terça-feira, 24 de março de 2015

Rainha do Mar - Capítulo 2




Cena 1/Empresa Stewart/Salão de festas/Rua/Externa/Noite

Recapitulação da última cena do capítulo anterior. Enquanto Paloma sobe as escadas para se dirigir ao palco principal, Gizela faz sinal para o amante, Bênhur, autorizar a explosão do resort.
Assim que a explosão começa, a imagem fica lenta, focando na reação dos personagens vendo aquela catástrofe.
MARIA EDUARDA – MÃE!
CARLOS ALBERTO – Pelo amor de Deus! Alguém salva a minha filha!
AFRÔGENIO – O fogo ta se espalhando por tudo, vamos embora daqui! Gizela, anda, vamos sair daqui!
Gizela fica completamente paralisada ao ver a cena da irmã sendo socorrida pelos seguranças e pensa que seu plano foi concluído com sucesso.
GIZELA – É a minha vitória! Finalmente chegou o dia de eu ser a rainha suprema! Mande lembranças pro capeta, irmãzinha.
Paloma fica desacordada, enquanto as chamas a seguem. Imediatamente um grupo de pessoas vai salvá-la, para a tristeza de Gizela, que pensava que a irmã já tinha partido dessa para uma melhor.
SEGURANÇA – Alguém ajuda aqui! A dona Paloma ta desacordada!
Os seguranças conseguem tirar Paloma do meio do incêndio, afastando os demais convidados do local da tragédia.

Cena ao som de The Ecstasy Of GoldEnnio Morricone, como fundo musical.
Corta pra próxima cena.

Cena 2/Ambulatório da empresa Stewart/Interno/Noite

Os seguranças levam Paloma para o ambulatório da empresa, com os demais convidados que também ficaram machucados com a explosão. Paloma é posta sob uma maca, ainda inconsciente. Narcizo e Aidê levam Veridiana para o mesmo ambulatório, já que a menina fraturou o tornozelo com a correria do local.
NARCIZO – Alguém por favor poderia atender a minha filha?
AIDÊ – É uma criança, gente, como que pode deixarem uma criança agonizando neste lugar imundo?
NARCIZO – Aidê, menos, por favor. Tem um monte de pessoas esperando para serem atendidas também.
AIDÊ – Pobre! Tudo pobre! Desde os tempos de outrora que sabemos muito bem que rico tem muito mais privilégio que pobre.
NARCIZO – Aidê, por favor! Olha os modos. Você sabe muito bem que o ciclo de amizades da Paloma sempre foi assim. Ela não liga pra esse tipo de coisa, diferente de certas pessoas...
VERIDIANA – Ai mamãe, vai demorar muito? A minha perna ta doendo demais!
Nesse momento passa um enfermeiro no local. Narcizo interrompe o mesmo.
NARCIZO – Por favor, vocês podem conseguir uma maca pra minha filha? Ela machucou o tornozelo nessa tragédia toda e estamos aqui há horas.
ENFERMEIRO – Meu senhor, o senhor terá que aguardar assim como todos os outros.
AIDÊ – Mas essa maca aí, hein? Passa pra cá agora, seu favelado!
Aidê começa a armar um barraco. Narcizo tenta acalmar a esposa.
NARCIZO – Calma, Aidê, calma! Desse jeito você não vai resolver nada. Por favor, você não poderia nos conceder essa maca?
ENFERMEIRO – Infelizmente não, meu senhor. Esta aqui é pra dona Paloma, a dona da empresa que está gravemente ferida.
Nesse instante Narcizo desespera-se.
NARCIZO – COMO É QUE É?! A Paloma também se feriu? E onde ela está agora? Preciso ver a minha velha amiga.
AIDÊ – Eu não acredito que você vai deixar a sua filha aqui, no meio dessa favelada toda pra ir atrás daquela pamonha!
NARCIZO – Cala a boca, Aidê! O senhor poderia me informar onde ela está?
ENFERMEIRO – Claro, só me seguir, meu senhor.
Narcizo deixa a esposa dondoca falando sozinha e segue o enfermeiro, indo ao encontro de Paloma.
AIDÊ – Você viu isso, filhinha? É isso que a gente ganha depois de anos de fidelidade.

Corta pra próxima cena.

