terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Velhos Tempos - Capítulo 17



Cena 1/ Mansão Sabarah/ Porão/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Osório grita de dor. Bonavante distancia o brasão da bochecha de Osório)
OSÓRIO: Por favor, pare com isso. Piedade.
BONAVANTE: Piedade é algo que eu não tenho quando se refere à corja do Viriato.
OSÓRIO: Por que você está fazendo isso?
BONAVANTE: Para mostrar ao Viriato que eu posso ser a pior pessoa do mundo quando eu quero ser.
(Bonavante crava o brasão quente na outra bochecha de Osório, que grita de dor)

Cena 2/ Mansão Bovary/ Sala de jantar/ Interno/ Noite
(Cassandra e Clarissa sentadas à mesa, comendo pães)
CLARISSA: Ainda não entendi por que você veio até aqui com esses pães.
CASSANDRA: Já disse, oras. Para saber como você está.
CLARISSA: Como se você se importasse comigo, Cassandra. Eu sei muito bem o tipo de pessoa que você é.
CASSANDRA: Eu não estou entendendo.
CLARISSA: Cassandra, eu sei que você veio aqui com segundas intenções. Eu só quero saber quais intenções são essas.
CASSANDRA: Você está enganada ao meu respeito, Clarissa. Em vez de me criticar e desconfiar do meu comportamento, você deveria me agradecer por estar te oferecendo o meu ombro amigo nesse momento difícil da sua vida.
CLARISSA: Ombro amigo?
CASSANDRA: Bem se vê que a Carlota conseguiu fazer a sua cabeça contra mim. Quais mentiras ao meu respeito ela te contou? Que eu sou egoísta, sem caráter? Tem mais?
CLARISSA: Cassandra, eu só...
CASSANDRA: Eu me importo com você de verdade, Clarissa. E sabe por quê? Porque eu sei o que você está passando, o que você está passando. E a Carlota, cadê? Ela nunca veio te visitar, nunca se importou com a sua perda e com a sua dor. Ao invés disso, preferiu esconder de você a verdade sobre a sua origem.
CLARISSA: Você tem razão. Obrigada pelo apoio, de qualquer forma.
CASSANDRA: E você está muito boazinha com a Carlota. Você deveria se vingar dela pelo o que ela fez com você. Ou você acha que a Carlota não merece pagar pelo o que fez?
(Cassandra encara Clarissa)

Cena 3/ Mansão Sabarah/ Pasto/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da cena 13 do capítulo anterior)
JOCA: A Cassandra apaixonada por mim? Isso não faz sentido.
CARLOTA: Como não? Vocês se beijaram hoje mais cedo.
JOCA: Mesmo assim não faz sentido. A Cassandra, quando foi na casa do padrinho pra conversar comigo, disse que iria me ajudar a reatar com você.
CARLOTA: Ela estava mentindo. Aquela visita foi uma maneira que ela encontrou pra se aproximar de você e o que ela disse foi o jeito que ela arranjou pra ganhar sua confiança.
JOCA: Não, não. A Cassandra também me disse que foi a sua outra irmã, a Cassilda, quem te obrigou a terminar comigo.
CARLOTA: Isso é mentira, Joca. A Cassilda sempre me apoiou e me ajudou. Ela é minha confidente. Quem me ameaçou foi a Cassandra. Ela não presta, acredite em mim.
JOCA: Isso não pode ser verdade. A Cassandra não mentiria pra mim.
CARLOTA: Eu não acredito que você ainda se recusa a acreditar em mim. Quer saber? Eu lavo as minhas mãos, Joca. Eu vim aqui e te disse a verdade. Se você não acredita, o problema é seu. Boa noite.
(Carlota sai, enfurecida. Joca permanece onde estar, pensativo)

Cena 4/ Mansão Bragança/ Quarto Charles/ Interno/ Noite
(Laurinda e Charles sentados na cama do último, lado a lado)
LAURINDA: Apaixonado? Você está apaixonado, Charles?
CHARLES: Sim, mãe. Eu acho que finalmente encontrei o amor.
LAURINDA: E eu posso saber quem é a felizarda que ganhou seu coração?
CHARLES: Ainda é cedo para contar. Mas eu a convidei para sair amanhã à noite e ela aceitou.
LAURINDA: Ah filho, como é bom te ver assim.
CHARLES: Bobo?
LAURINDA: Não. Feliz, alegre, com um sorriso largo no rosto. Isso é o que toda mãe quer para um filho. Desejo o melhor para esse relacionamento, Charles. Também quero conhecer essa garota.
CHARLES: A senhora vai conhecer, mas na hora certa.
LAURINDA: E eu posso saber o que você programou para esse encontro?
CHARLES: É o seguinte...
(A conversa segue fora de áudio)

