Cena 1/ Rua/ Dia
LUANA: Tiago me desculpe. Ai, como eu me envergonho disso.
TIAGO: Eu poderia aceitar as suas desculpas, caso você me conte o porquê dessa mentira.
LUANA: A verdade é que eu pedi que você me liberasse ontem para apresentar a cidade para o meu primo. Como eu te falei, ele é novo aqui e, até ontem, não conhecia nada sobre Dourados.
TIAGO: E você acha que eu não ia te liberar caso você me contasse a verdade?
LUANA: Eu fiquei receosa, afinal sua mãe não gosta de mim.
TIAGO: Eu não sou a minha mãe, Luana. Eu iria te liberar sim, caso você me dissesse a verdade desde o início. Eu espero que isso não volte a se repetir. Eu não suporto mentiras.
LUANA: Sim senhor e desculpa mais uma vez.
TIAGO: Não precisa mais pedir desculpas. Elas estão aceitas.
LUANA: Bom, irei voltar ao trabalho. Com licença.
(Luana sai)
Cena 2/ Hospital/ Interno/ Dia
(Vitor entra e se aproxima de Amanda)
VITOR: Tia Amanda, como a minha mãe está?
AMANDA: Vitor? Não era para você estar na escola?
VITOR: Tia, a senhora acha mesmo que eu ia conseguir prestar atenção na aula depois de descobrir que minha mãe rolou escada abaixo? Como ela está?
AMANDA: Vitor, a Vera não está nada bem. O médico já veio até mim e me disse o que ela tem.
VITOR: Então fala. O que a minha mãe tem?
AMANDA: A Vera está com depressão, Vitor. Uma depressão de estágio bem avançado.
Cena 3/ Casa de Raimunda/ Sala/ Interno/ Dia
(Alguém bate na porta e Raimunda atende)
RAIMUNDA: Lucrécio.
LUCRÉCIO: Bom dia. Resolvi passar aqui antes de ir para o cais. Você está bem?
RAIMUNDA: Estou ótima.
LUCRÉCIO: O primo da Luana está aí?
RAIMUNDA: Não. Ele saiu e até agora não voltou. Deve estar passeando pela cidade.
LUCRÉCIO: Confesso que fiquei feliz por isso.
RAIMUNDA: Ah é? E por quê?
LUCRÉCIO: Porque teremos a sua casa somente para nós dois. Ou seja, poderemos conversar em paz, sem sofrer interrupções.
RAIMUNDA: Você é impagável, Lucrécio.
LUCRÉCIO: E você é bastante encantadora, Raimunda.
RAIMUNDA: Bom, deseja alguma coisa para beber? Eu acabei de preparar um café que está supimpa.
LUCRÉCIO: Não fuja de mim, Raimunda.
RAIMUNDA: Não estou fugindo de ninguém.
LUCRÉCIO: Melhor assim, porque eu resolvi passar na sua casa por um motivo especial, algo que eu pude perceber durante o nosso jantar de ontem a noite.
RAIMUNDA: Algum problema?
LUCRÉCIO: Não. Pelo contrário, foi uma coisa muito boa, Raimunda. É amor. Eu pude perceber amor.
RAIMUNDA: Amor?
Cena 4/ Pista/ Carro de Celso/ Interno/ Dia
CELSO: Quer ouvir alguma música?
LARA: Não. Estou bem assim.
CELSO: Ansiosa?
LARA: Para chegar a Dourados?
CELSO: Sim.
LARA: Estou muito ansiosa. Criei muitas expectativas para essa viagem. Espero que, no fim das contas, todas elas sejam correspondidas.
CELSO: E serão. Basta confiar.
(O casal ouve um barulho enorme no carro e ele para)
LARA: O que foi isso?
CELSO: Acho que foi algo no carro. O pneu, talvez.
LARA: Como assim, Celso? Você não revisou esse carro antes de sairmos para viajar?
CELSO: Revisei. Mas deve ter saído alguma coisa de errado. Algo imprevisível. Vou ver o que é.
(Celso sai do carro. Passam-se uns minutos e Lara sai.)
LARA: E então? Descobriu o problema?
CELSO: Sim. O pneu furou.
Cena 5/ Hospital/ Quarto de Vera/ Interno/ Dia
(Vera está deitada e consciente. Vitor entra)
VITOR: Mãe?
VERA: Oi filho.
VITOR: Tudo bem?
VERA: Na medida do possível, acho que sim.
VITOR: A senhora já sabe o que tem?
