Alice - Capítulo 39

Capítulo 39

ÚLTIMAS SEMANAS

Cena 1/Casebre/Externo/Noite

Um homem, com uma enxada no ombro, caminha pelo matagal até chegar em sua humilde casa. Ele abre a porta e sua mulher o recepciona, ajudando-o a levar para dentro o que ele carrega. A câmera se aproxima.

Cena 2/Casebre/Interno/Noite

O homem coloca a enxada no chão e as bolsas em cima da mesa. A mulher fecha a porta.

SEBASTIANA – E então, homem, como foi o dia?

JOAQUIM – Cansativo como sempre. E ela, acordou?

SEBASTIANA – Sim.

JOAQUIM – E por acaso já disse quem ela é? O nome? Alguma coisa?

SEBASTIANA – Não, nadinha.

A câmera se vira lentamente até focar em uma mulher que está sentada na cama. O foco da câmera começa por seus pés, depois sobe lentamente até revelar seu rosto. Esta mulher é Estrela.

Toca a soundtrack Chisme, Mistério del Asesino – La Madrastra.

ESTRELA – Boa noite, seu Joaquim.

Estrela sorri.

ESTRELA – Eu sou... eu sou... Quem eu sou?

Joaquim e Sebastiana a encaram. Foco na expressão confusa de Estrela, desmemoriada.

JOAQUIM – Você não consegue lembrar seu nome, menina?

ESTRELA – Não. Eu tento, tento, tento, me esforço, mas não consigo! Minha mente só tem borrões.

SEBASTIANA – Ela tá assim desde que chegou, homem. Desde que nós encontramos ela naquele barranco, desmaiada!

Cena 3/FLASHBACK/Dias atrás

O carro de Estrela capota pela ribanceira. Ela é arremessada para longe dele. Uma mulher passa pelo local e vê Estrela desacordada e com um sangramento na testa.

SEBASTIANA – Nossa senhora de Aparecida!

Sebastiana passa seu braço por trás do pescoço de Estrela e a balança.

Cena 4/Casebre/Interno/Noite

ESTRELA – Eu sofri um acidente?

Sebastiana se aproxima de Estrela e senta perto dela.

SEBASTIANA – Sim, menina. Você sofreu um acidente de carro! O seu carro caiu da ribanceira e você voou pra longe dele. Eu te encontrei e lhe trouxe aqui pra casa! Você não se lembra?

ESTRELA – Não, eu não consigo lembrar de nada!

JOAQUIM – Eu ainda acho que essa parada pode ser perigosa, Sebastiana.

SEBASTIANA – E por que seria?

JOAQUIM – Não sei. Quando ela se lembrar de tudo pode pensar que a gente sequestrou ela e aí a coisa vai ficar feia por nosso lado!

SEBASTIANA – Se ela se lembrar de tudo mesmo, vai lembrar também que nós a salvamos.

Sebastiana alisa os cabelos de Estrela com suas mãos. Estrela olha para o nada.

Cena 5/Capela/Interno/Noite

Alice ainda rindo em frente ao caixão de Estrela. Victoria se aproxima dela.

VICTORIA – E você, hein sua piranha, o que você tá fazendo aqui?

ALICE – Boa noite para você também, Victoria. Isso são modos de se comportar em um velório?

VICTORIA – Cínica! Eu sei que você só veio aqui pra comemorar sua vitória e tripudiar sob a nossa dor.

ALICE – Eu vim aqui prestar condolência aos familiares, como boa cristã que sou.

VICTORIA – Não se faça de santa, sua vadia. Eu sei que a sua vontade era de sambar em cima do caixão da minha filha!

Todos os presentes olham para as duas.

ALICE – Como você ousa pensar o pior de mim, Victoria? Eu sou uma mulher tão boa!

VICTORIA – Você me ensinou a esperar o pior de você, Alice. Com todas suas mentiras, seus golpes, com tudo o que você fez!

Melissa se aproxima delas.

MELISSA – O que está acontecendo aqui?

VICTORIA – Essa vadia, mamãe. Essa vadia veio me provocar!

ALICE – Provocar você não! Vim rezar pela alma da Estrela. Uma mulher que se dá ao desfrute antes do casamento merece que tenha sua alma rezada para que Deus a perdoe!

VICTORIA – Como é que é? COMO É QUE É?

Victoria dá uma bofetada em Alice e a segura pelo cabelo. Franco se aproxima dela e aparta a briga. Olavo faz o mesmo e segura Alice.

ESTEVÃO – SAI DAQUI, ALICE!

ALICE – NÃO SAIO, NÃO SAIO! ME SOLTA, OLAVO!

Olavo solta Alice.