Cena 5/ Paisagens de Vila Prata/ Manhã

Cena 6/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Juscelino sentado numa cadeira de balanço. Joca passa por ele)
JUSCELINO: Indo trabalhar?
JOCA: Sim.
JUSCELINO: Antes de sair, eu preciso falar algo com você.
JOCA: Se não for demorar.
JUSCELINO: É coisa rápida. Só pra te dizer que, em breve, eu irei me aposentar.
JOCA: Como?
JUSCELINO: E claro, como eu estarei aposentado, você assumirá a paróquia em breve.
(Juscelino encara Joca)

Cena 7/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Vitorino/ Interno/ Manhã
(Marcílio entra. Ele se direciona ao guarda roupa de Vitorino e vasculha o móvel. Depois de um tempo de vasculha, Marcílio encontra um envelope e vê o que tem dentro do objeto)
MARCÍLIO: O dinheiro que o Vitorino ganhou do papai. Isso é exatamente o que eu estava procurando.
(Marcilio tira o dinheiro de Vitorino do envelope e põe no seu bolso)

Cena 8/ Mansão Sabarah/ Pasto/ Interno/ Manhã
(Joca caminha pelo pasto segurando um cavalo. Cassandra se aproxima dele, com um pedaço de bolo)
CASSANDRA: Bom dia, Joca. Trouxe um pedaço de bolo para você.
JOCA: Não quero, obrigado.
CASSANDRA: É de laranja, seu bolo preferido.
JOCA: Já disse que não quero, Cassandra. Por favor, não insista.
CASSANDRA: Aconteceu alguma coisa? Você está me parecendo impaciente.
JOCA: Cassandra, me responda uma pergunta. Você é apaixonada por mim?
CASSANDRA (surpresa): De onde você tirou isso? Se for por causa do beijo de...
JOCA: Responda, Cassandra.
CASSANDRA: Eu sinceramente não estou entendendo o porquê do seu interesse pelos meus sentimentos.
JOCA: Eu soube que você obrigou a Carlota a terminar comigo. Isso é verdade?
CASSANDRA: Agora tudo faz sentido. Foi a invejosa da Carlota que veio te envenenar contra mim, não foi?
(Pausa. Joca encarando Cassandra)
JOCA: Não precisa responder mais nada. Eu já obtive as respostas que queria.
CASSANDRA: Joca, você não pode acreditar...
JOCA: Chega, Cassandra. Eu quero trabalhar. E, por favor, fique longe de mim.
(Cassandra, surpresa e visivelmente magoada, se distancia de Joca.)

Cena 9/ Paisagens da Propriedade Sabarah/ Tarde

Cena 10/ Mansão Sabarah/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Marilda sentada em uma poltrona. Carlota desce as escadas)
CARLOTA: Marilda.
MARILDA: Boa tarde, Carlota.
CARLOTA: Confesso que estou surpresa em te ver aqui.
MARILDA: Eu não irei tomar seu tempo.
CARLOTA: Aconteceu alguma coisa com a Clarissa?
MARILDA: Ela me expulsou de casa.
CARLOTA: O quê?
MARILDA: Carlota, você precisa me ajudar a ter uma conversa com a Clarissa. Ela está me evitando de todas as formas.
CARLOTA: Marilda, o problema é que a Clarissa está furiosa comigo. Ela se chateou quando soube que eu sabia da verdade e não contei nada para ela. Mas eu te prometo que farei algo para te ajudar.
MARILDA: Certo, então.
CARLOTA: Hoje à noite, eu farei uma visita para ela.
MARILDA: Qualquer coisa, me avise, por favor.

Cena 11/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Marcílio/ Interno/ Tarde
(Marcílio e Dorotéia em pé, frente a frente. Ele entrega para ela o dinheiro que roubou de Vitorino)
MARCÍLIO: Aqui está o dinheiro que prometi arranjar para a construção da confeitaria.
DOROTÉIA: Como você conseguiu isso, Marcílio?
MARCÍLIO: Não se preocupe, porque eu não assaltei ninguém.
DOROTÉIA: Mesmo assim, é minha obrigação saber onde você arranjou esse dinheiro.
MARCÍLIO: A senhora não quer construir uma confeitaria, mãe? Então, a senhora já tem dinheiro pra isso. Eu sei que essa quantia não é metade do que a senhora precisa para montar esse estabelecimento, mas já é de uma grande ajuda. Por favor, não reclame.
DOROTÉIA: Tudo bem. Estou confiando em você, Marcílio.
(Dorotéia abraça Marcílio)

