terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Velhos Tempos - Capítulo 10


Cena 1/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassilda, Cassandra e Carlota/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
CASSANDRA: Covarde. É essa a sua vingancinha? Me dar uma surra?
CARLOTA: É o que você merece.
(Carlota sobe em cima de Cassandra e começa a lhe estapeá-la. Bofetes atrás de bofetes. O nariz de Cassandra começa a sangrar. O canto da boca dela também. Bonavante entra e tira Carlota de cima de Cassandra.)
BONAVANTE: Vocês estão loucas? Alguma das duas pode me explicar o que é isso?
CASSANDRA (levantando-se com dificuldade, a mão na bochecha): Sua filha predileta acabou de se mostrar uma selvagem.
CARLOTA: Não foi nada demais, pai. Só fiz a Carlota pagar por ter me insultado.
BONAVANTE: Não quero mais ver brigas entre vocês duas. (para Carlota): Você está bem, filha?
CARLOTA: Estou sim, pai. Pode ficar tranqüilo.
CASSANDRA: Eu também sou sua filha. Não vai me perguntar se estou bem?
BONAVANTE: Vá limpar esse rosto.
(Bonavante sai)

Cena 2/ Paisagens da fazenda Sabarah/ Manhã
(Toca o refrão de The Funeral – Band of Horses)

Cena 3/ Mansão Sabarah/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Bonavante e Alzira em pé, frente a frente)
BONAVANTE: Caso alguém venha me procurar, diga que eu saí com o Plínio Sampaio.
ALZIRA: Sim senhor.
BONAVANTE: Qualquer coisa entre as meninas, você está autorizada a intervir, Alzira.
ALZIRA: Sim senhor, pode deixar.
(Bonavante sai. Alzira volta a limpar os móveis da sala. Ariana entra)
ARIANA: Com licença.
ALZIRA: Sim?
ARIANA: A Carlota está?

Cena 4/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Marcílio/ Interno/ Manhã
(Marcílio deitado. Dorotéia entra, com uma bandeja de café da manhã em mãos)
DOROTÉIA: Seu café da manhã, filho.
MARCÍLIO: Pode deixar em cima do armário, mãe.
(Dorotéia coloca a bandeja em cima de um pequeno armário, localizado ao lado da cama de Marcílio. Depois, ela abre as janelas.)
MARCÍLIO: Não, não. Feche essas janelas agora, por favor.
DOROTÉIA: E via ficar trancado nesse quarto escuro até quando?
MARCÍLIO: Até quando eu quiser.
DOROTÉIA (sentando-se ao lado de Marcílio): Eu sei que as coisas foram muito pesadas para você ontem à noite, filho, mas você tem que reagir.
MARCÍLIO: Reagir como? Indo procurar um emprego? Não vou dar esse gostinho para o papai. Ele vai se arrepender de ter me surrado.
DOROTÉIA: Enquanto eu estiver viva, você não trabalhará. E agora, trate de pensar duas vezes antes de fazer qualquer besteira. Seu pai só não lhe expulsou de casa, porque eu implorei.
MARCÍLIO: Papai vai pagar por cada cintada que me deu. Ah se vai.

Cena 5/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Sala de consultoria/ Interno/ Manhã
LIDUÍNA: Como assim não tem panfleto para eu distribuir, mãe Soraya?
SORAYA: Acabaram todos, minha querida.
LIDUÍNA: E o quê que eu vou fazer agora?
SORAYA: Pode fazer o mesmo que fez ontem: dar comida para as minhas galinhas.
LIDUÍNA: Nunca mais repito esse tipo de serviço. Olhe, mãe Soraya, eu fui contratada para distribuir os folhetos do seu trabalho como vidente.
SORAYA: Mas não tem mais folheto. Eu encomendei alguns na gráfica, mas ainda não chegaram. Maria Rapariga, se você voltar pra casa agora, seus pais irão desconfiar da autenticidade do seu trabalho. Por isso, fique aqui  e me ajude a arrumar a tenda, a lavar as louças, a alimentar as galinhas...
LIDUÍNA: Mãe Soraya, aquelas galinhas estão mais gordas do que uma baleia. E já disse que eu não sou escrava pra me submeter a qualquer serviço. Quer saber de uma coisa? Eu vou para a inauguração do comércio do Geraldo, que deve estar acontecendo nesse momento. Até.
(Liduína sai)