OLAVO – Se controla, Alice!

ALICE – Eu vim aqui pedir a Deus para perdoar a Estrela por todos os pecados carnais que ela já cometeu. Porque essa aí não é santa coisa nenhuma!

Franco segura Victoria, furiosa.

VICTORIA – ME SOLTA QUE EU VOU MATAR ESSA CADELA!

FRANCO – Calma, meu amor. CALMA!

AFONSO – Saia, Alice! Sua presença não é bem vinda!

MELISSA – Saia logo, sua vadia!

ALICE – Não recebo ordem de quem toma remédio pra não se esquecer das coisas. Dupla reumática, velhos imundos! Sempre odiei vocês dois, cambada de pelancudos!

Melissa dá uma bofetada em Alice.

MELISSA – CALA A BOCA E SAIA DAQUI, ALICE!

ALICE – EU JÁ DISSE QUE NÃO SAIO! NÃO SAIO! E digo mais, vou fazer coisa pior!

Alice empurra o caixão de Estrela e samba em cima dele.

ALICE – É ISSO O QUE EU SEMPRE QUIS FAZER! SEMPRE!

Alice continua sambando até que Victoria se desprende de Franco e avança para cima dela, caindo sob as coroas de flores.

VICTORIA – VAGABUNDA! VADIA! A SURRA QUE EU TE DEI DA OUTRA VEZ NÃO FOI O SUFICIENTE? ENTÃO TOMA, ALICE! TOMA!

Victoria esbofeteia Alice. Os presentes apartam a briga. Alice ri descontroladamente enquanto é segurada por Olavo. Alice pisa no pé de Olavo e se solta. Ela joga tudo o que vê pela frente no chão.

BÁRBARA – Para, Alice! PARA!

FERNANDO – ESSA MULHER TÁ LOUCA!

MELISSA – Eu mandei você sair por bem e você não quis, me ofendeu, disse várias coisas desagradáveis, mas agora vai pagar!

Melissa avança para cima de Alice e a segura pelo cabelo.

ALICE – ME SOLTA, SUA VELHA! ME SOLTA!

VICTORIA – Isso, mamãe, dá na cara dessa piranha!

Victoria sorri e aplaude. Melissa arrasta Alice para o lado de fora e a joga no chão.

MELISSA – É AÍ O TEU LUGAR, SUA VADIA! Eu devia te matar e deixar aqui mesmo, aproveitar o que sobrou do velório da minha neta e fazer o teu. Eu devia acabar contigo, sua piranha, mas não vou sujar minhas mãos com pouca coisa. Se você ousar colocar os pés ali dentro novamente, eu te mato!

Melissa entra para a capela. Olavo sai correndo para socorrer Alice, que está com alguns arranhões.

ALICE – Olha o que ela fez em mim, Olavo!

OLAVO – Você fez por merecer, Alice!

ALICE – E ainda fica do lado daquela família busca-pé?

OLAVO – CHEGA, ALICE! Seu show acaba aqui.

Olavo tira a chave do bolso e entrega para Alice.

OLAVO – Pega o meu carro e vai pra casa. Lá a gente conversa!

Olavo entra para a capela e deixa Alice no chão. Alice ri.

ALICE – Obrigada, obrigada! Foi um belo espetáculo. Espero que isso fique gravado na memória de todos vocês!

Alice, ainda sentada no chão, ri histericamente.

Cena 6/Mansão Montenegro/Sala de Estar/Noite

César, Odete e Bianca entram em casa.

CÉSAR – Finalmente recebemos alta!

ODETE – Lar doce lar.

BIANCA – Nada melhor que a nossa confortável casa.

CÉSAR – E sem a insuportável da Rebeca para nos encher a paciência.

Todos riem.

ODETE – Será que a Rebeca vai deixar por isso mesmo?

CÉSAR – Como assim, meu amor?

BIANCA – Agora a mamãe está presa!

ODETE – Eu sei, eu sei. Mas a Rebeca é ardilosa! Se ela quiser, consegue fugir daquela cadeia. E se ela escapar... Virá atrás de nós!

BIANCA – Cruzes, Odete. Não corremos esse perigo!

ODETE – Será mesmo?

CÉSAR – A Rebeca está presa agora, Odete. Não precisa se preocupar com isso! Eu garanto que ela não sairá daquela cadeia nunca mais.

ODETE – Eu tenho medo.

BIANCA – Não temos o que temer.

CÉSAR – Vamos deixar esse assunto pra lá, ok? A Rebeca agora é problema da justiça!

ODETE – Que tal se contarmos para a Bianca sobre nossos planos, hein?

BIANCA – Plano? Que plano?

ODETE – Eu e seu pai... Vai César, conta!

