terça-feira, 10 de março de 2015

Velhos Tempos - Capítulo 28



Cena 1/ Mansão Bragança/ Gabinete/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
VIRIATO: Confesso que estou surpreso com a sua visita.
CASSILDA: Isso aqui não é uma visita.
VIRIATO: Presumo que alguém já tenha te revelado a verdade. Quem foi? A Laurinda? O Charles?
CASSILDA: Isso é o que menos importa. Se você tivesse um pingo de vergonha nessa sua cara de pau, você viria falar comigo, me contar a verdade.
VIRIATO: Isso é jeito de tratar seu pai, Cassilda?
CASSILDA: VOCÊ NÃO É O MEU PAI. Meu pai se chama Bonavante Sabarah. Foi ele quem cuidou de mim, que supriu as minhas necessidades...
VIRIATO: E blá, blá e blá. Cassilda, eu entendo que você esteja confusa, mas, querida, você tem que aceitar a realidade. Em breve, eu vou querer sim ser chamado de pai por você.
CASSILDA: Cala a boca.
(Cassilda cospe no rosto de Viriato)
CASSILDA: Eu tenho nojo de você.
VIRIATO: Se você tivesse sido criada por mim desde pequena, você não ousaria fazer o que fez.
CASSILDA: Eu nunca serei sua filha, entendeu? NUNCA.
VIRIATO: O meu sangue corre nas suas veias.
CASSILDA: Não. O meu sangue não é podre como o seu.
VIRIATO: Sabe o que vai acontecer, Cassilda? Eu vou reivindicar os meus direitos paternos em relação a você e, com isso, você vai vir morar aqui, comigo, com seu irmão Charles...
CASSILDA: CALA A BOCA
VIRIATO: E vai levar uma surra tão grande por ser tão mal criada. Uma surra que o Bonavante foi covarde o bastante para dar.
CASSILDA: Isso nunca vai acontecer, seu monstro. Nunca. Fica longe de mim e da minha família, senão eu não responderei por mim.
(Cassilda sai. Viriato dá um sorriso cínico)

Cena 2/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Cassilda passa pela sala. Charles entra e a vê)
CHARLES: Cassilda?
CASSILDA: Charles.
CHARLES: Eu passei a tarde inteira te procurando. Nunca poderia imaginar que você estivesse aqui. O que você veio fazer? Veio conversar com o meu pai?
(Cassilda encara Charles)

Cena 3/ Estrada/ Noite
(Dorotéia caminha pela estrada, quando vê um brilho bastante reluzente no chão. Ela se aproxima e vê algumas moedas de ouro)
DOROTÉIA: Moedas de ouro? Mas que maravilha.
(Dorotéia pega as moedas de ouro e as põe na sua bolsa. Ela volta a caminhar, com um sorriso imenso no rosto)

Cena 4/ Mansão Bovary/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da cena 14 do capítulo anterior)
CLARISSA: Assaltado?
SÁVIO: Assaltado, Clarissa, assaltado. Você nunca foi assaltada na vida?
CLARISSA: Já sim, uns meses atrás, mas como isso foi acontecer, Sávio?
SÁVIO: Eu estava voltando para casa quando um marginal mascarado me rendeu na estrada e roubou umas maletas importantíssimas que eu estava trazendo.
CLARISSA: Na estrada? Engraçado, eu também fui assaltada na estrada. Sávio, será que o meu assaltante é o mesmo que o seu?
SÁVIO: Você conhece a identidade do rapaz que te roubou?
CLARISSA: Não só a identidade, como o endereço, a família, até a cor da fachada da casa.
SÁVIO: Ótimo. Pois você vai me levar lá agora.
(Sávio encara Clarissa)

