAYA: Liduína, pegue esses folhetos e vá distribuí-los, por favor.
(Soraya entrega os folhetos para Liduína, que os pega e sai da tenda. De repente, Soraya sente uma tontura e um emaranhado de imagens se forma na sua mente: Liduína entregando os folhetos na rua e um carro preto se aproximando dela)
SORAYA: A Liduína será atropelada.
(Soraya sai da tenda)

Cena 6/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Marcílio/ Interno/ Manhã
(Marcílio e Dorotéia sentados na cama do rapaz)
MARCÍLIO: Eu não agüento mais o papai pegando no meu pé para que eu arrume um emprego.
DOROTÉIA: Eu já disse que você não precisa se preocupar com isso. Enquanto eu estiver viva, você não precisará trabalhar.
MARCÍLIO: Mas o papai quer que eu trabalhe e a senhora não tem coragem de peitá-lo.
DOROTÉIA: Quem disse isso, Marcílio? Para a sua informação, eu já sei como tirar essa ideia da cabeça do seu pai.

Cena 7/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Elizeu e Dorotéia/ Interno/ Manhã
(Elizeu deitado na cama. Dorotéia em pé)
ELIZEU: Uma confeitaria? Você quer montar uma confeitaria em Vila Prata?
DOROTÉIA: Exatamente.
ELIZEU: E com que dinheiro, Dorotéia?
DOROTÉIA: Com o dinheiro que eu ganho vendendo os meus bolos. Pense bem, Elizeu. Essa confeitaria será a solução para todos os nossos problemas: nós teríamos um negócio próprio, ganharíamos muito dinheiro com ela, além de que poderíamos colocar o Marcílio para trabalhar lá, debaixo do nosso nariz Com isso, nós ficaríamos sabendo de tudo o que ele anda fazendo. Não é o máximo?
ELIZEU: Você tem razão, Dorotéia, mas mesmo assim o dinheiro que você ganha da venda dos seus bolos não é suficiente para construir essa confeitaria.
DOROTÉIA: Elizeu, esse sempre foi o meu sonho. Você quer que eu desista dele?
ELIZEU: Jamais, Dorotéia. Mas esse não é o melhor momento para isso.

Cena 8/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Carlota e Cassilda/ Interno/ Manhã
(Cassilda e Carlota conversam, sentadas na cama da última)
CASSILDA: Eu não acredito que a Cassandra voltou a fazer ameaças.
CARLOTA: Qual é a surpresa? É só isso que ela sabe fazer mesmo. Eu só espero que ela não diga nada para a Clarissa. Ela não tem o direito de se meter nessa história. Bom, mas mudando de assunto, vamos sair um pouco?
CASSILDA: Ah, não estou com a mínima vontade.
CARLOTA: Vamos, por favor. Foi o próprio papai que me pediu para te tirar um pouquinho de casa. Vamos, vamos, por favor.
CASSILDA: Está certo. Vamos, então.
(Cassilda e Carlota saem)

Cena 9/ Vila Prata/ Rua/ Manhã
(Liduína está entregando os panfletos. Um carro em alta velocidade se aproxima dela. Quem está dentro do carro buzina. Liduína olha para o carro, sem reação. Ela fica apavorada ao ver o carro indo a sua direção. Nesse momento, Soraya aparece e empurra Liduína, tirando-a do caminho do carro. O carro passa.)
LIDUÍNA: Você salvou a minha vida, mãe Soraya.
SORAYA: Eu previ isso quando você saiu da tenda.
LIDUÍNA: Eu sabia que a senhora não era uma charlatã.
SORAYA: Nunca fui, minha querida.

