Cena
1/Ambulatório da empresa Stewart/Jardim/Externo/Noite
Recapitulação
da cena do capítulo anterior. Gizela liga desesperadamente para
Bênhur, a fim de dar uma bronca no amante. O casal de pilantras se
encontram no jardim do ambulatório, aonde começam uma discussão
feia, com direito a revólver e tudo.
GIZELA
– Abaixa
essa arma, Bênhur! Você não sabe o que ta fazendo!
BÊNHUR
– Quem não sabe o que ta fazendo é você, sua vadia! Eu não
pensei que as coisas chegariam no ponto que chegou. Você me disse
que seria apenas um susto e nada mais.
GIZELA
– Mas era pra ser somente um susto, meu amor. Afinal de contas esse
era o nosso combinado, lembra? Acontece que as coisas fugiram do meu
controle e deu no que deu!
Nesse
momento, Bênhur, irritadíssimo, puxa a vilã pelo braço.
BÊNHUR
– Escuta
aqui, madame, se você não me der o que eu mereço em dinheiro vivo
até amanhã a noite, a tua família vai ficar sabendo a vagabundinha
e ordinária que você é. Entendeu?
GIZELA
– Calma aí, cara! A gente ta junto nessa, poxa. Lembra de tudo que
já passamos juntos. Não vamos morrer na praia. Esse é só o
começo. Ninguém suspeitou de nada, a minha família ta lá,
chorando, se lamentando. Todos pensam que foi um acidente técnico. E
foi mesmo!
BÊNHUR
– Tu acha que engana quem, madame? Eu preciso calar a boca do meu
parceiro, que também fez parte do jogo sujo, ta lembrada?
Gizela,
nesse momento, vai até o ouvido do amante e sussurra:
GIZELA
– Ele a gente dá um jeito! E você sabe muito como...
A
megera segura a arma de Bênhur, olhando para o amante.
BÊNHUR
– A senhora não ta insinuando de...
GIZELA
– E eu lá sou mulher de insinuar alguma coisa, rapaz? Eu não
insinuo nada. Eu faço!
BÊNHUR
– Você ta completamente louca, Gizela. Enlouqueceu de vez? Eu não
sou assassino. Nunca matei ninguém na minha vida!
GIZELA
– Pra tudo tem a sua primeira vez, meu querido. E quem disse que
vai matar? Acidentes acontecem, não é mesmo? A gente pode dizer que
foi um acidente de carro. Que tal?
BÊNHUR
– Não sei
não, hein? Isso ta me cheirando a treta... E das grandes!
GIZELA
– A escolha é sua! Quer passar a vida sendo chantageado por essa
gentinha? Por que é isso mesmo que ele vai fazer contigo se tu não
pagar a grana que ele ta pedindo! Me escuta, cara, eu não tenho esse
dinheirão todo agora, ainda mais depois desse acidente com a
Paloma.. Me dá mais um tempo! Ouve bem, o melhor que a gente tem a
fazer agora é tirar esse almofadinha do nosso caminho!
BÊNHUR
– Ta bom, se você ta dizendo que a gente ta junto nessa eu
acredito! E o que a gente faz com o camarada lá?
Corta
pra próxima cena.
Cena
2/Ambulatório da empresa Stewart/Quarto de Paloma/Interno/Noite
Narciso
vai até o quarto de Paloma saber notícias e estranha o
comportamento de Gizela, que sai correndo do quarto, apressada.
NARCIZO
– Aconteceu alguma coisa?
MÉDICO
– Não senhor. Por aqui está tudo calmo! Dona Paloma já foi
medicada e passa bem.
NARCIZO
– Graças á Deus! Pensei que algum de ruim tivesse acontecido.
MÉDICO
– Ela só sofreu algumas lesões, não passou disso.
NARCIZO
– Nossa, que bom então! E eu posso ficar um pouco aqui com ela? A
família dela está preocupada, querendo saber notícias.
MÉDICO
– Claro, pode sim. Eu vou lá comunicá-los que está tudo bem
enquanto o senhor faz companhia pra ela.
O
médico sai, deixando Narcizo sozinho com Paloma.
NARCIZO
– Paloma? Você ta me ouvindo?
Narcizo
leva a mão até o rosto de Paloma, que acorda aos poucos.
PALOMA
– Narcizo? Que lugar é esse?
