quinta-feira, 19 de março de 2015

Velhos Tempos - Capítulo 33



ÚLTIMAS SEMANAS

Cena 1/ Vila Prata/ Motel/ Suíte/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da última cena do capítulo anterior)
LAURINDA: Eu não acredito no que eu estou vendo. Como vocês tiveram coragem de fazer isso comigo?
VIRIATO: Laurinda, não é nada disso do que você está pensando.
LAURINDA: Eu não estou pensando, eu estou vendo. Você e a minha governanta, minha amiga e confidente. Canalhas, eu vou acabar com vocês.
(Laurinda parte para cima de Viriato e Gertrude, dando-lhes vários tapas. Viriato consegue segurar Laurinda)
VIRIATO: Calma, Laurinda, calma.
LAURINDA: Monstro, canalha. Eu dediquei a minha a você e é assim que você me agradece? Com essa traição?
GERTRUDE: Dona Laurinda, eu quero que...
LAURINDA: Cala a boca, sua falsa.
(Laurinda dá um tapa em Gertrude)
LAURINDA: Amiga da onça. Eu não tenho mais estômago pra olhar pra essa cara de pau que vocês fazem questão de sustentar.
VIRIATO: Laurinda, espere, vamos conversar.
LAURINDA: A gente conversa em casa, Viriato. E quanto a você, Gertrude, não ouse pisar na minha residência. Eu não quero mais te ver lá.
(Laurinda sai. Viriato põe as calças rapidamente e tenta correr atrás dela, mas é impedido por Gertrude)
GERTRUDE: Eu não acredito que você vai correr atrás dela. Você nunca se importou com a Laurinda.
VIRIATO: A Laurinda sabe de coisas que podem atrapalhar meus planos, Gertrude. Eu preciso impedir que ela faça alguma besteira.
GERTRUDE: Não se esqueça que eu também sei de coisas que podem acabar com seus planos. Então, não ouse me deixar plantada aqui.
(Gertrude encara Viriato)

Cena 2/ Vila Prata/ Comércio Geraldo/ Interno/ Manhã
(Continuação imediata da cena 10 do capítulo anterior)
VITORINO: Conversar? Claro.
CLARISSA: É coisa rápida, Vitorino. Eu só vim te pedir desculpas por todas as formas grosseiras com que eu te tratei ao longo do tempo.
VITORINO: Não precisa se desculpar, Clarissa.
CLARISSA: Precisa sim. Vitorino, eu sempre soube que você era apaixonado por mim, mas eu não sabia como lidar com essa situação. Eu te destratava não por achar você feio ou pobre, mas pra ver se você parava de me amar.
VITORINO: Sua técnica não funcionou.
CLARISSA: Eu sei e é exatamente por isso que eu vim aqui, com a melhor das intenções e dos comportamentos, para pedir que você não crie mais expectativas entre nós.
VITORINO: Clarissa, eu sempre fui consciente disso.
CLARISSA: Você aceita as minhas desculpas?
VITORINO: Claro. E fique tranqüila, pois, a partir de agora, eu encontrarei uma maneira de te esquecer.
CLARISSA: Talvez possamos ser amigos.
VITORINO: Quem sabe, não é?

Cena 3/ Mansão Sabarah/ Quarto Carlota/ Interno/ Manhã
(Cassilda e Carlota sentadas na cama da última, lado a lado)
CARLOTA: Papai veio aqui deixar bem claro que esse casamento acontecerá, independentemente da minha vontade.
CASSILDA: Eu não sei nem o que dizer, minha irmã.
CARLOTA: Mas eu não vou me casar com o Sávio, Cassilda. Não vou. Eu não posso ser leviana comigo mesmo.
CASSILDA: Carlota, por que você não conversa com o Sávio sobre isso? Faça-o desistir da ideia de se casar com você.
CARLOTA: Não vai adiantar, Cassilda. Eu já pude perceber que o Sávio quer se casar comigo. E eu tenho certeza que papai deve estar oferecendo algo a ele em troca desse casamento.
CASSILDA: Eu sei que é difícil dizer isso, minha irmã, mas você não tem escapatória.
CARLOTA: Tenho, Cassilda. Eu irei fugir dessa casa, viver longe das pretensões absurdas do papai. Só assim eu evito me casar com o Sávio.
(Cassilda encara Carlota)

