Cena 1/ Mansão Sabarah/ Quarto Carlota/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
CARLOTA: Eu não vou me casar com o Sávio.
BONAVANTE: Como?
CARLOTA: É isso mesmo que o senhor ouviu, pai. Eu não vou me casar com alguém que eu não amo.
BONAVANTE: Mas, Carlota, você e o Sávio se dão tão bem. Qual é o problema?
CARLOTA: Eu sei muito bem o que o senhor está fazendo. Por que isso? Pra me afastar ainda mais do Joca? É isso?
BONAVANTE: Isso não tem nada a ver com o Joca, filha. Isso tem a ver com a sua vida, o seu futuro, a sua felicidade.
CARLOTA: Felicidade? E o senhor acha que vai me fazer feliz me casando com um homem com quem eu não quero casar?
BONAVANTE: O Sávio é uma boa pessoa, de uma ótima família.
CARLOTA: Pai, muito tempo se passou desde quando o Sávio foi estudar em Londres. Eu mudei, ele mudou. Eu não irei me casar com ele. Fim de história.
BONAVANTE: Chega. Quem dita o fim das coisas aqui sou eu e você irá se casar com o Sávio, sim, nem que pra isso você tenha que entrar arrastada na igreja. Boa noite.
(Bonavante sai. Os olhos de Carlota lacrimejam)
Cena 2/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Elizeu, Sávio e Clarissa sentados. Marcílio entra. Os três se levantam ao ver o rapaz entrar. Marcílio disfarça a surpresa ao ver Sávio e Clarissa)
MARCÍLIO: O senhor me chamou, pai?
ELIZEU: Marcílio, você conhece esse rapaz?
MARCÍLIO: Não. Por acaso, eu deveria conhecê-lo?
CLARISSA: Cínico mentiroso. Confessa que você assaltou meu irmão, seu marginal. Confessa.
MARCÍLIO: Essa garota está louca. Eu não roubei ninguém.
ELIZEU: Marcílio, fale a verdade.
MARCÍLIO: Eu estou falando, pai. O senhor não é capaz de confiar em mim?
ELIZEU: Fica difícil depois de todas as tramóias que você aprontou. Você assaltou essa garota na estrada, depois roubou o dinheiro do seu irmão e agora esse rapaz aparece dizendo que foi assaltado.
CLARISSA: Ele roubou o meu irmão, sim. Quem nasce bandido, morre bandido.
MARCÍLIO: Essa menina está delirando.
CLARISSA: Você o reconhece, Sávio? Foi ele quem te assaltou?
SÁVIO: Não sei, o assaltante estava mascarado e eu não consigo me recordar do porte físico dele. Eu quero revistar essa casa.
ELIZEU: Como?
SÁVIO: O assaltante me roubou três maletas de couro repletas de moedas de ouro. Eu quero revistar essa casa pra verificar se as minhas maletas se encontram aqui.
ELIZEU: Eu sinto muito, mas eu não vou admitir uma coisa dessas na minha casa.
SÁVIO: Como não? O senhor não quer descobrir se o seu filho me assaltou? Então por que está se opondo ao revistamento?
ELIZEU: Porque essa é a minha casa e não é qualquer um que pode vir cantar de galo. Eu lhe garanto que se eu encontrar alguma maleta cheia de moedas de ouro, eu dou um jeito de entrar em contato com você para lhe devolver tudo.
SÁVIO: E por que eu deveria confiar no senhor? Afinal, filho de peixe, peixinho é. Não é assim o ditado?
CLARISSA: Sávio, o pai desse marginal é honesto. Confia em mim. Quando eu fui assaltada, ele fez questão de devolver todo o meu dinheiro roubado pelo filho dele.
SÁVIO: Eu quero as minhas maletas, ouviu bem? Eu quero as minhas maletas.
(Sávio sai. Clarissa o acompanha. Elizeu encara Marcílio)
Cena 3/ Paisagens de Vila Prata/ Manhã
Cena 4/ Vila Prata/ Motel/ Suíte/ Interno/ Manhã
(Viriato e Gertrude, nus, deitados na cama, abraçados)
VIRIATO: Estou cheio de problemas, Gertrude. Só essas manhãs de amor com você para me fazer esquecê-los por instantes.