Cena 10/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de jantar/ Interno/ Manhã
(Ariana, Joca e Juscelino almoçando)
JUSCELINO: E quando você vai começar a trabalhar na fazenda do Bonavante?
JOCA: A partir de amanhã
JUSCELINO: Fique sabendo que quando você assumir a paróquia, vai ter que largar o emprego. Fiquei muito feliz quando você se decidiu em ser padre.
JOCA: Depois daquela ameaça que o senhor me fez, que alternativa eu teria a não ser aceitar?
(Joca levanta-se)

Cena 11/ Vila Prata/ Rua/ Manhã
(Viriato e Charles na frente de um local abandonado)
CHARLES: Então será aqui o meu escritório de advocacia?
VIRIATO: Exatamente. Gostou?
CHARLES: Gostei, pai. Muito obrigado.
VIRIATO: Só precisará de umas reformas, mas coisa pequena. Em breve, você já poderá trabalhar, meu filho.
CHARLES: Assim espero. Bom, eu vou ao comércio para comprar alguma bebida. Estou morrendo de sede.
VIRIATO: Espero você aqui.
(Charles sai)

Cena 12/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Manhã
(Geraldo e Vitorino no balcão. Charles entra)
CHARLES: Bom dia.
GERALDO: Bom dia. Deseja alguma coisa?
CHARLES: Um pouco de água, por favor.
VITORINO: Pode deixar que eu pego, Geraldo.
(Vitorino sai)
GERALDO: Novo aqui?
CHARLES: Sim, cheguei ontem.
GERALDO: Está de passagem?
CHARLES: Vim morar. Estou montando um escritório de advocacia nessa rua.
GERALDO: Bom saber. Então, já tenho um advogado caso algo dê errado com o comércio.
CHARLES: Pode vir me procurar.
(Vitorino entra)
VITORINO: Aqui está sua água.
CHARLES: Obrigado. Quanto custa?
VITORINO: Três libras.
CHARLES: Aqui.
GERALDO: Muito obrigado.
CHARLES: Eu que agradeço.
(Charles vira-se e na entrada do comércio, ele esbarra com Cassilda. A água cai no chão.)
CASSILDA: Mil desculpas. Não foi a minha intenção.
CHARLES: Não se preocupe, está tudo bem. Acontece.
(Charles e Cassilda trocam olhares, um encantado pelo outro)

Cena 13/ Mansão Bovary/ Quarto Clarissa/ Interno/ Manhã
(Clarissa deitada em sua cama, chorosa. Cassandra entra)
CASSANDRA: Bom dia, Clarissa.
CLARISSA: Cassandra. Que surpresa vê-la aqui.
CASSANDRA: Eu vim prestar minha solidariedade. Eu sinto muito por tudo o que está acontecendo.
CLARISSA: Obrigada.
CASSANDRA: Me desculpe por não ter comparecido ao enterro da dona Eva. No mesmo dia, meu pai sofreu um atentado. Eu fiquei desnorteada.
CLARISSA: Imagino.
CASSANDRA: Eu sei a dor que você está sentindo. Eu me senti um caco quando perdi minha mãe. Ela ainda faz muita falta. Sempre fará.
CLARISSA: Fico agradecida pela sua empatia.
CASSANDRA: Mas não fique assim, viu? Eu imagino o tamanho do sofrimento pelo qual você está passando. Não basta ter perdido mãe, ainda ter que lidar com o fato de não ser filha biológica dela, não é mesmo?
CLARISSA: O quê?
CASSANDRA: Eu sei que você está se perguntando como eu soube de tudo isso, mas a Carlota não se conteve. Ela me falou, além de ter comentado com a Cassilda também.
CLARISSA: Mas do que você está falando, sua maluca?
CASSANDRA: Do fato de você não ser filha verdadeira da dona Eva, e sim da Marilda. A Carlota não te contou?
CLARISSA: O quê? Isso não pode ser verdade.
CASSANDRA: Pelo visto, ela não contou. Nossa, nunca poderia imaginar que a Carlota fosse esconder isso de você, Clarissa. Que espécie de amiga ela é?
(Close em Clarissa, abalada)

FIM DO CAPÍTULO (Toca o refrão de Black Beauty – Lana Del Rey)

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