Cena 4/ Mansão Sabarah/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Ariana em pé, próxima à porta. Cassandra desce a escada e vai de encontro a ela)
CASSANDRA: O que você está fazendo aqui, Ariana? Eu pensei que você soubesse de que está proibida de pôr os pés nessa casa, assim como o seu irmão.
ARIANA: Eu sei disso, Cassandra, mas o que eu tenho pra fazer vale o risco.
CASSANDRA: E o que você veio fazer aqui? Contar para o meu pai que eu matei o seu padrinho? Ou me dar outra surra?
ARIANA: Nem uma coisa nem outra. Eu vim passar um recado do Joca para você. Ele quer te encontrar ao entardecer na frente da mansão.
CASSANDRA: O Joca quer se encontrar comigo? Por quê?
ARIANA: Ele quer entender porque você matou o padrinho. Afinal, ele tem esse direito, você não acha? Ele disse que esse encontro é a garantia de que ele não vai te colocar atrás das grades. Se você comparecer, claro.
CASSANDRA: É claro que eu irei comparecer. Diga ao seu irmão que ele terá todas as respostas que precisa.
ARIANA: Você pode ter certeza que eu direi.
(Ariana encara Cassandra)

Cena 5/ Mansão Bragança/ Sala de estar/ Interno/ Manhã
(Marcílio e Laurinda entram. A última visivelmente sofrendo)
MARCÍLIO: Você está bem?
LAURINDA: Você ainda pergunta, Marcílio? Eu acabei de flagrar o meu marido e a minha amiga, ex-amiga a partir de agora, juntos e nus numa cama de motel e você acha que eu estou bem, feliz, gargalhando?
MARCÍLIO: Eu só queria amenizar a tensão quando fiz a pergunta.
LAURINDA: Desculpe a minha grosseria, Marcílio. Você me ajudou a ter certeza de que o Viriato estava me traindo e eu estou aqui, soltando os cachorros em cima de você. Desculpe.
MARCÍLIO: Não precisa pedir desculpas, dona Laurinda. Eu compreendo o seu comportamento.
LAURINDA: Aliás, obrigada por me ajudar. Se não fosse você, eu nunca teria entrado naquele motel e flagrado o Viriato e a Gertrude no ato. Canalhas infelizes.
MARCÍLIO: Dona Laurinda, não chore mais por esses dois. Não sofra. Eles não merecer um terço das suas lágrimas.
LAURINDA: Suas palavras me aliviam tanto, Marcílio.
MARCÍLIO: Eu sei o que a senhora está sentindo. Acredite. Ontem, eu perdi o meu pai e imagino que a senhora deva estar sentindo essa mesma sensação de perda ao constatar que não possui mais um marido confiável.
LAURINDA: Eu sinto muito pelo seu pai, Marcílio.
MARCÍLIO: Ele era tudo pra mim, dona Laurinda. Tudo.
(Marcílio finge choro e Laurinda o abraça apertadamente. Seus rostos ficam próximos, na iminência de um beijo)
LAURINDA: Bom, eu agradeço bastante a sua ajuda, Marcílio, mas eu estou precisando ficar sozinha.
MARCÍLIO: Eu entendo. (pegando na mão de Laurinda): Eu estou aqui para o que a senhora precisar.
(Eles trocam olhares. Marcílio levanta-se e sai. Laurinda o observa sair e cai no choro)

Cena 6/ Paisagens de Vila Prata/ Tarde

Cena 7/ Vila Prata/ Praça/ Interno/ Tarde
(Vitorino e Liduína sentados em um banco, lado a lado. Ele mostra a moeda de ouro a ela)
VITORINO: Eu encontrei essa moeda de ouro perto do local onde o papai morreu.
LIDUÍNA: Estranho. O que isso fazia lá? E desde quando nós temos uma moeda de ouro?
VITORINO: Liduína, será que a morte do papai tem a ver com essa moeda?
LIDUÍNA: Mas por que essas duas coisas haveriam de ter alguma relação?
VITORINO: Eu não sei, mas tudo isso está muito estranho. Essa moeda só reforça a minha teoria de que o papai foi assassinado. E se essas duas coisas estiverem relacionadas, foi por causa dessa moeda que o papai morreu.
LIDUÍNA: E não é uma moeda qualquer, ela é de ouro. Espera, agora tudo faz sentido.
VITORINO: O quê?
LIDUÍNA: A mãe Soraya, recentemente, me disse que eu estava rica e eu não acreditei. Talvez ela estivesse se referindo a essas moedas. Vitorino, me dê essa moeda. Eu levarei para a mãe Soraya analisar.
VITORINO: E você acha que a sua patroa vidente irá conseguir descobrir se o papai foi mesmo assassinado por alguém por causa dessa moeda?
LIDUÍNA: Não custa tentar.