GERTRUDE: Fico lisonjeada.
VIRIATO: Se já não bastasse esses problemas advindos da paternidade da Cassilda, ainda tenho que lidar com as ameaças do Osório.
GERTRUDE: Ameaças?
VIRIATO: Eu quero tirar o Osório da minha vida, mas ele teima em ficar sob o meu domínio. Mas eu já sei o que fazer para mudar essa situação, Gertrude. Eu vou eliminar o Osório definitivamente. Eu irei fazê-lo desaparecer do mapa.
(Viriato encara Gertrude)
Cena 5/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Laurinda sentada em uma cadeira, pensativa. Charles desce a escada)
CHARLES: Bom dia, mãe.
LAURINDA: Bom dia, Charles. Vai sair?
CHARLES: Irei ao escritório de advocacia. Só assim, quem sabe, eu esqueço a Cassilda um pouco.
LAURINDA: Eu sinto muito por tudo o que está acontecendo, meu filho, mas eu te prometo que reverterei essa situação.
CHARLES: Como mãe? Essa situação, infelizmente, não dá para ser invertida.
LAURINDA: Você viu a Gertrude por aí?
CHARLES: Não. Eu estou procurando pelo papai. Preciso do carro dele para ir ao escritório.
LAURINDA: Seu pai saiu cedo, assim como ontem.
CHARLES: Ontem a Gertrude também não passou a manhã fora?
LAURINDA: Sim. E, pelo visto, hoje ela está fazendo o mesmo.
CHARLES: Estranho. Na hora que o papai está fora de casa, a Gertrude também está. Isso está ocorrendo hoje, ocorreu ontem.
LAURINDA: O que você está insinuando, Charles?
CHARLES: Estou dizendo para a senhora prestar mais atenção nesses dois. Papai e Gertrude sempre ficam de cochichos pelos cantos, além de que aquele flagra que a senhora deu nele no quarto da Gertrude nunca saiu da minha cabeça. Papai não teria motivos para estar no quarto da governanta.
LAURINDA: Você acha que eles estão...
CHARLES: Mãe, papai, por um bom tempo, não dormiu no seu quarto, ao seu lado. Obviamente, ele estava dormindo na cama de outra, ao lado de outra. Isso é um comportamento que ele adquiriu antes mesmo de nos mudarmos para cá. Pra isso estar acontecendo, a senhora sempre desconfiou que a amante do papai pudesse estar por perto. Quer suspeita melhor do que a Gertrude, que se enquadra em todas as suas desconfianças?
LAURINDA: Não, Charles, a Gertrude é a governanta dessa casa. Ela tem um nome e uma reputação a zelar. Além do mais, ela é minha amiga, confidente.
CHARLES: Será? Eu não colocaria a minha mão no fogo pela Gertrude.
(Charles encara Laurinda)
Cena 6/ Estrada/ Floresta/ Cabana/ Interno/ Manhã
(Dorotéia e Marcílio entram. Marcílio tira um pedaço de madeira do chão, pega as maletas de Sávio que ele roubou e as mostra para Dorotéia)
MARCÍLIO: Aqui estão as maletas, mãe.
DOROTÉIA (abrindo as maletas): Quanta moeda de ouro, meu filho. Tudo isso vale mais do que a vida de todos que moram em Vila Prata.
MARCÍLIO: Essa riqueza é suficiente para montarmos a confeitaria, e ainda sobra.
DOROTÉIA: Nós estamos ricos, meu filho. RICOS!
Cena 7/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Sala de consulta/ Interno/ Manhã
SORAYA: Aqui está o seu salário, Maria Rapariga.
LIDUÍNA: Ah eu nem acredito. Meu primeiro salário.
SORAYA: Você me ajudou bastante durante esse período e com o aumento das consultas ficou viável te pagar um salário.
