Cena
1/Empresa Stewart/Salão de festas/Rua/Externa/Noite
Recapitulação
da última cena do capítulo anterior. Enquanto Paloma sobe as
escadas para se dirigir ao palco principal, Gizela faz sinal para o
amante, Bênhur, autorizar a explosão do resort.
Assim
que a explosão começa, a imagem fica lenta, focando na reação dos
personagens vendo aquela catástrofe.
MARIA
EDUARDA –
MÃE!
CARLOS
ALBERTO –
Pelo amor de Deus! Alguém salva a minha filha!
AFRÔGENIO
– O fogo ta se espalhando por tudo, vamos embora daqui! Gizela,
anda, vamos sair daqui!
Gizela
fica completamente paralisada ao ver a cena da irmã sendo socorrida
pelos seguranças e pensa que seu plano foi concluído com sucesso.
GIZELA
– É a minha vitória! Finalmente chegou o dia de eu ser a rainha
suprema! Mande lembranças pro capeta, irmãzinha.
Paloma
fica desacordada, enquanto as chamas a seguem. Imediatamente um grupo
de pessoas vai salvá-la, para a tristeza de Gizela, que pensava que
a irmã já tinha partido dessa para uma melhor.
SEGURANÇA
– Alguém ajuda aqui! A dona Paloma ta desacordada!
Os
seguranças conseguem tirar Paloma do meio do incêndio, afastando os
demais convidados do local da tragédia.
Cena
ao som de The
Ecstasy Of Gold
– Ennio
Morricone,
como fundo musical.
Corta
pra próxima cena.
Cena
2/Ambulatório da empresa Stewart/Interno/Noite
Os
seguranças levam Paloma para o ambulatório da empresa, com os
demais convidados que também ficaram machucados com a explosão.
Paloma é posta sob uma maca, ainda inconsciente. Narcizo e Aidê
levam Veridiana para o mesmo ambulatório, já que a menina fraturou
o tornozelo com a correria do local.
NARCIZO
– Alguém por favor poderia atender a minha filha?
AIDÊ
– É uma criança, gente, como que pode deixarem uma criança
agonizando neste lugar imundo?
NARCIZO
– Aidê, menos, por favor. Tem um monte de pessoas esperando para
serem atendidas também.
AIDÊ
– Pobre!
Tudo pobre! Desde os tempos de outrora que sabemos muito bem que rico
tem muito mais privilégio que pobre.
NARCIZO
– Aidê, por favor! Olha os modos. Você sabe muito bem que o ciclo
de amizades da Paloma sempre foi assim. Ela não liga pra esse tipo
de coisa, diferente de certas pessoas...
VERIDIANA
– Ai mamãe, vai demorar muito? A minha perna ta doendo demais!
Nesse
momento passa um enfermeiro no local. Narcizo interrompe o mesmo.
NARCIZO
– Por
favor, vocês podem conseguir uma maca pra minha filha? Ela machucou
o tornozelo nessa tragédia toda e estamos aqui há horas.
ENFERMEIRO
– Meu senhor, o senhor terá que aguardar assim como todos os
outros.
AIDÊ
– Mas essa maca aí, hein? Passa pra cá agora, seu favelado!
Aidê
começa a armar um barraco. Narcizo tenta acalmar a esposa.
NARCIZO
– Calma,
Aidê, calma! Desse jeito você não vai resolver nada. Por favor,
você não poderia nos conceder essa maca?
ENFERMEIRO
– Infelizmente não, meu senhor. Esta aqui é pra dona Paloma, a
dona da empresa que está gravemente ferida.
Nesse
instante Narcizo desespera-se.
NARCIZO
– COMO É QUE É?! A Paloma também se feriu? E onde ela está
agora? Preciso ver a minha velha amiga.
AIDÊ
– Eu não acredito que você vai deixar a sua filha aqui, no meio
dessa favelada toda pra ir atrás daquela pamonha!
NARCIZO
– Cala a boca, Aidê! O senhor poderia me informar onde ela está?
ENFERMEIRO
– Claro,
só me seguir, meu senhor.
Narcizo
deixa a esposa dondoca falando sozinha e segue o enfermeiro, indo ao
encontro de Paloma.
AIDÊ
– Você viu isso, filhinha? É isso que a gente ganha depois de
anos de fidelidade.
Corta
pra próxima cena.
Cena
3/Ambulatório da empresa Stewart/Corredor/Interno/Noite
A
família Buarque de Cerqueira em peso no corredor do ambulatório.
Narcizo chega apressado querendo saber notícias de Paloma.
