quarta-feira, 25 de março de 2015

Velhos Tempos - Capítulo 36




ÚLTIMAS SEMANAS

Cena 1/ Mansão Sabarah/ Frente/ Externo/ Manhã
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
CASSANDRA (sendo algemada): Você vai me pagar por isso, Joca. Eu vou acabar com você.
(Os policiais empurram Cassandra para dentro do carro da polícia. Joca se aproxima do delegado)
JOCA: Obrigado pela ajuda, delegado Pedreira.
DELEGADO: Disponha.
JOCA: É pedir demais que o senhor avise à família da Cassandra sobre a prisão dela?
DELEGADO: De forma alguma. Irei levá-la logo para a delegacia e depois eu volto para alertar a família.
JOCA: Agradeço.
(Joca volta seu olhar para Cassandra, que o olha furiosamente através da janela do carro)

Cena 2/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da cena 14 do capítulo anterior)
DOROTÉIA: Morar aqui?
LAURINDA: Se não for incômodo, claro. É só por pouco tempo, Dorotéia.
DOROTÉIA: Confesso que você me pegou de surpresa.
LAURINDA: Eu imagino. Por favor, minha amiga. É nesse momento difícil que a gente descobre quem merece verdadeiramente a nossa amizade.
DOROTÉIA: E eu, como sua amiga, claro que não iria te deixar na rua. Você pode morar aqui sim, Laurinda. O tempo que desejar.
LAURINDA: Muito obrigada, Dorotéia, de coração.

Cena 3/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Marcílio/ Interno/ Manhã
MARCÍLIO: A Laurinda vai morar aqui com a gente?
DOROTÉIA: Exatamente. Tem coisa melhor do que isso, meu filho? Com a Laurinda sob o mesmo teto que a gente, fica mais fácil de você seduzi-la.
MARCÍLIO: Mãe, a senhora tem noção de que o que estamos fazendo com a Laurinda é golpe, não tem?
DOROTÉIA: Claro, Marcílio. Você descobriu isso só agora?
MARCÍLIO: A Laurinda é uma mulher tão educada, agradável. Não merecia ser vítima desse esquema.
DOROTÉIA: Mas o que é isso, Marcílio? Desde quando você está defendendo a integridade da Laurinda? Ela está te pagando pra isso?
MARCÍLIO: Só estou dizendo que ela não merece passar por isso, visto todo o sofrimento que ela está passando nesse momento. Esse golpe só irá prejudicá-la ainda mais.
DOROTÉIA: E daí, meu filho? Pense na confeitaria, na riqueza que iremos ganhar em cima da burrice da Laurinda.
MARCÍLIO: Chega, mãe. Esse plano está indo longe demais.
DOROTÉIA: O que está acontecendo, Marcílio? Você não quer aplicar o golpe na Laurinda, é isso? Por quê? Até ontem você não se importava se o que estamos fazendo é certo ou errado.
MARCÍLIO: Eu só estou ficando com pena dela quando tudo acontecer, mãe.
DOROTÉIA: Que pena o quê, Marcílio? Dar golpe na Laurinda não é nada diferente dos assaltos que você está acostumado a fazer nas estradas. Você fala como se estivesse apaixonado pela... Peraí. Você está apaixonado pela Laurinda, Marcílio? É por isso que você não quer dar mais prosseguimento ao golpe? Por que você está apaixonado pela Laurinda?
MARCÍLIO: É, mãe. Ponto pra senhora. Eu estou apaixonado pela Laurinda e eu não quero fazê-la sofrer.
DOROTÉIA: Não, isso não pode ser verdade. Pois trate de reprimir esse sentimento por ela, entendeu? Essa paixão pode atrapalhar nossos planos e eu não quero vê-los indo por água abaixo.
(Dorotéia sai)