LIDUÍNA: Eu sei, eu sei. Mas agora eu quero me consultar com a senhora, mãe Soraya.
SORAYA: Mas vai ter que pagar.
LIDUÍNA: Eu quero um desconto, né?
SORAYA: 5%
LIDUÍNA: Tudo bem, eu aceito, mas me consulte agora.
(Soraya pega na mão de Liduína e sente uma vibração)
SORAYA: Moedas, riqueza, fortuna.
LIDUÍNA: Como?
SORAYA: Rica, você está rica, sua família está rica.
LIDUÍNA: A senhora está falando sério, mãe Soraya? Isso não é golpe não, né?
SORAYA: Você está rica, Maria Rapariga. Rica.
(Soraya encara Liduína)
Cena 8/ Vila Prata/ Rua/ Manhã
(Cassandra caminha pela rua. Ao longe, Ariana a vê e se aproxima dela)
ARIANA: Sua desgraçada.
CASSANDRA: Está falando comigo?
ARIANA: Por acaso tem alguma outra desgraçada na rua além de você?
CASSANDRA: Posso saber o motivo dessa agressão gratuita?
ARIANA: Você ainda pergunta, sua cínica? Como você teve coragem de se aproveitar da fragilidade do Joca para estuprá-lo?
CASSANDRA: Estuprá-lo? Eu não sei do que você está falando. Eu não estuprei ninguém.
ARIANA: Não se faça de desentendida, Cassandra. Eu te pedi ajuda com a melhor das intenções para ajudar o Joca a se livrar da bebedeira e você aproveitou que ele estava bêbado para levá-lo para a cama.
CASSANDRA: Eu não levei ninguém para cama. Ariana, minha querida, seu irmão estava bastante consciente das coisas que fez comigo.
ARIANA: Ordinária mentirosa.
CASSANDRA: Por que você está tão irritada, meio metro? Você deveria me agradecer de joelhos porque, graças àquela noite, o Joca se afastou das bebidas de tanta preocupação que ele ficou sem saber se transou mesmo comigo ou não. Afinal, não era isso que você queria?
(Ariana dá um tapa em Cassandra)
ARIANA: Desgraçada, você vai me pagar por isso. Assassina. Eu vou te colocar na cadeia, Cassandra. Você vai pagar por ter estuprado meu irmão e matado meu padrinho.
CASSANDRA: Você está louca? Eu não matei ninguém.
ARIANA: Não adianta negar. Eu sei da verdade e eu vou acabar com a tua raça. Eu vou te colocar numa cela de prisão e você vai pagar por tudo isso, sua cobra ordinária, sua assassina.
(Ariana sai. Close em Cassandra, surpresa e desesperada)
Cena 9/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Alguém bate na porta. Elizeu atende)
ELIZEU: Olá, bom dia.
LAURINDA: Olá. A Dorotéia se encontra?
ELIZEU: Não, ela saiu com o meu filho. Mas já faz um tempinho. Se você quiser esperar.
LAURINDA: Eu espero sim. Eu preciso falar com ela urgentemente.
(Laurinda entra. Elizeu fecha a porta)
ELIZEU: Sente-se, por favor. Fique a vontade.
(Laurinda senta-se no sofá)
ELIZEU: Deseja alguma coisa? Um suco, um chá?
LAURINDA: Um suco, por favor.
ELIZEU: Algum sabor em especial?
LAURINDA: Acerola.
ELIZEU: Um instante.
(Elizeu sai. Tempo. Laurinda sentada, esperando. De repente, Dorotéia e Marcílio entram)
LAURINDA: Dorotéia
DOROTÉIA: Laurinda, que surpresa em vê-la aqui.
LAURINDA: Eu estou precisando falar com... (olha para Marcílio): Você. Eu conheço você. Por acaso, você não era aquele cara que quis me pagar um drinque um dia?
MARCÍLIO: Sim, sou eu.
LAURINDA: Eu não sabia que vocês eram mãe e filho. Como o mundo é pequeno, não?