NARCIZO
– Calma, minha querida. Você está no ambulatório.
PALOMA
– Ambulatório? Mas por que? O que aconteceu?
Paloma
fica eufórica e se desespera, mas é acalmada por Narcizo.
NARCIZO
– Calma, Paloma, calma! Eu vou te explicar tudo, mas preciso que
você fique calma.
Corta
pra próxima cena.
Cena
3/Ambulatório da empresa Stewart/Corredor/Interno/Noite
A
família Buarque de Cerqueira fica na espera por notícias de Paloma.
Todos aflitos!
REGINA
– E esse médico que não chega, meu Deus?
EDUARDO
– Calma, amor, aquele tal de Narcizo já foi ver se está tudo bem.
Agora a gente tem que ter fé! Fé que a cunhadinha vai sair dessa!
CARLOS
ALBERTO –
Cadê as crianças? Desde que entramos aqui não vi mais a Duda, nem
o Diogo com os irmãos.
AFRÔGENIO
– O Diogo
e as crianças foram brincar no jardim aqui do lado, meu sogro. É
melhor pra eles se distraírem. Ambulatório não é coisa pra
criança!
REGINA
– Papai, o
senhor acredita que possa ser um acidente mesmo?
CARLOS
ALBERTO –
Mas é claro que sim, minha filha! Que outra justificativa teria essa
tragédia?
EDUARDO
– Um
atentado talvez. Ta cheio disso aí na TV, meu sogro. Talvez, os
bandidos sabendo da pessoa poderosa que é a Paloma, trataram de
fazer esse atentado.
REGINA
– Não, acho que não. Atentado é uma coisa sem pé, nem cabeça!
Então um seqüestro, pra tirar dinheiro. Quem teria motivos pra
tirar a vida da minha irmã?
Nesse
momento Frô, que observava a conversa em silêncio, se lembra da
conversa que teve com a esposa minutos antes, aonde Gizela dizia
claramente que preferia a irmã morta do que viva. O médico chega.
MÉDICO
– Parentes da doutora Paloma?!
CARLOS
ALBERTO –
Somos nós mesmos, doutor. Eu sou o pai, a Regina a irmã e o Eduardo
e o Frô os cunhados.
REGINA
– E aí
doutor? Como é que ta a minha irmã? Ela vai conseguir se salvar?
MÉDICO
– A dona Paloma não sofre nenhum risco! Só sofreu algumas lesões
que já estamos cuidando. Fora isso, está tudo bem com a paciente.
CARLOS
ALBERTO –
Graças a Deus, doutor! Graças a Deus! E quando a minha filha vai
poder voltar pra casa?
MÉDICO
– Se tudo ocorrer bem, amanhã mesmo ela já poderá voltar. Ela só
precisa de descanso agora.
REGINA
– E doutor, a gente pode fazer uma visitinha pra ela?
Corta
pra próxima cena.
Cena
4/Ambulatório da empresa Stewart/Jardim/Externo/Noite
As
crianças estão brincando no jardim, quando derrepente Duda começa
a ouvir vozes e espia a conversa de sua tia Gizela e do comparsa,
Bênhur.
DIOGO
– Você não me pega!
BERNARDO
– Ah não mano, eu não quero mais brigar dessa brincadeira não!
DIOGO
– A
bonequinha cansou, foi? Qual é? Vai querer brincar de Barbie?
CECÍLIA
– Diogo, não fala assim do nosso irmão!
DIOGO
– E você cala essa boca, projeto de Titanic!
Bernardo
se isola em um canto, chorando. Diogo, neste momento, chuta a bola
para um canteiro, no escuro. Duda vai pegar.
MARIA
EDUARDA –
Deixa que eu pego!
DIOGO
– Vai lá
priminha, mas não demora, hein!
Duda
corre em busca da bola, quando se depara com a sua Gizela discutindo
com o comparsa, Bênhur.
Cena
5/Ambulatório da empresa Stewart/Jardim/Externo/Noite
Gizela
tenta convencer Bênhur de se livrar de Evaldo. Aconteceu que a vilã
não contava que Duda, sua sobrinha, estava observando tudo, bem de
pertinho.
GIZELA
– E aí cara, já decidiu o que fazer? Vai ficar do meu lado pra
gente superar essa juntos ou vai colocar tudo a perder?