NARCIZO
– Boa noite! Eu queria saber notícias da Paloma. Acabei de saber
que ela se feriu no meio dessa loucura.
REGINA
– Por enquanto ainda não sabemos nada sobre o estado da minha
irmã. Ela está lá dentro do quarto com a Gizela.
CARLOS
ALBERTO –
Os médicos não disseram nada por enquanto, meu filho.
NARCIZO
– Vai dar tudo certo, gente. Fé que dará tudo certo.
Afrôgenio,
que estava no canto do corredor, fala baixinho para si mesmo.
AFRÔGENIO
– A Gizela
já ta lá dentro há horas. O que será que ela ta aprontando meu
Deus do céu...
Corta
pra próxima cena.
Cena 4/Ambulatório da empresa Stewart/Quarto de Paloma/Interno/Noite
Gizela
observa os enfermeiros colocarem Paloma na cama. Vibrando por dentro,
a vilã mor faz cena, chorando a suposta perda da irmã bastarda.
GIZELA
– Ela vai ficar boa, né doutores? Eu preciso da minha irmã aqui,
comigo. Sem ela eu não sou nada!
A
megera segue fazendo cena, dessa vez chorando abraçada ao médico,
que se comove com a falsa declaração de amor da personagem.
MÉDICO
– Estamos fazendo o possível, dona Gizela.
GIZELA
– O possível e o impossível também, seus incompetentes! Eu quero
a minha irmã sã e salva dessa terrível tragédia que aconteceu na
nossa família.
MÉDICO
– O seu desejo é uma ordem, dona Gizela... Mas, se a senhora me
permitir, claro, é um tanto quanto estranha essa sua preocupação
com a dona Paloma, não acha?
Nesse
momento a personagem se aproxima mais do tal médico, desabotoando
alguns botões de seu jaleco. O mesmo fica sem graça.
Seqüência
da cena ao som de All
About That Bass – Meghan Trainor (Instrumental.)
MÉDICO
– O que a senhora está fazendo, dona?
GIZELA
– Meu querido, a Paloma é minha irmã. Não de sangue, claro, mas
minha irmã de criação. De coração! Eu a considero assim. O meu
amor por ela é como se fosse de irmã legítima, o mesmo amor que
sinto pela Regina, que é a minha irmã biológica. O mesmo amor que
sinto pelo meu marido. Meus filhos. Meu pai... E até mesmo por você!
Nesse
instante, Gizela usa seu poder de sedução, que não é pouco,
derruba o médico sobre uma mesinha que estava localizada ao canto do
quarto. O mesmo se assusta.
MÉDICO
– Dona Gizela, por favor... O que a senhora pretende com tudo isso?
GIZELA
– Absolutamente nada, querido. Só estou tentando mostrar para você
esse amor imenso, maior que o mundo, que eu guardo aqui dentro de
mim.
A
vilã abre o decote de seu vestido, fazendo o médico enlouquecer. O
personagem tenta se afastar de Gizela, mas é inevitável.
MÉDICO
– Por favor, dona Gizela, não misture as coisas! A senhora é
minha patroa... E eu só sou um... Um...
GIZELA
– Um mero empregadinho da minha família?!
MÉDICO
– Isso mesmo. Apenas um empregado. Nada mais que isso!
GIZELA
– Mas se você quiser você pode ser muito, mas muito mais que
isso. É só você querer.
Gizela,
indomável, mordisca uma das orelhas do médico, que fica sem jeito.
GIZELA
– Se fizer o serviço direitinho, quem sabe não ganha uma promoção
aqui na empresa?
MÉDICO
– Minha senhora, a sua irmã está aqui do nosso lado... Por favor!
GIZELA
– Mortos
não escutam, querido.
MÉDICO
– Mas ela não está morta, senhora!
Nesse
instante, Gizela se decepciona, encara o médico, que fica assustado.
GIZELA
– O que?!
Corta
pra próxima cena.
Cena 5/Mansão Buarque de Cerqueira/Cozinha/Interno/Noite
Os
empregados da mansão Buarque de Cerqueira ficam eufóricos ao
saberem pela TV, a tragédia que acontecerá na festa. Rosália, a
fiel governanta da casa, fica perplexa ao saber do ocorrido e vai
direto contar para o marido, o copeiro Bartoré.
ROSÁLIA
– Bartô! Bartô! Corre aqui rápido, homem! Você não sabe a
tragédia que acabou de acontecer!
BARTORÉ
– O que
aconteceu, mulher? Que gritaria toda é essa?
ROSÁLIA
– Olha você mesmo, Bartoré, olha!