Cena 3/Ambulatório da empresa Stewart/Corredor/Interno/Noite

A família Buarque de Cerqueira em peso no corredor do ambulatório. Narcizo chega apressado querendo saber notícias de Paloma.
NARCIZO – Boa noite! Eu queria saber notícias da Paloma. Acabei de saber que ela se feriu no meio dessa loucura.
REGINA – Por enquanto ainda não sabemos nada sobre o estado da minha irmã. Ela está lá dentro do quarto com a Gizela.
CARLOS ALBERTO – Os médicos não disseram nada por enquanto, meu filho.
NARCIZO – Vai dar tudo certo, gente. Fé que dará tudo certo.
Afrôgenio, que estava no canto do corredor, fala baixinho para si mesmo.
AFRÔGENIO – A Gizela já ta lá dentro há horas. O que será que ela ta aprontando meu Deus do céu...

Corta pra próxima cena.

Cena 4/Ambulatório da empresa Stewart/Quarto de Paloma/Interno/Noite

Gizela observa os enfermeiros colocarem Paloma na cama. Vibrando por dentro, a vilã mor faz cena, chorando a suposta perda da irmã bastarda.
GIZELA – Ela vai ficar boa, né doutores? Eu preciso da minha irmã aqui, comigo. Sem ela eu não sou nada!
A megera segue fazendo cena, dessa vez chorando abraçada ao médico, que se comove com a falsa declaração de amor da personagem.
MÉDICO – Estamos fazendo o possível, dona Gizela.
GIZELA – O possível e o impossível também, seus incompetentes! Eu quero a minha irmã sã e salva dessa terrível tragédia que aconteceu na nossa família.
MÉDICO – O seu desejo é uma ordem, dona Gizela... Mas, se a senhora me permitir, claro, é um tanto quanto estranha essa sua preocupação com a dona Paloma, não acha?
Nesse momento a personagem se aproxima mais do tal médico, desabotoando alguns botões de seu jaleco. O mesmo fica sem graça.
Seqüência da cena ao som de All About That Bass – Meghan Trainor (Instrumental.)
MÉDICO – O que a senhora está fazendo, dona?
GIZELA – Meu querido, a Paloma é minha irmã. Não de sangue, claro, mas minha irmã de criação. De coração! Eu a considero assim. O meu amor por ela é como se fosse de irmã legítima, o mesmo amor que sinto pela Regina, que é a minha irmã biológica. O mesmo amor que sinto pelo meu marido. Meus filhos. Meu pai... E até mesmo por você!
Nesse instante, Gizela usa seu poder de sedução, que não é pouco, derruba o médico sobre uma mesinha que estava localizada ao canto do quarto. O mesmo se assusta.
MÉDICO – Dona Gizela, por favor... O que a senhora pretende com tudo isso?
GIZELA – Absolutamente nada, querido. Só estou tentando mostrar para você esse amor imenso, maior que o mundo, que eu guardo aqui dentro de mim.
A vilã abre o decote de seu vestido, fazendo o médico enlouquecer. O personagem tenta se afastar de Gizela, mas é inevitável.
MÉDICO – Por favor, dona Gizela, não misture as coisas! A senhora é minha patroa... E eu só sou um... Um...
GIZELA – Um mero empregadinho da minha família?!
MÉDICO – Isso mesmo. Apenas um empregado. Nada mais que isso!
GIZELA – Mas se você quiser você pode ser muito, mas muito mais que isso. É só você querer.
Gizela, indomável, mordisca uma das orelhas do médico, que fica sem jeito.
GIZELA – Se fizer o serviço direitinho, quem sabe não ganha uma promoção aqui na empresa?
MÉDICO – Minha senhora, a sua irmã está aqui do nosso lado... Por favor!
GIZELA – Mortos não escutam, querido.
MÉDICO – Mas ela não está morta, senhora!
Nesse instante, Gizela se decepciona, encara o médico, que fica assustado.
GIZELA – O que?!
Corta pra próxima cena.