VERA: Sim. O médico fez questão de me avisar.
VITOR: Ele também falou que foram aqueles remédios controlados que agravaram ainda mais a sua situação?
VERA: Disse também.
VITOR: A senhora entende agora o porquê de eu ter escondido aqueles remédios da senhora? Porque eu sabia que no final de tudo era aquilo que estava te fazendo mal, mãe.
VERA: Obrigada, filho. Obrigada por me ajudar.
VITOR: Eu sempre irei ajudar a senhora, mãe. Sempre.
(Vitor abraça Vera)
Cena 6/ Hospital/ Consultório do médico/ Interno/ Dia
AMANDA: E como será o tratamento dela, doutor?
MÉDICO: Eu receitei alguns remédios controlados para ela usar. Esses sim são compatíveis ao problema que ela está enfrentando e eu recomendo que você marque algumas sessões de terapia e uma consulta no neurologista para avaliar essa tremedeira que ela disse sentir.
AMANDA: Ok. É isso mesmo que eu irei fazer.
Cena 7/ Mansão Bertolin/ Quarto de Vera/ Interno/ Dia
(Vivian abre a porta e entra)
VIVIAN: Com licença, dona Marta.
MARTA: Veio fazer o quê aqui no meu quarto, hein? Espero que seja algo importante.
VIVIAN: É importante sim, dona Marta. Descobri mais algumas informações sobre a Luana, inclusive quem é a tal visita que a tia dela recebeu ontem.
MARTA: Então desembucha.
VIVIAN: O nome da tal visita é Solano, um primo da Luana.
MARTA: Solano? Se eu não me engano, não era esse tal de Solano com quem a Luana estava falando pelo telefone quando você escutou a conversa dela no depósito?
VIVIAN: É esse sim.
MARTA: Ótimo. Eu vou querer falar com esse Solano.
VIVIAN: Bom, ele está morando na casa da dona Raimunda, a tia da Luana.
Cena 8/ Casa de Raimunda/ Sala/ Interno/ Dia
RAIMUNDA: Amor? Não estou entendendo nada, Lucrécio.
LUCRÉCIO: Eu te amo, Raimunda.
RAIMUNDA: Ama? Agora você me pegou de surpresa.
LUCRÉCIO: Eu te observei ontem no nosso jantar. Eu percebi o quanto estou apaixonado por você, Raimunda. Para falar a verdade, sempre estive.
RAIMUNDA: Lucrécio, eu não sei nem o que dizer.
LUCRÉCIO: Me dá uma chance e deixa eu te fazer feliz. É só isso que eu te peço. Vamos dar uma chance para nós dois.
(Lucrécio beija Raimunda)
Cena 9/Mansão Bertolin/ Sala de estar/ Interno/ Dia
(Amanda entra. Tiago a recebe)
TIAGO: Meu amor. Que bom que você veio.
(Tiago beija Amanda)
AMANDA: Estou passando por uma barra, Tiago.
TIAGO: O que aconteceu?
AMANDA: A Vera está com depressão. A essa hora, ela está internada no hospital. Para falar a verdade, só passei aqui para dizer um “oi”. Ainda tenho que comprar os remédios que o médico receitou.
TIAGO: Você quer que eu te acompanhe até a farmácia e, depois, até o hospital?
AMANDA: Não precisa.
TIAGO: Mas precisando de qualquer coisa pode contar comigo.
(Tiago beija Amanda novamente. Alexandre desce a escada, vê a cena, se aproxima do casal e interrompe o beijo)
ALEXANDRE: Bom dia ao casal mais badalado de Dourados.
AMANDA: Bom dia, Alexandre. Bom, vou ter que ir agora.
(Marta entra)
MARTA: Amanda? Já está indo embora e nem vai se despedir de mim?
AMANDA: Desculpe, dona Marta. Mas eu ando muito atordoada ultimamente.
MARTA: Problemas com o casamento?
AMANDA: Não. A minha irmã está internada no hospital. Ela foi diagnosticada com depressão.
MARTA: Nossa, que horror. Bom, mas isso não importa.
TIAGO: Como não importa? A senhora está louca, mãe?
MARTA: Meu filho, eu vou fazer o quê? Não sou mágica para curar a Vera de uma hora para outra. Bom, Amanda eu quero que você almoce conosco.
AMANDA: Eu agradeço o convite, dona Marta, mas eu prefiro almoçar com a minha irmã no hospital.