Bartoré
assisti ao noticiado pela TV e também fica chocado.
BARTORÉ
– Minha Nossa Senhora! Mas isso foi lá na festa que os patrões
foram, é?
ROSÁLIA
– Sim, homem! Essa era a tal festa de inauguração do resort que a
dona Paloma construiu.
BARTORÉ
– Olha, e pelo visto foram muitas vítimas, mulher!
ROSÁLIA
– Minha virgem santíssima! Que dona Paloma e toda a sua família
estejam bem, amém.
O
casal de empregados se abraça, assustado. O pequeno Rogério, filho
dos dois, observa toda a cena pela porta.
Corta
pra próxima cena.
Cena 6/Ambulatório da empresa Stewart/Corredor/Interno/Noite
Narcizo
continua preocupado com a velha amiga. Todos da família Buarque de
Cerqueira estão aflitos, querendo saber notícias de Paloma.
CARLOS
ALBERTO –
Minha Nossa Senhora! E esses médicos que não dão nenhuma notícia?
EDUARDO
– É assim
mesmo, sogrinho. Aqui no Brasil tudo funciona assim! Atendimento só
na hora que eles querem.
REGINA
– Amor, eu acho melhor eu ir lá pra ver o que ta acontecendo.
EDUARDO
- Melhor
não, Regina, fique aqui comigo, aliás, você precisa distrair as
crianças que estão lá fora brincando.
Narcizo,
ouvindo a conversa do casal, se intromete.
NARCIZO
– Se a senhora quiser eu posso entrar lá e tentar ver o que está
acontecendo. Acredite, estou tão nervoso quanto vocês.
AFRÔGENIO
- E de quem o senhor se trata?
NARCIZO
– Ah, mil perdões! Desculpe-me por não me apresentar. Sou Narcizo
de Moura, cirurgião plástico e amigo de infância da Paloma.
CARLOS
ALBERTO –
Narcizo! Ah, mas claro! Como pude me esquecer de você? Vivia lá em
casa quando pequeno.
NARCIZO
– Como
vai, seu Carlos Alberto? Quanto tempo, não é mesmo?
REGINA
– Narcizo? É você mesmo? Nossa, quanto tempo mesmo.
EDUARDO
– Vocês se conhecem?
REGINA
– Claro que sim, amor, Narciso era o nosso amigo de infância. Meu,
da Paloma e da Gizela. Paloma e ele até tiveram um namorico de
adolescência.
NARCIZO
– Que quase virou casamento.
Os
personagens riem. Narcizo, preocupado, se oferece para entrar no
quarto de Paloma e saber o que está acontecendo.
NARCIZO
– Se vocês
quiserem eu posso ir até o quarto de Paloma saber o que está
acontecendo.
CARLOS
ALBERTO –
Você faria isso por nós, meu filho? Acho que uma pessoa de boa
índole e fama como o Doutor Narcizo teria mais chance.
REGINA
– Qualquer
notícia nos avise, Narcizo!
NARCIZO
– Com toda a certeza. Volto já!
Corta
pra próxima cena.
Cena 7/Ambulatório da empresa Stewart/Quarto de Paloma/Interno/Noite
Gizela
fica surpresa ao ouvir da boca do médico que sua irmã continua
viva.
GIZELA
– Repete o que você acabou de me dizer, seu incompetente! Como
assim essa bastardinha sem graça continua viva? Não pode ser!
MÉDICO
– Digo e afirmo, senhora. A dona Paloma Stewart continua viva. Ela
só sofreu algumas lesões e nada mais. Não passou disto!
Enfurecida
com a notícia de que acabara de ouvir, sem pensar duas vezes, a
megera tasca um tapa na face do pobre médico, que não entende nada.
GIZELA
– INCOMPETENTE! Você e toda essa sua equipe de merda! É isso que
vocês são! Todos uns merdas!
A
personagem dá as costas e sai em direção a porta, quando é
surpreendida por Narcizo.
NARCIZO
– Algum
problema, Gizela?
Gizela,
sem reconher o amigo de infância, o empurra e segue andando.
GIZELA
– Ah, sai da minha frente, gentinha!
Corta
pra próxima cena.
Cena 8/Ambulatório da empresa Stewart/Corredor/Interno/Noite
Gizela
sai apressada pelos corredores do hospital quando avista Frô, seu
marido.
GIZELA
– Psiu! Vem aqui! Anda!
AFRÔGENIO
– Por onde
você andava, sua louca? Ta todo mundo te procurando!
GIZELA
– Tava com a minha irmãzinha querida, horas. Escuta, você viu o
diretor desse ambulatório mequetrefe por aí?