BÊNHUR
– Tu ta maluca, mulher! Você ta mandando eu matar um cara! Eu
tenho cara de assassino por acaso?
GIZELA
– Que matar? Alguém falou em matar? Eu já falei que acidentes
acontecem, meu querido. E também, no meio dessa tragédia toda...
Vítimas podem surgir sempre. Ninguém vai desconfiar. É só fazer o
trabalho sujo e ponto. Fim da história!
BÊNHUR
– E quanto
eu vou tirar dessa história ai?
GIZELA
– Vai
tirar a minha eterna cumplicidade e lealdade.
Gizela
beija o amante e deixa a sobrinha de boca aberta, que corre,
espantada.
BÊNHUR
– Ouviu
isso?
GIZELA
– Tem
alguém ai?!
Corta
pra próxima cena.
Cena
6/Ambulatório da empresa Stewart/Quarto de Paloma/Interno/noite
Narcizo
conta todo o ocorrido para Paloma, que fica chocada. A família
Buarque de Cerqueira entra no quarto para saber notícias.
NARCIZO
– E foi isso que aconteceu!
PALOMA
– Nossa, Narcizo. Eu não me lembro de nada, mas pelo que você
acabou de me contar, foi uma verdadeira tragédia!
NARCIZO
– Mas
pensa pelo lado positivo minha amiga... Você ta aí, inteira, sã e
salva! O mais importante é a sua saúde, Paloma.
PALOMA
– Todo trabalho de meses e meses pra que? Pra nada! Pra
evaporarem... Ai meu Deus, por que tudo dá errado na minha vida? Por
quê?
Narcizo,
sensibilizado com a amiga, tenta consolá-la, abraçando-a.
NARCIZO
– Ei, eu to aqui. Vou cuidar de você como nos velhos tempos,
lembra?
PALOMA
– E como poderia esquecer? Você era o meu melhor amigo. Tipo um
irmão. Tinha coisas que eu contava só para você, nem pras minhas
irmãs eu contava tudo.
NARCIZO
– Então, confia em mim? Tudo vai dar certo. Você vai ver. Eu to
aqui!
Nesse
momento, Narcizo e Paloma trocam olhares apaixonados. O tão esperado
beija estava prestes a acontecer... Se não fosse a entrada da
família Buarque de Cerqueira no quarto de Paloma.
CARLOS
ALBERTO –
Tem alguma doentinha ai?
REGINA
– Surpresa!
PALOMA
– Ai, meu
Deus! Tava faltando só vocês mesmo! Obrigada papai...
EDUARDO
– E aí cunhadinha, ta melhor?
PALOMA
– To melhor sim, cunhadinho. O susto já passou! Cadê as crianças?
E a Gizela?
REGINA
– As crianças ficaram no jardim aqui do lado. Achei melhor. Afinal
aqui não é lugar pra crianças.
AFRÔGENIO
– E a sua
irmã foi dar uma volta. Ela passou o tempo todo com você, do seu
lado.
PALOMA
– A Gizela passou o tempo todo do meu lado?! Não gente, vocês não
podem estar falando da mesma Gizela.
CARLOS
ALBERTO –
Sim, minha filha. Estamos falando da mesma pessoa sim. Sua irmã não
desgrudou de você até saber que você estava bem.
PALOMA
– É o fim dos tempos mesmo!
NARCIZO
– Bom, tudo se resolveu. Graças a Deus amanhã mesmo você poderá
voltar pra casa, Paloma.
PALOMA
– Amém! É tão bom ver todo mundo reunido, junto. Não há nada
mais importante que a família! Eu amo vocês!
Os
personagens se abraçam, com excessão de Narcizo, que acompanha a
cena de perto.
Corta
pra próxima cena.
Cena
7/Rio de Janeiro/Manhã/Externo
Cena
mostra imagens da cidade maravilhosa, focando no pôr-do-sol, Cristo
Redentor, Leblon, Ipanema e Arpoador. Cena ao som de Burn
– Ellie Goulding.
Corta
para:
Cena
8/Complexo do Alemão/Bordel La Conga/Manhã/Interno
Madame
Berthê acorda cedo para abrir a bordel La Conga. As meninas, ainda
dormindo, são acordadas pela madame que não dorme em serviço.
MADAME
BERTHÊ –
Bora acordar, minha gente! Bora acordar por que hoje a pegada é
cedo!