Cena 5/ Vila Prata/ Casa Chester/ Quarto Marcílio/ Interno/ Noite
(Marcílio deitado em sua cama. Dorotéia entra)
DOROTÉIA: Marcílio, meu filho, você não faz ideia do que eu encontrei na estrada. Olha.
(Dorotéia mostra as moedas de ouro para Marcílio)
DOROTÉIA: Essas moedas estavam espalhadas na estrada. Você tem noção de quanto cada moeda dessa vale? Eu simplesmente não consigo nem mensurar o valor. Eu acho que elas são o suficiente para a construção da confeitaria.
MARCÍLIO: Mãe, e se eu dissesse que tenho mais dessas moedas?
DOROTÉIA: Como assim você tem mais dessas moedas? Marcílio, não vá me dizer que foi você...
MARCÍLIO: Fui eu quem as roubei. Infelizmente, durante a ação algumas caíram no chão, mas o que importa é que as três maletas que contêm essa preciosidade estão a salvo, bem escondidas.
DOROTÉIA: Três maletas?
MARCÍLIO: Cheia dessas moedas.
DOROTÉIA: Cadê essas maletas? Eu quero vê-las agora.
MARCÍLIO: Agora não vai dar. Elas estão escondidas na floresta e está tarde para sairmos, além de que papai pode desconfiar. Mas não se preocupe, mãe. Amanhã eu as mostro para a senhora.
DOROTÉIA: Estamos ricos, meu filho. Ricos.
(Dorotéia abraça Marcílio, feliz da vida)

Cena 6/ Mansão Bragança/ Quarto de hóspedes/ Interno/ Noite
(Osório na cama. Laurinda entra)
OSÓRIO: Dona Laurinda, que surpresa em vê-la. Desde quando vim para cá, essa é a primeira vez que a senhora me visita, hein? E olha que estamos na mesma casa.
LAURINDA: Cala a boca, Osório. Eu não vim aqui pra jogar fora.
OSÓRIO: Nossa, eu quero ver a senhora falar desse jeito com o doutor Viriato.
LAURINDA: Aproveitando que você tocou no nome do meu marido, eu já te digo que vim aqui falar dele.
OSÓRIO: Como?
LAURINDA: Eu ouvi a conversa que o Viriato e você tiveram hoje mais cedo. Eu sei que ele está tentando te demitir e que você o ameaçou para se manter aqui. E que ameaça, hein, Osório? Então quer dizer que tudo não passou de uma mentira inventada pelo Viriato para atingir o Bonavante?
OSÓRIO: Dona Laurinda, eu acho que isso não é assunto pra senhora.
LAURINDA: Como não, Osório? Isso afeta a minha família, o meu filho, ou você não está sabendo que o Charles estava namorando a própria irmã? Quero dizer, suposta irmã, porque eu estou confusa quanto a essa história.
OSÓRIO: E a senhora quer que eu lhe esclareça?
LAURINDA: Não só quero, como você vai me esclarecer, senão eu ajudo o Viriato a te colocar pra fora daqui. E então? Você vai me contar a verdade?
(Laurinda encara Osório)

Cena 7/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da cena 02 deste capítulo)
CASSILDA: Eu vim ter uma conversa definitiva com o seu pai, sim.
CHARLES: E teve?
CASSILDA: Tive, mas não sei se ele foi capaz de entender metade do que eu disse.
CHARLES: E a gente, Cassilda? Como fica?
CASSILDA: Não tem mais a gente, né, Charles? O nosso relacionamento não pode mais continuar.
CHARLES: Eu sei, mas nós ainda podemos ser amigos, e...
CASSILDA: Não, Charles, não. Eu prefiro me afastar de você. Se nós ficarmos próximos, mesmo como amigos, essa história da paternidade será remoída na minha cabeça e eu quero mais esquecê-la.
CHARLES: Eu entendo.
(Viriato entra)
VIRIATO: Se não são os dois irmãozinhos? Prevejo que a relação de vocês dois será bastante amigável, não é?
CASSILDA: Boa noite, Charles.
(Cassilda sai. Charles olha furioso para Viriato e sobe a escada. Viriato ri, cinicamente)

Cena 8/ Mansão Sabarah/ Gabinete/ Interno/ Noite
(Carlota e Bonavante sentados à mesa)
BONAVANTE: E de repente o Viriato apareceu aqui dizendo que a Cassilda não é minha filha, e sim dele.
CARLOTA: E o senhor chegou a acreditar nele?
BONAVANTE: Confesso que fiquei com uma pulga atrás da orelha, mas nada que saia da boca do Viriato será de completa verdade para mim.
CARLOTA: E o pior que não tem como saber se a Cassilda é mesmo sua filha ou não.
BONAVANTE: A Cassilda é minha filha, Carlota. Sempre foi e sempre será. O meu sangue até pode não correr nas veias delas, mas eu sempre considerei a sua irmã como uma filha. Eu a vi nascer, crescer, dar os primeiros passos, dizer as primeiras palavras e é isso que importa.