Cena 5/Mansão Buarque de Cerqueira/Cozinha/Interno/Noite

Os empregados da mansão Buarque de Cerqueira ficam eufóricos ao saberem pela TV, a tragédia que acontecerá na festa. Rosália, a fiel governanta da casa, fica perplexa ao saber do ocorrido e vai direto contar para o marido, o copeiro Bartoré.
ROSÁLIA – Bartô! Bartô! Corre aqui rápido, homem! Você não sabe a tragédia que acabou de acontecer!
BARTORÉ – O que aconteceu, mulher? Que gritaria toda é essa?
ROSÁLIA – Olha você mesmo, Bartoré, olha!
Bartoré assisti ao noticiado pela TV e também fica chocado.
BARTORÉ – Minha Nossa Senhora! Mas isso foi lá na festa que os patrões foram, é?
ROSÁLIA – Sim, homem! Essa era a tal festa de inauguração do resort que a dona Paloma construiu.
BARTORÉ – Olha, e pelo visto foram muitas vítimas, mulher!
ROSÁLIA – Minha virgem santíssima! Que dona Paloma e toda a sua família estejam bem, amém.
O casal de empregados se abraça, assustado. O pequeno Rogério, filho dos dois, observa toda a cena pela porta.

Corta pra próxima cena.

Cena 6/Ambulatório da empresa Stewart/Corredor/Interno/Noite

Narcizo continua preocupado com a velha amiga. Todos da família Buarque de Cerqueira estão aflitos, querendo saber notícias de Paloma.
CARLOS ALBERTO – Minha Nossa Senhora! E esses médicos que não dão nenhuma notícia?
EDUARDO – É assim mesmo, sogrinho. Aqui no Brasil tudo funciona assim! Atendimento só na hora que eles querem.
REGINA – Amor, eu acho melhor eu ir lá pra ver o que ta acontecendo.
EDUARDO - Melhor não, Regina, fique aqui comigo, aliás, você precisa distrair as crianças que estão lá fora brincando.
Narcizo, ouvindo a conversa do casal, se intromete.
NARCIZO – Se a senhora quiser eu posso entrar lá e tentar ver o que está acontecendo. Acredite, estou tão nervoso quanto vocês.
AFRÔGENIO - E de quem o senhor se trata?
NARCIZO – Ah, mil perdões! Desculpe-me por não me apresentar. Sou Narcizo de Moura, cirurgião plástico e amigo de infância da Paloma.
CARLOS ALBERTO – Narcizo! Ah, mas claro! Como pude me esquecer de você? Vivia lá em casa quando pequeno.
NARCIZO – Como vai, seu Carlos Alberto? Quanto tempo, não é mesmo?
REGINA – Narcizo? É você mesmo? Nossa, quanto tempo mesmo.
EDUARDO – Vocês se conhecem?
REGINA – Claro que sim, amor, Narciso era o nosso amigo de infância. Meu, da Paloma e da Gizela. Paloma e ele até tiveram um namorico de adolescência.
NARCIZO – Que quase virou casamento.
Os personagens riem. Narcizo, preocupado, se oferece para entrar no quarto de Paloma e saber o que está acontecendo.
NARCIZO – Se vocês quiserem eu posso ir até o quarto de Paloma saber o que está acontecendo.
CARLOS ALBERTO – Você faria isso por nós, meu filho? Acho que uma pessoa de boa índole e fama como o Doutor Narcizo teria mais chance.
REGINA – Qualquer notícia nos avise, Narcizo!
NARCIZO – Com toda a certeza. Volto já!

Corta pra próxima cena.

Cena 7/Ambulatório da empresa Stewart/Quarto de Paloma/Interno/Noite

Gizela fica surpresa ao ouvir da boca do médico que sua irmã continua viva.
GIZELA – Repete o que você acabou de me dizer, seu incompetente! Como assim essa bastardinha sem graça continua viva? Não pode ser!
MÉDICO – Digo e afirmo, senhora. A dona Paloma Stewart continua viva. Ela só sofreu algumas lesões e nada mais. Não passou disto!
Enfurecida com a notícia de que acabara de ouvir, sem pensar duas vezes, a megera tasca um tapa na face do pobre médico, que não entende nada.
GIZELA – INCOMPETENTE! Você e toda essa sua equipe de merda! É isso que vocês são! Todos uns merdas!
A personagem dá as costas e sai em direção a porta, quando é surpreendida por Narcizo.
NARCIZO – Algum problema, Gizela?
Gizela, sem reconher o amigo de infância, o empurra e segue andando.
GIZELA – Ah, sai da minha frente, gentinha!

Corta pra próxima cena.