Cena 4/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Sala de consultas/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da cena 13 do capítulo anterior)
LIDUÍNA: Como assim perdeu os poderes, mãe Soraya?
SORAYA: Desde ontem, eu não consigo fazer previsão de mais nada.
LIDUINA: Deve ser porque a senhora nunca fez mais contato espiritual com as entidades que lhe ajudam a prever as coisas.
SORAYA: Não, Liduína, não. Não existe essa história de fazer contato espiritual.
LIDUÍNA: Como não? Eu me lembro que a senhora dizia que reservava um dia para fazer esse...
SORAYA: Eu menti. Liduína, eu era uma charlatã. No início, eu inventava que previa algumas coisas só para garantir dinheiro no fim do dia.
LIDUÍNA: Não pode ser.
SORAYA: Até que teve uma noite em que a tenda foi atingida por uma forte ventania. Nessa mesma noite, eu vi um vulto que falou umas coisas estranhas para mim. No dia seguinte a essa noite, eu já estava realmente prevendo as coisas. Inclusive, eu previ o seu atropelamento.
LIDUÍNA: Então aquele atropelamento foi a sua primeira previsão de fato?
SORAYA: Exatamente, mas agora eu não estou conseguindo prever mais nada.
LIDUÍNA: Deve haver alguma explicação, mãe Soraya.
SORAYA: Qual, Liduína? Eu sinto muito não ter previsto nada em relação à moeda de ouro que você me trouxe.
LIDUÍNA: Eu irei ajudá-la a descobrir o que está acontecendo com os seus poderes. E fique tranqüila que eu não irei revelar a ninguém que a senhora era uma charlatã.

Cena 5/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Viriato e Osório descem as escadas. O primeiro apontando um revólver na direção do segundo)
OSÓRIO: Olha lá o que o senhor vai fazer comigo, doutor Viriato. Se o senhor apertar esse gatilho, a casa inteira ouvirá o tiro.
VIRIATO: Engano seu, Osório. Nós estamos sozinhos em casa. A Laurinda saiu, o Charles está no escritório de advocacia, a Gertrude, como você sabe, não mora mais aqui e todos os funcionários foram dispensados essa manhã. Ou seja, essa casa é o cenário perfeito para o crime perfeito.
OSÓRIO: Se alguém me encontrar morto, todos saberão que foi você o responsável pela minha morte.
VIRIATO: Ah, Osório, é só eu inventar qualquer desculpa que justifique seu desaparecimento que todos acreditarão em mim. Eu sou Viriato Bragança enquanto você não passa de um reles empregado incompetente.
OSÓRIO: Incompetente? Eu já fiz tanta coisa por você.
VIRIATO: Que coisas, hein? Você é um bosta, Osório. E eu te dei tantas chances para você se aperfeiçoar, mas você foi capaz de desperdiçar todas. Por sua culpa, a Madalena morreu naquela cocheira. Sem falar que você contratou dois matadores de aluguéis tão ineficientes quanto você para dar cabo da vida do Bonavante. Eu perdi meu tempo acreditando no seu trabalho.
OSÓRIO: Perdão, doutor Viriato. Perdão. Dessa vez, eu prometo melhorar.
VIRIATO: Acabou, Osório. Não tem mais chances para você.
OSÓRIO: Você não pode me matar assim.
VIRIATO: Calma, que vai demorar um pouquinho pra sua morte chegar. Ou você acha que eu irei sujar o chão da minha casa com o seu sangue podre? CAMINHA!
(Osório caminha em direção à porta da mansão, sob a mira do revólver segurado por Viriato)

Cena 6/ Paisagens do Rio de Janeiro/ Manhã

Cena 7/ Rio de Janeiro/ Mansão qualquer/ Frente/ Externo/ Manhã
(Sávio se aproxima da porta da mansão e toca a campainha. Marilda atende)
MARILDA: Em que posso ajudar?
SÁVIO: Marilda, não me reconhece mais?
MARILDA: Essa voz, esse rosto redondo... Sávio, é você mesmo?
SÁVIO: Sim, Marilda, sou eu.
MARILDA: Ah, meu querido, eu estava morrendo de saudades de você.
(Marilda e Sávio se abraçam)
SÁVIO: Não vai me convidar para entrar?