Cena 6/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Manhã
(O comércio lotado. Geraldo e Vitorino em um canto)
GERALDO: O comércio está sendo um sucesso.
VITORINO: É verdade, Geraldo. Prevejo só coisas boas para esse comércio.
GERALDO: E a Liduína? Ela vem?
VITORINO: Bom, ela me disse que daria um jeito.
(Liduína entra)
LIDUÍNA: Bom dia. O comércio está lindo, viu?
GERALDO: Fico feliz por ter gostado, Liduína.
VITORINO: Que bom que você veio, minha irmã.
GERALDO: Aqui nós temos diversos tipos de produtos. Escolha qualquer um que eu te faço de graça, Liduína.
LIDUÍNA (admirada): De graça?
VITORINO (surpreso, não gostou muito): De graça?
GERALDO: Escolha o que quiser.
LIDUÍNA: Nossa, aqui tem tanta coisa bonita. Posso levar mais de um produto?
GERALDO: Quantos você quiser.
(Liduína, encantada, se direciona para um dos corredores do comércio. Geraldo vai logo atrás, mas Vitorino o puxa pelo braço)
VITORINO: De graça? Você está louco, Geraldo? Assim nós vamos a falência antes de completarmos uma semana de comércio ativo.
GERALDO: Eu sei o que eu estou fazendo, Vitorino. Agora, deixe-me atender sua irmã.
(Geraldo alcança Liduína. Vitorino os olha, indignado)

Cena 7/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra, Cassilda e Carlota/ Interno/ Manhã
(Apenas Cassilda e Carlota no quarto, sentadas em uma cama)
CASSILDA: A Clarissa não é filha da dona Eva?
CARLOTA: Não. E antes de morrer a dona Eva me fez prometer que eu iria contar isso para a Clarissa, mas eu não sei como.
CASSILDA: Nossa, essa é uma revelação e tanto. Você precisa ir com cuidado, Carlota. Não é fácil dizer uma coisa desse grau pra alguém.
CARLOTA: E você acha que eu não sei?
(Alzira entra)
ALZIRA: Carlota, minha querida, tem visita pra você.

Cena 8/ Mansão Sabarah/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Ariana sentada em uma cadeira. Carlota desce a escada e se aproxima de Ariana, que se levanta)
CARLOTA: Ariana. Que surpresa em te ver aqui.
ARIANA: Oi, Carlota. Eu preciso falar com você. É sobre o Joca.
CARLOTA: O que tem o Joca?
ARIANA: Ele quer fugir de Vila Prata. Você tem que fazer alguma coisa para impedi-lo.
CARLOTA: Eu acho que você sabe que eu e ele não estamos mais juntos.
ARIANA: Sim, eu sei. Mas o Joca te ama, Carlota. Se você pedir para ele ficar, ele fica. Você sabe que o Joca não pode fugir abruptamente como ele está fazendo.
CARLOTA: Eu sinto muito, Ariana, mas eu não posso fazer nada. Eu e o Joca nos afastamos e, se ele quer começar uma vida nova em outro lugar, quem sou eu para impedir?
ARIANA: Você é a mulher da vida dele. Carlota, ele me disse que a única pessoa que o fazia ficar na vila era você.
CARLOTA: Mas eu não posso me meter nisso, Ariana. Desculpe.
ARIANA: Tudo bem, então. Eu já imaginava que você pudesse recusar em falar com ele. Nesse caso, onde está a Cassandra? Eu quero falar com ela.
CARLOTA: A Cassandra? O que você quer com a minha irmã?
ARIANA: Pedir para ela falar com o Joca.
CARLOTA: E desde quando a Cassandra tem alguma influência sobre o Joca?
ARIANA: Eu não diria influência, Carlota, mas, ontem à tarde, a Cassandra apareceu na casa do padrinho e eles ficaram conversando por um bom tempo.
CARLOTA: O quê?