ELAINE
– Minha Nossa Senhora! Mas que horas são?
PENÉLOPE
VALENTINA –
Ai, cruzes! Que sol enorme ta fazendo lá fora. Desse jeito fica
difícil manter a minha pele de pêssego, né?
MADAME
BERTHÊ –
Que pele de pêssego o que! Bora acordar, cambada de encosto! Hoje é
dia de apresentação e eu quero as minhas meninas bem dispostas.
ELAINE
– Ih! A madame viu um passarinho azul foi?
MADAME
BERTHÊ –
Ainda não garota, mas daqui a pouco que vai ver alguma coisa aqui é
você, e não é passarinho azul, visse? Anda, anda! Bora levantar!
PENÉLOPE
VALENTINA –
A madame ta precisando é de um homem, isso sim!
ELAINE
– Um homem não! O homem! Ou a senhora pensa que eu não sei que tu
nunca esqueceu aquele lá do passado? O todo poderoso que agora é
milionário.
MADAME
BERTHÊ –
Toma vergonha nessa cara, Elaine Cristina! Eu lá tenho cara de me
envolver com homem? Homem só dá trabalho, minha gente.
PENÉLOPE
VALENTINA –
Mas é eles que colocam dinheiro na nossa mesa, né?
ELAINE
– Por causa dos nossos esforços!
MADAME
BERTHÊ –
Por causa da minha fama! Isso sim! Eu que fiz vocês! Vocês são as
minhas obras! Agora chega de papo de passado, de não sei mais o que
e borá trabalhar. Eu quero essa casa limpinha por que hoje à noite
nós teremos visita.
ELAINE
– Hm, e a gente pode saber quem é?
MADAME
BERTHÊ –
Surpresa!
Corta
pra próxima cena.
Cena
9/Mansão Buarque de Cerqueira/Sala principal/Manhã/Interno
Todos
da família Buarque de Cerqueira reunidos para mais um café-da-manhã.
A família comemora a saúde de Paloma.
CARLOS
ALBERTO –
Eu proponho um brinde pela saúde da minha Paloma!
TODOS
– Viva!
PALOMA
– Eu queria agradecer vocês por todo o apoio, mas deixar claro que
estou muito aborrecida com o que aconteceu e envergonhada também.
REGINA
– Que
isso, minha irmã! Como você poderia imaginar que aconteceria aquela
tragédia?
CARLOS
ALBERTO –
Minha filha, você não teve culpa nada. Por favor, esqueça isso!
PALOMA
– Deve ter
sido alguma falha técnica. O erro foi meu sim!
AFRÔGENIO
– Para com isso Paloma, você não teve culpa de nada. Você é uma
vítima, isso sim!
EDUARDO
– Cunhadinha, o importante é que você ta aqui, com a gente, sã e
salva, vendendo saúde!
CECÍLIA
– Isso mesmo, titia, que bom que a senhora se salvou.
BERNARDO
– É tia, agora ta tudo bem.
DIOGO
– Cambada
de gente chata.
PALOMA
– Ai meus amores, a titia também ama vocês, viu? Bom, ok! Chega
de falar de tristeza, não é mesmo? Por onde anda a Gizela e a Duda?
AFRÔGENIO
– Gizela deve ta descendo... Ah, olha ela aí!
Frô
aponta para a esposa que está descendo as escadas.
Corta
pra próxima cena.
Cena
10/Mansão Buarque de Cerqueira/Sala principal/Manhã/Interno
Gizela
esta descendo as escadas para tomar café-da-manhã com a sua
família, quando derrepente é surpreendida por Duda.
MARIA
EDUARDA –
Titia!
GIZELA
– Bom dia minha querida. Vamos descer para tomar o café-da-manhã?
MARIA
EDUARDA –
Claro tia, mas antes eu queria saber quem era o senhor que a senhora
estava chamando de meu amor ontem á noite.
A
vilã fica sem reação, sem entender nada. Por isso questiona a
sobrinha.
GIZELA
– Senhor? Mas que senhor, meu anjo?
MARIA
EDUARDA –
O motorista da nossa casa, tia Gizela. Eu ouvi quando a senhora
chamou ele de amor ontem a noite.
A
megera, possessa, não acredita no que acabara de ouvir. Câmera
congela na face de Gizela, surpresa com a pergunta da sobrinha.
Fim
de capítulo
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