Cena 12/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Tarde
(Vitorino está no balcão. Um moço bem apessoado entra)
VITORINO: Boa tarde. Deseja alguma coisa?
NUNO: Eu gostaria de falar com o senhor Geraldo Godinho.
VITORINO: Ele não se encontra no momento. Se não me engano, a essa hora ele deve estar em casa.
NUNO: Você poderia me passar o endereço da residência dele? É importante.
(Nuno encara Vitorino)

Cena 13/ Paisagens da Propriedade Bragança/ Noite

Cena 14/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Gertrude passa pela sala com uma bandeja e a derruba ao ver Osório estirado no chão, machucado e ensangüentado. Ela solta um grito)
GERTRUDE: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
(Viriato entra e se surpreende ao ver Osório no chão, repleto de sangue e ferimentos)
VIRIATO: Osório, o que houve? O que aconteceu com você?
OSÓRIO (falando com dificuldade): Bonavante.
VIRIATO: Foi o Bonavante que fez isso com você?
OSÓRIO: Sim.
VIRIATO: Desgraçado. Gertrude, chame o Dr. Pessoa para consultar o Osório. Tenho um compromisso inadiável para resolver agora.
(Viriato sai)

Cena 15/ Vila Prata/ Casa Geraldo/ Frente/ Externo/ Noite
(Alguém bate na porta. Geraldo atende e se depara com Nuno, o mesmo rapaz que lhe procurou no comércio)
GERALDO: Pois não?
NUNO: Boa noite. Não está me reconhecendo?
GERALDO: E deveria?
NUNO: Sou eu, seu filho Nuno.
(Geraldo gela)

Cena 16/ Mansão Sabarah/ Pasto/ Interno/ Noite
(Carlota caminha pelo pasto. Joca a intercepta)
JOCA: Podemos conversar?
CARLOTA: Joca, eu estou indo para a casa da Clarissa. Você pode esperar amanhã?
JOCA: Você me perdoa, Carlota?
CARLOTA: Como?
JOCA: Eu desconfiei de você, sendo que você estava com a razão a respeito do caráter da Cassandra. Você me perdoa?

Cena 17/ Vila Prata/ Restaurante/ Interno/ Noite
(Charles e Cassilda sentados à mesa)
CHARLES: Está gostando da comida?
CASSILDA: Sim, está deliciosa.
CHARLES: Sua companhia é maravilhosa, me deixa feliz.
CASSILDA: Eu digo o mesmo.
(Charles toca na mão de Cassilda)
CHARLES: Cassilda, você gostaria de namorar comigo?
CASSILDA: Sim, Charles.
(Cassilda e Charles se beijam. Laurinda, que está do lado de fora do restaurante, vê a cena através de um vidro. Laurinda fica abalada com o que vê)

Cena 18/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Noite
(Bonavante sentado à mesa. Viriato entra. Logo atrás, entra Alzira. Bonavante levanta-se ao vê-lo)
VIRIATO: Canalha.
ALZIRA: Doutor Bonavante, eu tentei impedir, mas...
BONAVANTE: Tudo bem, Alzira. Pode ir.
(Alzira sai)
VIRIATO: Você acha que me intimidou com aqueles ferimentos jorrantes de sangue que você fez no Osório?
BONAVANTE: Vejo que recebeu meu presente.
VIRIATO: Você pensou que eu não retornaria para Vila Prata sem armas na manga?
BONAVANTE: Como?
VIRIATO: Os danos que eu irei te causa agora serão piores dos que você causou no Osório.
BONAVANTE: Veio vomitar alguma mentira em cima de mim?
VIRIATO: O que eu vou te falar é a pura verdade, Bonavante. É melhor você sentar.
BONAVANTE: Não será necessário. O que vem de você não me atinge. Vamos, Viriato.
VIRIATO: A Cassilda não é sua filha.
BONAVANTE: Que piada.
VIRIATO: É verdade, meu amigo. Você não lembra que eu tive um breve romance com a Madalena antes de ela se casar com você? Pois então. Desse romance nasceu a Cassilda.
BONAVANTE: Isso não pode ser verdade.
VIRIATO: A Cassilda é minha filha. Minha.
(Bonavante senta na sua poltrona. Viriato o encara, cínico. Close em Bonavante, surpreso)

FIM DO CAPÍTULO

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