Cena 8/ Rio de Janeiro/ Mansão qualquer/ Sala de jantar/ Interno/ Manhã
(Sávio e Marilda sentados à mesa)
MARILDA: Estou muito feliz com a sua visita, Sávio. Como foi a sua estadia em Londres?
SÁVIO: Ótima. Ah, nossa, eu aprendi tanta coisa, Marilda. Fiquei muito chateado quando voltei para Vila Prata e descobri que você não estava mais trabalhando na mansão por ter recebido um emprego aqui na capital.
MARILDA: Foi assim que a Clarissa justificou a minha saída da mansão?
SÁVIO: Sim, por quê? Há algo de errado?
MARILDA: Não exatamente. Na verdade, eu vim trabalhar aqui achando que iria cozinhar e cuidar da casa, ou seja, fazer basicamente tudo o que eu fazia na mansão da dona Eva, mas quando eu cheguei, eu descobri que eu iria apenas cuidar de um idoso muito doente. Virei enfermeira de uma hora pra outra.
SÁVIO: Seu patrão é muito rico, hein?
MARILDA: Era. Ele faleceu há uma semana. E o mais engraçado é que ele deixou toda a fortuna dele pra mim.
SÁVIO: Uau, Marilda. Agora você é uma mulher rica, certo?
MARILDA: Certo. Costumo dizer que dormi pobre e acordei cheia do dinheiro. Agora eu posso comprar a jóia que eu quiser, viajar pra qualquer lugar do mundo...
SÁVIO: ...ganhar o reconhecimento da Clarissa.
MARILDA: Como?
SÁVIO: Agora que você está rica, é bem mais provável que a Clarissa te reconheça como mãe, não?
MARILDA: Como você sabe que eu sou a mãe biológica da Clarissa? Quem te contou, Sávio?
SÁVIO: Ah, Marilda, eu sempre soube que a Clarissa não é minha irmã. Por exemplo, eu não tenho lembranças da minha mãe grávida. E mesmo assim, nunca imaginei que a Clarissa é sua filha, apesar de eu ter lembranças de você grávida, assim como me lembro do dia em que você havia me dito que perdeu o bebê que estava esperando. Talvez foi por isso que demorei tanto para constatar que você e Clarissa são as verdadeiras mãe e filha.
MARILDA: Mesmo assim, Sávio, a Clarissa não quer ter contato comigo. Ela deixou isso bem claro na última conversa que tivemos.
SÁVIO: Ah, Marilda, isso porque você era uma mera cozinheira. Agora, você é uma mulher rica. Tenho certeza que a Clarissa vai mudar a percepção que tem sobre isso. Você sabe como ela é. Minha irmã sempre gostou de riqueza, conforto, coisas que só o dinheiro pode comprar.
MARILDA: Será, Sávio?
SÁVIO: Eu estou indo agora para Vila Prata. Você não quer ir comigo e reencontrar sua filha?
(Sávio encara Marilda)

Cena 9/ Vila Prata/ Igreja/ Interno/ Manhã
(Carlota sentada em um dos bancos. Joca entra)
JOCA: Bom dia.
CARLOTA: Olá.
JOCA: Trago boas notícias. A Cassandra foi presa.
CARLOTA: Sério? Ah que bom. Fico mais aliviada.
JOCA: Ela confessou que matou o padrinho na frente dos policiais.
CARLOTA: Mesmo sabendo que a Cassandra mereceu ir pra cadeia, eu fico triste por ela. Eu sempre soube que ela é uma moça invejosa, ordinária, causadora de intrigas, mas nunca poderia imaginar que, um dia, ela chegaria ao ponto de se tornar uma assassina.
JOCA: Vamos parar de falar da Cassandra. E quanto a você, Carlota? Você não vai poder ficar escondida nessa igreja até o fim dos tempos. Uma hora você terá que enfrentar o problema de frente.
CARLOTA: Eu sei, Joca, mas quem sabe com esse sumiço, o papai percebe que ele está cometendo um erro ao tentar me casar com o Sávio.
JOCA: Se fosse pra se casar comigo, você fugiria?
CARLOTA: Não, Joca. Não fugiria.
(Joca e Carlota se beijam)

Cena 10/ Mansão Sabarah/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
CASSILDA: A Cassandra foi presa?
DELEGADO: Exatamente.
CASSILDA: Mas por quê?
DELEGADO: Nós descobrimos que ela matou o padre Juscelino Vieira. Como o seu pai não se encontra, eu espero que você repasse o aviso para ele.
CASSILDA: Claro que eu repassarei.
DELEGADO: Com licença. Passar bem.
(O delegado sai)
CASSILDA: A Carlota está desaparecida, a Cassilda, presa. O que mais falta acontecer nessa família?