CÉSAR – Eu e a Odete vamos viajar para Alemanha.

BIANCA – Que legal! E já sabem quando vão?

ODETE – Dentro de algumas semanas.

BIANCA – Fico feliz por vocês finalmente conseguirem um tempo para aproveitar sozinhos.

CÉSAR – E você, querida, vai ficar aqui mesmo?

BIANCA – Sim, papai. A Bárbara vai viajar também e pediu para que eu cuidasse da boutique durante a ausência dela.

ODETE – Que pena que você não virá conosco.

BIANCA – Há males que vem para o bem. Não considero trabalhar um mal, mas isso também serviu como um recado! Um recado do destino dizendo que vocês dois tem que aproveitar essa viagem sozinhos. Como uma segunda lua de mel, quem sabe...

Todos riem.

Cena 7/Vila do Sossego/Casa de Carmen/Noite

Carmen está sentada no sofá, assistindo televisão. Passa uma matéria sobre violência sexual no jornal e ela recorda de algo.

FLASHBACK:

A vila está movimentada. Há varias pessoas, tanto dentro como fora. Policial, agentes do IML, imprensa... Todos presentes! Alice, criança, chora descontroladamente. Carmen

a consola. Patrícia olha os agentes do IML carregarem um corpo e fica boquiaberta.

FIM DO FLASHBACK

Carmen desliga a televisão.

CARMEN – Que horror, meu Deus. Que horror!

Carmen passa a mão sob seu peito.

Cena 8/Mansão Albuquerque/Sala de Estar/Noite

Renata e Adriana estão sentadas no sofá, tomando chá.

ADRIANA – Obrigada por ter me ajudado, Renata.

RENATA – Por nada.

ADRIANA – Eu não mereço sua compaixão.

RENATA – Não se faça de coitada, Adriana. Neste momento nós precisamos nos unir para destruir o Marcos e a Cristina e recuperar o que é meu por direito!

ADRIANA – E como faremos isso?

RENATA – Ainda não sei... Ainda não sei! Mas eu vou recuperar tudo o que me foi roubado, eu juro!

Renata volta a tomar seu chá. Adriana a observa.

Cena 9/Mansão Garcia/Garagem/Noite

Alice estaciona o carro de Olavo e sai dele. Fábio aparece e a agarra por trás.

FÁBIO – Boa noite, minha deusa!

Alice se vira para Fábio e eles se beijam.

ALICE – Boa noite, meu amor.

FÁBIO – E então, como foi lá no velório?

ALICE – Tudo ótimo. Provoquei, disse tudo o que queria ter dito, derrubei o caixão dela no chão, sambei em cima, apanhei... Foi maravilhoso!

Fábio ri.

FÁBIO – Então quer dizer que você fez tudo isso?

ALICE – Sim! E foi ótimo ver todos me observando. Eu adorei dar aquele show!

FÁBIO – E o Olavo, o que fez?

ALICE – Ficou por lá, disse que em casa nos conversaríamos.

FÁBIO – E que tal curtir esse momento sem ele aqui? No seu quarto ou no meu?

ALICE – No carro dele!

FÁBIO – Como?

ALICE – Isso, nesse carro! Quero transar dentro do carro dele!

Fábio ri e sussurra no ouvido de Alice.

FÁBIO – Como você quiser!

Alice abre a porta do carro e entra com Fábio. Ele fecha a porta e ali mesmo eles transam.

Cena 10/Agência de Modelos/Estacionamento/Noite

Marcos sai do elevador e vai para seu carro. Adriana corre até ele.

ADRIANA – MARCOS, MARCOS!

MARCOS – ADRIANA? O que você tá fazendo aqui?

ADRIANA – Eu vim te dar um recado!

MARCOS – Recado? Que recado? Virou carteiro agora?

ADRIANA – Não faça piadinhas sarcásticas.

MARCOS – E como conseguiu essas roupas novas? Como arrumou esse cabelo? Roubou?

ADRIANA – Isso não importa. Me escute, por favor!

MARCOS – Fala logo porque eu tô sem tempo!

ADRIANA – Toma cuidado!

MARCOS – Cuidado? Com o quê?

ADRIANA – Com a Cristina!

MARCOS – E por que eu deveria escutar o que você fala?

ADRIANA – Porque eu te amo e quero o seu bem.

MARCOS – Me poupe desse sentimentalismo barato, Adriana!

ADRIANA – Não é sentimentalismo barato, Marcos. Eu realmente me preocupo contigo! A Cristina é mais traiçoeira que nós dois. Ela soube me enrolar e me enganar direitinho! Eu sei que você não é santo, mas ela tampouco. Atrás daquele rostinho angelical dela se esconde um demônio!