Cena 8/Ambulatório da empresa Stewart/Corredor/Interno/Noite

Gizela sai apressada pelos corredores do hospital quando avista Frô, seu marido.
GIZELA – Psiu! Vem aqui! Anda!
AFRÔGENIO – Por onde você andava, sua louca? Ta todo mundo te procurando!
GIZELA – Tava com a minha irmãzinha querida, horas. Escuta, você viu o diretor desse ambulatório mequetrefe por aí?
AFRÔGENIO – Que? Eu não! O que você quer com ele, Gizela?
GIZELA – Eu vou é denunciar esse muquifo por falta de atendimento médico, isso sim!
AFRÔGENIO – E a sua irmã, como está?
GIZELA – Infelizmente ela se safou dessa. Ai, que ódio!
AFRÔGENIO – Não fala assim da sua irmã, Gizela. Falando assim até parece que você deseja a morte dela.
GIZELA – Se parece é por que eu desejo mesmo. Mas deixa eu ir, volta lá pra minha família e fala que eu fui pegar um ar. Daqui a pouco to de volta!
AFRÔGENIO – Vê se não apronta nada, hein Gizela?
Gizela sai pela porta dos fundos do ambulatório, observa se não tem ninguém, pega seu celular e faz uma ligação.
GIZELA – Aonde você ta seu merda? Vem pra cá agora que a gente precisa ter uma conversinha!
A megera desliga o celular e atira o mesmo.
GIZELA – INFERNO!!!

Corta pra próxima cena

Cena 9/Complexo do Alemão/Interno/Noite

Bênhur, apavorado com o que fez, vai até o Complexo, na sua casa, pegar uma muda de roupa. Sua esposa, Nena, estranha a atitude do marido.
BÊNHUR – Oi amor! Ta acordada ainda?
NENA – Te esperando, né Bênhur?! Isso são horas?
BÊNHUR – Ué, não ficou sabendo não? Aconteceu um incêndio lá na festa. Dona Paloma ficou ferida e tudo.
NENA – Meu Deus! E como não fiquei sabendo disso?
BÊNHUR –Talvez por que você ficou dormindo com a TV desligada, né amor? Já deve ser notícia em todos os noticiários.
Bênhur conversa com a mulher enquanto arruma uma pequena mala, colocando tudo que é roupa que vê pela frente nela.
NENA – E essa mala aí é pra que? Vai viajar?
BÊNHUR – Que viajar o que! Preciso passar a noite no hospital, vá que alguns dos patrões precise de alguma coisa, né? Beijo meu amor. Amanhã cedinho to aí!
NENA – Se cuida, marido! Qualquer coisa manda notícias!
Bênhur entra no carro, fazendo barulho com o motor e acordando a vizinhança.
NENA – Esse meu marido... Tão dedicado! Não pude arrumar marido melhor!

Corta pra próxima cena.

Cena 10/Complexo do Alemão/Interno/Noite

Madame Berthê, ainda acordada com suas meninas, reclama do barulho que vem da casa de Bênhur e Nena, seus vizinhos.
MADAME BERTHÊ – Alá a corna da Nena com o marido, meninas. Vê se pode, hein? Olha, existe mulher burra, mas essa daí entrou na fila e ganhou várias vezes o título. Meu Deus do Céu! Meu Deus do Céu!
A cafetina continua ensaiando as meninas para mais uma apresentação da boate La Conga.

Cena ao som de É no Complexo do Alemão – MC Mingau.

Cena 11/Ambulatório da empresa Stewart/Jardim/Externo/Noite

Gizela, enfurecida, espera pelo amante no jardim, nos fundos do ambulatório.
GIZELA – Cadê aquela carniça? Ah, mas se ele acha que eu vou me ferrar sozinha ele está muito enganado. Até por que ele não passa de um motorista de quinta, que sempre ficará lá em baixo, servindo gente como eu.
Nesse momento, Bênhur chega, desce do carro e para a surpresa de Gizela, aponta uma arma para a vilã.
GIZELA – Ah, finalmente a mocinha chegou!
BÊNHUR – Tu cala essa boca, vadia! Cala essa boca antes que eu estoure esses teus miolos que tu tem por cima desse cabelo de gran fina, entendeu?
GIZELA – Que isso cara, ficou maluco? O que te deu, cara? A gente ta junto nessa, ta lembrado? Nós somos parceiros, cara!
BÊNHUR – Parceiros é o cacete, madame! Eu quero o que é meu em dinheiro e quero agora, se não eu acabo com a tua raça e conto pra essa tua família de merda a vagabundinha que você é. E aí, é pegar ou largar. Você escolhe!
A vilã fica sem saída. Imagem fica lenta e congela na face de desespero de Gizela.
Encerramento ao som de Meu Rio – Maria Gadú.


Fim de capítulo
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