Cena 11/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Laurinda entra. Charles desce as escadas)
LAURINDA: Onde está seu pai?
CHARLES: Parece que não está em casa. Eu acabei de chegar. Onde a senhora estava?
LAURINDA: Na casa da Dorotéia pedindo abrigo.
CHARLES: A senhora ainda insiste nessa ideia de sair daqui, mãe?
LAURINDA: Insisto, Charles. Irei aproveitar a ausência do seu pai para fazer as malas e sair logo dessa casa.
CHARLES: A senhora tem certeza?
LAURINDA: Quantas vezes eu terei que dizer que tenho? Por favor, Charles, você me ajuda a arrumar as malas?
CHARLES: Ajudo, mas eu não queria que a senhora saísse de casa. Eu sentirei muitas saudades.
LAURINDA: Você poderá me visitar todos os dias na casa da Dorotéia. Mas eu preciso fazer isso, meu filho. Para o meu próprio bem.
CHARLES: Eu entendo, mãe.
LAURINDA: Então vamos me ajudar a arrumar as malas?
CHARLES: Vamos.
(Laurinda e Charles sobem as escadas)

Cena 12/ Mansão Bragança/ Pasto/ Interno/ Manhã
(Viriato caminha. Logo à frente, caminha Osório, sob a mira do revólver manejado por Viriato)
VIRIATO: Pode parar.
(Osório para de caminhar. Ele se vira para Viriato, ficando frente a frente com o vilão)
OSÓRIO: Então é aqui onde você irá me matar?
VIRIATO: Cala essa boca fedorenta.
(Viriato aperta o gatilho e atira. A bala pega no peito de Osório, que cai no chão. O sangue do rapaz se espalha. Viriato o olha, friamente. Osório respira dificilmente. Viriato dá mais um tiro, dessa vez na cabeça de Osório, que morre. Os olhos do rapaz inertes em direção ao azul do céu)

Cena 13/ Paisagens da propriedade Sabarah/ Tarde

Cena 14/ Mansão Sabarah/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Bonavante entra. Cassilda está na sala a sua espera)
CASSILDA: Algum rastro da Carlota?
BONAVANTE: Nenhum. Procuramos a região inteira e nada. Mas, mesmo assim, eu acredito que sua irmã não tenha ido tão longe.
CASSILDA: Tomara. Pai, eu não tenho boas notícias.
BONAVANTE: O que aconteceu, Cassilda?
CASSILDA: A Cassandra foi presa.
BONAVANTE: O quê?

Cena 15/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Laurinda e Charles, ambos segurando algumas malas, descem as escadas)
CHARLES: Eu irei com a senhora, viu? Faço questão de deixá-la na casa da Dorotéia.
LAURINDA: Muito obrigada, meu filho.
(Viriato entra)
VIRIATO: Mas o que é isso? Que malas são essas?
LAURINDA: Estou saindo de casa, Viriato.
VIRIATO: Como? Mas por quê?
LAURINDA: Você ainda pergunta, seu cafajeste?
VIRIATO: Eu não acredito. Laurinda, você está fazendo tempestade em copo d’água. Acabou a palhaçada, ouviu bem? Você não sai dessa casa nem por cima do meu cadáver.
(Viriato encara Laurinda)

Cena 16/ Vila Prata/ Delegacia/ Cela Cassandra/ Interno/ Tarde
(Cassandra está encostada em um canto. Seu rosto expressa visivelmente nojo do lugar. O delegado Pedreira aparece e abre a cela.)
DELEGADO: Você tem visitas.
CASSANDRA: Quem?
(Bonavante surge)
BONAVANTE: Eu.
CASSANDRA: Até que enfim, pai. O senhor já pagou a fiança? Não vejo a hora de sair desse lugar.
BONAVANTE: Eu não paguei nada e nem irei pagar.
CASSANDRA: O quê? O senhor não terá a coragem de me deixar aqui.
BONAVANTE: Você duvida?
CASSANDRA: Eu sou sua filha, caramba. Um pai decente não faz isso.
BONAVANTE: Cassandra, então é mesmo verdade? Você realmente se tornou uma assassina?
(Bonavante encara Cassandra. Close alternado no rosto dos dois. Congela em Cassandra)

FIM DO CAPÍTULO

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