Cena 8/ Vila Prata/ Restaurante/ Interno/ Tarde
(Nuno sentado à mesa. Sávio entra e senta-se onde ele está sentado)
NUNO: Boa tarde.
SÁVIO: Só se for pra você. Meu dia está sendo bastante irritante, então, por favor, me traga uma boa notícia.
NUNO: Eu encontrei uma brecha na lei que pode fazer com que a Clarissa não receba nada da dona Eva.
SÁVIO: E está esperando o quê para falar?
NUNO: Você sabe que, legalmente, a Clarissa é considerada filha da Eva e, por isso, tem direito a receber a herança. No entanto, nós sabemos que a sua irmã...
SÁVIO: Falsa irmã.
NUNO: Que a sua falsa irmã veio de outro útero. Se a mãe biológica da Clarissa reconhecer os direitos maternos, existe uma chance de ela ser removida do processo de herança e todo o patrimônio da dona Eva fica com você, obviamente.
SÁVIO: Você fala como se eu soubesse quem é a verdadeira mãe da Clarissa.
NUNO: Não sabe? Nossa, até eu sei. A Clarissa é filha da Marilda, a antiga cozinheira da sua mansão.
SÁVIO: Da Marilda? Quem diria, hein? Então, a Clarissa tem sangue de pobre nas veias. Se eu não me engano, a Marilda está na capital. Eu vou atrás dela, Nuno. Eu vou atrás da Marilda e convencê-la a reconhecer os direitos maternos que possui em relação à Clarissa.
(Sávio encara Nuno)

Cena 9/ Mansão Bragança/ Quarto Laurinda e Viriato/ Interno/ Tarde
(Laurinda sentada na cama, chorosa. Charles ao lado dela, abraçando-a)
LAURINDA: Foi horrível entrar naquele quarto e ver seu pai se atracando com outra, Charles. E o mais difícil é saber que a tal outra é a Gertrude, a governanta dessa casa, a mulher que eu considerei como amiga, como confidente.
CHARLES: Não chore mais, mãe. Aquela dupla de traidores não merece suas lágrimas.
LAURINDA: Mesmo assim, Charles, é impossível não sofrer. Eu agüentei tanta coisa por causa do seu pai. Tive que engolir sapos e humilhações, aturar situações constrangedoras, esconder as artimanhas dele, pra no fim das contas ele me desrespeitar da pior maneira possível.
CHARLES: Mãe, a verdade é que o papai nunca lhe valorizou, nunca lhe enxergou como uma esposa deve ser enxergada pelo marido.
LAURINDA: Fico feliz que você não é igual a ele, Charles.
CHARLES: Graças à senhora, que me deu a melhor das educações.
LAURINDA: O seu pai irá pagar por tudo que fez e está fazendo. Não só comigo, mas com várias pessoas. Ele que se prepare, Charles, pois eu não vou deixá-lo sair impune de todas as artimanhas que ele já causou. Eu irei me vingar do Viriato, nem que seja a última coisa que eu faça na vida.

Cena 10/ Mansão Sabarah/ Quarto Carlota/ Interno/ Tarde
(Carlota está fazendo as malas. Cassandra entra)
CASSANDRA: Carlota, minha querida, eu tenho uma grande novidade para te... Mas o que é isso? Que malas são essas?
CARLOTA: Não é da sua conta, Cassandra. Saia do meu quarto agora.
CASSANDRA: Vai viajar, irmãzinha?
CARLOTA: Eu já disse que isso não é da sua conta. Vai cuidar da sua vida, Cassandra.
CASSANDRA: Mas eu estou cuidando, oras. Tanto que vim te contar com exclusividade que o Joca marcou um encontro comigo.
CARLOTA: O quê?
CASSANDRA: Ele quer se encontrar comigo na entrada da mansão ao entardecer.. Acho que ele percebeu que eu sou a mulher da vida dele e decidiu ficar comigo.
CARLOTA: Não seja ridícula, Cassandra. O Joca nunca daria uma chance para você, ainda mais agora que ele sabe que você matou o padrinho dele.
CASSANDRA: A ridícula dessa história é você. Carlota, você não percebe que o Joca está arriscando a própria vida só para me ver? Ele me ama, sua idiota.
CARLOTA: Fora daqui.
CASSANDRA: A verdade dói, eu sei. Você perdeu, Carlota, e eu ganhei. Agora, precisa se conformar com isso. Ah, e nem ouse contar para o papai sobre esse meu encontro com o Joca, entendeu? Se não eu conto para ele sobre essas suas malas.
(Cassandra sai)