Cena 9/ Mansão Bragança/ Quarto de hóspedes/ Interno/ Noite
(Continuação imediata da cena 06 deste capítulo)
OSÓRIO: A verdade, dona Laurinda, é que essa história da Cassilda ser filha do doutor Viriato é uma grande mentira.
LAURINDA: Monstro, desgraçado. Como o Viriato teve coragem de inventar uma coisa dessas? Então a Cassilda é mesmo filha do Bonavante?
OSÓRIO: Sim, ela é. Assim como, ela e seu filho não são irmãos.
LAURINDA: Eu preciso fazer algo. Não posso permitir que essa situação continue. Meu filho está sofrendo, a Cassilda também. Eu tenho que agir, mostrar a verdade para todos.
OSÓRIO: Não, a senhora não pode. Se a senhora fizer isso, o doutor Viriato poderá ser capaz de matá-la. Além disso, é melhor que o Charles e a Cassilda estejam separados, não? Se eles descobrirem a verdade e voltarem a namorar, essa rivalidade que existe entre o seu marido e o doutor Bonavante irá respingar nos pobres coitados.
LAURINDA: Osório, eu apenas precisei de você para me revelar a verdade. Se eu quisesse opinião do que devo ou não devo fazer, com certeza, eu não falaria com você. Com licença.
(Laurinda sai. Close em Osório, pensativo)

Cena 10/ Vila Prata/ Casa Chester/ Sala de estar/ Interno/ Noite
(Alguém bate na porta. Elizeu atende)
ELIZEU: Pois não?
CLARISSA: Não se lembra de mim?
ELIZEU: Claro que me lembro. Você foi vítima de um assalto que meu filho cometeu. Ainda hoje eu sinto vergonha do que ele fez.
CLARISSA: Não sinta. Se o seu filho se tornou um marginal, a culpa não é sua.
ELIZEU: Quem garante?
SÁVIO: Será que essa conversa de comadre pode acabar?
ELIZEU: Quem é você?
CLARISSA: Esse é meu irmão. Ele foi assaltado na estrada hoje mais cedo, da mesma maneira que eu fui. Nós achamos que...
ELIZEU: Meu filho foi responsável por esse assalto.
SÁVIO: Eu quero o meu dinheiro de volta. Então chama logo o seu filho bandidinho.
(Sávio encara Elizeu)

Cena 11/ Mansão Sabarah/ Quarto Cassandra e Cassilda/ Interno/ Noite
(Cassilda deitada. Bonavante entra)
BONAVANTE: Posso entrar?
CASSILDA: Claro.
BONAVANTE: Você chegou e não veio falar comigo. Eu já sei que você descobriu que não é minha filha, Cassilda.
CASSILDA: O senhor está enganado, pai. Eu sou sua filha, sempre serei, se o senhor quiser que eu seja, claro.
BONAVANTE: É claro que eu quero, meu amor.
CASSILDA: Pra mim, o sangue é o que menos importa, pai. Você sempre será meu pai. Sempre.
BONAVANTE: Eu te amo, filha.
(Bonavante e Cassilda se abraçam)

Cena 12/ Mansão Sabarah/ Quarto Carlota/ Interno/ Noite
(Carlota em frente à penteadeira. Bonavante entra)
BONAVANTE: Com licença, filha.
CARLOTA: O senhor falou com a Cassilda?
BONAVANTE: Falei e foi tudo muito tranqüilo.
CARLOTA: Ah que bom, pai.
BONAVANTE: Tanta bomba sendo jogada em cima de mim ao mesmo tempo. Pelo menos uma coisa boa para me consolar: o seu casamento.
CARLOTA: Casamento? Que casamento?
BONAVANTE: Eu ainda não te falei?
CARLOTA: Não.
BONAVANTE: Carlota, quando fomos jantar na mansão Bovary, eu fiquei tão feliz de vislumbrar a conexão que existe entre você e o Sávio. Parece que vocês foram feitos um para o outro. Se conhecem desde pequenos, possuem os mesmos gostos, se entendem muito bem. Então eu pensei, por que não casar você com o Sávio?
CARLOTA: O senhor só pode estar...
BONAVANTE: E não é que o Sávio aceitou a proposta de se casar com você?
CARLOTA: Pai, o senhor não pode estar falando sério.
BONAVANTE: Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida, filha. Em breve, você e o Sávio irão se casar.
CARLOTA: Não.
BONAVANTE: Como não?
CARLOTA: Eu não irei me casar com o Sávio nem hoje nem nunca. E ponto final.
(Carlota encara Bonavante. Close em Carlota)

FIM DO CAPÍTULO

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