MARCOS – Acabou?

ADRIANA – O recado foi dado. Depois não diz que eu não avisei!

Adriana vai embora e deixa Marcos pensativo.

Cena 11/Copacabana Palace/Suíte Presidencial/Noite

Cristina está sentada em sua cama, admirando o frasco com o veneno que ela usará para tentar matar Marcos.

CRISTINA – Marcos, Marcos... Sua hora de cantar pra subir está chegando, bebê!

Cristina ri.

Cena 12/Mansão Guimarães/Sala/Noite

Bárbara, Fernando e Estevão entram em casa.

FERNANDO – Aquela garota é louca!

BÁRBARA – A Alice passou dos limites.

ESTEVÃO – Ela estragou a despedida perfeita.

BÁRBARA – A minha vontade era de dar uns bons tapas nela também!

ESTEVÃO – Admito que também senti essa vontade.

FERNANDO – Ainda bem que você se controlou, meu filho.

ESTEVÃO – Foi difícil, mas eu me controlei.

BÁRBARA – Quem sabe essa atitude da Alice leve o Olavo a abrir os olhos e ver de verdade quem ela é!

FERNANDO – Se ele não abrir os olhos agora, quando fizer isso será tarde demais!

Cena 13/Vila do Sossego/Casa de Madalena/Quarto de Madalena/Noite

Madalena e Fagundes aos beijos, eles param de se beijar e olham-se com ternura.

FAGUNDES – Sabe que eu pensei que nunca encontraria o amor verdadeiro? Eu e os meus irmãos.

MADALENA – Mas porque você pensou uma coisa dessas?

FAGUNDES – Porque todas as mulheres que se aproximavam de nós estavam interessadas apenas no nosso nome, na fortuna que temos.

MADALENA – E aí surgiu essa ideia de se passar por pobre?

FAGUNDES – Exatamente. Pensei que se nós nos passássemos por pobres, as mulheres que se aproximassem de nós não estariam interessadas em nosso dinheiro, mas sim no que tínhamos para oferecer: nosso amor, nosso coração.

MADALENA – Essa foi a melhor ideia que você teve, meu amor. Se não fosse por isso, eu não teria te conhecido e não estaríamos aqui, agora!

Fagundes e Madalena se beijam.

FAGUNDES – Amor, eu posso te fazer uma pergunta?

MADALENA – Claro, o que você quiser saber!

FAGUNDES – Não quero parecer fofoqueiro, mas um dia desses ouvi você conversando com Carmen e Patrícia sobre um tal segredo do passado. O que seria isso? Você pode me falar também?

Madalena engole a seco e encara Fagundes, curioso.

Toca a soundtrack Inquietud – La Madrastra.

Cena 14/Casebre/Interno/Noite

Estrela está lavando um copo. Sebastiana à mesa separando uns feijões enquanto Joaquim assiste o jornal. Estrela sente uma forte dor de cabeça e deixa o copo cair dentro da pia. Ela leva as mãos à cabeça. Sebastiana e Joaquim se levantam.

JOAQUIM – Aconteceu alguma coisa, menina?

SEBASTIANA – Ela tá passando mal, homem!

ESTRELA – Ai minha cabeça! AI, AI!

Toca a soundtrack Madra Electro – La Madrastra.

ESTRELA – Tá doendo! TÁ DOENDO!

Estrela se agacha no chão, ainda com as mãos na cabeça. Sebastiana e Joaquim ainda a observam.

JOAQUIM – Será que não é melhor chamar uma ambulância?

Estrela para de reclamar da dor, mas ainda continua agachada.

SEBASTIANA – Menina, você tá bem?

Estrela tira as mãos da cabeça e olha lentamente para o casal.

SEBASTIANA – Menina?

JOAQUIM – Você tá bem, garota?

ESTRELA – Eu estou bem, sim. Eu estou.

JOAQUIM – Ainda bem, Vitória.

ESTRELA – Vitória?

SEBASTIANA – Sim, Vitória. É o nome que a gente deu pra você enquanto você não se lembra de nada!

ESTRELA – Mas o meu nome é Estrela!

Sebastiana e Joaquim a encaram.

SEBASTIANA – Como?

ESTRELA – Isso, o meu nome é Estrela! Estrela Grimaldi, filha de Olavo e Victoria Grimaldi. Mãe de uma linda bebê chamada Letícia e noiva de Estevão Guimarães.

JOAQUIM – Então você se lembrou de tudo?

SEBASTIANA – Ela se lembrou, homem! ELA SE LEMBROU!

Sebastiana e Joaquim, felizes, se abraçam. Estrela, ainda confusa, sorri.

FIM DE CAPÍTULO