Cena 11/ Vila Prata/ Tenda Soraya/ Sala de consulta/ Interno/ Tarde
(Soraya à mesa. Liduína entra)
LIDUÍNA: Panfletos entregues.
SORAYA: Ótimo, querida.
LIDUÍNA: Mãe Soraya, eu preciso que a senhora me faça um favor.
SORAYA: Qual?
LIDUÍNA: Eu preciso que a senhora analise essa moeda.
SORAYA: Tá me achando com cara de cambista?
LIDUÍNA: A senhora não entendeu. Eu estou precisando que a senhora preveja algo em cima dessa moeda. A senhora consegue?
(Liduína encara Soraya)

Cena 12/ Vila Prata/ Casa Juscelino/ Sala de estar/ Interno/ Tarde
(Alguém bate na porta. Ariana atende)
ARIANA: Oi, Vitorino.
VITORINO: Aqui estão as encomendas que você pediu.
ARIANA: Muito obrigada.
VITORINO: Eu fiz questão de trazê-las para você.
ARIANA: Nossa, quanta honra.
VITORINO: Ariana, eu quero aproveitar esse momento para te pedir para sair essa noite comigo. Você aceita?
(Vitorino encara Ariana)

Cena 13/ Mansão Bragança/ Quarto Laurinda e Viriato/ Interno/ Tarde
(Laurinda sentada, não mais chorosa, agora furiosa. Viriato entra)
VIRIATO: Laurinda?
LAURINDA: Por que a surpresa em me ver? Esse quarto também é meu.
VIRIATO: Laurinda, nós precisamos conversar.
LAURINDA: Nós não temos nada para conversar, Viriato. O que eu vi naquele motel já foi o suficiente. Eu me casei com um canalha que nunca me respeitou, nunca me valorizou. Eu agüentei suas humilhações, seu comportamento constrangedor e destrutivo, acobertei suas artimanhas, ignorei suas falhas, fiz tudo isso e muito mais por amor, porque eu achei que valia a pena, mas depois do que vi, percebo que fui usada por você.
VIRIATO: Você está enganada, Laurinda.
LAURINDA: Até tapa na cara eu levei, mas fiquei calada, porque eu acreditava que valia a pena sofrer por você, por esse casamento, por essa família. Mas tem uma vida lá fora, Viriato. Uma vida que pode ser melhor do que essa mediocridade que eu levava aqui dentro, nessa casa, ao seu lado.
VIRIATO: Laurinda, você está nervosa, não sabe do que está falando.
LAURINDA: Eu nunca tive tanta lucidez como agora, seu cafajeste. Eu não tenho estômago pra aturar essa situação, Viriato. Eu não consigo mais olhar na sua cara, pensar em viver com você, em dividir esse teto com você.
VIRIATO: Como assim? Até onde você quer chegar com esse discurso, Laurinda?
LAURINDA: Eu quero o desquite, Viriato.
(Laurinda encara Viriato)

Cena 14/ Mansão Sabarah/ Frente/ Externo/ Tarde
(Joca parado em frente à mansão. Carlota aparece, segurando várias malas, e o vê)
CARLOTA: Joca, ainda bem que você está aqui.
JOCA: Carlota? Não vá me dizer que você sabia que eu...
CARLOTA: Joca, você precisa me ajudar. Meu pai quer me casar com um homem que eu não amo.
JOCA: O quê?
CARLOTA: Eu não quero sacrificar a minha felicidade, Joca, e é isso que acontecerá caso eu me case com o Sávio. Você precisa me ajudar a sair dessa emboscada. Você me ajuda?
(Carlota encara Joca. Congela em Joca)

FIM DO CAPÍTULO
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