AFRÔGENIO
– Que? Eu não! O que você quer com ele, Gizela?
GIZELA
– Eu vou é denunciar esse muquifo por falta de atendimento médico,
isso sim!
AFRÔGENIO
– E a sua irmã, como está?
GIZELA
–
Infelizmente ela se safou dessa. Ai, que ódio!
AFRÔGENIO
– Não fala assim da sua irmã, Gizela. Falando assim até parece
que você deseja a morte dela.
GIZELA
– Se parece é por que eu desejo mesmo. Mas deixa eu ir, volta lá
pra minha família e fala que eu fui pegar um ar. Daqui a pouco to de
volta!
AFRÔGENIO
– Vê se não apronta nada, hein Gizela?
Gizela
sai pela porta dos fundos do ambulatório, observa se não tem
ninguém, pega seu celular e faz uma ligação.
GIZELA
– Aonde você ta seu merda? Vem pra cá agora que a gente precisa
ter uma conversinha!
A
megera desliga o celular e atira o mesmo.
GIZELA
– INFERNO!!!
Corta
pra próxima cena
Cena 9/Complexo do Alemão/Interno/Noite
Bênhur,
apavorado com o que fez, vai até o Complexo, na sua casa, pegar uma
muda de roupa. Sua esposa, Nena, estranha a atitude do marido.
BÊNHUR
– Oi amor! Ta acordada ainda?
NENA
– Te esperando, né Bênhur?! Isso são horas?
BÊNHUR
– Ué, não ficou sabendo não? Aconteceu um incêndio lá na
festa. Dona Paloma ficou ferida e tudo.
NENA
– Meu Deus! E como não fiquei sabendo disso?
BÊNHUR
–Talvez por que você ficou dormindo com a TV desligada, né amor?
Já deve ser notícia em todos os noticiários.
Bênhur
conversa com a mulher enquanto arruma uma pequena mala, colocando
tudo que é roupa que vê pela frente nela.
NENA
– E essa mala aí é pra que? Vai viajar?
BÊNHUR
– Que viajar o que! Preciso passar a noite no hospital, vá que
alguns dos patrões precise de alguma coisa, né? Beijo meu amor.
Amanhã cedinho to aí!
NENA
– Se cuida, marido! Qualquer coisa manda notícias!
Bênhur
entra no carro, fazendo barulho com o motor e acordando a vizinhança.
NENA
– Esse meu marido... Tão dedicado! Não pude arrumar marido
melhor!
Corta
pra próxima cena.
Cena
10/Complexo do Alemão/Interno/Noite
Madame
Berthê, ainda acordada com suas meninas, reclama do barulho que vem
da casa de Bênhur e Nena, seus vizinhos.
MADAME
BERTHÊ –
Alá a corna da Nena com o marido, meninas. Vê se pode, hein? Olha,
existe mulher burra, mas essa daí entrou na fila e ganhou várias
vezes o título. Meu Deus do Céu! Meu Deus do Céu!
A
cafetina continua ensaiando as meninas para mais uma apresentação
da boate La Conga.
Cena
ao som de É
no Complexo do Alemão – MC Mingau.
Cena
11/Ambulatório da empresa Stewart/Jardim/Externo/Noite
Gizela,
enfurecida, espera pelo amante no jardim, nos fundos do ambulatório.
GIZELA
– Cadê aquela carniça? Ah, mas se ele acha que eu vou me ferrar
sozinha ele está muito enganado. Até por que ele não passa de um
motorista de quinta, que sempre ficará lá em baixo, servindo gente
como eu.
Nesse
momento, Bênhur chega, desce do carro e para a surpresa de Gizela,
aponta uma arma para a vilã.
GIZELA
– Ah,
finalmente a mocinha chegou!
BÊNHUR
– Tu cala essa boca, vadia! Cala essa boca antes que eu estoure
esses teus miolos que tu tem por cima desse cabelo de gran fina,
entendeu?
GIZELA
– Que isso cara, ficou maluco? O que te deu, cara? A gente ta junto
nessa, ta lembrado? Nós somos parceiros, cara!
BÊNHUR
– Parceiros é o cacete, madame! Eu quero o que é meu em dinheiro
e quero agora, se não eu acabo com a tua raça e conto pra essa tua
família de merda a vagabundinha que você é. E aí, é pegar ou
largar. Você escolhe!
A
vilã fica sem saída. Imagem fica lenta e congela na face de
desespero de Gizela.
Encerramento
ao som de Meu
Rio – Maria Gadú.
Fim
de capítulo
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