MARTA: Ah não. Comida de hospital é uma truculência. A doente é a Vera, não você. Você não precisa se alimentar daquela lavagem. E eu também não aceito desfeita. Pode ir para a sala de jantar que a protegida do Tiago já vai servir a comida. Você só sai dessa casa alimentada, minha nora.
(Marta dá um sorriso e sobe a escada)
TIAGO: Desculpa o comportamento da minha mãe, meu amor. Se você quiser aproveitar essa oportunidade, vai para o hospital ficar com a sua irmã antes que minha mãe volte.
AMANDA: Não. Eu vou almoçar com vocês. Não precisa se preocupar.
Cena 10/ Escola/ Refeitório/ Interno/ Dia
(Luiza está sentada sozinha. Cíntia se aproxima)
CÍNTIA: Que milagre te ver sozinha. Agora que você arranjou um amigo novo, parece que não quer mais falar comigo.
LUIZA: Cíntia, amiga, me desculpe. Você também se afastou de mim, que eu cheguei a pensar que não queria ser mais a minha amiga.
CÍNTIA: Isso nunca. Você soube o que aconteceu com a mãe do Vitor?
LUIZA: A Vera? Não soube de nada.
CINTIA: Ela caiu da escada.
LUIZA: Meu Deus.
CÍNTIA: Ela está internada no hospital da cidade e o Vitor está com ela.
LUIZA: O Vitor. Ele sempre foi tão carinhoso com a mãe.
CÍNTIA: E com você também. Ainda não consegui entender os motivos dessa briga repentina de vocês.
LUIZA: O machismo do Vitor sempre me sufocou. Chegou uma hora que eu não agüentei mais e depois daquela falta de sentimentalismo que ele teve comigo na noite que eu desisti de transar com ele, as coisas só fizeram piorar.
CÍNTIA: Eu entendo. Mas isso é normal em um relacionamento, Luiza. Procure conversar com o Vitor. Quem sabe, vocês não conseguem se entender e voltam a namorar?
Cena 11/ Cais/ Interno/ Dia
(Caio passeia pelo cais e vê Lucrécio)
CAIO: Lucrécio. Lucrécio.
LUCRÉCIO: Caio. Que bom te ver.
CAIO: Digo o mesmo. Não sabia que tinha voltado de viagem.
LUCRÉCIO: Voltei anteontem. Cheguei até a me encontrar casualmente com o Tiago. Pensei que ele tinha comentado isso com você.
CAIO: O Tiago não falou nada comigo.
Cena 12/ Mansão Bertolin/ Cozinha/ Interno/ Dia
(Luana está preparando um suco no liquidificador. O suco fica pronto. Ela despeja parte da bebida em um copo. Alexandre entra sem fazer barulho e observa a cozinheira. Luana saca um frasco do seu bolso e despeja todo o veneno do frasco no copo que contém parte do suco. Alexandre observa a cena e sai. Luana ajeita o copo em uma bandeja e sai)
Cena 13/ Mansão Bertolin/ Sala de jantar/ Interno/ Dia
(Amanda está sentada em uma das cadeiras que rodeia a mesa. É a única personagem que está na sala. Alexandre entra e senta ao lado dela)
ALEXANDRE: Eu preciso falar com você.
AMANDA: Alexandre, eu quero que você fique bem longe de mim, por favor. Eu não tenho nada para falar com você.
ALEXANDRE: É importante.
AMANDA: Chega. Por favor, chega.
(Luana entra, segurando a bandeja que contem o copo de suco envenenado)
LUANA (pondo a bandeja na mesa, segurando o copo e entregando para Amanda): Com licença. Dona Amanda, aqui está o suco de maracujá que a senhora pediu para eu fazer.
AMANDA (segurando o copo de suco): Obrigada, Luana.
LUANA: Eu fiz do jeitinho que a senhora gosta.
(Alexandre olha fixamente para o suco, que está segurado por Amanda. O telefone de Luana toca e ela se afasta. Luana, de costas para Alexandre e Amanda, atende o telefone)
LUANA: Alô. Solano? Eu te pedi para não me ligar durante o meu serviço.
...
LUANA: O plano? Está tudo pronto. Só falta a Amanda cair na armadilha.
(Luana, de forma delicada, olha para trás e vê Amanda se afastando de Alexandre, continuando a segurar o copo de suco envenenado e ainda cheio na mão, sem ainda ter bebido nada. Luana, delicadamente, dá um sorriso maléfico e vencedor.)
(Congela em Luana, com o sorriso maléfico e vencedor no rosto. Toca Baiya – Delphic)
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