(Laurinda encara Dorotéia e Marcílio)
Cena 10/ Mansão Bovary/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Clarissa sentada em uma cadeira de balanço, tomando um iogurte. Sávio passa por ela, todo arrumado)
CLARISSA: Vai sair?
SÁVIO: Sim. Tenho uns compromissos urgentes para resolver.
CLARISSA: Sávio, um minuto, por favor. Eu não sabia que você tinha maletas repletas de moedas de ouro.
SÁVIO: Consegui em Londres.
CLARISSA: Como?
SÁVIO: Estudando, oras. A educação inglesa não é essa merda que temos aqui.
CLARISSA: E eu posso saber o que você pretendia fazer com essas moedas?
(Tempo. Clarissa encarando Sávio. Ele sem saber o que responder)
SÁVIO: Organizar meu casamento com a Carlota.
CLARISSA (visivelmente chocada): Casamento com a Carlota? Como assim?
SÁVIO: Clarissa, eu não estou com tempo pra te explicar isso. Depois nós conversamos com mais calma, certo?
(Sávio sai)
Cena 11/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da cena 09 deste capítulo)
MARCÍLIO: Eu também não sabia que você era amiga da minha mãe.
DOROTÉIA: Filho, a Laurinda não é exatamente minha...
LAURINDA: Dorotéia, por incrível que pareça, você é a única pessoa que está me dando respostas para os problemas que estou passando nesse momento. Nesse caso, eu te considero mais do que uma amiga para mim.
DOROTÉIA: Eu fico lisonjeada, Laurinda.
LAURINDA: Dorotéia, eu preciso falar com você. Quando você foi à minha casa, você disse que tinha visto o meu marido com uma mulher na estrada.
DOROTÉIA: Sim. A mulher é a sua governanta, a Gertrude. Eles estavam juntos, no mesmo carro.
LAURINDA: Você viu algo a mais do que isso?
DOROTÉIA: Você quer que eu seja franca?
LAURINDA: Claro, Dorotéia.
DOROTÉIA: Eu vi o seu marido e a sua governanta saindo de um motel.
LAURINDA: O quê? Não pode ser verdade.
DOROTÉIA: Foi o que eu vi, Laurinda. Mas isso pode não significar nada demais.
LAURINDA: Obrigada, Dorotéia, obrigada. Eu preciso ir pra casa.
DOROTÉIA: Se você quiser, o Marcílio pode te acompanhar, não é, Marcílio?
MARCÍLIO: Claro.
LAURINDA: Se não for incômodo, eu aceito.
MARCÍLIO: Não será incômodo nenhum.
(Marcílio e Laurinda trocam olhares)
Cena 12/ Vila Prata/ Restaurante/ Interno/ Manhã
(Nuno está sentado à mesa. Sávio entra, se aproxima dele e se senta à mesa)
NUNO: Bom dia.
SÁVIO: E então, o que vai ser? Você vai me ajudar a boicotar a Clarissa?
NUNO: Antes de te dar a minha resposta definitiva, eu quero saber por que você quer boicotar a Clarissa.
SÁVIO: Como?
NUNO: Eu só aceito te ajudar nessa missão se você me explicar qual é o seu problema com a Clarissa, por que você quer prejudicá-la no recebimento da herança. E então? Vai me explicar?
(Nuno encara Sávio)
Cena 13/ Mansão Bovary/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Alguém bate na porta. Clarissa atende e se surpreende ao ver Cassandra lhe apontando uma faca)
CLARISSA: Cassandra, o que é isso?
CASSANDRA: Uma faca. Nunca viu?
CLARISSA: Por que você está apontando essa faca pra mim?
CASSANDRA: Pra acabar com a tua vida, sua traíra. Como você ousou contar para Ariana que eu matei o padrinho dela?
CLARISSA: Mas eu não fiz isso, eu juro.
CASSANDRA: Vai mentir na minha cara? Confessa, Clarissa. Confessa que você deu com a língua nos dentes para a Ariana antes que eu enfie essa faca no meio do teu peito. CONFESSA!
(Congela em Clarissa, apavorada)
FIM DO CAPÍTULO









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