Cena 9/ Mansão Sabarah/ Cozinha/ Interno/ Manhã
(Cassandra tomando café. Carlota entra)
CARLOTA: Sua desgraçada, você não dorme mesmo no ponto, né?
CASSANDRA: O que você quer? Veio me dar outra surra?
CARLOTA: É o que você merece, mas eu não vou mais sujar as minhas mãos com essa tua pele podre.
CASSANDRA: Ótimo. Então se sinta à vontade para dar meia volta e sair da minha frente.
CARLOTA: Eu acabei de saber que ontem você visitou o Joca com a cara mais lavada do mundo.
CASSANDRA: Nossa. Ficou sabendo como?
CARLOTA: Isso não interessa. Mas fique sabendo de uma coisa: o Joca nunca vai se apaixonar por você, porque ele me ama.
CASSANDRA: Para de ser ridícula, Carlota. Com vocês separados, eu não dou um mês para o Joca se interessar por mim. E quer saber por quê? Porque ao contrário de você, eu não tenho medo de enfrentar os obstáculos que se encontram no meu caminho.
(Cassandra sai)

Cena 10/ Paisagens da mansão Bovary/ Tarde
(Toca A Rush of Blood to the Head – Coldplay)

Cena 11/ Mansão Bovary/ Quarto Clarissa/ Interno/ Tarde
(Clarissa, encolhida, deitada na cama, chorando. Marilda entra)
MARILDA: Os últimos preparativos do funeral da dona Eva já estão prontos.
CLARISSA: Obrigada por avisar.
(Marilda senta-se ao lado de Clarissa. Ela sofre ao ver a menina sofrendo. Marilda acaricia o rosto de Clarissa. Clarissa empurra a mão de Marilda)
CLARISSA: Não me toque com essa mão fedorenta.
MARILDA: Desculpe, dona Clarissa. Eu só estava compartilhando da sua dor.
CLARISSA: Você não cansa de ser estúpida, Marilda? A dor que estou sentindo nunca será igual à tristeza que você sente. Sabe por quê? Porque eu sou filha dela, eu nasci dela, portanto a minha dor é maior do que qualquer outra. Agora, saia do meu quarto.
MARILDA: A senhora não vai ao cemitério enterrar sua mãe?
CLARISSA: Vou, mas não com você. Estou esperando a Carlota. SOME, criatura.
(Marilda, cabisbaixa, sai)

Cena 12/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Quarto Joca/ Interno/ Tarde
(Ariana entra e vê a cama de Joca arrumada. Ela abre o guarda-roupa do irmão e vê que o móvel está vazio)
ARIANA: Eu não acredito que ele já foi sem se despedir de mim.

Cena 13/ Estrada/ Tarde
(Joca montado em um cavalo, cavalgando. Suas malas amarradas no traseiro do animal)

Cena 14/ Estrada/ Tarde
(Um carro anda pela estrada. Dentro dele, estão Bonavante e Plínio)
PLÍNIO: Tomara que a Marjorie esteja por aqui.
BONAVANTE: Ela estará, Plínio.
PLÍNIO: Deus te ouça, meu amigo.
(De repente, Plínio é atingido por uma flecha, que crava em seu peito. Bonavante se assusta e olha para todos os lados. Plínio perde o controle do carro e Bonavante tenta pará-lo, em vão. O carro bate em uma árvore, mas nem Plínio nem Bonavante se machucam por causa da batida.)
BONAVANTE: Plínio, você está bem?
PLÍNIO: Meu peito está sangrando muito. Acho que não vou resistir.
BONAVANTE (saindo do carro); Fique aqui. Eu irei buscar ajuda.
(Outra flecha é disparada, que atinge o retrovisor do automóvel. Bonavante se apavora.)
PLÍNIO: Eu acho que alguém quer nos matar. Saia daqui, Bonavante. Salve-se.
BONAVANTE: Eu voltarei para te resgatar, Plínio. Eu juro.
(Bonavante sai do carro e corre, afastando-se do veículo. Muito ritmo. Bonavante continua a correr, sem olhar para trás, mantendo o foco do seu olhar sempre para frente. Muito ritmo. Bonavante continua correndo. Ele dobra uma curva estreita da estrada. No fim da curva, Bonavante se depara com dois homens apontando um rifle em sua direção. Tensão. Close em Bonavante)

FIM DO CAPÍTULO (Toca Elastic Heart – Sia)

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